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Gêneros Textuais no ENEM

Gêneros Textuais no ENEM

Olá, pessoal!!

Quando os alunos me perguntam sobre quais são os conteúdos mais cobrados em português, eu digo que temos gêneros textuais como um dos que mais aparecem em provas! Vale muito a pena aprofundar o estudo sobre eles! Vamos lá?

Da constante necessidade que nós temos de interagir e de nos comunicar com os outros, surgiram os gêneros textuais. Pelo fato de variarem muito, adaptando-se às necessidades de comunicação de cada um, os gêneros textuais não podem ser numerados. É possível, no entanto, observarmos que eles possuem características particulares que nos permitem identificá-los e reconhecê-los entre tantos outros gêneros.
Os gêneros são utilizados sempre que estamos inseridos em alguma situação que envolve comunicação. Mesmo que de maneira inconsciente, selecionamos um gênero que melhor se adapta àquilo que desejamos transmitir aos nossos interlocutores, na intenção de sobre eles obter algum efeito. Seja no bilhetinho deixado na porta da geladeira, seja nas postagens feitas nas redes sociais ou até mesmo nas piadas que contamos para os nossos amigos, os gêneros estão lá, trabalhando a serviço da comunicação e da linguagem.
Como vimos, os gêneros são incontáveis, por isso vamos direcionar os nossos estudos para os que têm sido mais recorrentes nas provas do Enem (Gêneros Textuais no ENEM).

GÊNEROS DO TIPO DISSERTATIVO

Os discursos argumentativos, persuasivos podem se organizar em diferentes gêneros, nas mais variadas linguagens. Vamos ver alguns deles.

Editorial

Os editoriais são textos jornalísticos, publicados em jornais ou revistas, cujo conteúdo expressa a opinião da empresa, da direção ou da equipe de redação, sem a obrigação de se submeter a nenhuma imparcialidade ou objetividade. É comum grandes jornais reservarem um espaço para os editoriais em duas ou mais colunas, sempre nas primeiras páginas internas. Os boxes (quadros) dos editoriais são normalmente demarcados com uma borda ou tipologia diferente para ressaltar claramente que aquele texto é opinativo e não informativo, como a maioria dos demais textos jornalísticos. Editoriais maiores e mais analíticos são chamados de artigos de fundo.

Normalmente os editorialistas assinam o editorial, mas, na chamada “grande imprensa”, os editoriais são apócrifos, isto é, nunca são assinados por ninguém em particular.

Artigo de opinião

É um texto do tipo argumentativo em que o escritor, além de expor seu ponto de vista, apresenta argumentos sobre determinado assunto. As ideias defendidas no artigo de opinião são de total responsabilidade do autor, cuja assinatura deve constar no artigo. É ele quem opina e que tenta convencer o leitor a adotar a opinião apresentada. Sendo assim, é comum observarmos nesse tipo de texto apelo emotivo, humor, ironia e descrições detalhadas.

Trata-se de um texto pequeno de leitura breve e simples, e a linguagem é simples também, sem rebuscamento, uma vez que a intenção é atingir os variados leitores de um jornal ou de uma revista. No geral, o texto é escrito em primeira pessoa, uma vez que se trata de uma opinião pessoal, que é cheia de subjetividade por natureza, porém pode ocorrer em terceira pessoa.

Carta de leitor

Os leitores de jornais e revistas têm um espaço nesses veículos de comunicação que é reservado para suas sugestões, críticas, opiniões e reclamações, chamado Carta do leitor (ou Carta de leitor).

Trata-se de um pequeno texto em que o leitor de um periódico se expressa a respeito de reportagens de edições anteriores.

Em um texto desse tipo deve constar a especificação do assunto, o objetivo da carta e o destinatário. A linguagem pode ser formal ou informal dependendo do objetivo. Se é uma crítica, normalmente a linguagem é mais formal, se elogio ou sugestão, costuma ocorrer uma linguagem menos formal. Não há, porém, um modelo específico, já que o espaço reservado para a carta é padronizado pelo veículo de comunicação.

TIPOS DE CARTAS

Para que um texto seja considerado carta (de maneira padrão), é preciso que apresente as seguintes partes:

– Local e Data;

– Destinatário;

– Saudação;

– Interlocução com o destinatário (desenvolvimento do assunto);

– Despedida.

Lembrando que os esses itens estão na ordem em que devem aparecer na carta. A carta logo nos remete a algo pessoal. Antigamente, quando a internet não existia, as cartas eram muito mais comuns. Chamadas de cartas familiares, elas contavam coisas sobre a vida pessoal e serviam como entretenimento!   Hoje elas são usadas com objetivos específicos, como vamos ver a seguir.

