Artigo

A eleição de Donald Trump e a prova de Atualidades

Olá galera,

Vários alunos me escreveram solicitando fazer uma análise do resultado das eleições presidenciais dos Estados Unidos e como o tema pode ser cobrado na prova de Atualidades. É o que vamos fazer. O nosso enfoque será passar informações sobre o resultado da eleição, a campanha eleitoral, os candidatos, o que levou à vitória de Trump e o que pode acontecer daqui para frente. Como tudo isso pode ser cobrado numa prova objetiva e discursiva.

Sim, eu sei que você tem opinião sobre a eleição, sobre cada candidato, que você pode estar festejando o resultado da eleição ou horrorizado! Ou até indiferente ou muito antes pelo contrário. Nada disso nos interessa aqui. O que interessa é lhe passar informações que lhe dê subsídios para a prova de Atualidades, que lhe forneça um algo a mais, principalmente para sustentar um texto em uma prova discursiva.

Claro, este artigo não tem nenhuma pretensão e não esgota o tema. É um pontapé inicial. Você pode e deve buscar mais informações e ler os diversos pontos de vista.

Vem comigo!

Um grande abraço,

Leandro Signori

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Donald Trump, candidato do Partido Republicano, foi eleito Presidente dos Estados Unidos nas eleições realizadas no dia 09/11/2016. Ele derrotou Hillary Clinton, candidata do Partido Democrata.

Quem elege o Presidente nos Estados Unidos é um Colégio Eleitoral, composto por 538 delegados, representantes dos estados norte-americanos. Para um presidente ser eleito, precisa do voto de pelo menos 270 – delegados, ou seja, maioria absoluta. Cada estado possui certo número de delegados no Colégio Eleitoral. Essa quantidade é proporcional à população dos estados.

Nas eleições presidenciais, os eleitores votam no candidato a presidente. O candidato mais votado em cada estado levará todos os delegados do estado para o Colégio Eleitoral. É a regra conhecida como “winner takes all” (o vencedor leva tudo). Porém, há duas exceções: Maine e Nebraska, em que os votos do Colégio são distribuídos proporcionalmente à votação dos candidatos.

O mapa eleitoral dos Estados Unidos é bem dividido entre o Partido Democrata e o Partido Republicano. Os estados do nordeste do país e da costa oeste costumam votar nos democratas. Nos estados do interior, os republicanos predominam.

Porém, há um grupo de estados em que o voto do eleitor oscila, ora vence um candidato democrata, ora vence um candidato republicano. São os chamados swing states, os estados decisivos. Sair-se melhor neles é fundamental para vencer a eleição norte-americana. Nas eleições de 2016, 13 estados estavam nesta situação. No xadrez estratégico dos estados, o Republicano saiu-se melhor que a Democrata nos swing states.

O resultado final das urnas mostra que Donald Trump terá 290 votos e Hillary Clinton 228 votos no Colégio Eleitoral. No voto popular, Hillary venceu, teve 60.274.974 votos, contra 59.937.338 votos de Trump. Isso pode ocorrer. É a quarta vez que um candidato com maior votação popular teve menos votos no Colégio Eleitoral.

A campanha eleitoral foi radicalizada com muitas denúncias, ataques e ofensas pessoais entre os candidatos. Trump e o presidente Barack Obama, que apoiava Hillary, também trocaram acusações e ácidas críticas. Questões como essa, aparecem em eleições, não são novidades. Para os analistas, a novidade foi o nível de exacerbação do tom dos discursos e das acusações entre os candidatos.

Eu sei que você quer que eu explique como um candidato que foi taxado pelos seus críticos de xenófobo, machista, racista, nativista, nacionalista, isolacionista e anti-globalização venceu a eleição.

Trump não representa o político tradicional. Dizer que ele não fez política na sua vida, não é verdadeiro. Mas, não é uma pessoa que dedicou sua vida à política. É um empresário e bilionário, voltado ao mundo dos negócios.

