Aprovado em 1° lugar na Prefeitura de Jundiaí para o cargo de Biólogo
Concursos Públicos
“A aprovação não deve ser o objetivo final, mas a consequência natural de uma jornada bem vivida e bem ordenada […]”
Confira nossa entrevista com Lucas Waldir Zorzetti, aprovado em 1° lugar na Prefeitura de Jundiaí para o cargo de Biólogo:
Estratégia Concursos: Conte-nos um pouco sobre você, para que nossos leitores possam conhecê-lo. Qual a sua formação, idade e cidade natal?
Lucas Waldir Zorzetti: Meu nome é Lucas, tenho 30 anos, sou casado e natural de Amparo, no interior de SP. Sou bacharel em Ciências Biológicas pela Unicamp, onde também concluí o mestrado em Ecologia, pesquisando interações predador-presa no contexto de mudanças climáticas. Atualmente, curso o doutorado na mesma instituição, com uma tese dedicada a compreender os impactos climáticos e antrópicos sobre as interações entre ecossistemas aquáticos e terrestres. Possuo ainda certificação em Ciência de Dados pelo DataCamp e concluí um curso de cinco anos em Filosofia Tomista, experiência que marcou profundamente minha formação intelectual.
Estratégia: O que te levou a tomar a decisão de começar a estudar para concursos?
Lucas: Desde a graduação, já tinha em mente que em algum momento buscaria os concursos públicos, pois sempre vi neles uma forma concreta de colocar a ciência a serviço da sociedade. No início, meu projeto era seguir apenas a carreira acadêmica, como professor universitário e pesquisador. Com o tempo, porém, percebi que não queria apenas produzir conhecimento, mas também aplicá-lo em benefício do bem comum, especialmente em áreas de grande impacto social, como a ambiental.
Além disso, reconheço que a carreira científica no Brasil enfrenta dificuldades: forte pressão, alta especialização e bolsas pouco compatíveis com o custo de vida atual. Isso me levou a ver na carreira pública uma oportunidade não só de estabilidade, mas também de liberdade para continuar cultivando a vida intelectual e ampliar a contribuição prática do meu trabalho.
Em resumo, três fatores me motivaram: (i) a possibilidade de aplicar minha formação científica em favor da sociedade; (ii) a estabilidade e segurança que permitem servir melhor à minha família e manter uma vida intelectual sólida; e (iii) a oportunidade de desenvolver projetos educacionais, científicos e ambientais de impacto direto na vida das pessoas.
Estratégia: Você trabalhava e estudava? Se sim, como conciliava?
Lucas: Toda a minha preparação aos concursos ocorreu durante meu doutoramento (que atualmente ainda ocorre), e a concomitância destas coisas foi um grande desafio a superar. Como eu sempre trabalhei com ciência experimental, a natureza nem sempre colabora para nossas ideias, e a logística é bastante complicada de se ordenar. Por isso, na fase experimental de meu doutorado foi bem mais difícil de conciliar estudos paralelos, pois sobrava pouco tempo e o cansaço mental e físico era grande. Mesmo assim, consegui a minha certificação em Ciência de Dados nesta época, que foi uma grande aliada nas minhas análises posteriores. Depois desta fase mais intensa, ganha-se uma liberdade maior através do home office, onde analiso os dados e escrevi minha tese, e então o desafio então muda para a gestão do tempo. É necessário priorizar os deveres de estado principais, mas com flexibilidade é possível adiantar um pouco um dia para conseguir estudar um tanto no próximo. E isso é até benéfico, pois não aprendemos grandes volumes de uma vez, o que dificulta seu processamento. O excesso de informações prejudica muito a retenção, por isso penso que é muito melhor crescer um pouco a cada dia em novas informações do que tentar aprender tudo de uma vez. Como diria o grande prof Pierluigi Piazzi, uma de minhas mais fortes inspirações no estudo, cada dia crescemos um degrau, e é de degrau em degrau que ficamos inteligentes. Portanto, apesar de reconhecer as dificuldades, acredito que podemos lidar com trabalho e estudo sendo pacientes, estudando em doses realistas e dia após dia perseverarmos.
Outra coisa que é muito crucial é a motivação, pois sem ela é muito difícil continuar o esforço. Todas as ações que fazemos como homens visam um fim, e se não temos uma finalidade clara ou, pelo cansaço do dia a dia, esquecermos a finalidade a que nos propomos, vêm o desânimo e o cansaço. Os sábios antigos e os religiosos experimentados na vida interior nos revelam que a tristeza e a preguiça estão intimamente relacionadas. Por isso que quando estamos tristes, a sensação é de paralisia e uma tendência a procrastinar e não fazer nada. A vida virtuosa anda de mãos dadas com uma boa vida intelectual.