A carta argumentativa

Especialmente em concursos públicos, há um tipo de carta preferido: a carta argumentativa. Falarei um pouco mais sobre ela para que você consiga identifica-la facilmente.

Como o próprio nome diz, são ARGUMENTATIVAS, devem sustentar uma tese e defendê-la, de modo a persuadir seu interlocutor a concordar com os argumentos utilizados. É um texto de opinião que utiliza a estrutura de uma carta, ou seja, deve obedecer às mesmas características das outras cartas, as quais já foram citadas.

Detalhe importante: não é porque a carta tende a ser um texto mais “leve” no que tange ao uso da norma culta que isso deverá acontecer na carta argumentativa. Ela deve obedecer, assim como os demais textos, às regras de sintaxe, paragrafação, grafia, concordância, regência (nominal e verbal), colocação pronominal, pontuação e regras de coerência e coesão.

O que diferencia a carta argumentativa das demais cartas é o compromisso que ela assume com o convencimento do interlocutor, e o que a diferencia de uma simples dissertação argumentativa é que esta é dirigida a um interlocutor universal, enquanto a carta é dirigida a um interlocutor previamente especificado. Este fato torna mais fácil o processo de argumentação, já que eu conheço o leitor da minha carta, e assim posso prever os questionamentos e interesses possivelmente vindos dele.

Convite

O convite é um tipo de carta que pode ser extremamente formal ou muitíssimo íntimo. Algumas informações são importantes aqui: local, data e hora para o evento para o qual o interlocutor está sendo convidado. O objetivo do convite é bem específico, embora não tenha a intenção clara de persuadir, é de interesse do emissor que o receptor da carta aceite o convite.

Existe um tipo de carta que vem normalmente ligada ao convite: a carta de agradecimento. Para aceitar ou para recusar o convite, esse tipo de carta é uma maneira cortês de se fazer isso. Especialmente se a carta de agradecimento for para recusar um convite, é muito importante expor com detalhes todos os motivos da recusa. Assim, a cortesia fica completa e de bom tom.

Carta Comercial

Também chamada de carta empresarial, é utilizada pelas empresas em geral, sejam elas atuantes no comércio, setor bancário, na indústria, setor de serviços, entre outros segmentos.   Com relação ao conteúdo, tal modalidade pode ser definida por distintas intenções, tais como o agradecimento por um serviço prestado, solicitação de um determinado orçamento, cobrança na melhoria dos serviços prestados, cobrança financeira, entre outras.

Partes que compõem uma carta comercial:

  1. Timbre ou cabeçalho;
  2. Local e data;
  3. Índice e número (sendo esta parte opcional);
  4. Identificação do destinatário;
  5. Epígrafe ou ementa (a qual revela o assunto referente à carta), também se consolidando como parte opcional;
  6. Vocativo;
  7. Texto;
  1. Despedida;
  2. Assinatura.

 

A charge

A charge é um tipo de texto que apresenta, normalmente, linguagem mista (palavras e imagens), além de um discurso humorístico. Está presente em revistas e principalmente em jornais. São desenhos elaborados por cartunistas que captam de maneira perspicaz as diversas situações do cotidiano, transpondo para o desenho algum tipo de crítica ou opinião, geralmente permeada por fina ironia.

Mas a charge é um texto de opinião? Sim! Não é por acaso que elas são normalmente publicadas em meio a artigos de opinião, editoriais e cartas de leitores. Também não é por acaso que cada vez mais as charges estejam presentes nas diversas provas de vestibulares e certames como objeto de análise.

Ao analisarmos uma charge, podemos perceber que nela estão inscritas diversas informações construídas a partir de um interessante processo intertextual com o cotidiano, que obriga o interlocutor a fazer inferências e a construir analogias, elementos sem os quais a compreensão textual ficaria comprometida. Observe um exemplo de charge:

Esta charge faz uma crítica tanto à desigualdade social quanto à crise na família. Observe o plano não verbal e perceba como as pessoas estão vestidas, onde estão, os cartazes na parede. A figura da mãe está sendo comparada à do Papai Noel e do Coelhinho da Páscoa como seres que não existem!

O leitor pode até achar, em um primeiro contato, que a charge é apenas um texto engraçado e inocente, mas não é bem assim! Basta uma leitura mais cuidadosa para percebermos que estamos diante de um gênero textual riquíssimo, que critica personalidades, política, sociedade, entre outros temas relevantes.

