Aprovado no concurso TRF-1
“O concurso exige, sobretudo, bastante resiliência, otimismo e determinação do candidato. Esteja preparado para uma caminhada bastante difícil e talvez até muito longa, mas quanto menos você se preocupar com fatores externos, como sorte ou o contexto econômico, maior foco você terá e mais rápido você será aprovado. Também entenda que nem sempre você será compreendido pelos seus amigos e familiares, que só vão realmente entender o significado do seu esforço e dedicação, quando o resultado finalmente chegar. Até esse dia chegar, proteja o seu objetivo do pessimismo e da ignorância alheia (sem perder a amizade, rs).”
Confira nossa entrevista com Tiago Falcão Borja, aprovado em 3º lugar no concurso TRF-1 para o cargo de Analista Judiciário, área judiciária:
Estratégia Concursos: Conte-nos um pouco sobre você, para que nossos leitores possam te conhecer melhor. Você é formado em que área? Qual sua idade? De onde você é?
Tiago Falcão Borja: Eu me formei em Direito na UFBA no ano de 2016. Tenho 28 anos e nasci no Município de São Félix/BA.
Estratégia: O que te levou a tomar a decisão de começar a estudar para concursos?
Tiago: Na área jurídica, a carreira pública e a advocacia são as opções mais evidentes para os estudantes. Além disso, eu apenas estagiei em órgãos públicos durante a faculdade (meus estágios foram no MPF e na Justiça Federal), o que me fez conhecer melhor o funcionamento interno do Poder Judiciário e do Ministério Público e levou-me a querer trabalhar nesses órgãos. Então, desde o meu primeiro estágio na Justiça Federal, eu já pretendia fazer concurso público.
Estratégia: Por que a área judiciária? Você tinha alguém na família que o inspirou, já tinha tido algum contato com a rotina dos fóruns, o que te fez estudar para esse concurso?
Tiago: Em 2016, quando comecei a estudar para concursos, eu pretendia estudar para a Magistratura, de modo que eu estudava apenas matérias da área jurídica. Nesse ano, eu fiquei sem trabalhar para ter mais tempo para estudar. Porém, a partir de março de 2017, eu tive alguns problemas financeiros e precisava começar a trabalhar com uma certa urgência.
Eu sabia que um trabalho em um escritório de advocacia exigiria muito tempo e atrasaria bastante meus estudos, além disso, eu ainda precisaria de muito tempo para passar em um concurso da Magistratura, principalmente porque somente completaria os 03 anos de atividade jurídica em 2019. Logo, optei por estudar para o cargo de Analista Judiciário dos Tribunais Federais, afinal eu poderia obter uma aprovação mais imediata e ainda aproveitaria as disciplinas que eu havia estudado para o concurso da Magistratura.
Estratégia: Durante sua caminhada como concurseiro, você trabalhava e estudava (como conciliava trabalho e estudos?), ou se dedicava inteiramente aos estudos para concurso?
Tiago: Minha caminhada como concurseiro é longa, envolve diversas fases e ainda não acabou. No dia 08.07.2016, eu colei grau na faculdade. Como estava sem trabalhar e meu estágio havia terminado em fevereiro daquele ano, comecei a estudar uma semana depois da minha colação de grau. Estudei sem trabalhar até agosto de 2016, quando fui contratado temporariamente por um escritório de advocacia.
Porém, em outubro de 2016, pedi para sair do escritório, após o vencimento do meu contrato, com o objetivo de me dedicar aos estudos com exclusividade. Depois disso, estudei sem trabalhar até junho de 2017, quando eu fui nomeado para um cargo comissionado de assessor no MPF, com carga horária de 07 horas diárias.
A partir dessa data, conciliei o meu trabalho com os estudos até a prova do TRF da 1ª Região, que aconteceu em novembro de 2017. Depois dessa prova, continuei a conciliar o trabalho com os estudos e ainda obtive outras aprovações, mas já estava em um ritmo bastante reduzido e meu desempenho piorou um pouco.
Estratégia: Quantos e em quais outros concursos você já foi aprovado? Qual o último? Em qual cargo e em que colocação?
