
“Se você não passar a avançar conforme seus estudos, algo estará errado (método de estudo ou falta de vontade efetiva). A vida é muito curta para que fiquemos anos fazendo algo que verdadeiramente não queremos. Então, se você sente que passar em determinado concurso público é essencial para sua vida, estude como se não houvesse amanhã. Tudo vale a pena quando sabemos o terreno em que estamos pisando e aonde estamos indo.”
Confira nossa entrevista com Zillá Oliva, aprovada em 33º lugar no concurso da Procuradoria Geral do Estado de São Paulo (PGE SP) para o cargo de Procurador:
Estratégia Carreira Jurídica: Conte-nos um pouco sobre você, para que nossos leitores possam te conhecer melhor. Qual sua idade? De onde você é? Em que ano se formou?
Zillá : Tenho 28 anos de idade, sou de São Paulo/SP e me formei na faculdade de Direito da UNESP (Franca) em 2012.
Estratégia: O que te levou a tomar a decisão de começar a estudar para concursos? Por que Procuradoria? O que te atraiu nessa carreira?
Zillá: Eu já havia estudado para concursos públicos durante a faculdade (escrevente técnico judiciário do TJSP e dois concursos para vaga em estágio em órgãos públicos – Juizado Especial do TJSP e PGFN). Obtive êxito em todos e notei minha facilidade em absorver conteúdo por meio de muito foco e disciplina. Em 2014, prestei outros concursos, agora de nível superior (analista do TRF 3 e TRT 2), também tendo obtido êxito em ambos. Após a faculdade, fiz mestrado em Direito Processual Civil, tendo defendido a dissertação em meados de 2016. Em seguida, iniciei meus estudos para concursos de mais alto nível (magistratura, inicialmente) e, após, para a PGE-SP, a partir de dezembro/2017, quando o concurso foi autorizado pelo então Governador do Estado. Busquei informações sobre a carreira, mormente em relação à qualidade de vida, que passou a influenciar minhas decisões nesse campo. Percebi que é uma carreira que, em termos gerais, te permite fazer outras atividades, ter vida extraprofissional, digamos assim.
Estratégia: Durante sua caminhada como concurseira, você trabalhava e estudava (como conciliava trabalho e estudos?), ou se dedicava inteiramente aos estudos para concurso?
Zillá: Eu trabalhei e estudei durante todo o período. Trabalho no TJSP desde 2012, tendo ingressado como escrevente técnico judiciário e, após, sido promovida ao cargo de assistente jurídico de 2º grau, cargo que ocupo até hoje. Para mim foi uma vantagem estar num cargo público, principalmente num ambiente saudável, para que eu conseguisse conciliar minha rotina em casa e em assuntos pessoais, nos estudos e no trabalho. É verdade que, mesmo assim, madruguei muito e o estresse e a ansiedade vieram mais à tona (o que acarretaram dores no corpo, insônia, dentre outros), mas acredito que tudo valeu a pena. Nesse ponto, entendo que nós devemos nos conhecer de forma profunda para saber qual o estilo de rotina que mais combina com a gente. Eu, por exemplo, sempre rendi muito mais à noite e na madrugada que no período matutino/vespertino, de modo que sempre concentrei meus estudos nesse período. Mas pode ser que para outras pessoas isso seja totalmente inviável. E ok, cada um tem um perfil e deve investir nele.
Estratégia: Quantos e em quais concursos já foi aprovada? Qual o último? Em qual cargo e em que colocação?
Zillá: Escrevente técnico judiciário do TJSP (850º, prestei em 2010 e fui nomeada em 2012, tendo tomado posse), analista judiciário do TRF 3 (131º – prestei em 2014 e fui nomeada em 2015, mas não assumi), analista judiciário do TRT 2 (430º – prestei em 2014, mas não fui nomeada) e agora, mais recentemente, PGE-SP (33º – o resultado final do concurso acaba de ser homologado).
Estratégia: Qual foi sua sensação ao ver seu nome na lista dos aprovados/classificados?
Zillá: É uma sensação maravilhosa, principalmente quando se dá dentro do número de vagas ofertadas no edital, porque no caso, salvo força maior, você tem direito adquirido de ser nomeado no prazo de validade do concurso público. Sensação de dever cumprido, de que tudo valeu a pena. Sensação de ter trilhado o caminho certo, apesar de todos os obstáculos.
Estratégia: Como era sua vida social durante a preparação para concursos? Você saía com amigos, família, etc? Ou adotou uma postura radical, abdicando do convívio social?
