Aprovado no concurso da Polícia Federal
“Eu nunca imaginei que ficaria em primeiro lugar em um dos concursos mais disputados do país. Isso, para mim, serviu como uma clara mensagem de que o esforço compensa. Não desista, você pode estar mais perto do que imagina”
Confira nossa entrevista com Lucas Micas, aprovado em 1º lugar no concurso da Polícia Federal no cargo de Agente:
Estratégia Concursos: Conte-nos um pouco sobre você, para que nossos leitores possam te conhecer melhor. Você é formado em que área? Qual sua idade? De onde você é?
Lucas Micas: Sou formado em Engenharia Química, tenho 28 anos e sou do Rio de Janeiro/RJ.
Estratégia: O que te levou a tomar a decisão de começar a estudar para concursos? Por que a área Policial?
Lucas: Desde pequeno me identificava com a área policial, mas a vida foi me levando a outros rumos. Ser policial no Brasil ainda enfrenta um preconceito e a família fica com um pé atrás. Então, meio que no automático, fui seguindo o caminho que todos esperavam. No sétimo período da faculdade iniciei um estágio em uma empresa de engenharia. Todo dia ia para lá com uma sensação de que ali não era meu lugar e desde lá já pesquisava, mesmo que de forma incipiente, pelo concurso da Polícia Federal. Lia alguns blogs de policiais e uns livros também. Cada vez mais percebia que ser policial federal era o que eu queria, mesmo que sem incentivo.
Antes de terminar meu estágio, tive a oportunidade de fazer intercâmbio nos Estados Unidos, pelo programa do governo federal Ciência sem Fronteiras. Esse momento foi essencial para mim. Lá, longe de minha família e dos amigos do Brasil, pude perceber o que de fato eu queria e voltei inclinado a correr atrás do meu sonho, que era ser policial. Voltei do intercâmbio e fui aceito de volta no meu estágio anterior. Mesmo sem gostar, eu tinha de cobrir meus gastos e precisava começar a guardar dinheiro para futuramente estudar.
Formei-me na faculdade e recebi a notícia de que a empresa na qual estagiava estava encerrando suas atividades em sua filial do Rio de Janeiro e que não poderia me efetivar. Nesse momento ficou tudo claro para mim. Percebi como o setor de engenharia no Brasil é ingrato e como o mercado de trabalho privado pode te deixar na mão. Vi muitas pessoas mais velhas sendo demitidas. Foi aí que eu percebi que o serviço público, além de fazer parte do meu sonho, permitia uma vida mais estável.
Só que nesse momento eu não podia simplesmente apenas estudar. Minha família sempre deixou claro que poderia me dar casa e comida, mas que não poderia bancar meus estudos. E como sou orgulhoso, isso também nunca passou pela minha cabeça. Conversando com um colega de faculdade, ele me disse que um tio possuía uma empresa e que estava precisando de gente. Fiz uma entrevista e fui contratado. Minha ideia, novamente, era de cobrir meus gastos e juntar dinheiro para estudar. Agora com a faculdade já concluída, tinha tempo para iniciar minha jornada. Foi assim que comecei, aproximadamente em março de 2017. Trabalhando e estudando.
Estratégia: Durante sua caminhada como concurseiro, você trabalhava e estudava (como conciliava trabalho e estudos?), ou se dedicava inteiramente aos estudos para concurso?
Lucas: Como disse acima, comecei trabalhando e estudando. Iniciei em março de 2017 para outros concursos (explicarei em breve) e, especificamente, para a PF em maio/junho de 2017. Todavia, logo percebi que não seria viável trabalhar e estudar. O meu emprego, à época, consumia bastante tempo. Marcavam reuniões nas minhas horas de estudo e algumas vezes tinha que viajar a São Paulo. Notei que desse jeito eu demoraria muito para ser aprovado. Depois de cerca 6 meses, resolvi pedir demissão e me dedicar inteiramente aos estudos.
Estratégia: Quantos e em quais concursos já foi aprovado? Qual o último? Em qual cargo e em que colocação?
Lucas: Fui aprovado somente no concurso da Polícia Federal, de 2018 ,para o cargo de Agente de Polícia Federal. Fui o 1º colocado.
Estratégia: Qual foi sua sensação ao ver seu nome na lista dos aprovados/classificados na primeira fase do certame?