Tiago: Eu fui aprovado apenas em concursos de Analista Judiciário, que foi o único cargo para o qual prestei concurso com efetiva dedicação. Desse modo, eu fui aprovado nos seguintes concursos: (a) para Analista Judiciário do TRE/BA, na 33ª colocação, cuja prova foi aplicada em agosto de 2017; (b) para Analista Judiciário do STJ, na 59ª posição, cuja prova foi aplicada em abril de 2018; (c) para Analista Judiciário do MPU na Bahia, na 23ª posição, cuja prova foi aplicada em outubro de 2018; (d) para Analista Judiciário do TJ/AM, na 32ª posição, cuja prova foi aplicada em outubro de 2019.
Estratégia: Como era sua vida social durante a preparação para concursos? Você saía com amigos, família, etc? Ou adotou uma postura radical, abdicando do convívio social?
Tiago: Minha vida social foi muito ruim nos dois primeiros anos de estudo (2016 e 2017). Quando eu estava sem trabalhar, tinha um pouco mais de tempo livre, mas não tinha muito dinheiro. Então, evitava sair para economizar.
Depois, do dia em que comecei a trabalhar no MPF até a prova do TRF, a minha rotina de estudo se tornou muito desgastante, então eu não me sentia estimulado a sair à noite, porque sempre ficava muito cansado e desanimado no dia seguinte. Depois da minha aprovação no TRF, relaxei bastante, namorei por um tempo e até viajei. Lamentavelmente, meu desempenho caiu um pouco e não consegui manter o mesmo padrão, o que me deixou até um pouco preocupado, porque a minha nomeação demorou um pouco para sair. Porém, valeu a pena e não me arrependo.
Ressalto que não acho que abandonar totalmente a vida social seja o melhor caminho para alcançar a aprovação. Porém, esse foi o jeito que encontrei de enfrentar esse desafio. De outro modo, eu provavelmente não conseguiria.
Estratégia: Você é casado? Tem filhos? Namora? Mora com seus pais? Sua família entendeu e apoiou sua caminhada como concurseiro? Se sim, de que forma?
Tiago: Estou solteiro, não tenho filhos e atualmente moro sozinho. Na época em que estudei, morei algum tempo com meus pais e algum tempo sozinho.
Quanto ao apoio da minha família, eu acho que eles apoiaram do jeito deles. Não recebi muito apoio financeiro quando fiquei sem trabalhar e tive que tirar leite de pedra. Meus pais sempre acreditaram que eu deveria ganhar o meu próprio dinheiro em qualquer circunstância, e hoje eu entendo essa postura deles. Por outro lado, quanto ao aspecto emocional e psicológico, nunca faltou apoio da minha família, principalmente dos meus pais, que sempre acreditaram muito em mim.
Estratégia: Você acha que vale a pena fazer outros concursos, com foco diferente daquele concurso que é realmente seu objetivo maior?
Tiago: O que funcionou para mim foi me especializar em um único cargo. Acredito que não haja uma regra absoluta. Há pessoas que estudam para concursos completamente diferentes e conseguem ter um bom desempenho, porque fazem uma preparação muito intensa, principalmente no pós-edital. Porém, estudar para muitos concursos totalmente diferentes entre si certamente não é a melhor estratégia.
Eu gosto muito do meu cargo, sobretudo porque estou morando em Salvador/BA, que é o lugar em que sempre quis viver. Porém, eu ainda tenho o objetivo de ingressar na carreira da Magistratura Federal. No momento, esse objetivo está um pouco distante, porque parei de estudar por um tempo após a minha nomeação, que ocorreu em dezembro de 2019. Mas pretendo voltar a estudar em breve.
Estratégia: Você estudou por quanto tempo direcionado ao concurso em que foi aprovado?
Tiago: Para o cargo de Analista Judiciário, eu comecei a estudar em novembro de 2016 e fui aprovado no TRF da 1ª Região em novembro de 2017. Desse modo, de maneira direcionada ao meu cargo atual, eu estudei por um ano até a aprovação. Porém, o caminho até a nomeação foi um calvário e só fui nomeado 02 anos depois. Agora já não importa muito, mas essa demora foi psicologicamente destrutiva.
