Artigo

Às vezes, tudo é apenas uma questão de não desistir e seguir em frente.

Olá, amigos e amigas!

            Este artigo conta uma história real, com a qual talvez alguns de vocês se identifiquem.  Não se assustem. Qualquer semelhança não é pura coincidência, pois existem situações da vida, sentimentos, frustrações, dúvidas, soluções e anseios que unem todos nós neste mundo dos concursos.

            Entretanto, esse breve relato trata somente de um desses aspectos: todos os dias somos convidados a decidir seguir em frente, a despeito de tudo e de todos.    De qualquer forma, uma coisa é certa: esta é, ao mesmo tempo, uma jornada difícil e desafiadora, onde se aprende muito, o que faz com que, em regra, nos tornemos versões melhores de nós mesmos. 

            Assim sendo, vamos a ela?

            No final de 1998, um menino qualquer de 14 anos cursava a 8˚ série do antigo ensino fundamental, numa escola qualquer da região metropolitana do Rio de Janeiro. Ele se considerava um bom aluno, pois nunca havia ficado de recuperação, mas estava longe de se considerar acima da média no quesito inteligência. Considerava-se, sim, esforçado e estudioso, até mesmo porque, caso não o fosse, correria o sério risco de reprovar de ano, o que implicaria a perda da bolsa de estudos a ele concedida pela prefeitura de sua cidade. 

            Para ele, perder essa bolsa de estudos talvez não fosse uma opção a ser levada em consideração, afinal sua família não dispunha de muitos recursos financeiros para custear a sua educação e a de seus dois irmãos ao mesmo tempo. Foi nessa época, inclusive, quando ele despertou para vida e se deu conta de que a única forma de ele transformar para melhor a sua realidade e de sua família seria por meio dos estudos. Desde, então, ele começou a sentir o peso da responsabilidade sobre seus ombros, pois sabia que tudo o que fizesse seria observado por seus irmãos mais novos, bem como não queria onerar seus pais, que já faziam de tudo para não deixar faltar nada em casa.

            Foi quando ele decidiu seguir um caminho diferente do trilhado pela grande maioria de seus amigos: daria um passo atrás na vida, a fim de estudar para o concurso do Colégio Naval1, em vez de enveredar pelos sendas das descobertas das melhores experiências da vida de um adolescente.

            Ele saiu da escola onde estudava, deixou para trás amigos e namorada, e foi bater na porta do diretor do único cursinho que preparava candidatos para o processo seletivo do Colégio Naval nas redondezas. Não se sabe o que esse diretor viu nesse menino, mas foram necessários somente vinte minutos de conversa para que o diretor decidisse por conceder uma bolsa de estudos quase integral. O que ele pediu em troca? Somente dedicação e comprometimento. O que o menino disse? “- O senhor não vai se decepcionar. Farei tudo o que estiver a meu alcance”.

            O ano letivo de 1999 começou no dia 11 de janeiro para o menino de 14 anos, em plenas férias de verão. Enquanto todos os seus amigos ainda viajavam, jogavam bola, soltavam pipa ou jogavam vide-game, ele acordava às 6h da manhã para assistir às aulas, inclusive aos sábados. Esse mês de janeiro seria um período que antecederia o início das aulas, ao final do qual os alunos passariam por um processo seletivo interno que os segregariam em turmas, a depender de seus desempenhos nessa seleção. Eram muitos os candidatos, muitos dos quais já estavam fazendo o curso preparatório para o Colégio Naval pela terceira, quarta vez e até pela quinta vez. O menino ficava no cursinho das 7h às 18h e quando chegava em casa ainda estudava até quase meia noite. Era preciso “correr atrás” do prejuízo, pois tudo o que estava sendo ensinado era completamente diferente do que ele havia aprendido na vida acadêmica até então. Às vezes, parecia que os professores falavam outra língua. Muitas vezes ele se sentia mal dentro de sala de aula, pois, além de não entender o que o professor ensinava, também não entendia as perguntas dos alunos “veteranos”. Para piorar, não conseguia resolver, sequer, uma questão que o professor passava em sala de aula. Mas ele estava obstinado e não iria desistir fácil. Acreditava ser capaz de fazer parte da “elite” dos alunos da Turma 1. A seleção foi num sábado ensolarado às 8h da manhã. Acordou cedo, viu os seus irmãos mais novos ainda dormindo e pensou: “- Um dia, isso tudo terá valido à pena.” KKK

            Pobre coitado! Mal sabia que sua vida de concurseiro estava só começando naquele dia e que por muitas vez ele ainda iria precisar repetir esse “mantra” para si mesmo como forma de automotivação.

