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Redação do Enem 2018: Manipulação do Usuário pela Internet

Neste artigo, o professor Daniel dos Reis ensina o passo a passo para redigir uma redação nota mil sobre o tema da redação do Enem 2018: “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”

A redação do Enem 2018 cobrou o tema “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”.

O advento da era digital trouxe inúmeras transformações em nossas vidas. O uso dos computadores, aliado ao incremento da tecnologia dos smartfones, permitiu que praticamente todas as nossas tarefas diárias passassem a ser realizadas online.

Mas será que essa intensa troca de informações é 100% segura e benéfica? Muito tem se discutido a respeito da circulação e do uso de dados pessoais na internet, sem falar nas famosas fake news e outras polêmicas que cercam o mundo virtual. São inúmeras as possibilidades de abordagem do tema e, para que você não se perca, elaboramos um guia completo para sanar todas as suas dúvidas e tirar de letra qualquer proposta que envolva o assunto.

Boa leitura!

Redação do Enem 2018 - “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”
Redação do Enem 2018 – “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”

Modelo – Redação do Enem 2018

A era digital revolucionou a forma de interagir, as relações de consumo e o acesso a todo tipo de serviço e comodidade. Se a evolução tecnológica foi capaz de proporcionar tanta facilidade e ganho de tempo e de recursos ao dia-a-dia das pessoas, por outro lado expôs, repentinamente, a vida de milhões ao universo de notícias, algoritmos e publicidade virtuais.  Durante muito tempo, o alvo de críticas à falta de privacidade foram as redes sociais e o excessivo exibicionismo por parte de seus membros. Entretanto, o que dizer da utilização de dados pessoais por empresas, governos ou órgãos de imprensa, sem que o usuário esteja ciente do conteúdo oferecido e propositalmente direcionado?

Em 2018, Mark Zuckerberg assumiu, durante depoimento, o erro cometido pelo Facebook ao permitir o vazamento de dados de milhões de pessoas pela consultoria política Cambridge Analytics, que deles fazia uso para fins eleitorais. O episódio é significativo não apenas pelo vazamento de informações em si, que já não é mais uma novidade, mas principalmente pela grande repercussão social que teve. Ficou então demonstrado que há, de fato, uma preocupação crescente em torno do assunto e, mais do que isso: que as pessoas estão cada vez mais conscientes e incomodadas com as tentativas de manipulação que vêm sofrendo.

Além disso, é evidente que a insatisfação dos usuários se deve não só ao uso de dados para fins estranhos aos expressamente autorizados, mas também ao controle de suas preferências pessoais, culturais e até mesmo gastronômicas. Tal manipulação é exercida por sistemas de algoritmos que filtram, selecionam e omitem conteúdos de acordo com critérios preestabelecidos de “relevância”, que nada mais são do que a subtração do poder de decisão do indivíduo e sua transferência para o domínio de robôs munidos de inteligência artificial. A humanidade, pouco a pouco, tem se dado conta de que a web, há tempos, ultrapassara a linha que separa a difusão do conhecimento em larga escala da influência indiscriminada sobre o pensamento.

Sendo assim, é nítida a necessidade de uma mudança na forma de lidar com o acesso e coleta de informações online. Porém, ainda mais importante do que a criação de mecanismos que assegurem o seu sigilo, o que ainda tem se mostrado um desafio, é o desenvolvimento da capacidade de discernimento na assimilação do conteúdo oferecido pelas plataformas virtuais. Nesse sentido, a inclusão de alertas e avisos sobre o caráter político ou comercial de determinadas publicações seria uma forma de contribuir para tornar a postura do usuário menos passiva e vulnerável no meio cibernético. Além disso, o investimento em políticas educativas visando à orientação da população no uso de redes sociais, por exemplo, seria uma medida eficaz e eticamente viável frente à ausência de privacidade na internet.

Redação do Enem 2018 - “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”
Redação do Enem 2018 – “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”

A Inovação na Proposta da Redação do ENEM 2018

Veja o enunciado da proposta de redação do ENEM 2018:

Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet

Redação do ENEM 2018

A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”, apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa do seu ponto de vista.

TEXTO I

Às segundas-feiras pela manhã, os usuários de um serviço de música digital recebem uma lista personalizada de músicas que lhes permite descobrir novidades. Assim como os sistemas de outros aplicativos e redes sociais, este cérebro artificial consegue traçar um retrato automatizado do gosto de seus assinantes e constrói uma máquina de sugestões que não costuma falhar. O sistema se baseia em um algoritmo cuja evolução e usos aplicados ao consumo cultural são infinitos. De fato, plataformas de transmissão de video on-line começam a desenhar suas séries de sucesso rastreando o banco de dados gerado por todos os movimentos dos usuários para analisar o que os satisfaz. O algoritmo constrói assim um universo cultural adequado e complacente com o gosto do consumidor, que pode avançar até chegar sempre a lugares reconhecíveis. Dessa forma, a filtragem feita pelas redes sociais ou pelos sistemas de busca pode moldar nossa maneira de pensar. E esse é o problema principal: a ilusão da liberdade de escolha que muitas vezes é gerada pelos algoritmos.