Lucas: Sensação indescritível, mas mais emocionante foi quando corrigi a prova da PF. Eu havia imaginado que tinha ido mal na prova. Ela tinha vindo muito difícil. Quando fui conferir com o gabarito oficial, percebi que tinha obtido uma excelente nota e que, consequentemente, estaria dentro das vagas.
Estratégia: Como era sua vida social durante a preparação para concursos? Você saía com amigos, família, etc? Ou adotou uma postura radical, abdicando do convívio social?
Lucas: Adotei uma postura radical. Sem o edital, só saía para malhar de manhã. Com o edital aberto, não saía nem para malhar. Algo que foi marcante para mim, foi quando tive de deixar de ir ao aniversário da minha irmã. Era muito regrado com meu estudo. Obcecado. Enquanto uns falam que é bom sair para espairecer, isso me fazia mal.
Estratégia: Você é casado? Tem filhos? Namora? Mora com seus pais? Sua família entendeu e apoiou sua caminhada como concurseiro? Se sim, de que forma?
Lucas: Durante minha preparação, morava com minha mãe e minha irmã. Era solteiro. Minha família demorou para aceitar. Minha mãe foi a que mais me apoiou. Mesmo sendo contra a ideia de ser policial no Brasil, ela sempre incentivou a fazer concurso público. Em gerações mais antigas é comum escutar que cargo público te traz muitos benefícios. O apoio que ela me dava, e que considero o mais importante, era o apoio emocional. Fazer um café e levar até sua mesa de estudo, aguentar seu estresse, colocar a televisão em um volume baixo, pois você está estudando, evitar reunir pessoas em casa, porque iriam me atrapalhar.
E olha como são as coisas. Durante o curso de formação, conheci a Fernanda, hoje escrivã de Polícia Federal. Escolhemos a mesma lotação e, atualmente, moramos juntos em Boa Vista/RR. Não foi somente um cargo público que eu ganhei. Hahaha.
Estratégia: Você acha que vale a pena fazer outros concursos, com foco diferente daquele concurso que é realmente seu objetivo maior?
Lucas: Acredito que sim, mas depende do seu objetivo. Acho um boa ideia você buscar concursos menos concorridos, com remuneração mais baixa, para já obter uma estabilidade e uma remuneração garantida, caso você precise. Mas, caso você tenha a possibilidade de só estudar, não precisa ter vergonha. Isso é uma grande oportunidade!
Fazer outros concursos da mesma banca, com disciplinas similares, talvez seja uma boa ideia para ter uma vivência em prova, mas nunca fiz por fazer. O dinheiro do concurseiro é sagrado para fazer por fazer.
Lembra que eu comentei que finalizei minha faculdade e comecei um emprego no ramo privado? Comecei em tal empresa em janeiro de 2017. Nesse momento, busquei concursos locais para, como disse, obter uma fonte de renda, mas com uma carga horária mais tranquila. Prestei para assistente administrativo e para auxiliar administrativo da Universidade Federal Fluminense. Não fui aprovado em nenhum deles, mas eles me mostraram que era possível ser aprovado. Lembro que tive um excelente rendimento na parte objetiva, mas não fui tão bem na dissertação. Esse momento também me ajudou a tomar a decisão de pedir demissão do emprego. Eu vi que era possível ser aprovado em um concurso público, mesmo tendo ficado de fora das vagas.
Estratégia: Você estudou por quanto tempo direcionado ao concurso que foi aprovado?
Lucas: Especificamente para a PF, cerca de 1 ano. Comecei em maio/junho de 2017 e a prova da PF foi em Setembro de 2018.
Estratégia: Chegou a estudar sem ter edital na praça? Durante esse tempo, como você fazia para manter a disciplina nos estudos?
Lucas: Com certeza. Considero essencial estudar ainda sem o edital. Simplesmente porque eu me cobrava muito. É muito complicado você olhar para o lado e ver seus colegas tomando um rumo na vida e você com a sensação de estar parado. Eu não tinha emprego e morava com minha mãe. Isso era minha motivação. Saber que minha aprovação e o meu futuro dependiam do meu esforço.
Estratégia: Que materiais você usou em sua preparação para o concurso? Aulas presenciais, telepresenciais, livros, cursos em PDF, videoaulas? Quais foram as principais vantagens e desvantagens de cada um?
Lucas: Comecei estudando mais por videoaulas. Elas são mais importantes no começo, quando o aluno ainda não tem uma base sólida. À medida que fui avançando, comecei a focar em PDFs e exercícios. Essa foi a base da minha preparação.
