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A IMPORTÂNCIA DO FRACASSO

O ano de 2008 foi abundante em termos de concursos públicos: foram realizadas – nesta ordem – provas para analista judiciário, área judiciária, do TST – Tribunal Superior do Trabalho, do TJDFT – Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, do STF – Supremo Tribunal Federal e do STJ – Superior Tribunal de Justiça, cargos que compõem a mesma carreira, de Poder Judiciário da União.

Havia sido aprovado com reais chances de ser nomeado, como aconteceu posteriormente, nos três primeiros certames (TST, TJDFT e STF). Por isso, tomei coragem e decidi fazer a prova objetiva do STJ no primeiro impulso (clique no link – https://www.estrategiaconcursos.com.br/blog/prova-objetiva-teoria-do-primeiro-impulso/ – para saber mais sobre essa teoria).

A prova objetiva foi composta por 120 (cento e vinte) itens com fator de correção de um item errado anula um certo. Deixei 19 (dezenove) itens em branco. Dos 101 (cento e um) marcados, acertei 91 (noventa e um) e errei 10 (dez).

Com 81 (oitenta e um) pontos líquidos ficaria numa posição em que seria nomeado na primeira leva. Mas tinha a prova discursiva a ser corrigida…

A questão subjetiva, a ser respondida em 30 (trinta) linhas, continha uma situação problema sobre processo administrativo disciplinar e a possibilidade de denúncia anônima para instaurar o PAD.

Como a prova era para analista do STJ, discorri apenas sobre o julgado da Corte que admitia a instauração de PAD via denúncia anônima. O espelho da prova exigia, além da jurisprudência da Corte Cidadã, que fosse citada a vedação ao anonimato constante da Constituição Federal e a previsão da Lei 8.112/90[1], que requer a denúncia por escrito.

No meu melhor desempenho em prova objetiva até então, fracassei na discursiva. O mínimo de pontos na prova subjetiva e teria sido aprovado em 8º (oitavo) lugar. Essas derrotas são indeléveis, são como o processo de ferrete – aquele do ferro quente para marcar o gado – a gente não esquece nunca mais.

E nessas horas sempre aparece um abençoado para dizer que conhece alguém que passou no mesmo concurso sem estudar…

Aprendi uma valorosa lição com esse episódio: em prova discursiva, transcreva para o papel todo o conhecimento sobre o tema proposto (não desconhecia a vedação ao anonimato, mas fiquei circunscrito à possibilidade de iniciar o PAD via denúncia anônima).

Estudei muito sobre PAD. Li, reli e recorri da decisão da banca examinadora. Sem sucesso. Fui reprovado mesmo.

Depois de 5 (cinco) anos, na fase de discursiva para o cargo de procurador federal, o parecer técnico tinha como tema processo administrativo disciplinar.

O insucesso no certame de analista do STJ foi fundamental para a aprovação no concurso do cargo que hoje exerço. O título do artigo, portanto, não é acaso.

Por vezes, penso nessa coincidência (se é que posso denominar assim) e acho que foi sorte, porque “sem sorte não se consegue chupar nem um picolé, porque derrete e cai no pé” (Nelson Rodrigues). Por outro lado, lembro do Ministro Luís Roberto Barroso, que disse conhecer inúmeras pessoas com sorte e todas elas têm algo em comum: ou acordam muito cedo ou dormem muito tarde.

Aprender a cada reprovação – para não repetir o erro – e cumprir as metas de estudo de forma religiosa são atitudes que atraem a sorte e as boas coincidências.

Bons estudos!

Abraços fraternos!

[1] Art. 144.  As denúncias sobre irregularidades serão objeto de apuração, desde que contenham a identificação e o endereço do denunciante e sejam formuladas por escrito, confirmada a autenticidade.

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Veja os comentários
  • Obrigado! Força nos estudos! Sucesso!
    Vagner Nunes em 15/10/17 às 11:36
  • Excelente artigo !!!!!! Vamos caminhando !
    JAMILTON SANTOS em 14/10/17 às 20:04
  • Obrigado, Olivia! Sucesso!
    Vagner Nunes em 13/10/17 às 20:39
  • Ana Maria, o artigo cumpre o seu propósito quando gera comentário como o seu. Obrigado! Com essa força de vontade que você demonstra, tenho certeza que seu esforço será recompensado. Sucesso!
    Vagner Nunes em 13/10/17 às 20:38
  • Excelente artigo! Obrigada.
    Olivia em 13/10/17 às 18:21
  • Professor, você não sabe como precisava ler este artigo. Fiz a prova do TCE-PE no dia 24/09 (Analista Adm.), que não teve questão discursiva. Apostei bastante nos últimos meses nesta prova, com o limitado tempo que tenho pra estudar. Eu fiz a prova bem confiante. Das 120 questões da prova, respondi 109. Acreditava que das 109 ficaria com uma pontuação líquida de, pelo menos, 93 questões, tendo em vista a banca ter sido CESPE e o entendimento que às vezes somente ela tem a respeito de determinados temas. Quando saíram os gabaritos preliminares, o baque: 77 pontos líquidos apenas. E o meu pior desempenho foi justamente na matéria que eu mais estudei e na qual tenho mais dificuldade: Direito Constitucional. Nossa, desde que vi os gabaritos, não consegui mais me concentrar nos estudos. Lembrei de todos os comentários que amigos e familiares fazem a respeito da minha "loucura" em estudar pra concurso durante as madrugadas (afinal, trabalho o dia inteiro, inclusive aos sábados, tenho 1 filho de dois anos que só me permite estudar a partir das 22h, marido pra dar atenção, tarefas domésticas pra cuidar...) e eles conseguiram me derrubar por um momento. Quem você acha que é pra conseguir passar num concurso, sem ter tempo pra estudar, pois tem gente que passa o dia inteiro estudando e não passa, que dirá você que estuda 3 ou 4 horas após um dia inteiro de trabalho? Este questionamento já estava querendo se fixar como verdade absoluta na minha cabeça, mas o seu artigo me fez acordar. Eu sei que já avancei muito e preciso continuar. Obrigada mesmo!
    ANA MARIA DE SOUZA em 13/10/17 às 16:19