Seu principal objetivo é estabelecer uma opinião crítica e, através dos elementos visuais e verbais, persuadir o leitor, influenciando-o ideologicamente.

Texto publicitário

Nos canais de rádio ou de TV, na palma da mão, em nossos celulares, ou no nosso computador, em cartazes, folders ou outdoors recebemos inúmeras mensagens publicitárias.

Como vimos nesses anúncios, o texto publicitário apresenta dois tipos de linguagem, a verbal e a visual (não verbal), sendo que uma serve de apoio ou reforço para a outra.

De modo geral, a linguagem é persuasiva, direta e clara. Frequentemente são empregados verbos no modo imperativo ou no presente do indicativo, com um nível coloquial de linguagem na maioria das vezes, mas esse registro pode variar de acordo com o público que se pretende atingir, com o produto que se anuncia e o veículo utilizado.

Por ser uma modalidade do tipo dissertativo-argumentativo, o texto publicitário apresenta argumentos para persuadir o interlocutor a consumir o produto ou a ideia veiculada.

Percebe-se também, como recursos de persuasão, o emprego de figuras de linguagem, ambiguidades, frases feitas e popularmente conhecidas, jogos de palavras, provérbios entre vários outros.

A publicidade deve divertir, motivar, seduzir, fazer sonhar, excitar ou entusiasmar. A linguagem publicitária apela à emoção. Os textos publicitários merecem uma leitura crítica e inteligente do consumidor, para isso é importante conseguir ler nas entrelinhas, perceber o sentido implícito de uma mensagem.

GÊNEROS DO TIPO NARRATIVO

Para que um texto seja considerado narrativo, é preciso que ele possua, antes de qualquer coisa, os elementos essenciais de uma narrativa, que são:

Vamos analisar a função de cada elemento de uma narrativa:

 

– Personagens

São os seres que participam da narrativa. Algumas ocupam lugar de destaque, também chamadas protagonistas, outras se opondo a elas, denominadas de antagonistas. As demais caracterizam-se como secundárias.

Tempo

Marcado cronologicamente, ou seja, determinado por horas e datas, revelado por acontecimentos dispostos numa ordem sequencial e linear – início, meio e fim; ou psicológico, aquele ligado às emoções e sentimentos, caracterizado pelas lembranças dos personagens, reveladas por momentos imprecisos, fundindo-se em presente, passado e futuro, o tempo retrata o momento em que ocorrem os fatos (manhã, tarde, noite, na primavera, em dia chuvoso, em um dia feliz ou triste, uma manhã de domingo, etc).

Espaço

É o lugar onde os fatos acontecem. Algumas vezes é apenas sugerido no intuito de aguçar a mente do leitor, outras, para caracterizar os personagens de forma contundente. Dependendo do enredo, a caracterização do mesmo torna-se de fundamental importância, como, por exemplo, os romances regionalistas.

– Narrador

Tecnicamente, podemos dizer que pode-se narrar algo de maneiras diferentes. O ponto de vista de quem nada pode mudar. Geralmente, se resumem em três possibilidades:

 1. Narrador-observador:

* Ele revela ao leitor somente os fatos que consegue observar.

* Usa a 3ª pessoa.

* Não é personagem, não participa da história.

* Embora não seja personagem da história, sua visão é limitada àquilo que consegue observar.

2.  Narrador-onisciente:

* o narrador não apenas observa, mas conhece TUDO sobre a história, até o pensamento dos personagens.

* Usa a 3ª pessoa.

* Não é personagem, não participa da história.

* Sua visão é multilateral, conhece todos os lados da história.

* Algumas vezes limita-se a observar os fatos de forma objetiva, em outras, emite opiniões e julgamento de valor acerca do assunto.

3. Narrador-personagem:

* A narrador é também personagem (principal ou secundária) da história narrada.

* Usa a 1ª pessoa.

* Possui uma visão limitada dos fatos, pois está vendo sob o seu ponto de vista.

Enredo

 

É o conjunto de fatos que constituem a ação da narrativa.

Todo enredo é composto por um conflito vivido por um ou mais personagens, cujo foco principal é prender a atenção do leitor por meio de um clima de tensão que se organiza em torno dos fatos e os faz avançar. Geralmente, o conflito determina as partes do enredo, representadas pelas referidas partes:

* Introdução – É o começo da história, no qual se apresentam os fatos iniciais, os personagens, e, às vezes, o tempo e o espaço.

 

* Complicação – É a parte em que se desenvolve o conflito.