Estudava em casa. Acho que cursos presenciais são muito caros para o retorno que dão.
Resumidamente, em cursos presenciais, você tem a vantagem de ser acostumado a esse tipo de ensino desde o ensino fundamental, mas acredito que você perde tempo se deslocando até ele, o tempo de aula depende da turma e o professor muitas vezes fica jogando conversa fora.
Nas videoaulas, você pode aumentar a velocidade de reprodução, voltar para um ponto que não entendeu. Além disso, a aula é gravada, o que evita erros de repasse de conteúdo que costumeiramente são cometidos em aulas presenciais.
Materiais em PDF são, na minha opinião, o melhor custo-benefício em relação ao aprendizado. Você desenvolve o hábito da leitura e possibilita um estudo mais rápido quando comparado a aulas presenciais ou em vídeo. O tempo que uma pessoa demora para falar algo (professor) é bem maior que o tempo que um aluno demora para ler a mesma coisa.
Estratégia: Como conheceu o Estratégia Concursos?
Lucas: Estratégia é bem famoso. É referência em materiais de concurso público. Conheci pela internet mesmo.
Estratégia: Uma das principais dificuldades de todo o concursando é a quantidade de assuntos que devem ser memorizados. Como você fez para estudar todo o conteúdo do concurso? Falando de modo mais específico: você estudava várias matérias ao mesmo tempo? Quantas? Costumava fazer resumos? Focava mais em exercícios, ou na leitura e releitura da teoria? Como montou seu plano de estudos? Quantas horas por dia costumava estudar?
Lucas: Desde o começo, utilizava o estudo por ciclos com todas as disciplinas do concurso. Estudava todas as matérias ao mesmo tempo, alocando de uma a três disciplinas por dia. Não gosto de estudar mais que isso em um único dia, a não ser na reta final.
Não gosto do custo-benefício de fazer resumos. Acho que você perde muito tempo para ganhar um retorno baixo. Claro que isso serviu para mim. Caso você goste muito de resumos, talvez compense fazê-los. Confesso, por exemplo, que os fiz em contabilidade, mais especificamente para CPCs.
Eu grifava e fazia anotações no próprio PDF (imprimi todos aos poucos, conforme avançava nos estudos). Como disse, basicamente meu estudo consistia em ler e fazer exercícios. Para cada disciplina, separava 75% do tempo em teoria e 25% em exercícios. Além disso, fazia simulados aos domingos.
Estudava por ciclos, então minha revisão era quando voltava a estudar aquela teoria que há um tempo atrás já havia estudado. Quando trabalhava e estudava, 4h de estudo por dia. Quando passei a só estudar, separava 10 horas por dia. As horas líquidas davam um pouco abaixo disso.
Estratégia: Você tinha mais dificuldades em alguma(s) disciplina(s)? Quais? Como você fez para superar estas dificuldades?
Lucas: No começo, tinha muita dificuldade em contabilidade. Passei a dedicar bastante tempo a ela (mesmo sem saber que haveria um aumento em sua cobrança no edital). Até que passou a ser umas das matérias prediletas. Acho que esse é o segredo. O tempo que você dedica a uma determinada disciplina deve estar de acordo com dois fatores: peso x dificuldade.
Estratégia: A reta final é sempre um período estressante. Como foi sua rotina de estudos na semana que antecedeu a prova? E véspera de prova: foi dia de descanso ou dia de estudo?
Lucas: Sim. A reta final é bem estressante. Optei por, faltando pouco tempo para prova, somente revisar. Aqui, aumentei bastante a quantidade de exercícios. A importância de estudar a teoria troca de lugar com a importância de praticar. Ao fazê-los, deixava aberta a teoria ao lado e lia caso surgissem dúvidas ou caso fosse um assunto que precisava relembrar.
Na véspera, estudei até umas 17h-18h. Não acompanhei nenhum “aulão de véspera”, pois poderia afetar meu psicológico ao me deparar com a concorrência. Depois fui ao mercado comprar lanche para a prova. Não estudar era pior para mim. Deixava-me mais nervoso. Hahaha.
Uma dica para aqueles que passam por esse momento, é se desligar dos concorrentes. Quando fazia simulados, por exemplo, não olhava para rankings. Você deve focar em você. É o momento de fortalecer a sua cabeça.
Estratégia: No seu concurso, tivemos, além das provas objetivas, as provas discursivas. Como foi seu estudo para esta importante parte do certame? O que você aconselha?