Estratégia: Chegou a estudar sem ter edital na praça? Durante esse tempo, como você fazia para manter a disciplina nos estudos?
Tiago: Cheguei a estudar sem edital, sim. Estudar Direito faz parte de minha rotina desde 2011, quando entrei na faculdade. Então ter disciplina para estudar não é muito difícil para mim. Porém, eu tenho uma grande dificuldade de estudar de maneira mais intensa, com uma quantidade de horas suficientes para obter uma aprovação nos concursos atuais, que exigem bastante dos candidatos.
Nesse contexto, quando eu efetivamente me dediquei aos estudos com intensidade, abandonei diversos hábitos que tiravam a minha atenção e prejudicavam o meu desempenho, como usar o celular, assistir televisão, jogar videogame e sair com frequência até tarde da noite nos finais de semana. Com isso, ficou mais fácil estudar, pois quanto mais eu estudava mais me sentia motivado a estudar.
Estratégia: Como conheceu o Estratégia Concursos?
Tiago: Por intermédio de colegas de turma, que estudaram para concurso com o material do Estratégia.
Estratégia: Que materiais você usou em sua preparação para o concurso? Aulas presenciais, telepresenciais, livros, cursos em PDF, videoaulas? Quais foram as principais vantagens e desvantagens de cada um?
Tiago: Eu gosto muito de estudar por livros. Então, em 2016 e no início de 2017, eu estudei exclusivamente por livros, o que foi até o meu maior erro, porque eu utilizei bastante livros doutrinários não voltados para concurso, que exigiam um tempo maior para a conclusão de cada conteúdo. Depois, comecei a utilizar bastante resumos, leitura de lei seca, resolução de questões, informativos de jurisprudência e PDFs, que permitem que o candidato assimile uma maior gama de conteúdo em menos tempo.
Porém, a capacidade de compreensão e de fundamentação teórica de conteúdos é bem maior, quando se utiliza materiais mais densos. Com isso, na área jurídica, acredito que uma boa fundamentação doutrinária é bastante útil, principalmente na fase pré-edital, apesar de exigir bem mais tempo e paciência do candidato.
Estratégia: Uma das principais dificuldades de todo o concursando é a quantidade de assuntos que deve ser memorizada. Como você fez para estudar todo o conteúdo do concurso? Falando de modo mais específico: você estudava várias matérias ao mesmo tempo? Quantas? Costumava fazer resumos? Focava mais em exercícios, ou na leitura e releitura da teoria? Como montou seu plano de estudos? Quantas horas por dia costumava estudar?
Tiago: Como estudei por muito tempo (de 2016 a 2019, com diversas interrupções, principalmente a partir de 2018), eu não segui uma organização fixa. Meu cronograma de estudo variou bastante, de acordo com o tempo que eu tinha disponível.
De todo modo, eu sempre procurei estudar três a quatro horas de cada matéria por semana. Com isso, quando eu não trabalhava, eu estudava de 06 a 08 horas por dia e lia 02 matérias diferentes por dia. Nessa época, eu descansava apenas aos sábados.
Quando comecei a trabalhar e ainda estudava em ritmo intenso (até o final de 2017), eu estudava de três a quatro horas por dia de segunda a sábado e mais 08 horas no domingo. Com isso, eu estudava apenas uma matéria por dia de segunda a sábado e duas matérias aos domingos. Além disso, sempre reservava dois dias na semana para a resolução de questões e a leitura de informativos de jurisprudência.
Estratégia: Você tinha mais dificuldades em alguma(s) disciplina(s)? Quais? Como você fez para superar estas dificuldades?
Tiago: Minha maior dificuldade sempre foi em redação, o que até me deixou bastante receoso de fazer concursos para Analista Judiciário, porque esses concursos às vezes cobram uma prova de redação do candidato. Para superar essa dificuldade, eu contratei uma professora de redação e passei a treinar bastante. Apesar disso, como minha letra é terrível, eu sempre precisei recorrer e sempre ganhei pontos nesses recursos, tanto que no concurso do TRF eu ganhei duas posições, com o recurso que interpus contra a correção da minha redação.