* Clímax – Figura-se como o ponto culminante de toda a trama, revelado pelo momento de maior tensão. É a parte em que o conflito atinge seu ápice.

 

* Conclusão ou desfecho final – É a solução do conflito instaurado, podendo apresentar final trágico, cômico, triste, ou até mesmo surpreendente. Tudo irá depender da decisão imposta pelo narrador.

Agora vou especificar características de alguns dos gêneros mais importantes.

A notícia

 

Notícia é o relato de um fato novo, que desperta o interesse do público alvo do jornal. É um gênero textual tipicamente jornalístico e pode ser veiculado em jornais, escritos e falados, e em revistas.

Na notícia, predomina a narração e muitas vezes há trechos de descrição. Ela apresenta uma estrutura própria e fixa, composta de duas partes: o lead e o corpo.

Lead é um resumo do fato em poucas linhas e compreende, normalmente, o primeiro parágrafo da notícia. Contém as informações mais importantes, que fornecem ao leitor a maior parte das respostas às seis perguntas básicas: o quê, quem, quando, onde, como e por que (representam os elementos da narrativa).

Corpo são os demais parágrafos da notícia, nos quais se faz o detalhamento do exposto no lead por meio da apresentação ao leitor de novas informações, em ordem cronológica ou de importância.

Características

  • Predomínio da narração, com a presença dos elementos essenciais de um texto narrativo: fatos, pessoas envolvidas, tempo e lugar em que ocorreu o fato, como e porque aconteceu;
  • estrutura padrão composta de lead e corpo;
  • título simples, pequeno, mas chamativo;
  • linguagem impessoal, clara, precisa, objetiva, direta, de acordo com a variedade padrão da língua.
  • discurso: jornalístico.

A crônica

A crônica surgiu no Brasil há uns 150 anos, com o Romantismo e o desenvolvimento da imprensa. Inicialmente chamado de folhetim, era um artigo de rodapé escrito sobre assuntos do dia – políticos, sociais, artísticos, literários. Com o passar do tempo, foi se tornando um texto mais curto e se afastando da finalidade de informar e comentar, sendo substituída pela intenção de apresentar os fatos cotidianos de forma artística e pessoal. A linguagem tornou-se mais poética ao mesmo tempo que ganhou certa gratuidade, em razão da ausência de vínculos com interesses práticos e com as informações presentes nas demais partes de um jornal.

A crônica é o resultado da visão pessoal subjetiva do cronista com relação a um fato qualquer, que pode ter sido colhido no noticiário do jornal ou no cotidiano. Quase sempre explora o humor; às vezes, diz as coisas mais sérias por meio de uma aparente conversa fiada; outras vezes, despretensiosamente, engrandece o valor das coisas mais banais e insignificantes.

O discurso de uma crônica é jornalístico devido ao meio no qual é publicada e literário devido ao estilo aplicado ao texto.

Características

  • Texto curto;
  • linguagem descontraída, simples, coloquial, próxima do leitor;
  • espaço e tempo limitados por ser um texto curto;
  • admite narrador em 1ª e em 3ª pessoa;
  • discurso literário e jornalístico (texto hibrido).

O conto

 

Trata-se de uma pequena narrativa com tempo e espaço reduzidos e poucos personagens.

Por ser um texto narrativo, relata fatos em uma sequência temporal, relacionados a um determinado acontecimento, podendo ser real ou fictício.

Exemplo de conto:

 

Tentação

Ela estava com soluço. E como se não bastasse a claridade das duas horas, ela era ruiva.

Na rua vazia as pedras vibravam de calor — a cabeça da menina flamejava. Sentada nos degraus de sua casa, ela suportava. Ninguém na rua, só uma pessoa esperando inutilmente no ponto do ônibus. E como se não bastasse seu olhar submisso e paciente, o soluço a interrompia de momento a momento, abalando o queixo que se apoiava conformado na mão. Que fazer de urna menina ruiva com soluço? Olhamo-nos sem palavras, desalento contra desalento. Na rua deserta nenhum sinal de bonde. Numa terra de morenos, ser ruivo era urna revolta involuntária. Que importava se num dia futuro sua marca ia fazê-la erguer insolente uma cabeça de mulher? Por enquanto ela estava sentada num degrau faiscante da porta, às duas Horas. O que a salvava era urna bolsa velha de senhora, com alça partida. Segurava-a com um amor conjugal já habituado, apertando-a contra os joelhos.

Foi quando se aproximou a sua outra metade neste mundo, um irmão em Grajaú. A possibilidade de comunicação surgiu no ângulo quente da equina, acompanhando uma senhora, e encarnada na figura de um cão. Era um basset lindo e miserável, doce sob a sua fatalidade. Era um basset ruivo.

