Aprovado no concurso TRF-1
Conheça a banca. Conheça o edital, veja a extensão, peso e quantidade de questões de cada matéria e monte seu cronograma com base nisso. Quase sempre, Português e discursiva devem ser prioridade.
Confira nossa entrevista com Lucas Sadeck dos Santos Moraes, aprovado em 1º lugar no concurso TRF-1 Belém para o cargo de Analista Judiciário – Área Administrativa:
Estratégia Concursos: Você é formado em que área? Qual sua idade? De onde você é?
Lucas Sadeck dos Santos Moraes: Sou formado em Ciências Náuticas pela Escola de Formação de Oficiais de Marinha Mercante. Atualmente, tenho 25 anos e sou de Belém.
Estratégia: O que te levou a tomar a decisão de começar a estudar para concursos?
Lucas: Como recém-formado, trabalhando embarcado em navios mercantes, percebi o quanto eu prezava pela qualidade de vida e me incomodava com a politicagem (o “fazer média”). Infelizmente, a regra do mercado privado é exigir sacrifícios da vida pessoal, sendo ainda suscetível a variáveis alheias à competência. O setor público, em grande parte, supera esses 2 problemas ao ser o mais transparente e meritocrático possível. A remuneração é compatível com a exigência do cargo e demanda de tempo. Qualidade de vida.
Estratégia: Durante sua caminhada como concurseiro, você trabalhava e estudava (como conciliava trabalho e estudos?), ou se dedicava inteiramente aos estudos para concurso?
Lucas: Podemos separar em 2 etapas. A primeira foi trabalhando embarcado. Ao tomar a decisão de estudar para concurso decidi focar na base, pois chegava a trabalhar 80 horas por semana e teria pouquíssimo tempo. O tempo de estudo ficava em 30 min por dia. Era o que dava pra fazer. Na segunda parte, de agosto a novembro, eu me dediquei apenas aos estudos.
Estratégia: Em quais concursos já foi aprovado? Qual o último? Em qual cargo e em que colocação?
Lucas: Em agosto de 2017, no início do meu estudo em terra, cheguei a participar de um concurso referente ao cargo de Agente Administrativo na CINBESA, o objetivo principal era sentir o clima de prova e um pouquinho de “vai que dá certo” (spoiler: Nunca dá). Considero o TRF1 como meu primeiro concurso de fato, no qual fui aprovado em 1º para AJAA no estado do Pará. De resto, durante espera da convocação no TRF1, cheguei a prestar para o Banpará, que acabou atrasando e fui convocado somente após já estar em exercício na Justiça Federal.
Estratégia: Qual foi sua sensação ao ver seu nome na lista dos aprovados/classificados?
Lucas: Estudar para concurso incube um peso muito grande a quem assume tal compromisso. No meu caso, o concurso era apenas para CR, então foi difícil comemorar sem ressalvas. Logo ao sair da prova, eu não fiquei muito confiante, a prova estava difícil. Porém, conforme os rankings foram surgindo, eu vi que teria minha redação corrigida. Depois saiu nota da redação, a qual fui agraciado com pontuação máxima de conteúdo. Contudo, ainda restava etapa de recursos e poderia perder muitas posições. Quando finalmente saiu a lista definitiva com a classificação, foi um alívio muito grande em saber que havia valido a pena e feito o melhor possível.
Estratégia: Como era sua vida social durante a preparação para concursos? Você saía com amigos, família, etc? Ou adotou uma postura radical, abdicando do convívio social?
Lucas: Quando iniciei os estudos, após término do meu embarque, não tinha ritmo. Portanto, comecei com apenas poucas horas por dia com uma rotina praticamente de “férias”: sono desregrado, academia quase todo dia, séries e passeios com a namorada. Já mais próximo da prova, diria que fui bem radical. Além de estudar, minha semana contava apenas com academia 3 vezes e namorada aos sábados de tarde. O meu entretenimento era “Aulão no YouTube”.
Estratégia: Você é casado? Tem filhos? Namora? Mora com seus pais? Sua família entendeu e apoiou sua caminhada como concurseiro? Se sim, de que forma?
Lucas: Na época que estudei para o TRF1, morava com meus pais e namorava. Recebi todo o apoio possível: financeiro, logístico e de encorajamento.
