Artigo

A síndrome do aluno nota 10

Você era a criança prodígio da escola. O orgulho da família. Seu futuro era promissor. Todos apostavam que entraria em uma excelente universidade. E todos estavam certos! Você não só  estudou em uma excelente faculdade como era sempre destaque na turma. Orador da formatura! 

 

Você sempre “flutuou” pela vida, de sucesso em sucesso. Mesmo que estivesse acostumado a ralar bastante para obtê-lo, existia a certeza de que ele – mais cedo ou mais tarde – viria.  E ele sempre chegou cedo, não é?

 

Já formado (a), a realidade começou a mudar. Arrumar um emprego legal é algo mais duro do você poderia imaginar. O salário do primeiro emprego era muitíssimo distante do que você – e todos a sua volta – esperavam. As oportunidades, mais minguadas do que nos seus piores pesadelos.

 

Eis que você vislumbra a solução, o pote de ouro no fim do arco-íris.  Você, a pessoa boa de prova, o arraso do vestibular, o número 1 da faculdade, vai se dar bem… e rápido. Estudar nunca foi problema. Você então se matricula no cursinho, compra um monte de material e se joga no maravilhoso mundo dos concursos!

 

Os livros são grandes. O tempo é curto. As leis são infinitas. A jurisprudência é uma salada e – para piorar – alguns autores teimam em discordar. As bancas são geniosas. O Cespe acha uma coisa. A Esaf outra. A FCC uma terceira.  Enquanto você tenta lidar com isso, escuta de parentes e amigos que “logo vai passar em um grande concurso! Você sempre foi inteligente”.   A cobrança é do peso do mundo. Não sabem eles que não é mais bem assim? Você se questiona em looping!

 

Ser um sucesso em comparação aos 50, 100  alunos da escola e da faculdade é – sem dúvida – um feito. Mas estar entre os melhores quando o universo a ser considerado é de 10 mil, 100 mil pessoas… bom, amigo. Daí o papo é outro.

 

Você então começa a questionar sua inteligência e até o seu passado. Como  puderam te enganar todo esse tempo? Como assim você não é um prodígio? Hã? O que está acontecendo? Emburreci? Tem jeito?

 

Se o cenário acima te descreve, parabéns: Você foi acometido da síndrome do aluno nota 10! Há muitos como você. Dou aulas e coaching para eles todos os dias. Eu os conheço. Pior, eu era um deles!

 

Uma vez diagnosticado o problema, vamos analisar a vantagem e as desvantagens da sua “condição”:


VANTAGEM: Você tem uma boa base

 

Se você sempre foi um bom aluno, não tenha dúvidas que isso lhe ajudará a passar mais rápido. Seu esforço não foi em vão – embora possa parecer nos momentos de maior desespero.

 

DESVANTAGEM 1: Você é muito cobrado

 

Todo mundo tem certeza absoluta de que você passará para juiz ou auditor fiscal em um mês de estudo pois você sempre foi um gênio. Até você, bem lá no fundo, sente uma pontada de decepção conforme o tempo passa. A sua cobrança e a dos outros é pior do que estudar em si, não é mesmo?  Fora que o povo adooooora falar. “Já passou? Como não? Mas você sempre foi tão inteligente!” Como se você não fosse mais!!! Além – claro – das histórias mirabolantes de sucesso do filho da vizinha da prima de alguém… aff! Ninguém merece!

 

DESVANTAGEM 2: Você não sabe perder

 

Uma reprovação sacode sua autoestima de uma maneira que te faz duvidar do que é capaz. É preciso entender que você não reprovou pois é incapaz. Você não emburreceu. Só não passou porque, naquele dia, naquela hora, naquela prova, tinha gente mais preparada do que você. Isso não quer dizer NADA sobre outras provas. Garanto: aprender a perder dói um bocado… mas você vai sobreviver!

 

MEU CONSELHO: Desapegue-se da vaidade!

 

Você é o seu maior julgador. Seu ego dói sem o sucesso que antes o alimentava. Isso é normal. Mas agora as coisas mudaram. Agora, a batalha é entre os grandes. Na faculdade, muitos queriam apenas a presença, o canudo. Agora todo mundo quer o 10. O SEU 10! E você vai ter que brigar por ele como nunca antes. Há um exército disposto a estudar de verdade para garantir uma vaguinha no serviço público.

 

Para diminuir a pressão e aumentar substancialmente suas chances de sucesso, pense que o 10 agora não é a nota. Nem o primeiro lugar tira 10. A nota 10 agora é o seu empenho, a sua persistência, a coragem. É não se importar com as perguntas pentelhas dos vizinhos e parentes. É você batalhar por você mesmo! Lute por esse novo 10.