Zillá: Eu acredito que uma coisa que sempre me ajudou muito nos estudos é que eu não costumo sentir falta de vida social. Sempre fui mais caseira. Gosto de vida social, mas com limites, então renunciar a isso ou diminuir o ritmo nunca foi um grande problema. Na preparação aos concursos, eu até saía sim, mais para jantar com amigos e de vez em quando para me encontrar com parentes em aniversários, mas confesso que acabava dando uma selecionada, porque seria impossível comparecer a tudo (aliás, nem quando a gente não está estudando, não é mesmo?). Nesse ponto, acredito que adotar uma postura radical, por meio da abdicação integral do convívio social, pode gerar ainda mais ansiedade e pressão no candidato, além do que de vez em quando é saudável parar um pouco de estudar e ver que há vida lá fora. Até refresca a memória.
Estratégia: Você é casada? Tem filhos? Namora? Mora com seus pais? Sua família entendeu e apoiou sua caminhada como concurseira? Se sim, de que forma?
Zillá : Sou casada desde 2015. Meu marido me apoiou quando eu sugeri iniciar estudos mais profundos para concurso público, após terminar meu mestrado. É claro que ocorreram prejuízos em nossa convivência e, de certa forma, em nossa vida conjugal, o que é natural, inclusive porque nossos horários e rotina já eram diferentes, tendo ficado ainda mais distintos a partir do momento que decidi ingressar de cabeça nesse universo. E eu jamais aceitaria cobranças desnecessárias em se tratando de uma fase em que estava buscando algo extremamente importante em minha vida, coisa que somente eu mesma conseguiria atingir. Meu marido sempre entendeu isso, que isso estava em primeiro lugar na minha vida. Acho essencial fixar balizas para nós mesmos e em um relacionamento.
Estratégia: Você acha que vale a pena fazer outros concursos, com foco diferente daquele concurso que é realmente seu objetivo maior? (Se esse ainda não é o concurso dos seus sonhos, se possível, citar qual é se pretende continuar se preparando para alcançar esse objetivo)
Zillá: Eu acho que depende da pessoa. Há pessoas que buscam aprovação apenas num cargo público específico e jamais prestam outros tipos de certame. Outros preferem ir prestando diversos, do nível mais inferior (concursos-escada) até o mais superior. Digo que depende da pessoa porque essa escolha vai muuuito além de uma questão de vocação ou perfil, tendo bastante relação com a necessidade de vida da pessoa, mormente financeira. Então, de fato, tudo depende de tudo. No mais, acho complicado e até mesmo ingênuo querer abraçar o mundo prestando vários tipos de concurso que não se comunicam (várias carreiras ao mesmo tempo), sendo relevante focar em um ou dois, no máximo, para que o estudo não fique disperso e seja bastante focado. Por exemplo, estudar apenas para magistratura do trabalho, ou apenas para magistratura e promotoria de justiça, ou apenas para defensoria pública, ou tão somente para procuradorias em geral. Acho que um foco bem definido é fundamental para o êxito. No mais, estou muito satisfeita com minha última aprovação e realmente acredito que ficarei na carreira.
Estratégia: Você estudou por quanto tempo direcionado ao concurso que foi aprovada?
Zillá: Direcionado, foram 6 meses, mais um mês, ao todo, entre as outras fases do concurso. Mais a bagagem que trouxe dos estudos para magistratura, que duraram por 1 ano.
Estratégia: Chegou a estudar sem ter edital na praça? Durante esse tempo, como você fazia para manter a disciplina nos estudos?
Zillá: Sim, comecei a estudar após a autorização de abertura do concurso público pelo então Governador do Estado de SP, Geraldo Alckmin, que se deu em novembro/2017. Iniciei meus estudos em dezembro/2017. Eu mantive minha disciplina nos estudos pensando que a qualquer momento o edital poderia ser publicado, reduzindo o tempo de estudo até a primeira fase do certame. Então, quanto maior o foco e o rendimento naquele período, melhor para mim.
Estratégia: Que materiais você usou em sua preparação para o concurso? Aulas presenciais, telepresenciais, livros, cursos em PDF, videoaulas? Quais foram as principais vantagens e desvantagens de cada um?
Zillá: Para algumas disciplinas, utilizei material que já tinha em casa (alguns livros e as leis), para outras adquiri materiais avulsos do Estratégia Concursos (PDF e parte em videoaulas). Difícil falar em vantagens e desvantagens, porque cada um tem um método diferente que melhor lhe convém. Eu estudei da seguinte forma: naquelas matérias em que tinha mais aptidão ou conhecimento, eu estudava mais a lei seca mesmo, focando apenas no que eu entendia ser mais essencial. Em matérias desconhecidas ou com alguma debilidade, eu encarava videoaulas e leitura de PDF. E sempre, SEMPRE, resolvendo exercícios. E mesmo nas videoaulas, sempre acelerava a velocidade do vídeo quando percebia que já havia entendido o conteúdo ou quando aquela parte não era interessante/relevante pra mim. Cada um precisa ter maturidade para focar naquilo que precisa, não perdendo tempo.