Estratégia: Você acha que vale a pena fazer outros concursos, com foco diferente daquele concurso que é realmente seu objetivo maior? (Se esse ainda não é o concurso dos seus sonhos, se possível, citar qual é e se pretende continuar se preparando para alcançar esse objetivo).
Lucas: Regra de ouro: estudar por “área”. Em outras palavras: fazer todos os concursos que os editais se assemelhem, quanto menos matéria fora do edital alvo, melhor. É preferível fazer um edital que tenha apenas 20% das matérias e esteja todo contido no edital alvo, do que um que tenha 80% comum mas tenha matéria a mais que não caia no edital alvo.
Acho super válido ficar sempre de olho nas opções. A depender de quão quente está o concurso alvo, o quão boa é a oportunidade (Vagas, Salário, Atividade exercida) do edital na praça e o tanto que eles se interceptam. Havendo uma prova interessante, essas podem ser a decisão:
-Continuar estudando pro concurso alvo sem mudar nada e apenas ir fazer a prova;
-Modificar ligeiramente o estudo do concurso alvo para focar nos assuntos do edital aberto;
-Focar 100% no concurso em andamento durante os 2-3 meses.
Claro, infelizmente, muitas pessoas não têm condições de despender gastos para nos quais não tenham se dedicado por completo. Restando apenas a opção de ignorar outros editais (não recomendo) ou ser um pouco mais criterioso no crivo e se dedicar 100% as oportunidades que aparecerem.
Quanto a mim, acredito que atualmente estou no ponto de equilíbrio ótimo que busquei. Contudo, continuo estudando, só que não mais para cargos públicos, e sim, para um processo seletivo com mais afinidade na minha área de formação.
Estratégia: Você estudou por quanto tempo direcionado ao concurso em que foi aprovado? Chegou a estudar sem ter edital na praça? Durante esse tempo, como você fazia para manter a disciplina nos estudos?
Lucas: Direcionado ao TRF1, AJAA, foram 2 meses. Iniciei os estudos no navio sem muito foco, pensava em RFB, e foram 3 meses de PT e Constitucional, com carga horária bem baixa. Em terra, a ideia foi estudar pro MPU, que era o edital provável na época. Eu adicionei Direito Administrativo e comecei a montar minha base. Em setembro, saiu uma notícia que o “concurso quente” do MPU havia ficado pra depois. Só então fui saber do edital do TRF1 que já estava na praça há pouco mais de 2 semanas.
Quanto à disciplina, a vejo como fruto do entendimento que a única possibilidade de mudar algo é agindo de tal forma. A única possibilidade de eu não precisar voltar a embarcar era conseguindo um cargo público. Então, entendo que foi apenas questão de eliminar a possibilidade do não fazer. Eu tinha que acordar tal hora, fazer x questões, ler tantas páginas… No momento que defini que TINHA que ser feito – e não que Precisava, Poderia ou Deveria – não restou outra possibilidade.
Estratégia: Como conheceu o Estratégia Concursos?
Lucas: Durante meu último ano da escola, eu lia alguns relatos de aprovados e o Estratégia e seus professores sempre são referenciados.
Estratégia: Que materiais você usou em sua preparação para o concurso? Aulas presenciais, telepresenciais, livros, cursos em PDF, videoaulas? O que funcionou melhor para você?
Lucas: PDF e questões, certamente, foram indispensáveis. Não participei de nenhuma aula presencial e usei quase nada de videoaulas. O que assisti bastante foram os Aulões com revisão e resolução de questões. Todo dia de manhã, enquanto eu tomava café procurava se tinha algo novo no YouTube referente ao TRF1. Em 30 min (vídeo de 1h em velocidade 2x), têm-se uma densidade elevada de conteúdo e de forma leve. Era um bom “aquecimento” pro inicio do dia ou “arrefecimento” ao fim, quando a concentração não tá 100%.
Ainda, usei podcast/áudio lei quando não estava estudando (dirigindo, academia) e flashcards.
Estratégia: Uma das principais dificuldades de todo concursando é a quantidade de assuntos que deve ser memorizada. Como você fez para estudar todo o conteúdo do concurso? Falando de modo mais específico: você estudava várias matérias ao mesmo tempo? Quantas? Costumava fazer resumos? Focava mais em exercícios, ou na leitura e releitura da teoria? Como montou seu plano de estudos? Quantas horas por dia costumava estudar?