Estratégia: Em quais concursos já foi aprovado? Em qual cargo e em que colocação? Pretende continuar estudando?
Lucas: Já fui aprovado no mesmo cargo na prefeitura de Pedreira, uma cidade próxima à minha cidade natal, no concurso do ano passado, em 1º lugar também. Em outros concursos consegui posições boas, mas como lista de espera (Em Itatiba consegui o 12° lugar como Biólogo, e na EMBRAPA consegui o 19° como Analista de Bioinsumos). Como as aprovações não significam trabalho imediato (às vezes levam de meses a anos), eu pretendo continuar estudando em um ritmo mais tranquilo para novas oportunidades que surgirem. Por outro lado, eu sempre fui uma pessoa que ama estudar, então ainda que eu consiga ser contratado, o que espero que seja em breve, vou continuar minha formação, pois me sinto chamado à Vida Intelectual desde moço. E apesar de ter passado e ver em mim muitas dificuldades, eu espero em Deus que possa contribuir intelectualmente agora e no futuro ao menos um pouco, tanto com a pesquisa científica quanto com minha abordagem mais filosófica das ciências naturais. Aristóteles dizia que não se é filósofo antes do 30, bom, cheguei aqui (tenho 30 haha) e vejo que já posso dar meus primeiros frutos, mesmo assim vejo uma longa trajetória pela frente.
Estratégia: Como era sua vida social durante a preparação para concursos? Você saía com amigos e família?
Lucas: Eu sempre fui uma pessoa muito ligada à família e aos amigos íntimos, então sempre dei boa parte de meu tempo a eles. Mesmo nos dias mais intensos de trabalho e estudo, nunca deixo, por exemplo, de passar um bom tempo conversando e fazendo coisas legais com minha esposa. Mesmo nos tempos mais puxados, nunca deixamos de visitar os familiares e amigos, chamá-los para irem em casa, fazer caminhadas e participar da comunidade da capela que frequentamos aos domingos. É importante e faz parte da Vida Intelectual desafrouxarmos um pouco as rédeas e nos permitir rir e se divertir com as pessoas que Deus colocou ao nosso redor, assim também evitamos o vício do egoísmo de pensar apenas em nossos objetivos, que é uma tentação forte quando ficamos muito focados no estudo e trabalho.
Estratégia: Sua família e amigos entenderam e apoiaram sua caminhada como concurseiro? De que forma?
Lucas: Com certeza, e eu digo que sem o apoio deles não estaria aqui hoje. Como disse acima, acredito que não é necessário deixar as atividades sociais, mas que os estudos e o trabalho tomam tempo, isso tomam. Então a compreensão de minha esposa e familiares nos dias em que sobrava menos tempo para nós, e o esforço de fazermos valer esses poucos tempinhos que sobravam, foi muito importante para mim. É necessário um investimento de tempo e até de recursos para conseguir estudar, e por isso o apoio foi fundamental. Não vou contar detalhes aqui por ser algo bem pessoal, mas chegamos a passar dificuldades sérias durante os estudos para os concursos. E foi exatamente nessas dificuldades que a caridade aparece de forma mais deslumbrante, e nossos familiares e amigos não mediram esforços em nos ajudar, o que foi crucial para chegar até aqui, de forma que só estando em nossa pele para sentir a gratidão que sentimos hoje. Afora as lições de humildade, de paciência e desapego que acabamos aprendendo no processo, pois acredito que toda dificuldade é por um bem maior. Confio muito na Providência e na Vontade Divinas.
Estratégia: Você estudou por quanto tempo direcionado ao último concurso? O que fez para manter a disciplina?