Para ser candidato a presidente, disputou as eleições internas no Partido Republicano e superou todos os seus concorrentes. Não foi o candidato da direção e das lideranças partidárias. Pelo contrário, se opuseram internamente a sua candidatura.

A grande mídia norte-americana foi contrária a Trump, seja como pré-candidato do Partido Republicano, seja como candidato a presidente.

Um fator decisivo para a eleição de Trump foi que ele encarnou o discurso anti-establishment. Ou seja, uma crítica à ordem política, econômica e social dominante nos Estados Unidos. Uma crítica aos políticos tradicionais, a grande mídia e ao poder econômico da finança de Wall Street.

Já Hillary Clinton fez política a vida toda. A grande mídia lhe apoiou direta ou indiretamente. Nas eleições internas do Partido Democrata, quem encarnou o discurso crítico ao establishment foi o socialista Bernie Sanders, que deu muito trabalho a Hillary Clinton. Foi um adversário difícil de ser derrotado.

Aqui temos a força do discurso crítico ao sistema e a repulsa de parcela dos norte-americanos a este estado das coisas.

Para Demétrio Magnoli, Hillary Clinton foi a candidata preferida dos vencedores da globalização, simbolizados no capital financeiro de Wall Street e nas empresas de alta tecnologia do Vale do Silício. Trump foi o preferido dos prejudicados pela globalização: os trabalhadores que perderam o emprego e/ou viram a sua qualidade vida diminuir nos últimos anos.

Trump venceu a eleição no velho cinturão industrial norte-americano que sofre com a globalização, onde empresas faliram ou transferiram a sua produção para o exterior e trabalhadores perderam os empregos. Nas eleições internas do Partido Democrata, Bernie Sanders venceu Hillary nestas regiões. Mas, nas eleições presidenciais, esses eleitores preferiram Trump e não Hillary.

A globalização atual propõe o livre-comércio, a flexibilização das barreiras, dos impostos e das tarifas de importação entre os países. Para Trump, os Estados Unidos fizeram acordos comerciais que prejudicaram a economia norte-americana, levaram empresas à falência e trabalhadores a ficarem desempregados. Como solução, propõe rever acordos comerciais, entre eles o Nafta e elevar impostos de importação de produtos, como os dos chineses. Assim, produtos ficariam mais caros no mercado estadunidense e propiciariam uma retomada da produção nacional. Propõe também rever a Parceria Transpacífica (TTP).

Trump foi o mais votado entre os eleitores brancos de menor renda e menor escolaridade, que são a maioria dos norte-americanos. Para analistas, é um indicativo de que em primeiro lugar o eleitor está preocupado com emprego, salário, vida digna, com saúde, educação e segurança para si e as suas famílias.

Há que considerar também que muitos apoiam e concordam com as polêmicas propostas de Trump e por isso votaram nele. Sim, concordam com a construção do muro na longa fronteira com o México, com a deportação dos imigrantes ilegais, com a revisão do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, etc.

Uma das famosas e polêmicas frases de Trump foi: “Quando o México envia suas pessoas para os EUA, ele não envia as melhores. Ele envia pessoas com muitos problemas. E elas trazem esses problemas para cá. Elas trazem drogas, trazem crime. São estupradores”.

Como disse, para barrar a entrada ilegal de mexicanos, prometeu construir um muro na fronteira, que será pago pelo México. Prometeu suspender a entrada de muçulmanos no país. Se o que defendeu na campanha for colocado em prática, os Estados Unidos serão um país mais fechado à imigração estrangeira. Serão também um país mais protecionista no comércio internacional.

Como grande potência política, econômica e militar, os EUA são determinantes para os rumos da ordem mundial. Novamente, considerando o que propôs, os EUA se envolverão menos nos conflitos regionais e serão menos intervencionistas militarmente. Segundo ele, as tensões no leste da Ásia é um problema a ser resolvido regionalmente, com menos interferência norte-americana. As tensões no leste europeu entre Rússia e União Europeia é principalmente um problema russo e do bloco europeu e menos dos Estados Unidos.