Lucas: No início do meu estudo, eu era extremamente cru em Direito. Ainda me recordo de mandar um áudio para minha namorada perguntando o que era esse tal de “capút” (ela cursava direito). Então, como dito anteriormente, comecei apenas com Direito constitucional e português, acrescentando o Direito Administrativo posteriormente. Foram apenas essas 3 matérias em ritmo tranquilo, até o dia que migrei o foco para o TRF1.
Ao ver o edital do TRF1, listei em uma tabela todas as matérias com alternância de semelhança, depois, dupliquei as matérias mais extensas (Contabilidade pública, Direito adm, Português) para que tivessem mais carga horária. Estudava por volta de 2-3 horas uma matéria e ia para a seguinte. Sempre continuando de onde parei, não importando se fosse em dias diferentes.
Meu objetivo com teoria era apenas 1: estar apto a resolver questão. Tentei não me preocupar em decorar e entender os assuntos, a meta era cobrir o edital por completo em 1 mês para que eu ficasse no seguinte apenas resolvendo questão. Assim eu fiz. Contabilidade pública e Administração pública eram gigantes e novidades, também tinha AFO com tamanho razoável. Ainda, varias matérias menores que nunca tinha estudado: Ética, Adm de recursos de material, Regimento Interno. Felizmente, Raciocínio logico e analítico já havia conhecimento da escola/faculdade suficiente para ficar só nas questões e de forma reduzida.
Apesar de ter pouco tempo para muito assunto novo, consegui uma excelente carga de estudos (estimo umas 500h). No momento que comecei a focar no TRF, minha rotina era acordar e estudar até dormir. Quando o ritmo engatou estudava das 10 da manha até 11 da noite, com pausa para academia no horário do almoço 3x na semana e sábado de tarde ia ver a namorada (de noite estudava). As refeições eram vendo Aulão.
Uma das minhas armas foram os Flashcards. Itens extremamente decoreba iam pra eles (prazos, idades, valores..). A grande sacada do flashcard talvez nem seja o auxílio na memorização em si, mas o incremento de fluxo na leitura do material , pois sabia que não precisava tentar decorar nada ao ler, o faria depois no flashcard. Graças a leitura desleixada consegui cobrir todo edital em 1 mês.
Quanto aos resumos, o máximo que fiz foram alguns esquemas comparativos de coisas que eram fácil confundir (exemplo: modalidades licitação). Eu usava mais como consulta pra tirar dúvida que como revisão.
De resto, no fim de todo dia, lia lei seca e fazia 20 questões de português avulsas. Não existe custo benefício melhor de tempo que questão de português e lei seca.
Estratégia: Você tinha mais dificuldades em alguma(s) disciplina(s)? Quais? Como você fez para superar estas dificuldades?
Lucas: Contabilidade pública foi o bicho a ser vencido. Mas sempre tive afinidade com assuntos de finanças, então isso pode ter ajudado. Meu plano para Contabilidade era simples, cobrir todo edital e acertar o máximo de questões fáceis. Não me preocupei em entender a matéria, eu lia as normas e fazia questão. Quando tirava 60%, ficava feliz. Por ser uma matéria bem difícil e extensa, não valia a pena tentar aumentar 20%. Era muito mais otimizante buscar nota maior nas outras (como Regimento interno, que era pequena e geralmente só cai lei seca).
Estratégia: A reta final é sempre um período estressante. Como foi sua rotina de estudos na semana que antecedeu a prova? E véspera de prova: foi dia de descanso ou dia de estudo?
Lucas: Estudei até as 19h do dia anterior. Tinha um objetivo de revisar 3x um material que havia separado na última semana, o qual terminei só um pouco antes do jantar na véspera. Como controlo bem a ansiedade no momento da prova, não vejo problema em estudar o máximo que conseguir, só não acho ideal estudar muito perto antes de dormir ou no mesmo dia da prova. Inclusive, um dos últimos papéis que vi foi uma questão da prova de contabilidade pública.
Estratégia: No seu concurso, tivemos, além das provas objetivas, as provas discursivas. Como foi seu estudo para esta importante parte do certame? O que você aconselha?