Lucas: Esta foi uma história bem engraçada na verdade, e parece até quebrar o que contei até aqui. Expus acima as dificuldades que existem em conciliar o trabalho (no meu caso, a tese) e os estudos para concurso. Pois bem, antes de prestar a prova para Jundiaí, eu havia prestado a de Itatiba mais ou menos um mês antes. Como queria muito o cargo de Itatiba, pela proximidade de lá com familiares, estudei e me dediquei muito a esse concurso em particular. Cito também de passagem que estudei bastante ao longo de vários meses para o concurso de Pedreira e da EMBRAPA, e que o aprendizado deles não foi em vão. Voltando à Itatiba, estudei muito e me senti bastante preparado para a prova, mas no dia, por circunstâncias que não controlamos, dormi muito mal, e como a prova foi à tarde, me bateu um sono bem grande durante a prova. Nisso, muitas questões que podia ter resolvido errei por distração. Acabei, como citei acima, não conseguindo ficar nas vagas imediatas, que eram duas, mas não desanimei, pois havia o de Jundiaí. O problema é que o de Jundiaí parecia muito mais difícil, pois havia a mesma quantidade de candidatos que em Itatiba, porém, era apenas uma vaga imediata. Isso e o fato de eu estar atrasado com várias coisas do doutorado me fizeram focar o mês subsequente todo na minha tese. Eu simplesmente deliberei em ficar com o que já havia estudado e não estudar uma linha para o concurso de Jundiaí. O resultado foi aparentemente paradoxal, pois ao fazer o concurso de Jundiaí, havia dormido muito bem e não estava com nenhum cansaço, e fora isso, como não via muitas “esperanças” nele, fiz a prova com a cabeça muito tranquila e sem ficar me cobrando de forma ansiosa. O resultado foi o motivo de vocês me chamarem aqui, consegui a 1ª colocação em uma vaga simplesmente maravilhosa. Acredito que isso demonstra que a preparação para um concurso não é apenas o estudo (lembrando que havia me dedicado bastante a outros concursos, não estava cru), mas o controle emocional somado a circunstâncias às quais temos pouco ou nenhum controle na hora do concurso.
Agora falando da disciplina, creio ser algo realmente essencial para um bom sucesso nos estudos. Acredito que o segredo para manter a disciplina é, em primeiro lugar, a motivação, como expliquei acima, e não ser tão perfeccionista. O segundo ponto foi importante para mim, pois tenho essa tendência, e isso facilmente nos leva à falta de ordem e à dita procrastinação. Em vez de nos cobrar demais por um dia que não consegui “fazer nada direito”, podemos simplesmente assumir nossa fraqueza, nos perdoar e pensar que vou tentar de novo no próximo dia, de forma bem tranquila. Não pensando em quantas vezes falhamos, mas no que deve ser feito em seguida, agora. O problema do nosso mundo entulhado de informações é justamente esse: as pessoas não vivem o agora, vivem apenas o amanhã (ansiedade) ou o passado (tristeza, remorso). Acredito que temos sim que nos preparar, e temos sim que corrigir certos erros que cometemos, mas tudo isso deve ser feito de forma tranquila, com uma saudável desconfiança de si mesmo. Como disse Nosso Senhor, basta a cada dia o seu mal. O autoconhecimento é importante aqui, para não mascararmos os motivos profundos que nos levam a fazer o que fazemos. Um exemplo que pode se dar com qualquer um nos estudos: um indivíduo desanima porque perdeu tempo num determinado dia e não fez o que se propôs, mas esse desânimo o paralisa a continuar. Aqui é necessário ir atrás do “por que eu desanimo”, pois em muitos casos, é só o amor-próprio que ficou ferido ao ver sua imagem de perfeição ser prejudicada. Como disse um grande amigo meu um dia: “Não se leve tão a sério!”.
Estratégia: Quais materiais e ferramentas você usou em sua preparação?
Lucas: Minha estratégia começou com um planejamento: listei os temas do edital, identifiquei minhas lacunas e foquei nelas para otimizar o tempo.
Para os temas novos, como Legislação Ambiental, recorri a videoaulas. A vantagem delas foi me dar uma base sólida de forma muito didática. Contudo, consciente do risco de passividade que o vídeo traz, eu sempre estudava de forma ativa, produzindo meus próprios resumos.
Já em assuntos que exigiam maior profundidade, como no concurso da EMBRAPA, utilizei livros e publicações especializadas. O ponto forte desse material é a precisão técnica, mas demandam um investimento de tempo maior.
No fim, minha principal ferramenta não foi um material específico, mas o método que apliquei a todos eles: o estudo ativo, com muitas anotações e esquemas. E, claro, a prática intensiva com a resolução de questões de provas anteriores, que foi fundamental para aplicar a teoria e me familiarizar com o estilo da banca.
Estratégia: Como conheceu o Estratégia Concursos?
Lucas: Conheci através de pesquisas no google sobre concursos públicos.