Estratégia: A reta final é sempre um período estressante. Como foi sua rotina de estudos na semana que antecedeu a prova? E véspera de prova: foi dia de descanso ou dia de estudo?
Tiago: Eu gosto de estudar o máximo possível na véspera. Então, quando realmente estava comprometido com um concurso, eu passava a noite em claro fazendo revisões. Não sei se essa estratégia é a mais adequada, mas eu não conseguia dormir, então aproveitava para estudar o máximo possível. Apesar disso, nas manhãs dos dias de prova, eu procurava relaxar e não consultava os materiais.
Estratégia: Se você tivesse que apontar ERROS em sua preparação (se é que houve), quais seriam? Diga-nos também quais foram os maiores ACERTOS?
Tiago: Meu maior erro é a minha postura psicológica. Eu sou muito pessimista e sempre acredito que tudo vai dar errado, o que me fez até desistir de estudar por um tempo, antes da minha nomeação. Além disso, eu demorei para resolver o meu problema em redação, o que, inclusive, comprometeu bastante minha nota no concurso do TRE/BA, uma vez que eu só passei a treinar redação após esse concurso, em que perdi mais de 15 posições após a nota da redação.
Meu maior acerto também foi psicológico, quando eu deixei meu pessimismo de lado e apostei todas as minhas fichas nos meus estudos. Além disso, acredito que uma preparação mais intensa no ano que antecedeu a minha aprovação no TRF e as aulas específicas de redação foram outros dois grandes acertos.
Estratégia: O que foi mais difícil nessa caminhada rumo à aprovação? Chegou a pensar, por algum momento, em desistir? Se sim, o que te motivou a seguir em frente?
Tiago: Como eu disse, eu sou bem pessimista. Então, pensar em desistir era lógico para mim e cheguei até a parar de estudar um tempo antes da minha nomeação, no ano de 2019. Quanto ao meu momento mais difícil, foi justamente quando eu parei de estudar em 2019, porque nessa época eu havia rompido com minha ex-namorada, estava bastante desmotivado em razão da atual situação fiscal e ainda não acreditava muito na minha nomeação.
Porém, o que me motivou a seguir em frente foi a minha fé em Deus. Principalmente nessa época de maior dificuldade, eu sempre orava um pouco antes de dormir e lia a Bíblia. Volta e meia, encontrava algum trecho que me motivava a seguir em frente. Um trecho do qual eu gosto bastante é Eclesiastes, Capítulo 11, Versos 1-4:
“Lança o teu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias o acharás. Reparte com sete, e ainda até com oito; porque não sabes que mal haverá sobre a terra. Estando as nuvens cheias de chuva, derramam-na sobre a terra. Caindo a árvore para o sul, ou para o norte, no lugar em que a árvore cair, ali ficará. Quem observa o vento, não semeará, e o que atenta para as nuvens não segará.”
Estratégia: Qual foi sua sensação ao ver seu nome na lista dos aprovados/classificados?
Tiago: Foi um momento de grande alegria. Eu senti que todo o meu esforço havia sido recompensado. Porém, eu me senti ainda mais agradecido quando a minha nomeação saiu, pouco antes do início da pandemia da COVID-19, pois eu não estava esperando. Foi um momento de grande felicidade e gratidão a Deus.
Estratégia: Por fim, o que você aconselharia a alguém que está iniciando seus estudos para concurso. Deixe-nos sua mensagem para todos aqueles que um dia almejam chegar aonde você chegou!
Tiago: Eu sei que é meio clichê, mas é verdade. O concurso exige, sobretudo, bastante resiliência, otimismo e determinação do candidato. Esteja preparado para uma caminhada bastante difícil e talvez até muito longa, mas quanto menos você se preocupar com fatores externos, como sorte ou o contexto econômico, maior foco você terá e mais rápido você será aprovado.
Também entenda que nem sempre você será compreendido pelos seus amigos e familiares, que só vão realmente entender o significado do seu esforço e dedicação, quando o resultado finalmente chegar. Até esse dia chegar, proteja o seu objetivo do pessimismo e da ignorância alheia (sem perder a amizade, rs).