            Veio a prova e ele acertou somente 9 das 10 questões necessárias para ficar na tão almejada Turma 1. Tristeza a princípio, mas por um golpe de sorte ou por força do destino, uma questão foi anulada e ele passou a ter as 10 questões necessárias para fazer jus a uma vaga da turma de elite. É, na vida de concurso, às vezes, precisamos contar com um pouco de sorte. KKKK

            Aqui faço um parênteses. Essa Turma 1 era onde se concentrava os melhores alunos, aqueles nos quais o cursinho depositava todas as suas esperanças e expectativas de aprovação e “marketing”. Talvez por isso, os melhores professores eram os que ministravam aulas para ela e, também, sobre a qual recaiam as maiores cobranças acadêmicas e psicológicas. Ser selecionado inicialmente para ela era a parte mais fácil. Difícil era permanecer nela, pois mensalmente eram feitos novos simulados de seleção, o que podia rebaixar o aluno para as demais turmas (turma 2, 3, 4 e 5) ou ascendê-lo das turmas inferiores para as superiores. Mas isso, o menino ainda não sabia.

            Dessa forma, a alegria e a euforia por ter conseguido ficar na turma principal da escola durou pouco. Era nessa turma onde, como diz o ditado popular, o “couro comia” ou “onde o filho chorava e a mão não via”. Os professores eram extremamente rigorosos em relação ao conteúdo e cobravam bastante dos alunos. Ele que se achava um bom aluno, que nunca havia ficado, sequer de recuperação, passou a ter certeza de que era analfabeto. Que matemática de 8˚ série era aquela que ele nunca havia visto? Que problemas de física eram aqueles? A impressão que ele tinha era que de ter saído da oitava série direito para o doutorado de matemática “quântica”, se é que isso existia. KKK

            Todos os sábados havia o tão temido “tiroteio” de questões: o professor passava uma questão, dava um tempo para os alunos resolverem e, logo em seguida, apresentava a solução. Das 20 ou 30 questões propostas, havia dias em que ele conseguia resolver somente duas questão, às vezes nem isso…

            A primeira vez que isso aconteceu, foi quando ele pensou em desistir. Foi quando, também, pela primeira vez na vida, se questionou se havia tomado uma decisão correta em ter deixado tudo para trás com a finalidade de embarcar nesse projeto. Nesses momentos, batia uma enorme dor no peio, um frio na barriga e uma vontade grande de chorar… Mas, logo em seguida, ele lembrava que desistir não era uma opção. Seu pai acreditava nele, seus irmãos o tinham como exemplo. Ademais, havia dado sua palavra ao Diretor do curso e pior, caso ele desistisse, o que iria fazer da vida??? Sua família, muito provavelmente, não teria condições de bancar o estudo de 3 filhos. Desistir não era uma opção, caberia a ele seguir em frente até o fim, fazendo tudo o que estivesse a seu alcance.

            O menino, então, não esmoreceu. Passou a estudar mais e mais. Não perdia nenhuma aula. Buscou aprender com os colegas “veteranos” que estavam cursando pela segunda ou terceira vez. Conforme o tempo foi passando, ele viu que não se sentia mais um analfabeto e que começava a entender as coisas que os professores ministravam em sala. No decorrer dos meses, conforme eram feitos os simulados, seu desempenho ia melhorando a cada dia. Até que, no mês de agosto, a três dias da tão temida prova eliminatória de matemática, no último simulado geral, seu nome estava estampado no topo de uma lista no mural central do cursinho. Figurava ele como primeiro colocado isolado do último simulado, tendo acertado 19 das 20 questões.

            Tão logo esse resultado foi divulgado, o diretor chamou o menino em sua sala e disse a ele: “- Desde o primeiro momento que te vi, enxerguei potencial em você. Parabéns pelo seu resultado. Fique tranquilo, pois você já está aprovado. Só falta ir lá colocar o seu nome na prova.”

            A profecia, então, se fez. Veio a prova de matemática e o menino se saiu bem. Não tão bem quanto esperava, mas o suficiente para manter acesa a chama da esperança e para passar à fase seguinte. Entretanto, estava cumprida apenas uma etapa. Faltavam ainda dois meses e meio de estudos pela frente até a segunda fase. Ressalte-se que, até então, ele havia se dedicado quase que exclusivamente à disciplina de matemática. Contudo, da segunda fase constariam todas as outras disciplinas: português, redação, história, geografia, física, química e biologia.