Estratégia: Como conheceu o Estratégia Concursos?
Zillá: Sinceramente, eu ouvi falar do Estratégia Concursos por meio de uma amiga, que me passou o link de um vídeo a respeito do tão esperado concurso público da PGE-SP. É um vídeo em que houve detalhamento acerca da carreira da PGE e do modelo do último certame. Achei muito interessante e passei a acompanhar o canal do Estratégia Concursos, até baixei as aulas gratuitas/demonstrativas para conhecer o material.
Estratégia: Uma das principais dificuldades de todos que estudam para concurso público é a quantidade de assuntos para memorizar. Como você fez para estudar todo o conteúdo do concurso? Falando de modo mais específico: você estudava várias matérias ao mesmo tempo? Quantas? Costumava fazer resumos? Focava mais em exercícios, ou na leitura e releitura da teoria? Como montou seu plano de estudos?
Zillá: Não tenho dúvida de que a maior dificuldade é lidar com a quantidade descomunal de informações em pouco tempo (quando se tem um concurso em breve, como foi no meu caso), para além da profundidade necessária em diversos temas. Eu confesso que fechei o edital da PGE-SP a duras penas. Claro que nem todos os itens consegui estudar de forma aprofundada, mas pelo menos os conceitos principais eu estudava, para saber do que se tratava em termos gerais. Para deixar mais simples o cumprimento do edital, fui auxiliada por duas procuradoras da PGE-SP com uma tabela de estudos, que trazia as disciplinas a serem estudadas em cada dia e por quanto tempo. Claro que não há meios de cumprir de forma rigorosa, mas o essencial é compensar um dia no outro e aproveitar os dias livres (finais de semana e feriados). Então havia as matérias e também um campo para inserir quantos exercícios havia feito e quantos havia acertado, o que demonstraria meu rendimento nas disciplinas. Mas havia tanto conteúdo e tanto exercício que acabava não dando tempo de revisar, o que é péssimo a um concurseiro. As procuradoras pegavam no meu pé em relação a isso e depois eu entendi que é, de fato, essencial revisar. Quem passa em concurso público não é mais inteligente, mas sim quem está mais preparado (disciplina e foco). E sempre fiz resumos, porque sempre gravo mais informações quando escrevo. Assistia a vídeo-aulas e lia PDFs e, ao mesmo tempo, fazia anotações, que me acompanharam em todas as fases do concurso.
Estratégia: Quantas horas por dia costumava estudar?
Zillá: pelo cronograma, seriam umas 6 horas por dia, mas em regra acabava dando mais que isso. De fato, o que estudava menos num dia, compensava no outro. Mas para mim, o principal era esgotar as matérias, e não necessariamente cumprir apenas o tempo de estudo pré-fixado na planilha.
Estratégia: Você tinha mais dificuldades em alguma(s) disciplina(s)? Quais? Como você fez para superar estas dificuldades?
Zillá: Sim, tive dificuldade principalmente nas matérias específicas do edital da PGE-SP (direito previdenciário e de pessoal, econômico, financeiro e empresarial público). Vários pontos soaram completamente estranhos para mim, batia o pânico, o tempo voava e eu não absorvia o conteúdo. Passei a recorrer a diversos tipos de material, como vídeos avulsos no Youtube, resumos avulsos na internet, enfim, qualquer material fora aquele que eu já conhecia, para tentar trazer aquelas matérias com alguma naturalidade para mim. E após muita insistência, muitos resumos e muitos exercícios, absorvi e entendi os conteúdos. Para mim foi essencial, para conseguir fazer as provas de forma mais segura.
Estratégia: A reta final é sempre um período estressante. Como foi sua rotina de estudos na semana que antecedeu a prova? E véspera de prova: foi dia de descanso ou dia de estudo?
Zillá: Eu sempre achei que o melhor seria não estudar nada no dia que antecede a prova, mas fiz o contrário. Nesse concurso, estudei até o último dia e não me arrependo, porque isso fez diversos temas ficarem mais vivos na minha mente. Na semana que antecedeu, também estudei demais, sem reduzir o ritmo. Para mim funcionou! Descanso apenas na noite anterior à prova.