Estratégia: Depois que você se tornou aluno do Estratégia, você sentiu uma diferença relevante na sua preparação? Que diferencial encontrou nos materiais do Estratégia?
Lucas: Um diferencial muito grande e que acredito que acelerou muito meus estudos em legislação ambiental foi o fato das aulas do canal do Estratégia no YouTube serem focadas em análises estatísticas dos assuntos que mais caem nas provas, isso foca muito no que é essencial primeiro, direcionando todo o estudo de forma mais eficiente.
Estratégia: Como montou seu plano de estudos?
Lucas: Meu plano de estudos era muito metódico. Comecei listando todo o conteúdo do edital e, em seguida, marquei os pontos que eu menos dominava. O passo crucial foi analisar a interdependência entre eles, organizando uma ‘fila’ de estudos que começava pelos temas que serviam de base para os outros.
Em vez de estudar várias matérias ao mesmo tempo, minha abordagem era focar em uma de cada vez. Eu esgotava um tópico com teoria e muitos exercícios antes de passar para o seguinte, pois essa imersão me dava mais segurança e profundidade. A exceção foi a matéria de Informática, que estudei de forma mais contínua e prática, aplicando os conceitos no meu uso diário em vez de simplesmente memorizar atalhos.
Quanto ao tempo de estudo, minha rotina era flexível. Em dias de dedicação exclusiva, eu estudava por volta de 6 a 7 horas líquidas. Quando precisava conciliar com outras responsabilidades, garantia a constância com um bloco de 2 a 3 horas de estudo concentrado à tarde. Sempre evitei estudar à noite, pois valorizo o descanso e o sono como ferramentas essenciais para a fixação do conhecimento.
Estratégia: Como fazia suas revisões?
Lucas: Minha principal estratégia para revisar sempre foi a evocação ativa. Gosto muito de escrever, então, para revisar um conteúdo, eu simplesmente abria um caderno e tentava explicar o assunto para mim mesmo, com minhas próprias palavras, fazendo conexões e resgatando tudo da memória. É um método que consolida o conhecimento de forma muito profunda.
Para informações que exigiam memorização, como detalhes de legislação, eu usava uma ferramenta mais cirúrgica: a revisão espaçada com o ANKI. O diferencial era que eu mesmo criava meus cartões, garantindo que fossem simples (uma informação por vez) e fizessem sentido dentro do meu contexto de estudo. Dá mais trabalho, mas os frutos são maiores.
E, claro, a etapa final era a prática com simulados. Eu resolvia muitas provas da banca para treinar o ritmo, a gestão do tempo e aplicar todo o conhecimento em um ambiente que imitava o dia do concurso.
Estratégia: Qual a importância da resolução de exercícios? Lembra quantas questões fez na sua trajetória?
Lucas: A resolução de exercícios foi absolutamente fundamental no meu processo, atuando em várias frentes. Primeiramente, serviu como um termômetro para avaliar meu entendimento, principalmente nos assuntos novos. Ao mesmo tempo, foi um poderoso reforço para a memória de longo prazo, me forçando a resgatar ativamente o que eu já sabia.
Essa importância ficava ainda mais evidente em disciplinas como Matemática, que estudei quase que exclusivamente por meio de questões. A prática massiva desenvolve o raciocínio, cria atalhos mentais e, de forma crucial, garante a velocidade de resolução que faz toda a diferença sob a pressão do tempo de prova. Levei esse treino de agilidade tão a sério que, por vários anos, configurei meu despertador para só desligar depois que eu resolvesse alguns problemas de cálculo mental. Foi um hábito que poliu e automatizou meu raciocínio com números.
Sobre a quantidade, não cheguei a contar o total, mas posso afirmar que foram centenas deles. Nos dias de estudo mais intenso, minha meta era resolver pelo menos 30 questões, pois eu via nesse volume a chave para a consistência e a maestria.
Estratégia: Quais as disciplinas você tinha mais dificuldade? Como fez para superar?
Lucas: Uma dificuldade marcante que tive, mas que me ensinou minha principal estratégia de estudo, foi com a Gramática no ensino médio. Eu a via como um conjunto de regras arbitrárias e não conseguia entendê-la de jeito nenhum.
A superação veio anos depois, e de forma inesperada. Ao estudar Lógica na minha formação em Filosofia Tomista, percebi que a gramática tinha uma estrutura racional profunda. Um conceito como ‘substantivo’, por exemplo, deixou de ser uma classificação arbitrária quando entendi que ele é a palavra que expressa o conceito mental sobre a própria natureza das coisas (a ‘substância’, como a chama Aristóteles).