 

Você foi promovido! Você é quem se dá a nota agora. Você já é adulto. Você conquistou esse poder. Use-o!

 

Seu 10 é o seu dia a dia de estudo, o cumprimento do seu cronograma. É dizer não à balada para acordar cedo para estudar. É trabalhar o dia todo, chegar em casa cansado (a) e cumprir sua meta de estudo.

 

Batalhe pelo dia nota 10, mas entenda que há momentos em que um 8 já uma é super vitória. Ou um 7, ou um 6… Deixe a vaidade do garoto (a) prodígio de lado! Isso era só uma fantasia. Agora você é capaz de algo muito, muito melhor: ser uma pessoa estudiosa, disciplinada, que construiu o próprio sucesso na base do suor e da coragem. E o melhor de tudo: cheio de humildade.

 

 

Um beijo, pessoal!

Gabi 

 

Coach Estratégia Concursos

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Veja os comentários
  • Me identifiquei muito com esse texto, parabéns!
    Alefe em 18/07/17 às 19:41
  • Gabriela. Mais um artigo importantíssimo. Seguimos em frente. Parabéns.
    Alexandre Guerra de Guerra em 12/03/17 às 18:03
  • Interessante o texto, Gabi! Sei que é a realidade de muita gente. Eu particularmente sou de família simples, estudante de escola pública e aluno abaixo da media... nem sabia o que era autoestima. Não conseguia acreditar que eu era capaz... Mas depois de alguns perrengues comecei a direcionar minha vida, em especial nos estudos. Depois de um tempo comecei a colher os frutos, fui aprovado em alguns concursos, estou exercendo meu segundo cargo público e no rumo de outro melhor. Claro que com o pé no chão e vencendo um leão a cada dia. E concordo com você, é necessário humildade e disciplina.
    Fabio em 21/02/17 às 23:20
    • Que bom que gostou, Fabio! É isso. Humildade + disciplina + matar um leão por dia = SUCESSO Abs Gabi
      Gabriela Knoblauch em 22/02/17 às 18:51
  • Oi Gabi! Eu disse que viria contemplar e cá estou! Muito interessante o artigo, Gabriela! Acredito que todos nós entramos no mundo dos concursos meio na inocência. Certamente quem teve essa síndrome do aluno nota dez, por vezes, leva um tombo ainda maior! Agora, tudo isso faz parte da maturidade que todos que estudam precisam enfrentar: melhores técnicas, mais humildade, mudança de mindset. Um certo "assentamento" da euforia. Eu ainda não tive o prazer de ver meu nome no DOU, mas arrisco afirmar que o segredo disso tudo é uma preparação com evoluções sistemáticas, escolhas bem feitas, focado na perfeição. Mas não uma perfeição lotada de preciosismos, até porque sabemos que, na hora da prova, horas estudadas, aulas assistidas, livros lidos, colegas que ajudou, resumos feitos, mapas mentais, áudios, vídeos, esquemas, cards, história de vida, problemas particulares, desafios e família: nada faz a siferença, a não ser o que se consegue evoluir como aprendiz. São resultados consistentes, resultados "simples" que nos levam a outros patamares! Beijo, excelente artigo! Sucesso!
    Uilian Muneretto em 21/02/17 às 20:15
    • Oi, Uilian! Seja bem-vindo! :) Falou perfeitamente, amigo. E se já está de posse dessa informação toda, o seu resultado virá rápido. O mais difícil você aprendeu. Abs Gabi
      Gabriela Knoblauch em 22/02/17 às 18:40
  • Muito bom artigo! Gratidão por compartilhar! :D
    Gaia Lux em 21/02/17 às 18:00
    • Toda terça e quinta tem artigo, Gaia! Que bom que curtiu! Venha me visitar mais vezes. Abs Gabi
      Gabriela Knoblauch em 22/02/17 às 18:53
  • Obrigado pelo artigo Gabriela! Me identifiquei muito! Iniciei o segundo ano de preparação para concursos, com algumas frustrações e questionamentos. Mas vamo que vamo!!! Artigos assim ajudam muito!
    Cristiano em 21/02/17 às 14:42
    • Disponha sempre, Cristiano. Pode ter certeza que seu caso é o de muitos! Comemore: Sua boa base vai te ajudar MUITO! Você só precisa ajustar algumas arestas e - principalmente - expectativas. Estudar com regularidade e até passar! É o nosso lema! Abs Gabi
      Gabriela Knoblauch em 21/02/17 às 17:10