Lucas: Acho que o segredo é desenvolver um modelo (utilizar uma introdução padrão, conectivos semelhantes etc) e praticar bastante. Caso você estude em casa, há sites que fazem correções de redações. Recomendo bastante.
Estratégia: Como foi sua preparação para o TAF e para as demais etapas?
Lucas: Só comecei a treinar para o TAF depois que foi aprovado na primeira fase. Isso serviu para mim, pois sempre tive, relativamente, um bom condicionamento e um bom peso corporal. Também já sabia nadar. Caso você tenha uma dificuldade maior ou não saiba nadar, por exemplo, recomendo treinar.
Estratégia: Como foi participar do curso de formação? Teve dificuldade em algo? Alterou sua classificação?
Lucas: Foi bem legal, porém bastante estressante. Na academia de polícia da PF, qualquer falha pode te levar para o final da classificação ou até te eliminar.
Como sua lotação depende da sua classificação do curso de formação, então segui a mesma dedicação e pude obter uma boa colocação. Fiquei em 5º lugar. A academia segue uma classificação separada da do concurso, então não alterou a minha colocação no concurso.
Estratégia: Se você tivesse que apontar ERROS em sua preparação (se é que houve), quais seriam? Diga-nos também quais foram os maiores ACERTOS?
Lucas: Quando comecei a estudar para o concurso da Universidade Federal Fluminense, que disse em outro tópico, fazia um curso presencial no Rio de Janeiro. Lá eu vi que para a PF faria diferente, estudaria em casa. Então foi um erro que me gerou aprendizado. Durante o estudo para a PF, não posso falar em erros. Obtive uma excelente classificação.
Meus maiores acertos foram estudar muito (mesmo sabendo que alguns profissionais do mundo dos concursos falam que você deve estudar pouco), focar em exercícios e fazer simulados.
Estratégia: O que foi mais difícil nessa caminhada rumo à aprovação? Chegou a pensar, por algum momento, em desistir? Se sim, como fez para seguir em frente?
Lucas: O mais difícil foi manter a rotina de estudar bastante, durante toda a preparação. Não pensei em desistir, pois era meu sonho, mas houve dias difíceis. Chorei muito debaixo do chuveiro (hahaha).
O que me fazia seguir em frente era saber que eu havia escolhido aquele caminho, ninguém mais. Muitas vezes na vida fazemos o que não queremos, porque é preciso. Daquela vez era diferente. Também assistia muito a vídeos motivacionais no Youtube. Ajudou muito.
Estratégia: Qual foi sua principal motivação?
Lucas: Acho que é algo agregado. Realizar um sonho, ser independente, tomar um rumo na vida, etc. Tudo isso me motivava.
Estratégia: Como se sente hoje empossado no cargo para o qual se esforçou bastante para alcançá-lo?
Lucas: Aquela sensação de tarefa cumprida, realizado. Às vezes me pego lembrando todo o caminho que tive que percorrer para chegar até aqui.
Estratégia: Por fim, o que você aconselharia a alguém que está iniciando seus estudos para concurso. Deixe-nos sua mensagem para todos aqueles que um dia almejam chegar aonde você chegou!
Lucas: Acredito que o principal seja criar um planejamento de estudos, sabendo quais disciplinas você estudará em cada dia e quantas horas.
Estudar para concursos é algo simples, porém não é fácil. Muitos buscam métodos mirabolantes e formas de passar rápido. A aprovação não está aí. Ela envolve muito esforço e o tempo que cada um precisa para ser aprovado varia muito.
O que eu quero passar é que o caminho para a aprovação é complicado. É um percurso penoso que envolve muita abdicação. Enquanto estudamos parece que esse momento não vai acabar, que todos estão na nossa frente. É angustiante. Mas confie em você, no seu potencial. Pare de ficar se comparando com terceiros, com aquele primo que diz ter passado com três meses de estudo. Foque em você. Quando tudo passar, terá sido apenas mais uma fase da vida da qual você irá se orgulhar.
Eu nunca imaginei que ficaria em primeiro lugar em um dos concursos mais disputados do país. Isso, para mim, serviu como uma clara mensagem de que o esforço compensa. Não desista, você pode estar mais perto do que imagina.
Foi aprovado e deseja dividir com a gente e com outros concurseiros como foi sua trajetória até a aprovação?! Mande um e-mail para: [email protected]
Um abraço,
Thaís Mendes