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Bancas também erram (o retorno)!

Bancas também erram (o retorno)! Mas às vezes algumas erram com força!

Quando você se pegar pensando na tristeza de ter errado uma questão, pense que banca também erra!!!!

Como vimos no post anterior, o problema não é a banca errar. Isso pode ocorrer, mas basta a banca anular a questão e está tudo bem. Ninguém se prejudica.

O problema é a banca errar e querer validar a questão com uma justificativa mal trabalhada, sem fundamentação teórica e/ou contextual. Vejamos a mais uma da banca Instituto AOCP:

(Se a gente achar mais uma, vai pedir música no Fantástico????)

(INSTITUTO AOCP / PC-ES Escrivão de Polícia 2019)

Em “Que tragédia!”, o “Que” tem função de

A) advérbio.

B) substantivo.

C) pronome relativo.

D) conjunção integrante.

E) interjeição.

Comentário: A banca errou na identificação da palavra “que” e você vai entender por quê.

            A palavra “tragédia” é um substantivo, pois podemos, por exemplo, inserir determinantes, como “a tragédia”, “essa tragédia”, “uma tragédia”. Como a palavra “que” se ligou ao substantivo “tragédia”, ela não é advérbio, pois tal classe de palavra só pode modificar adjetivo, advérbio ou verbo.

            Na realidade, a palavra “que” é um pronome indefinido de valor adjetivo e não há alternativa que responda ao comando da questão. Note que, por ser um pronome indefinido ligando-se ao substantivo “tragédia”, podemos trocar “Que” pelo pronome “muita” ou “Quanta”, os quais se flexionam no feminino, algo que não pode ocorrer com o advérbio. Veja:

Que tragédia!

Muita tragédia!

Quanta Tragédia!

            Para que houvesse a palavra “que” com valor de advérbio neste contexto, haveria a necessidade de transformar o substantivo “tragédia” no adjetivo “trágico”:

Que trágico!

Muito trágico!

Quão trágico!

            Assim, “que” passa a advérbio de intensidade, da mesma forma que os advérbios “muito” e “Quão”.

            Note que as palavras “Muito” e “Quão” não se flexionam, pois são advérbios que modificam o adjetivo “trágico”.

            Naturalmente, essa incorreção da banca gerou recursos:

            Então, veja a resposta da banca aos recursos interpostos:

JUSTIFICATIVA: Prezados Candidatos, em resposta aos recursos interpostos, temos a esclarecer que a questão será mantida, tendo em vista que, em “Que tragédia!”, o que tem função de advérbio, visto que modifica, intensifica o sentido do adjetivo “tragédia”. Vale ressaltar que a palavra “tragédia” pode ser classificada como substantivo, dependendo do contexto em que está sendo utilizada, porém, no contexto da tirinha, “tragédia” classifica-se como um adjetivo, visto que atribui uma característica negativa à presença das formigas no vaso da personagem.” (grifos meus)

https://s3.amazonaws.com/arquivos-geral/institutoaocp/parecer-recursos-pces/Pareceres+dos+recursos+-+ESCRIV%E2%95%9FO.pdf

            Meus amigos, é triste perceber que uma banca examinadora possa cair numa própria pegadinha. A palavra “trágico” é um adjetivo, mas “tragédia” continuará sendo substantivo, mesmo que atribua uma característica a um outro substantivo, por exemplo:

Aquele fato foi uma tragédia.

            Veja que a palavra “tragédia” atribui característica ao substantivo “fato”, mas isso não faz tal palavra modificar sua classe gramatical para adjetivo. Ela continua ajudando na caracterização por ocupar a função sintática de predicativo do sujeito, a qual pode ser ocupada por palavra de valor substantivo ou adjetivo.

            Para que uma palavra mude sua classe gramatical de substantivo para adjetivo, ela deve estar ligada diretamente ao substantivo, caracterizando-o, algo que não ocorreu na tirinha.

            Veja, por exemplo, a palavra “fantasma”. Ela é originalmente um substantivo:

Parece que vi um fantasma!

            Porém, quando tal substantivo se liga diretamente a outro substantivo, passa a adjetivo:

Ele brincou no trem fantasma!

            Isso definitivamente não ocorreu nesta questão com a palavra “tragédia”. Note que na tirinha não há meio de ligar “tragédia” como supostamente um adjetivo do substantivo “formigas” ou “situação”: “Que formigas tragédia!” ou “Que situação tragédia!”. Definitivamente, isso é incompatível, concorda? Assim, comprovamos que “tragédia” realmente é um substantivo.

            O que podemos fazer é transformar tal palavra em adjetivo “trágico”, no exemplo acima e também no da tirinha:

Aquele fato foi trágico.

Que trágico!

            Assim, a palavra “que” seria, sim, um advérbio.

Gabarito: A

Bom, meus amigos!

Como disse no artigo anterior, fiz questão de publicar essa explicação para que não estudemos por questão com gabarito equivocado.

Grande abraço!

Décio Terror

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Veja os comentários
  • Fica de fora da próxima etapa do concurso por causa dessa questão.Trágico!!
    Diego Ribeiro em 18/05/20 às 17:04
  • Revendo questões, fiquei muito preocupada como o gabarito passado pela banca. Ainda bem que temos pessoas como o Sr para nos ajudar a esclarecer as nossas dúvidas. Obrigada Prof!!!
    Jubiana Paola Vega Sicca em 17/04/20 às 09:47
  • Resumindo, "QUE TRAGÉDIA"! Grata pela dica!
    Rita Barbosa em 16/08/19 às 12:38
  • Sempre o Instituto AOCP... Quero só ver como será essa prova do IBGE que está por vir.
    Karlos em 16/08/19 às 12:31