Lá vinha ele trotando, à frente da sua dona, arrastando o seu comprimento. Desprevenido, acostumado, cachorro.

A menina abriu os olhos pasmada. Suavemente avisado, o cachorro estacou diante dela. Sua língua vibrava. Ambos se olhavam.

Entre tantos seres que estão prontos para se tornarem donos de outro ser, lá estava a menina que viera ao mundo para ter aquele cachorro. Ele fremia suavemente, sem latir. Ela olhava-o sob os cabelos, fascinada, séria. Quanto tempo se passava? Um grande soluço sacudiu-a desafinado. Ele nem sequer tremeu. Também ela passou por cima do soluço e continuou a fitá-lo.

Os pelos de ambos eram curtos, vermelhos.

Que foi que se disseram? Não se sabe. Sabe-se apenas que se comunicaram rapidamente, pois não havia tempo. Sabe-se também que sem falar eles se pediam. Pediam-se com urgência, com entabulamento, surpreendidos.

No meio de tanta vaga impossibilidade e de tanto sol, ali estava a solução para a criança vermelha. E no meio de tantas ruas a serem trotadas, de tantos cães maiores, de tantos esgotos secos — lá estava uma menina, como se fora carne de sua ruiva carne. Eles se fitavam profundos, entregues, ausentes ele Grajaú. Mais um instante e o suspenso sonho se quebraria, cedendo talvez à gravidade com que se pediam.

Mas ambos eram comprometidos.

Ela com sua infância impossível, o centro da inocência que só se abriria quando ela fosse uma mulher. Ele, com sua natureza aprisionada.

A dona esperava impaciente sob o guarda-sol. O basset ruivo afinal despregou-se da menina e saiu sonâmbulo. Ela ficou espantada, com o acontecimento, numa mudez que nem pai nem mãe compreenderiam. Acompanhou-o com olhos pretos que mal acreditavam, debruçada sobre a bolsa e os joelhos, até vê-lo dobrar a outra esquina.

Mas ele foi mais forte que ela. Nem uma só vez olhou para trás.

(Clarice Lispector. A legião estrangeira. 14. ed. São Paulo: Siciliano, 1996. p. 69-71.)

 

estacar: parar ou fazer parar.

flamejar: expelir chamas ou reverberações parecidas com fogo, chamejar, arder.

fremir: soar ruidosamente, provocar breve estremecimento, vibrar, tremer

Grajaú: bairro da cidade do Rio de Janeiro

gravidade: seriedade, compostura, força de atração mútua entre os corpos originada pela gravitação.

insolente: incomum, nunca visto; altivo

 

Esse conto de Clarice Lispector possui os seguintes elementos da narrativa:

  • Personagens principais: a menina e o basset ruivo
  • Espaço: a rua em Grajaú
  • Tempo: psicológico (segue o fluxo de pensamento da menina)
  • Narrador: em 3ª pessoa (onisciente)
  • Enredo: encontro da menina ruiva com “sua outra metade” que era o basset também ruivo.
  • Clímax: momento em que os dois se encontram.

 

Histórias em quadrinhos e tirinhas

 

Trata-se de uma modalidade de texto misto muito comum em nosso cotidiano, talvez por isso mesmo o ENEM goste tanto de trabalhar com esse gênero. As Histórias em quadrinhos e tirinhas (a diferença entre eles é que as tirinhas são bem menores) apresentam características semelhantes à narração, como personagens, espaço, tempo, sobretudo, pelo enredo, se caracterizam por uma sequência de ações apoiadas pelas imagens, parte não verbal.

Apenas diferem-se dos demais gêneros narrativos pelo fato de que, ao invés do narrador, o diálogo é retratado de forma direta, representado em forma de balões, uma composição gráfica, em consonância com uma linguagem não verbal, na qual as imagens representam um papel de destaque, de modo a promover a interação entre os interlocutores por meio de uma relação de causa e efeito.

A principal finalidade de desse gênero é o entretenimento, embora em algumas ocasiões veicule uma informação como forma de alertar a população para problemas polêmicos, como é o caso de campanhas comunitárias relacionadas à área da saúde, fatores ligados ao trânsito, consumo de água e energia, dentre outros.

A história a seguir nos faz refletir sobre ética:

Esse assunto é inesgotável, dada a grande quantidade de gêneros textuais que possuímos! Ainda temos assunto para mais um artigo!

Abraço!!

Prof. Rafaela Freitas

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