Essa visão se expandiu imensamente com minha experiência ao estudar japonês e hebraico: vi como linguagens tão diferentes criavam modos distintos para falar sobre a mesma realidade comum a todos, o que me revelou os princípios universais da linguagem. A gramática, então, fez todo o sentido, e como efeito colateral eu me apaixonei pelo estudo de línguas.
Essa experiência moldou minha filosofia de aprendizado: não existem assuntos difíceis, apenas complexos. E o complexo é sempre uma junção de partes simples e fundamentais. Portanto, minha abordagem para superar qualquer desafio é desmontá-lo em seus fundamentos para entendê-lo logicamente. Por isso, na preparação para o concurso, não encarei nenhuma disciplina como “difícil”, mas sim como um sistema a ser compreendido a partir de suas bases mais simples e fundamentais.
Estratégia: Como foi sua rotina de estudos na semana que antecedeu a prova e no dia pré-prova?
Lucas: Minha estratégia para a reta final é focada em diminuir o ritmo para maximizar a performance. Na semana da prova, eu não estudo nenhum conteúdo novo, focando apenas em revisões leves e talvez um último simulado no início da semana.
O dia anterior, para mim, é sagrado: um descanso total. Desligo-me do concurso, faço atividades relaxantes, como caminhar ou passar tempo com minha esposa, e cuido da alimentação, pois, como ensinava Santo Tomás de Aquino, a boa disposição do corpo contribui para a boa disposição do Intelecto.
Neste concurso em particular, essa estratégia se somou a um fator psicológico curioso. A verdade é que eu praticamente não me preparei especificamente para ele, pois já vinha de uma bagagem de outros certames. E, para ser sincero, minhas expectativas eram baixas; eu havia sido reprovado em um concurso anterior que era menos competitivo.
Paradoxalmente, essa mentalidade de não ter nada a perder foi o que me deu uma enorme tranquilidade e me livrou da pressão. A leveza que senti no dia foi fundamental para o bom resultado, reforçando a lição de que a calma é tão importante quanto a preparação.
E essa calma, para mim, vem de uma fonte mais profunda: a minha fé na Divina Providência. Creio firmemente que Deus não permite nada que não seja para o nosso bem. Isso me lembra a percepção do poeta Alexander Pope, de que ‘tudo o que é, é correto’ (Whatever is, is right), pois toda aparente discórdia pode ser uma harmonia que ainda não compreendemos. Essa confiança me dá a serenidade para encarar qualquer resultado, seja a aprovação ou a reprovação, e me permite fazer o meu melhor sem o peso da ansiedade.
Estratégia: Quais foram seus principais ERROS e ACERTOS nesta trajetória?
Lucas: Pensando na minha trajetória, meus erros e acertos estão profundamente ligados, com os erros servindo de aprendizado para os acertos que vieram depois.
Um erro que me acompanhou por grande parte da vida é a paralisia causada pelo perfeccionismo. Por ser muito detalhista e severo comigo mesmo, muitas vezes o medo de fazer algo de forma imperfeita me travava. A superação começou com um profundo autoconhecimento, ganho com meditação e, fundamentalmente, com a ajuda de mentores. Sábios sacerdotes, meus diretores espirituais, me ajudaram a ver o orgulho disfarçado nesse perfeccionismo, e um grande psicólogo tomista me auxiliou a encontrar na minha história as raízes de um amor-próprio desordenado. Ao conhecer melhor esse inimigo, tive grandes progressos. Hoje, compreendendo que obras absolutamente perfeitas são impossíveis para nossa natureza limitada – e que está tudo bem com isso –, sinto-me muito mais tranquilo para aceitar grandes empreitadas, como ser concurseiro.
Esse processo de amadurecimento me permitiu consolidar grandes acertos. O primeiro nasceu justamente de um erro antigo: o de estudar para as provas, e não para aprender. Essa chave virou graças a um encontro providencial que tive com o professor Pierluigi Piazzi. A partir dos seus ensinamentos, nunca mais estudei para uma prova. Esse se tornou meu grande acerto, pois entrei na universidade já com a mentalidade de aprender de verdade, e não buscar apenas um diploma. Como resultado, o conhecimento que adquiri na graduação está tão bem enraizado que não preciso mais estudar aqueles assuntos do zero.