Lucas: Conheça sua banca. Eu sabia exatamente como fazer a redação de forma a obter nota máxima na Cebraspe. Pesquisei redações nota máxima e vi muitas aulas (recentes!) voltada para a banca. Aí juntou isso, com um tema o qual eu tinha domínio, me jogando para 1ª posição (o 2º lugar acertou mais na objetiva)
Nos 2 meses, fiz 1 por semana, exceto na última. Acho importante ter alguém pra corrigir sua redação, o ideal seria se essa pessoa tivesse um profundo conhecimento da banca, mas só em escrever sabendo que alguém vai ler já é suficiente para treinar. Redação é treino, não precisa ser nada tão extensivo. Após estar familiarizado com o modelo da banca, o mais importante é ter domínio do assunto em questão. No meu caso foi atualidades, não estudei conteúdo, pois acho um tiro no escuro.
Estratégia: Se você tivesse que apontar ERROS em sua preparação (se é que houve), quais seriam? Diga-nos também quais foram os maiores ACERTOS?
Lucas: Deveria ter feito 21 questões de Português, em vez de 20, todo dia (risos).
Sendo honesto, é difícil ver erros, pois quase tudo aconteceu conforme o planejado. Se fosse mudar algo, teria lido um pouco mais de lei seca e dado ainda mais atenção a matérias menores e menos subjetivas. (ex: Recursos de matérias > Adm Pub).
Falando de acertos, há alguns que considero chave. O maior, provavelmente, foi ter começado com Português e Constitucional, adicionando, em seguida, administrativo. Não posso enfatizar o suficiente o quanto esse tripé é importante: são matérias extensivas, recorrentes e muitas vezes com grande quantidade de questões. Quem realmente domina essas 3 matérias (em especial português), consegue fechar 99% dos editais, por aí, no pós.
Ter feito uma quantidade absurda de questões foi outro grande acerto, especialmente na minha situação com tempo reduzido. Ter dado especial atenção a Regimento interno também foi recompensador.
Estratégia: O que foi mais difícil nessa caminhada rumo à aprovação? Chegou a pensar, por algum momento, em desistir? Se sim, como fez para seguir em frente?
Lucas: Felizmente, eu tive bastante sorte aqui. No quesito dificuldades, eu serei mais privilegiado que a maioria que seguir esse caminho. Além de ter tido a possibilidade de me dedicar inteiramente aos estudos, eu não tive que passar por reprovações e incertezas. Com certeza haviam pessoas melhores preparadas que eu, mas em concurso ainda existe um quê de acaso. Isso, de forma alguma, macula a meritocracia do processo, quanto melhor você se prepara, melhores são suas chances.
Estratégia: Qual foi sua principal motivação?
Lucas: Eu vejo motivação como cafeína. Estimulante. Motivação acaba na sexta-feira. É extremamente desgastante e impraticável todo dia ter que tomar uma decisão que exija sacrifícios. Sempre preferi simplesmente eliminar essa escolha. Uma vez tomada uma decisão, e por isso deve ser muito bem tomada, devo simplesmente aceitá-la. Somos muito bons em negociarmos com nós mesmo. Se eu me permitisse pensar “Hoje vou assistir um filme e compenso amanhã acordando mais cedo” eu já teria perdido aí. A questão não é se eu vou ou não compensar, provavelmente na 1ª eu até compense mesmo, mas só o fato de me permitir não seguir um compromisso que fiz comigo, torna o “não fazer” uma possibilidade evidente. Eu prefiro eliminar outras possibilidades.
Isso vai muito além do estudo. Durante meus anos na marinha, tínhamos que acordar bem cedo. Não precisávamos estar motivados, só tínhamos que fazer. Minha mente não podia negociar comigo mesmo “Só hoje vou dormir um pouco mais”.
Acredito que muita gente só consegue sucesso após ter acompanhamento, justamente por isso. Passa a agir com mais mentalidade do “tenho que fazer” do que eu “quero fazer, posso fazer, devo fazer”
Estratégia: Por fim, o que você aconselharia a alguém que está iniciando seus estudos para concurso. Deixe-nos sua mensagem para todos aqueles que um dia almejam chegar aonde você chegou!
Lucas: Conheça a banca. Conheça o edital, veja a extensão, peso e quantidade de questões de cada matéria e monte seu cronograma com base nisso. Quase sempre, Português e discursiva devem ser prioridade. Estude Português. Quem está realmente começando: fique no tripé da base (DA, DC e PT) até estar voando nelas. Infelizmente, o acaso ainda tem sua pitada, mesmo com seu 100%, a jornada pode ser 3 meses ou 10 anos, então tenha certeza e decida 1 vez.
Por fim, gosto de uma frase do David Gogglis: “Não pare quando se cansar, pare quando acabar”.