VERDÚ, Daniel. O gosto na era do algoritmo. Disponível em: https://brasil.elpais.com. Acesso em: 11 jun. 2018 (adaptado).

TEXTO II

Nos sistemas dos gigantes da internet, a filtragem de dados é transferida para um exército de moderadores em empresas localizadas do Oriente Médio ao Sul da Ásia, que têm um papel importante no controle daquilo que deve ser eliminado da rede social, a partir de sinalizações dos usuários. Mas a informação é então processada por um algoritmo, que tem a decisão final. Os algoritmos são literais. Em poucas palavras, são uma opinião embrulhada em código. E estamos caminhando para um estágio em que é a máquina que decide qual notícia deve ou não ser lida.

PEPE ESCOBAR. A silenciosa ditadura do algoritmo. Disponível em: https://outraspalavras.net. Acesso em: 5 jun. 2017 (adaptado).

TEXTO III

Redação do Enem 2018 - “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”
Redação do Enem 2018 – Internet do Brasil em 2016

Internet no Brasil em 2016. Disponível em: www.ibge.gov.br. Acesso em: 18 jun. 2018 (adaptado).

TEXTO IV

Mudanças sutis nas informações às quais somos expostos podem transformar nosso comportamento. As redes têm selecionado as notícias sob titulos chamativos como “trending topics” ou critérios como “relevância”. Mas nós praticamente não sabemos como tudo isso é filtrado. Quanto mais informações relevantes tivermos nas pontas dos dedos, melhor equipados estamos para tomar decisões. No entanto, surgem algumas tensões fundamentais: entre a conveniência e a deliberação; entre o que o usuário deseja e o que é melhor para ele; entre a transparência e o lado comercial. Quanto mais os sistemas souberem sobre você em comparação ao que você sabe sobre eles, há mais riscos de suas escolhas se tornarem apenas uma série de reações a “cutucadas” invisíveis. O que está em jogo não é tanto a questão “homem versus máquina”, mas sim a disputa “decisão informada versus obediência influenciada”.

CHATFIELD, Tom. Como a Internet influencia secretamente nossas escolhas. Disponível em: www.bbc.com. Acesso em: 3 jun. 2017 (adaptado).

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Sabemos que o ENEM costuma priorizar a temática social, especialmente a situação das minorias no Brasil. Nesta edição, entretanto, foi aberta uma exceção: a proposta da redação do Enem 2018 exigiu o conhecimento em torno de um assunto bem mais próximo do cotidiano de todas as pessoas, independente da classe a que pertençam, e fora do âmbito da problemática da desigualdade ou da vulnerabilidade social. No entanto, o aluno deveria ler atentamente os textos motivadores, uma vez que ali estavam contidos os elementos-chave para a elaboração da argumentação. Assim, seria preciso tomar muito cuidado para que o próprio repertório do estudante não o afastasse do direcionamento proposto.

Por outro lado, como frequentemente se observa, não houve a exigência expressa de limitação espacial na abordagem do tema. Isso significa que, justamente por se tratar de circunstância de alcance mundial, a menção a episódios ocorridos fora do território nacional, desde que pertinentes à realidade brasileira, poderiam ser mencionados. Isso porque, em tese, esse é um problema vivenciado no Brasil, mas a origem da captação dos dados e sua utilização se dá tanto dentro quanto fora do país, o que se confirma pela presença da expressão “NA INTERNET” ao final da frase. No entanto, caso o aluno optasse pela circunscrição da proposta ao contexto nacional, poderia valer-se das informações apresentadas no gráfico “Internet no Brasil em 2016”, do IBGE.

Um outro ponto a ser observado diz respeito à análise crítica que estava implícita na sugestão do tema. Como se trata de um assunto sobre o qual o aluno provavelmente dispõe de amplo conhecimento, um erro que poderia ser facilmente cometido é o de dotar o texto com excesso de informações e acabar deixando de lado uma reflexão mais aprofundada. Isso fatalmente terminaria por reduzir a nota, uma vez que um dos requisitos mais importantes para a avaliação é justamente o estudo e interpretação do contexto específico exposto na questão. Da mesma forma, mas caminhando na direção contrária, o aluno poderia confundir a amplitude do tema, que permitia a abordagem sob o viés político, psicológico ou do consumo, com uma equivocada superficialidade ou generalização da ideia, tangenciado a discussão. Por esse motivo, mais uma vez reforça-se a necessidade de atenção à coletânea apresentada.

Apesar da diversidade de opções para o tratamento da questão, o estudante deveria estar atento, também, à palavra “manipulação”, que traz consigo um conceito negativo inerente ao seu significado. Não existe manipulação positiva, pelo menos não no sentido a que nos referimos aqui. Portanto, o obstáculo e o impedimento à escolha voluntária, à reflexão consciente e à autonomia de decisão deveriam ser incluídos na fundamentação e considerados na proposta de intervenção.

A seguir, daremos um panorama dos principais conceitos que você precisa saber para sustentar sua tese com segurança.

