Aprovado no concurso MPSP
“O único segredo é saber que você vai chegar lá, mesmo diante de toda a ansiedade e estresse que você vai encontrar durante o percurso. Não é achar que vai dar certo, é saber que vai dar certo. E se você colocar isso no seu pensamento, não tenha dúvidas: vai dar certo”.
Confira nossa entrevista com Gabriel Caretta do Carmo, aprovado em 9º lugar no concurso MPSP para o cargo de Promotor de Justiça Substituto:
Estratégia Concursos: Qual sua idade? De onde você é? Em que ano se formou?
Gabriel Caretta do Carmo: Tenho 28 anos. Sou de Valinhos, cidade da região de Campinas, mas atualmente moro em Sorocaba. Me formei pela Universidade Estadual Paulista em 2015.
Estratégia: O que te levou a tomar a decisão de começar a estudar para concursos? Por que escolheu o MPSP? O que te atraiu nessa carreira?
Gabriel: Me inscrevi para o primeiro concurso da minha vida, o de Analista Jurídico do MPSP, um mês depois de formado. Tomei essa decisão por falta de opções. O Brasil estava no auge da crise econômica e não vi muitas perspectivas de arrumar um emprego na iniciativa privada, que era minha ideia durante toda minha graduação. Senti uma sensação muito boa estudando para aquele concurso de analista, pois comecei a aprender conhecimentos técnicos da área jurídica que nunca tinha visto durante a faculdade.
Depois de uns dois meses estudando, comecei a trabalhar como advogado trabalhista em São Paulo. Não consegui estudar mais depois disso, mas com algum esforço e muita sorte, fui aprovado no concurso de analista e comecei a trabalhar na Promotoria da Infância e da Juventude de Sorocaba, em abril de 2016.
Depois de alguns meses no cargo, percebi a magnitude e a importância da carreira de Promotor de Justiça e decidi abraçar o desafio de ser aprovado no cargo de membro da instituição.
O MPSP é uma instituição fantástica. De lá saíram diversas mentes brilhantes do direito brasileiro. São profissionais extremamente inspiradores e para mim seria uma honra sem tamanho poder me juntar a esses grandes nomes. Por isso sempre foquei no MPSP.
Estratégia: Durante sua caminhada como concurseiro, você trabalhava e estudava ou se dedicava inteiramente aos estudos para concurso?
Gabriel: Sim, sempre trabalhei e estudei. Depois de assumir o cargo de analista, dei uma relaxada para aproveitar um pouco a vida, viajar, conhecer lugares novos. Foi em meados de 2018 que retomei a sério os estudos para cargos maiores, sempre focando o MP Estadual.
Quando retomei os estudos, acordava mais cedo para estudar uma hora ou duas antes do trabalho. Chegava em casa às 17h, descansava uma hora e retomava a rotina de estudos. Normalmente ia até às 10h da noite estudando, não raro passava das 11h. Era exaustivo (e como!), mas não havia outro jeito.
Estratégia: Em quais concursos já foi aprovado? Qual o último? Em qual cargo e em que colocação?
Gabriel: Antes de ser aprovado para Promotor de Justiça do MPSP, somente havia obtido aprovação no concurso de Analista. No fim de 2018, prestei o concurso de juiz do TJSP, mas não passei da primeira fase. Não estava preparado suficientemente e, no fundo, não era bem o que eu queria. A magistratura é uma carreira maravilhosa e seria uma benção enorme nela ingressar, mas meu objetivo sempre foi o Ministério Público.
Estratégia: Qual foi sua sensação ao ver seu nome na lista dos aprovados/classificados?
Gabriel: Na verdade, eu ouvi meu nome ser chamado pelo presidente da banca examinadora. A banca, nesse concurso, divulgou o resultado ao vivo pelo Facebook, em razão da pandemia. Lembro que peguei uma folha de papel para controlar o número de vagas que iam sendo preenchidas. Cada vez que passava um nome que não era o meu, a mão ia tremendo mais. Quando chamaram meu nome, dei um grito: “PASSEI!!!”.
Estratégia: Como era sua vida social durante a preparação para concursos? Você saía com amigos, família, etc? Ou adotou uma postura radical, abdicando do convívio social?