            O menino, portanto, tinha um grande desafio pela frente: assimilar um vasto conteúdo de matérias num curtíssimo espaço de tempo. Medos, incertezas, cansaço, desânimo, tudo isso passou pela cabeça dele. Repetidas vezes ele pensava: “- Vou desistir! É impossível dar conta disso tudo em dois meses. Há meninos aqui que estão tentando pela quinta vez e que são muito mais inteligentes do que eu. O que me leva a crer que eu conseguirei logo na minha primeira tentativa???” 

            Mas isso era só um momento de fraqueza. Na verdade, precisava ser só um momento de fraqueza, pois ele não podia se dar o luxo de perder tempo com devaneios. A cada minuto que passava era uma oportunidade que ele tinha de ver um conteúdo que, talvez, caísse na prova, o que seria uma questão a mais a seu favor. Decidiu, portanto, que não perderia mais tempo com esses pensamentos e que seguiria em frente sem olhar para os obstáculos. Venceria dia a dia, matéria por matéria, até a hora da prova. E assim o fez. 

            Chegou, então, o mês de outubro. A prova ocorreu num final de semana. No sábado foi aplicada a disciplina de ciências e no domingo, estudos sociais, português e redação. Antes da prova, ele procurou ficar isolado de seus amigos, sentado dentro do carro com seu pai que, diga-se de passagem, sempre esteve a seu lado. Optou por fazer isso, pois, permanecer ao lado de seus amigos só aumentava sua ansiedade, na medida em que seus colegas e outros meninos conversavam sobre assuntos que ele não havia estudado.  

            O último dia de prova foi numa manhã ensolarada de domingo, muito parecida com aquela manhã de sábado de janeiro, quando ele fez a prova de seleção para a Turma 1. Ao deixar o local de prova, ele olhou para o céu, respirou fundo e agradeceu a Deus por tê-lo permitido chegar ao fim sem ter desistido e por ter conseguido lutar com todas as forças, até o último segundo. Naquele momento, ele sentiu a inigualável sensação de dever cumprido. Sensação essa que advinha não da certeza da aprovação, apesar de ter um bom pressentimento acerca desse fato, mas por ter a certeza de que havia feito tudo o que estava a seu alcance. Mesmo que não fosse aprovado, sabia que não haveria arrependimentos. 

            Um longo mês de espera até que saísse o resultado final. 

            Às 17 horas do dia 26 de novembro de 1999, o menino recebe uma ligação do quartel onde seu pai trabalhava. Seu pai havia pedido para que um amigo de serviço ficasse de olho no Boletim de Notícias da Marinha (BONO), pois havia a expectativa de que o resultado saísse naquele dia. Ao atender o telefone, seu pai começou a chorar. Nada mais precisava ser dito. Só abraços e lágrimas! Naquele momento, uma voz interior dizia ao menino: “- Tudo valeu à pena!”

            No dia seguinte, o menino acordou cedo e foi até a banca de jornal. Pediu pela Jornal Folha Dirigida, e lá estava seu nome dentro do rol dos 236 aprovados no concurso do Colégio Naval, dentre os quase 17 mil inscritos. Essa seria somente a primeira vez que ele veria seu nome estampado no Diário Oficial como aprovado. Em verdade, essa aprovação renderia frutos na vida do menino que ele estava longe de imaginar. Inclusive, anos depois, seguindo seu exemplo, seus irmãos também foram aprovados no mesmo concurso.

            Às vezes, tudo o que precisamos fazer é não desistir. Lutar a cada segundo com todas as nossas forças, sem se preocupar com o amanhã e com o que passou. Só chega ao final da jornada aquele que opta por seguir em frente, a despeito de tudo e de todos. Aquele que desiste e fica pelo caminho é derrotado por si mesmo. 

            Mas, manter o foco e a perseverança é tarefa fácil? 

            Não, isso está muito longe de ser fácil. Decidir por permanecer lutando é uma tarefa diária que requer firmeza de espírito e muita certeza de propósito. E como se adquire essas qualidades??? Ah, isso fica para um próximo artigo!!!! KKKKK

Grande abraço a todos!!!

Disciplina, foco e perseverança!!

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Veja os comentários
  • Bons tempos, camarada!!!
    Dihego Antônio Santana de Oliveira em 06/08/19 às 22:44
  • Nostalgia pura! Excelente texto!!!!!
    Coach Diego Parreira em 06/08/19 às 16:27