Redação do Enem 2018 – Como Age a Inteligência Artificial?

Redação do Enem 2018 – Inteligência Artificial

Para Essio Floridi, CEO da Tradelab Latam, “o usuário da internet ‘percebe’ a presença de uma inteligência artificial quando ele acessa uma seção de ‘recomendados para você’, ou quando ele é impactado por um banner de um site pelo qual tem interesse; por outro lado fatores como os primeiros artigos que encontramos nos buscadores ou e-mails direcionados que recebemos também partem da inteligência de dados para fazê-lo – entre todas as técnicas disponíveis, varia o quanto cada empresa conhece sobre seu público e como que ela usa a tecnologia”. O executivo também esclarece que, apesar da possibilidade do uso nocivo da informação, “o mercado busca sempre se autorregular, tanto pela criação de melhores práticas, quanto pelo controle das associações, e também se adapta às determinações e do governo, para garantir que os dados sejam usados para beneficiar os usuários da internet”.

Redação do Enem 2018 – “Fake News” e Redes Sociais Controlam a Opinião Pública

Um estudo feito por pesquisadores da Universidade de Oxford mostrou que em nove nações, além do Brasil, redes sociais como Twitter e Facebook são constantemente usadas como instrumentos de manipulação da opinião pública. Para isso, utilizam-se “bots” para curtir e compartilhar posts influenciadores, cuja visibilidade aumenta com o número de “curtidas”. Assim, quando um candidato à eleição, apenas para exemplificar, não vem apresentando tanta popularidade, os “bots” dão conta de criar a falsa impressão de apoio dos eleitores e, assim, influenciar os demais. O mesmo pode acontecer com notícias, boatos, lançamento de novos produtos no mercado, etc.

As chamadas “fake news” também estão ligadas às estratégias de manipulação de dados na internet.

Pesquisadores da Universidade de Indiana, EUA, realizaram um estudo com foco nas eleições presidenciais americanas. De acordo com a pesquisa, apenas 6 % dos “bots” do twitter foram responsáveis por 31% das notícias falsas divulgadas no site. Os robôs chegam a atingir milhares de usuários em menos de 10 segundos.

A QUEM CABE TOMAR PROVIDÊNCIAS E POLICIAR A REDE?

Na opinião de especialistas, os responsáveis por tomar providências no sentido de coibir a utilização de “bots” são as próprias redes sociais, que na maioria das vezes encarregam o usuário de fiscalizarem a si mesmos e fazerem denúncias. Entretanto, as empresas deveriam criar mecanismos para impedir a ação desses sistemas, que visam confundir o público, seja apenas para atrair acessos aos sites, seja com a intenção de construir ou destruir reputações.

Redação do Enem 2018 – Dicas Finais para Obter Nota Mil

Todas as propostas de redação do ENEM pressupõem que o candidato esteja atento e conectado aos principais fatos da atualidade. Apesar disso, em 2018 essa exigência ficou ainda mais evidente, intensificando a cobrança de conteúdos diversos dentro de um mesmo tema. A complexidade do assunto ficou evidenciada pela menção aos algoritmos, conceito relativamente específico que até mesmo os internautas mais “experientes” poderiam ter certa dificuldade em encaixar na estrutura da fundamentação.

Além disso, era preciso estabelecer uma ligação lógica entre a filtragem de informações e o comportamento dos usuários, elevando a discussão para o nível psicossocial.

Em meio a tantas possibilidades, o estudante poderia acabar se perdendo ou caindo em desespero, temendo que o tempo não fosse suficiente para desenvolver um texto satisfatório. Em situações desse tipo, recomenda-se que se faça uma leitura calma e pormenorizada do conjunto de textos que serão usados como base para a dissertação. Ao lado de cada um deles, faça um pequeno esquema ou resumo, indicando a conclusão central extraída de sua leitura.

A seguir, reúna os tópicos que você elencou e faça um segundo rascunho a partir dessa lista. Uma boa estratégia seria escrever uma ou duas linhas, até um parágrafo, comentando a ideia que surgiu a partir da conexão desses elementos. Pronto! O fio condutor de sua argumentação já está decidido. A partir daí, é só tomar o devido cuidado para não fugir do tema com excessivas divagações. Se preferir, reflita um pouco mais e tente prever, rapidamente, o núcleo principal das diversas partes que irão compor a estrutura: INTRODUÇÃO, DESENVOLVIMENTO e CONCLUSÃO. Dessa forma, dificilmente você terá espaço para cometer desvios e, consequentemente, perder pontos na prova.

Espero que tenham gostado dessa análise desta redação. Fique atento, pois estaremos sempre postando novos artigos sobre outros temas do ENEM.

Abraços,

Daniel dos Reis (Coordenador do Estratégia Enem)

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Veja os comentários
  • Parabéns pelo ótimo trabalho! Deus te abençoe mais e mais!
    Raíssa em 30/06/20 às 19:34
  • Muito bom. Parabéns pelas suas conquistas. Conquistar segnifica correr atrás daquilo que almejamos.
    RITA MARIA BEZERRA em 19/04/20 às 15:55