  • Parabéns pelo artigo! Não é preciso ser um gênio para ser aprovado num concurso público. É imprescindível cumprir as metas ou se esforçar para cumpri-las. É interessante sempre buscarmos melhorias nos estudos e diminuirmos ao máximo nossos erros. Abraços...
    Roberto em 21/02/17 às 12:18
    • Obrigada, Roberto! Que bom que gostou! E sim, nada de genialidade. Esses são os pontos fora da curva. Para a grande massa de futuros aprovados, o que conta mesmo é a regularidade, a humildade para ver os erros e a disposição para corrigi-los. Abs e bons estudos Gabi
      Gabriela Knoblauch em 21/02/17 às 17:09
  • Persistência é a palavra chave... depois de tentar inúmeros concursos sem ter um planejamento de estudos, consegui ser chamado em dois (um estadual e outro federal) de uma só vez quando decidi que era aquilo que eu queria e realmente foquei nisso. Hoje, um pouco mais experiente, estudo para algum de nível superior e posso dizer que a humildade em reconhecer que estamos sempre aprendendo é o segredo do sucesso na aprovação. Ótimo artigo, Gabi!
    Flávio em 21/02/17 às 11:32
    • Perfeito, Flávio! Humildade para notar os erros e as vulnerabilidades só nos fortalece e acelera a aprovação. Sem vaidade, sem peso desnecessário! Nada a provar a ninguém! Estudo e vida mais leve e com foco. Abs Gabi
      Gabriela Knoblauch em 21/02/17 às 17:06
  • Me identifiquei muito com o início do artigo. Apesar de ser da baixa classe média de Goiânia, consegui bolsa no ensino médio privado, depois ingressei na Psicologia UFU e posteriormente fui aprovado em 2° lugar no curso da UnB. Por eu não ter tido condições de ter uma verdadeira rotina de estudos ao longo desse período -por problemas mesmo- NÓS atribuímos a mim o estereótipo da pessoa extraordinária, que consegue as coisas com mínimo esforço. Bobagem: eu deveria era lamentar as adversidades que tive e perceber que passar estudando pouco só acontece em vestibular mesmo, onde são cobradas muito mais habilidades que conhecimentos.Tudo isso me atrapalhou muito no começo da jornada em concursos, principalmente por me sentir capaz de ser aprovado em poucos meses e, por isso, não ter me planejado para um concurso de longo prazo. Peguei logo um edital que já estava aberto: reprovado. Depois, insisti no erro: aprovado fora das vagas por 2 pontos. Mais uma preparação fast food: reprovado na redação. Pela pressa e prepotência, já estou no segundo ano de concursos, afastado da graduação, sem uma posse. Meu 2017 começou com um planejamento de longuíssimo prazo, humildade e respeito aos milhares de concorrentes.
    Murillo Barbosa em 21/02/17 às 09:23
    • Murillo, a gente entra meio inocente nessa vida de concurso. Nosso referencial é a escola, vestibular e faculdade. Porém, o mundo do concurso é muito mais alto nível. A gente leva um tempo para absorver isso. A vaidade fica (graças a Deus) em segundo plano! Isso acaba por tirar um peso de cima de nós e nos permite focar no que interessa: RESULTADOS! Com a visão que externou ter hoje, está no caminho certo. Bons estudos Gabi
      Gabriela Knoblauch em 21/02/17 às 17:01
  • Olá Gabi, De fato muitas vezes imaginamos que somos/estamos fortes e que ninguém irá nos derrubar, mas, conforme novos desafios vão surgindo, percebemos que existem gigantes em nossa volta, loucos para nos derrubar. Mundo de concurseiro é realmente um mundo paralelo, virtual! Devemos nos preparar física e (principalmente) psicologicamente, caso contrário seremos esmagados pelos outros e, não raras as vezes, por nós mesmos. Obrigada por suas palavras! Saiba que elas me ajudam a levantar sempre que tomo uma no estômago! Você faz a diferença! Que Deus te abençoe.
    lourdes em 21/02/17 às 09:18
    • Oi, Lourdes. Obrigada pela comentário! :) Uma coisa que ajuda é saber cultivar a autoestima sem perder a humildade. A gente tem que respeitar o concorrente, a banca, as matérias. Entender que o nível da concorrência é nacional, ou seja, muito mais exigente do que a que enfrentamos em outros momentos da vida. Humildade para aprender e estudar bastante + Autoestima para perceber que vai dar conta do desafio é a combinação do sucesso. Abs Gabi
      Gabriela Knoblauch em 21/02/17 às 16:54