Estratégia: No seu concurso, tivemos, além das provas objetivas, as provas discursivas. Como foi seu estudo para esta importante parte do certame? O que você aconselha?
Zillá: Meu estudo consistiu em revisão de todo o edital, com meus cadernos formados na preparação, e muita leitura de lei seca. Adquiri livro de questões discursivas e também treinei as respostas cronometrando o tempo (dado que, nesse certame, a pior parte da prova discursiva é controlar o tempo). Fiz um curso online simples, de poucos módulos, para a peça processual. Treinei demais. Escrevi muito, até doer a mão. Meu conselho é não surtar com a chegada da prova discursiva e comprar todos os cursos existentes, porque o excesso de material, em verdade, mais confunde que ajuda. Aconselho selecionar um curso para tanto e focar/revisar todo o material que você já montou, afinal foi ele que te levou até essa fase.
Estratégia: Como foi sua preparação para a prova oral?
Zillá: Sinceramente, não fiz curso para a prova oral. Treinei questões com um colega por áudio de whatsapp e fiz um simulado específico uma semana antes da prova.
Estratégia: Se você tivesse que apontar ERROS em sua preparação (se é que houve), quais seriam? Diga-nos também quais foram os maiores ACERTOS?
Zillá: Erros → querer esgotar os exercícios de todas as matérias (impossível) e adquirir profundidade no edital inteiro (também impossível em pouco tempo); comprei um livro de questões de prova oral de procuradoria na semana de véspera de minha prova oral, no desespero, e acabei me arrependendo porque nem tive tempo de ler; acertos →escrever anotações de aula/PDF e reler muito lei seca, principalmente nas semanas de véspera de prova; especificamente em relação ao concurso da PGE-SP, me inteirar dos assuntos relevantes para a carreira (site/boletins); focar em poucos, mas bons materiais.
Estratégia: O que foi mais difícil nessa caminhada rumo à aprovação? Chegou a pensar, por algum momento, em desistir? Se sim, como fez para seguir em frente?
Zillá: Só para variar um pouco, o mais difícil foi controlar o emocional e driblar os efeitos de toda a pressão que nós colocamos sobre nós mesmos. Eu acabo ficando muito estressada e ansiosa, causando dores musculares e tensão contínua, além das poucas horas de sono. Muito difícil lidar. Relaxante muscular dá sono, então também não ajudou. Pensei em desistir especificamente quando foi publicado o edital da PGE-SP e eu percebi que ainda havia muitas matérias que eu não havia absorvido de maneira suficiente. Eu dizia que não dava mais pra mim, que meu cérebro não conseguia mais absorver nada. As procuradoras (coach) diziam para eu continuar, porque nosso cérebro absorve muito mais do que imaginamos. E estavam certas. O que me ajudou muito a seguir foi pensar no que eu queria da minha vida com esse concurso. Ou seja, passei a mentalizar o que seria da minha vida depois da aprovação, não mais focando tão somente nas provas como um fim em si mesmas. Dessa forma, continuei a fazer tudo o que podia dentro das minhas condições e limitações.
Estratégia: Qual foi sua principal motivação?
Zillá: Como mencionei, foi a vida que imaginava ter após a nomeação ao cargo público que eu buscava. As melhorias de qualidade de vida, a sensação de satisfação pessoal. Infelizmente, estudo para concurso público é algo que modifica nossa vida como um todo e nos limita bastante, de modo que sempre acabamos querendo passar o mais rápido possível.
Estratégia: Por fim, o que você aconselharia a alguém que está iniciando seus estudos para concurso. Deixe-nos sua mensagem para todos aqueles que um dia almejam chegar aonde você chegou!
Zillá: Para quem estiver iniciado seus estudos, eu aconselho focar e estudar de verdade, sem procrastinação e desculpas. Esse estudo é algo sério e se você não estudar de forma séria você vai apenas perder tempo (e dinheiro), gerando ainda mais frustração. Autoconhecimento também é essencial, porque, no decorrer do tempo, precisamos ir conquistando nossas metas, ir melhorando nosso rendimento em concurso público. Se você não passar a avançar conforme seus estudos, algo estará errado (método de estudo ou falta de vontade efetiva). A vida é muito curta para que fiquemos anos fazendo algo que verdadeiramente não queremos. Então, se você sente que passar em determinado concurso público é essencial para sua vida, estude como se não houvesse amanhã. Tudo vale a pena quando sabemos o terreno em que estamos pisando e aonde estamos indo. Mentalize sua vida após a aprovação e nomeação. As provas são óbices, não a meta da sua vida. São um meio, não um fim.
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