Gabriel: Tentava manter um pouco de normalidade na minha vida social. Saía, mas poucas vezes. Minha família atualmente mora em Indaiatuba. Apesar de ser perto de Sorocaba, eu quase nunca ia para lá, pois ficava estudando. Minhas saídas eram mais para restaurantes, casas de amigos, mas nada que fosse além de uma vez por semana. Também mantive uma rotina de exercícios físicos. Acelerar o corpo é uma forma excelente de manter a concentração durante uma sessão longa de estudos.
Estratégia: Você é casado? Tem filhos? Namora? Mora com seus pais? Sua família entendeu e apoiou sua caminhada como concurseiro? Se sim, de que forma?
Gabriel: Tenho namorada. Ela se chama Ana Glória. Ela foi fundamental para a minha aprovação. Ela que me dava forças, me cobrava para ter foco, era totalmente compreensiva quando não podia vê-la em razão do cansaço, me aturava mesmo quando eu estava sob a mais completa irritação dos nervos e ansiedade. Nunca vou ter palavras suficientes para agradecê-la por tudo o que ela fez para me ajudar.
Depois dos meus 18 anos, quando fui para a faculdade, sempre morei sozinho (ou em repúblicas). Minha família entendia minha rotina, mas acredito que até hoje não saibam o quão difícil é ser concurseiro, pois não são da área jurídica.
Para quem não é da área, até explicar o que é e o que faz o Ministério Público é difícil.
Estratégia: Você acha que vale a pena fazer outros concursos, com foco diferente daquele concurso que é realmente seu objetivo maior?
Gabriel: Opinião pessoal minha, não. Hoje em dia, a quantidade de material voltado para preparação de concurso públicos é avassaladora. As pessoas estão cada vez mais preparadas em razão disso. A informação está sempre na ponta dos dedos e as pessoas mais focadas em apenas um concurso acabam levando vantagem na hora da preparação.
Sempre ouvi o contrário de pessoas que estão há muitos anos em cargos públicos, ou seja, que é bom dar tiro para todos os lados, que concurso é uma questão de números (quanto mais você prestar, mais chance tem de passar). Talvez na época delas essa fosse, de fato, a regra.
Atualmente, com serviços de planilhas de estudos, coaching, cursinhos, livros cada vez mais didáticos e serviços tão aperfeiçoados de acompanhamento de jurisprudência, é fácil se perder se a pessoa tentar estudar para vários concursos ao mesmo tempo.
Essa é a minha visão, mas conheço algumas pessoas que, recentemente, prestaram e passaram para concursos da magistratura e do Ministério Público de diversos estados diferentes. Poucas, mas conheço.
Estratégia: Você estudou por quanto tempo direcionado ao concurso em que foi aprovado?
Gabriel: Cerca de um ano, de 02 de janeiro de 2019 a 28 de janeiro de 2020, data da minha prova oral.
Estratégia: Chegou a estudar sem ter edital na praça? Durante esse tempo, como você fazia para manter a disciplina nos estudos?
Gabriel: Claro! Na verdade, o estudo pré-edital é o mais importante de todos, na minha opinião. É o estudo que forma os alicerces do conhecimento necessário para ser aprovado. O estudo pós-edital é para dar acabamento, aparar as arestas, inclusive estudando as posições específicas dos examinadores do concurso.
Não conheço ninguém que tenha passado em concursos da magistratura ou MP somente com estudos posteriores à publicação do edital.
Estratégia: Que materiais você usou em sua preparação para o concurso? Aulas presenciais, telepresenciais, livros, cursos em PDF, videoaulas? O que funcionou melhor para você?
Gabriel: Comecei com aulas de cursinho. Foram fundamentais para a formação da minha base de conhecimento. Depois, quando não aguentava mais ver videoaulas, contratei serviços de planilhas de estudos e coaching. Tudo isso sempre intercalado com resolução de questões por meio de plataformas online, com foco na primeira fase.
O serviço de planilhas foi muito bom para me dar disciplina na leitura de doutrina e jurisprudência. Não dá para passar em concurso sem ler doutrina e jurisprudência, na minha opinião, principalmente da segunda fase em diante.
Senti que minha preparação começou a melhorar muito depois que passei a organizar meus estudos com planilhas.
Estratégia: Como conheceu o Estratégia Concursos?
Gabriel: Conheci pela internet. Sempre ouvi pessoas falarem que o material do Estratégia é muito completo. E de fato é. Adquiri um material de Direito Material e Processual Coletivo que me ajudou muito a entender melhor algumas áreas que damos menos atenção durante a preparação para concursos, como direito à educação e saúde pública. São temas que normalmente as pessoas negligenciam, mas costumam ser cobrados em concursos do Ministério Público, com especial peso na segunda fase e na fase oral.