Por fim, o acerto que considero mais importante é a compreensão de que a nossa vida é una. A busca pelas virtudes não é algo separado da vida de estudos. Como ensina a filosofia clássica, enquanto não ordenarmos nossas paixões para que sirvam à Razão, será em vão que passaremos anos estudando. As virtudes e a vida intelectual estão intimamente conectadas; foi essa união que nos deu gênios insuperáveis como Santo Tomás de Aquino. No fundo, todos os hábitos práticos que mencionei antes – a constância, a ordem, o cuidado com a alimentação e o sono – nada mais são que a manifestação de virtudes que sustentam o trabalho da inteligência.
Estratégia: Chegou a pensar, por algum momento, em desistir? Se sim, qual foi sua principal motivação para seguir?
Lucas: Desistir da trajetória, nunca. Mas sentir o peso do desânimo e da frustração em alguns momentos, sim. Especialmente com a lentidão do processo burocrático, como a demora nas convocações, que testa nossa paciência e pode abalar a confiança. Além disso, o cansaço de ter de trabalhar, estudar e terminar o doutorado em muitas ocasiões foi especialmente complicado.
Nesses momentos, minha perseverança se apoia em três âncoras, que funcionam em conjunto. A primeira e mais imediata é o suporte humano: o apoio inabalável da minha querida esposa e da minha família, que são minha base de força no dia a dia.
A segunda âncora, que dá sentido a esse esforço, é um forte senso de propósito. Tenho a convicção de que o trabalho na área do Meio Ambiente não é apenas um emprego, mas uma vocação, uma contribuição crucial à sociedade. Lembrar do porquê estou nessa jornada renova minha determinação.
E, acima de tudo, há a âncora definitiva, que sustenta as outras duas: a minha Fé. A prática de oferecer o esforço diário para a maior glória de Deus me dá uma perspectiva de Eternidade em tudo o que faço, seja grandioso ou pequeno. Ela me ensina a sossegar o coração e a confiar que, mesmo nas demoras e incertezas, há um propósito maior na Vontade Divina. Isso transforma a frustração em paciência e o desânimo em perseverança filial.
Estratégia: Por fim, o que você aconselharia a alguém que está iniciando seus estudos para concurso? Deixe sua mensagem para todos aqueles que um dia almejam chegar aonde você chegou!
Lucas: A mensagem que eu deixaria é que a aprovação não deve ser o objetivo final, mas a consequência natural de uma jornada bem vivida e bem ordenada. Para quem está começando, eu resumiria minha experiência em três grandes conselhos:
Em primeiro lugar, façam as pazes com a realidade e abracem a constância. A vitória não é de quem tem as melhores condições, mas de quem tem paciência para trabalhar com as condições que tem. Se você só possui 15 minutos de qualidade por dia, use-os ao máximo. A constância tem um poder multiplicador que transforma o pouco em muito. Dia após dia, esse esforço não apenas acumula conhecimento para a prova, mas nos torna pessoas mais sábias para a vida.
Em segundo lugar, tenham clareza do seu propósito. A sã filosofia nos ensina que toda ação busca um fim. O estudo não pode ser um movimento cego; é preciso que nosso Intelecto ilumine nossa Vontade, mostrando a ela o bem que verdadeiramente buscamos. Perguntem-se constantemente: ‘Por que estou fazendo isso? Qual é o fio que guia a minha vida?’ Ter essa resposta clara é o combustível que nos sustenta na jornada.
Em terceiro lugar, busquem uma vida unificada. A jornada intelectual não pode ser algo isolado. Ela deve ser um hábito integrado à busca pelas virtudes. Um hábito de boa alimentação não é um fim em si, mas um meio para um corpo saudável, que por sua vez é o meio para que nosso Intelecto – nossa faculdade mais própria – funcione bem. A busca pelo conhecimento é inseparável da busca por uma vida virtuosa.
Se vocês fizerem isso – abraçar a realidade com constância, agir com propósito e unificar seus hábitos em uma vida de virtudes –, a aprovação virá como uma consequência. Desejo a todos não apenas sucesso nos estudos, mas que encontrem essa harmonia e esse sentido na trajetória de vocês. E aproveitem bem essa jornada, pois como diz um grande poeta do sertão brasileiro, “Ele insinô qui nóis vivesse a vida aqui só pru passá”.
Agradeço imensamente ao Estratégia Concursos pela oportunidade de compartilhar um pouco de minha experiência! Sucesso a todos!