Há ainda o receio de que retire a ratificação dos EUA ao acordo do clima de Paris. Trump é um cético quanto à tese do aquecimento global gerado pela ação humana.

E como isso tudo pode aparecer na prova discursiva? Vou responder com base no perfil do Cespe, que está com vários concursos em que o tema da discursiva virá de Atualidades.

Um primeiro ponto a ficar atento é a questão da globalização. Pode a globalização retroceder? Para muitos é uma hipótese impensável. Conforme Demétrio Magnoli, a vitória de Trump derruba um dos pilares da globalização, que é o livre-comércio. Isso, porque o presidente eleito diz que vai rever tratados de livre-comércio. Demétrio também chama a atenção para o fato de o “Brexit”, que decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia, ter derrubado outro pilar da globalização: que a União Europeia é um bloco econômico que só avança.

Cabe lembrar que em vários países da União Europeia há movimentos reivindicando referendos para deliberar sobre a permanência ou não dos seus países no bloco europeu, como a Holanda, Itália e França. Neste último país, a Frente Nacional, de Marine Le Pen, defende a saída dos franceses da União Europeia. Em 2017, teremos eleições presidenciais e os nacionalistas da Frente Nacional estão entre os favoritos.

A crítica à globalização não é desprovida de sentido. Estudos demonstram que a desigualdade entre os países cresceu com a globalização. A concentração de riqueza também: 1% da população mundial detém 50% de toda a riqueza do planeta. Ou seja, a globalização não beneficiou a todos.

A questão da imigração é outro tema. A xenofobia, ou seja, a aversão ao estrangeiro. Seriam os imigrantes ilegais e legais, um dos responsáveis pelas crises econômicas e sociais de países desenvolvidos? Como a xenofobia se manifesta no mundo atual? Como superar a xenofobia?

A crítica à política tradicional e ao atual sistema político. A necessidade de mudar e reformar o sistema político. É uma crítica que ocorre em vários países do mundo, inclusive no Brasil.

Os nacionalismos, o crescimento do nacionalismo no mundo.

Por fim, os temas relacionados à livre orientação sexual, à legalização das drogas, ao casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, ao aborto, etc. Uma abordagem correta para o Cespe é a que trata dos temas sob o viés dos direitos humanos.

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Veja os comentários
  • Excepcional análise!
    Elton em 26/11/16 às 13:34
  • Obrigada Professor! Ótimo texto e linguagem fácil. Muito proveitosa a leitura!
    Rosana em 21/11/16 às 13:23
  • Ótima análise! Obrigada
    Cristina em 17/11/16 às 06:42
  • Excelente conteúdo professor! Uma verdade incontestável é a de que nenhuma sociedade está verdadeiramente assentada em bases sólidas. Todas encontram-se em constantes fases de construção e sedimentação. E também de desconstrução. É um ciclo a que a humanidade se propõe para justificar sua ausência de acomodação no sentido político. Cada uma dessas sociedades, dessas nações defendem, de forma disforme, seus pontos de vista acerca de democracia, liberdade e bem estar comum. Muito obrigado, professor!
    ANTONIO GOMES . em 12/11/16 às 09:39
  • Excelente artigo, professor! É lamentável e de certa forma assustador ver que um candidato que chegou a proferir tantos aburdos durante a campanha, seja eleito. Se ele chegar a cumprir metade das coisas que disse, a nação americana já dará um passo gigante para trás, sem contar a humanidade. Também não concordo com essa forma de eleição indireta, (winner takes all), é como se o voto das pessoas de certo estado em que obteve minoria dos votos fosse completamente apagado, e isso no macro faria diferença sim, ela teve maioria do votos na contagem geral, mas como o que conta são os delegados...
    Wellington Mascarenhas em 12/11/16 às 08:16
  • Muito bom! Obrigada
    Fatima Borges de Campos em 12/11/16 às 04:19