Estratégia: Uma das principais dificuldades de todos que estudam para concurso público é a quantidade de assuntos para memorizar. Como você fez para estudar todo o conteúdo do concurso? Falando de modo mais específico: você estudava várias matérias ao mesmo tempo? Quantas? Costumava fazer resumos? Focava mais em exercícios, ou na leitura e releitura da teoria? Como montou seu plano de estudos? Quantas horas por dia costumava estudar?
Gabriel: Acho que nunca na história desse país alguém passou em concurso estudando todo o conteúdo do edital. Talvez seja mais fácil cavar uma caverna usando só as mãos do que fazer isso. O estudo deve ser estratégico, dando mais foco naquilo que é mais provável que vá cair. Um bom termômetro para saber se está no caminho certo é resolvendo questões objetivas. Eu sempre tentava manter minha média de acertos acima de 80 por cento.
Resolver questões ajuda a fixar o conteúdo. É importantíssimo. Para a segunda fase, é necessário resolver questões escritas (de preferência a mão, como será no dia da prova). Para a fase oral, é importantíssimo treinar com colegas, seja ao vivo ou por chamada de vídeo.
Estudar mais de uma matéria ao mesmo tempo não funcionava comigo. Se em um dia minha planilha mandava eu estudar teoria geral da pena, por exemplo, eu passava o dia todo estudando teoria geral da pena. Lia e relia a doutrina e outros materiais sobre o assunto e depois resolvia questões. Quando o assunto girava mais em torno da lei seca, como é comum em muitos tópicos do direito civil no MPSP, eu lia e relia o Código Civil.
Para mim, fazer resumos também não funcionava, mas conheço muita gente que usa esse método. Minha memória é mais visual do que escrita.
Em horas de estudo efetivo, dava algo em torno de 5 a 6 horas por dia. Como eu trabalhava, meu limite era esse. É importante a pessoa encontrar o próprio limite. Quando eu passava de 6 horas por dia, não conseguia nem abrir a página do Planalto para ver lei seca no dia seguinte.
Estratégia: A reta final é sempre um período estressante. Como foi sua rotina de estudos na semana que antecedeu a prova? E véspera de prova: foi dia de descanso ou dia de estudo?
Gabriel: A rotina foi a mesma, mas eu costumava fazer ainda mais atividades físicas para diminuir o estresse e a ansiedade. Atividades como corrida, por exemplo, que fazem o coração acelerar.
Na teoria, para mim, véspera de prova sempre foi dia de descanso. Mas na prática, não dava para não abrir um livro para checar novamente um conteúdo específico.
Inclusive, no dia da primeira fase, me lembrei que há meses não estudava prescrição penal. Então, quando cheguei no terminal da Barra Funda, peguei meu celular e li várias vezes os artigos de prescrição e de extinção da punibilidade do Código Penal.
Foi uma benção. Uma das primeiras questões cobrava a letra da lei de prescrição e se eu não tivesse revisto o assunto momentos antes, não me lembraria da resposta.
E uma observação: passei na nota de corte.
Estratégia: No seu concurso, tivemos, além das provas objetivas, as provas discursivas. Como foi seu estudo para esta importante parte do certame? O que você aconselha?
Gabriel: Para mim a prova discursiva foi a mais difícil e estressante de me preparar. Primeiro, porque foi só um mês e meio entre o resultado da primeira fase e a data da prova da segunda. Segundo, porque caiu a ficha de que qualquer coisa poderia ser cobrada em cinco questões, uma dissertação e uma peça. Entrei em pânico nos primeiros dias.
Nessa fase do concurso, acho que eu estava lendo entre 150 e 200 páginas por dia de doutrina, materiais de cursos preparatórios e jurisprudência comentada. Fiz cursos de simulados de segunda fase e assisti videoaulas. Os professores sempre elogiavam minha redação nos simulados, mas em questão de conteúdo, não ia tão bem quanto desejava. Me esquecia de muitos detalhes, de colocar uma súmula ou outra na resposta, por exemplo.
O pior de tudo era o tempo para resolver a prova. Quatro horas para fazer cinco questões, uma dissertação e uma peça demanda muito preparo, não apenas de conteúdo para saber o que responder, mas também da própria mão. Escrever tanta coisa em tão pouco tempo é um esforço enorme para as mãos. Por isso, acho que é extremamente importante resolver questões a mão durante o preparo para a segunda fase. De nada adianta ter todo o conhecimento do mundo se você não consegue ou não tem tempo de colocar isso no papel.
Na segunda fase, poder de concisão é algo que deve ser desenvolvido para responder perguntas.
Estratégia: Como foi sua preparação para a prova oral?
Gabriel: Foi bem parecida com a preparação para a segunda fase. Muita leitura de doutrina, materiais e jurisprudência. Foi nesse ponto que adquiri o material do Estratégia sobre direito material e processual coletivo. Tinha muito receio de o examinador perguntar coisas sobre direito material coletivo e eu não saber responder, e eu não tinha nenhum livro ou material sobre educação, saúde pública, dentre outros.
O mais importante nessa fase, no entanto, é treinar a fala. Treinar para falar de modo inteligível e sem vícios de linguagem (como “tipo”, “né”, “então”). Um dos professores que me ajudaram na preparação chegou a sugerir que eu falasse com amigos e familiares como se eu estivesse respondendo perguntas aos examinadores, pois eu tinha muito a mania de falar “né” depois de concluir um raciocínio.
A fala pode ser treinada quando a pessoa está sozinha (não fiz isso, não conseguia) ou com amigos. Treinava uma vez por dia com colegas do concurso, com pessoas do meu trabalho e com minha namorada. Eu cronometrava as respostas e dividia o tempo das perguntas de acordo com o que cada examinador perguntaria.
O que eu errava eu estudava logo depois do treino. Digo que o treino da fala é a parte mais importante dessa fase, pois, mesmo tendo treinado dezenas de vezes antes da minha arguição, praticamente nenhuma pergunta que me foi feita pelos examinadores eu tinha visto durante os treinos. E olha que cada treino tinha umas cinco perguntas por matéria.
O que me fez passar, acredito eu, foi minha confiança na fala. Eu tinha plena convicção de tudo o que eu estava falando, mesmo não fazendo ideia, em alguns casos, se o que eu estava falando estava certo ou errado.
É claro que eu tinha um bom domínio da maior parte dos assuntos, mas esse domínio eu adquiri por meio de todo o meu tempo de estudos, e não especificamente dos treinos para o oral.
Estratégia: Se você tivesse que apontar ERROS em sua preparação, quais seriam? Diga-nos também quais foram os maiores ACERTOS?
Gabriel: Eu não mudaria nada na minha preparação. Passar em um concurso é um resultado que depende de tantas variáveis que, talvez se eu mudasse uma vírgula do que fiz, não teria sido aprovado.
O maior acerto foi sempre mentalizar minha aprovação. Imaginar meu nome na lista. Pensar “nesse momento, daqui a tantos meses, vou estar na cerimônia de posse”.
Estratégia: O que foi mais difícil nessa caminhada rumo à aprovação? Chegou a pensar, por algum momento, em desistir? Se sim, como fez para seguir em frente?
Gabriel: Se a pessoa pensa em desistir, as chances de ser aprovada já diminuem. Autoconfiança e otimismo são pedras fundamentais da preparação. Para mim, desistir nunca foi uma opção. Continuaria tentando, nem que levasse mais uma década para passar.
Estratégia: Qual foi sua principal motivação?
Gabriel: Amor ao que faço. O trabalho de um analista do MP é muito similar ao de um Promotor de Justiça, então tenho uma boa ideia do que me espera quando assumir o cargo. Quando se gosta do que faz, a motivação vem naturalmente.
Estratégia: Por fim, o que você aconselharia a alguém que está iniciando seus estudos para concurso. Deixe-nos sua mensagem para todos aqueles que um dia almejam chegar aonde você chegou!
Gabriel: Não pense que existe uma fórmula matemática para passar em um concurso público. Quando você passar, vão te perguntar muitas vezes o que você fez e como você fez para ser aprovado. Porém, o que te fez chegar lá, não necessariamente fará com que outra pessoa também chegue. Eu compartilho minhas experiências com quem tem o interesse em saber mais como uma forma de encorajamento do que como um manual de aprovação.
O único segredo é saber que você vai chegar lá, mesmo diante de toda a ansiedade e estresse que você vai encontrar durante o percurso. Não é achar que vai dar certo, é saber que vai dar certo.
E se você colocar isso no seu pensamento, não tenha dúvidas: vai dar certo.
Confira outras entrevistas em: