Aprovado no concurso ISS Rio Preto para o cargo de Agente Fiscal de Posturas Municipal:
“O preconceito contra servidor público é grande em nosso país e muitas pessoas acabam nos vendo como pessoas que querem se encostar e não produzir nada (políticos inclusive, que ironia). Precisamos separar o joio do trigo, pois muitos jovens querem ser produtivos no serviço público e isso presenciei com meus próprios olhos. Pessoas sérias e capazes de mudar a realidade brasileira e que não se enquadram no estereótipo do encostado. Deem mais oportunidade aos jovens e esse país mudará verdadeiramente.”
Confira nossa entrevista com João Guilherme Grandizoli Gomes dos Santos, aprovado no concurso ISS Rio Preto para o cargo de Agente Fiscal de Posturas Municipal:
Estratégia Concursos: Você é formado em que área? Qual sua idade? De onde você é?
João Guilherme Grandizoli Gomes dos Santos: Olá, sou formado em Economia pela Universidade Federal de São Carlos, tenho 29 anos e sou natural de São José do Rio Preto – SP.
Estratégia: O que te levou a tomar a decisão de começar a estudar para concursos?
João Guilherme: Bom, foi no final da graduação, no início de 2016 que comecei informalmente a olhar para os concursos públicos, mas não conhecia o mundo dos concursos e fui me aventurar a prestar o INSS.
O resultado vocês já devem prever, não cheguei nem perto de ser aprovado. Mas fui aprovado ainda em 2016 em um processo seletivo simplificado do IBGE, o que viria a me proporcionar tranquilidade financeira para estudar de verdade para concursos. Fui nomeado somente em maio de 2017. Foi aí que comecei mais seriamente a estudar para concursos.
A decisão de estudar para concursos confesso que foi feita tardiamente, pois a economia brasileira já dava sinais de arrefecimento na época e isso é muito ruim para qualquer escolha profissional. As vagas já começavam a se tornar mais escassas para o pessoal da área administrativa, como é o meu caso.
Eu sempre gostei da área pública e adorava Macroeconomia na graduação, Economia do setor Público também, então o caminho dos concursos apareceu naturalmente. Sempre gostei das ditas questões nacionais, de políticas públicas e o setor público tem cargos que devem dar muita satisfação pessoal e profissional em ajudar no desenvolvimento do país.
Também sou interiorano e sendo servidor público pode-se viver no interior com bons salários, sem ter que ir para São Paulo, por exemplo, onde tudo é mais caro e problemático. Ou seja, mais qualidade de vida sem precisar sofrer tanto por dinheiro.
Estratégia: Durante sua caminhada como concurseiro, você trabalhava e estudava (como conciliava trabalho e estudos?), ou se dedicava inteiramente aos estudos para concurso?
João Guilherme: A minha caminhada até a aprovação em São José do Rio Preto foi toda feita enquanto trabalhava e não é fácil. Se você tem a chance de não trabalhar, use-a com sabedoria, pois o trabalho desgasta muito mental e fisicamente. Além disso, eu tinha que cuidar da minha saúde física e isso foi muito importante na preparação, pois emagreci mais de 20 Kg no processo de estudo para concursos. Isso dá um gás a mais para estudar, acreditem, é muitíssimo importante a atividade física, embora o tempo fique sim exíguo. Você deve aprender a lidar com isso.
O percurso não foi nada retilíneo nesse período, pois muitas vezes a canseira batia, o desânimo, mas é tudo superável e persistindo, as coisas acontecem. Não pensem que sou perfeito, “levei pau” em vários concursos. Tentem levar uma vida saudável, isso fará diferença na preparação, pois é o longo prazo que importa no fim das contas para o seu sonho. Não se iludam se comparando a outras pessoas, pois a conjuntura de concursos hoje é outra e a comparação por si só não é legal para sua saúde mental.
Estratégia: Em quais concursos já foi aprovado? Qual o último? Em qual cargo e em que colocação?
João Guilherme: Já fui aprovado nos concursos do CRA-PR regional Londrina, Prefeitura de Campinas e Prefeitura São José do Rio Preto (esse em 2 cargos). Já fui aprovado em outros, mas não considero como aprovações de fato, pois a chance de nomeação é pequena.
No concurso do CRA-PR fiquei em primeiro lugar para agente administrativo. No de Campinas, na posição 79, também para agente administrativo. Em São José do Rio Preto, em décimo segundo lugar para Agente Fiscal de Posturas Municipal e na posição 84 para agente administrativo, em ambos os cargos dentro das vagas.
Todas essas aprovações foram em 2019, o ano em que mais me dediquei a estudar. A aprovação para Agente Fiscal de Posturas na 12a colocação foi a mais expressiva e a última que consegui até o momento, espero que venham mais aprovações após a pandemia.
Estratégia: Qual foi sua sensação ao ver seu nome na lista dos aprovados/classificados?
João Guilherme: A sensação é muito boa. Quando falei em casa que havia passado em primeiro lugar foi uma alegria só. A minha primeira aprovação foi logo em primeiro lugar e isso foi muito legal.
Mas o futuro se revelou trágico, pois outro aprovado, também em primeiro lugar em outra regional, veio me avisar que havia tido uma retificação no edital mudando os requisitos para o cargo que pleiteávamos. Assim, tanto eu como ele não poderíamos assumir, pois não tínhamos tal requisito.
Ainda não fui nomeado lá, mas se for, provavelmente não poderei assumir. Por isso, vocês têm que estar preparados para tudo no mundo dos concursos, para erros pessoais, para injustiças ou mesmo para uma pandemia. Nada virá fácil e se parecer, desconfiem!
Ficamos sem chão, ele perdeu a posse e muitos outros também, pois o edital de retificação não foi percebido pela maioria dos candidatos. A frustração foi muito grande, mas felizmente eu superei isso e consegui seguir estudando para ser aprovado na minha cidade natal e onde moram meus pais (São José do Rio Preto).
Recebi a notícia da aprovação em São José do Rio Preto no dia da final da Libertadores, quando acompanhava a vitória do Flamengo de virada sobre os argentinos e isso lavou a minha alma, porque não é fácil ser aprovado, depois descobrir que não pode assumir o cargo. A volta por cima veio de maneira emocionante, como foi aquele jogo, que muito embora eu não fosse um flamenguista foi muito simbólico na minha vida.
Por isso, já deixo uma dica, acompanhem os editais de retificação também, infelizmente algumas bancas não atualizam o edital original e isso atrapalha os candidatos.
E mais, sigo estudando, agora para a área de controle, pois ainda não tomei posse. Aconselho que façam o mesmo, pois descansar da meta mesmo é só com a posse.
Estratégia: Como era sua vida social durante a preparação para concursos? Você saía com amigos, família, etc? Ou adotou uma postura radical, abdicando do convívio social?
João Guilherme: Eu morava em Sorocaba-SP, bem longe dos meus pais durante a preparação, pois foi lá que me formei, onde trabalhava e percebo que isso pesa bastante, a proximidade da família é importante e eu não tinha.
Saí de casa com 16 anos para estudar e só voltei 15 anos depois. Então eu os visitava 1 vez por mês ou eles me visitavam, era muito pouco. Aconselho que tenham maior proximidade da família do que tive, se isso for possível, porque tem momentos em que você vai precisar da ajuda deles para seguir em frente.
Sobre a vida social, nunca me abstive disso, talvez seja um defeito meu, mas adorava um happy hour de sexta com os amigos do IBGE, aliás, um lugar muito legal para quem quer começar no mundo dos concursos, pois oferta muitas vagas temporárias que podem durar até 3 anos. Fica a dica!
Estratégia: Você é casado? Tem filhos? Namora? Mora com seus pais? Sua família entendeu e apoiou sua caminhada como concurseiro? Se sim, de que forma?
João Guilherme: Não sou casado, não tenho filhos e comecei a namorar há pouco tempo, embora tenha namorado durante a preparação. Não há uma regra fixa, desde que faça bem, tudo é possível, mesmo estudando para concursos.
A minha família apoiou, diga-se, pai e mãe e sou muito grato a eles por isso. Eles me deram apoio financeiro e emocional. Quando viam que eu estava desanimado, sempre tinham uma palavra para que eu renovasse as minhas esperanças. Eles foram fundamentais nesse processo até aqui e acredito que serão sempre. Muito obrigado! A minha família nunca foi do serviço público, então isso é uma escolha totalmente minha e o fato deles terem aceitado é muito gratificante.
Muitas pessoas “torcem o nariz” quando falamos do sonho de ser servidor público e quando isso vem de familiares, pesa em nossas cabeças. O preconceito contra servidor público é grande em nosso país e muitas pessoas acabam nos vendo como pessoas que querem se encostar e não produzir nada (políticos inclusive, que ironia). Precisamos separar o joio do trigo, pois muitos jovens querem ser produtivos no serviço público e isso presenciei com meus próprios olhos. Pessoas sérias e capazes de mudar a realidade brasileira e que não se enquadram no estereótipo do encostado. Deem mais oportunidade aos jovens e esse país mudará verdadeiramente.
Estratégia: Você acha que vale a pena fazer outros concursos, com foco diferente daquele concurso que é realmente seu objetivo maior? (Se esse ainda não é o concurso dos seus sonhos, se possível, citar qual é e se pretende continuar se preparando para alcançar esse objetivo).
João Guilherme: Gostaria de dizer que não, mas vale. O cenário é instável no país, veja-se o caso da receita federal, sem plano B a pessoa poderia ficar estudando muito tempo sem aparecer edital.
No meu caso em Rio Preto foi assim, estava estudando para o TRF-3 e apareceu o edital da cidade. Aproveitei a chance, pois era um concurso com vagas explícitas, o que é raro hoje em dia, com o cadastro reserva reinando nos editais.
Então estejam abertos às possibilidades, muitas vezes elas podem surpreender. Continuo estudando para os cargos de Auditor de Controle Externo dos Tribunais de Contas, que são um sonho para mim pela minha formação de Economista, mesmo após a aprovação em Rio Preto. Sonhem alto.
Estratégia: Você estudou por quanto tempo direcionado ao concurso em que foi aprovado?
João Guilherme: Estudei por apenas 1 mês e o que fez a diferença foi a discursiva. Os concursos estão cada vez mais exigentes, treinem muito redigir e resolver questões. O nível está altíssimo.
Mas lembrem-se que eu já vinha estudando anteriormente para outros, como por exemplo, para o TJ-SP ou o TRF-3. Então esse 1 mês é ilusório.
Estratégia: Chegou a estudar sem ter edital na praça? Durante esse tempo, como você fazia para manter a disciplina nos estudos?
João Guilherme: Cheguei sim, mas nunca consegui ter tanta disciplina e o senso de urgência me fazia buscar oportunidades, mas é extremamente aconselhável estudar sem edital na praça. O que sempre busquei fazer é manter a área, hoje foco na área de controle. Antes era em tribunais do judiciário.
Estratégia: Como conheceu o Estratégia Concursos?
João Guilherme: Conheci pelo nosso grande amigo Google (risos). Antes fiz um cursinho presencial, mas achei muito fraco. Hoje reconheço que os materiais on-line estão muito bons, bem completos e suficientes para uma aprovação.
Estratégia: Que materiais você usou em sua preparação para o concurso? Aulas presenciais, telepresenciais, livros, cursos em PDF, videoaulas? O que funcionou melhor para você?
João Guilherme: Usei material em PDF, fazia muitos exercícios, mas a redação hoje pode ser seu diferencial, faça muitas.
Estratégia: Uma das principais dificuldades de todo concursando é a quantidade de assuntos que deve ser memorizada. Como você fez para estudar todo o conteúdo do concurso?
João Guilherme: Focado em exercícios, sempre gostei de fazer e tinha pouco tempo, então focava nisso.
Tinha dias que ficava de 2 a 3 horas, outros ficava 1 hora estudando. Variava muito, nunca fui metódico com isso e para mim funcionou.
Não fazia resumos, apenas marcava no PDF. Também não imprimia os PDFs não. Meu plano de estudos era aprender diariamente e observar meus erros. Minha rotina era ter que fazer exercícios e não o que eu faria. Então eu variava as matérias mesmo, sem muitos pormenores, mas sem misturar demais.
Estratégia: Você tinha mais dificuldades em alguma(s) disciplina(s)? Quais? Como você fez para superar estas dificuldades?
João Guilherme: No caso de Rio Preto, havia a legislação municipal e ela tinha peso importante na nota, então você tem que focar nisso, pois cada município tem as suas particularidades. Essa foi minha maior dificuldade, pois era pouco tempo até a prova e muitas questões seriam baseadas nessa legislação.
Estratégia: A reta final é sempre um período estressante. Como foi sua rotina de estudos na semana que antecedeu a prova? E véspera de prova: foi dia de descanso ou dia de estudo?
João Guilherme: Foi intensa, inclusive na véspera estudei e revi questões do material do Estratégia que me ajudaram muito. Infelizmente, hoje o detalhe importa muito na hora da prova.
No dia anterior, também fiz uma corrida de 10 Km para tirar o foco da prova e deu certo, porque no dia seguinte seria uma prova pela manhã e outra à tarde. Consegui ser aprovado nas duas, porque foquei na mais difícil e a mais tranquila veio no pacote, já que tinha mais vagas.
Estratégia: No seu concurso, tivemos, além das provas objetivas, a prova discursiva. Como foi seu estudo para esta importante parte do certame? O que você aconselha?
João Guilherme: A prova discursiva foi um estudo de caso e como o cargo era de fiscal eu apostei que a questão versaria sobre Direito Administrativo ou a atividade em si de fiscalização e não deu outra. No dia anterior, fiquei estudando a Lei de Improbidade Administrativa e o estudo de caso foi justamente sobre o assunto.
Foi o feeling certo, pois poderia ter caído uma questão de Constitucional, por exemplo. Então, nesse caso, eu foquei mais no conteúdo da discursiva na preparação do que na redação em si e consegui a nota 9,5. Assim, subi muitas posições, embora tenha passado 2 questões erradas para o gabarito, questões que eu tinha acertado.
Cheguei em casa bem irritado com isso, porque nunca tinha acontecido comigo, mas no final valeu a pena caprichar na discursiva. Outra dica que dou é você saber o peso real que a discursiva tem na sua pontuação, pois muita gente negligencia isso e faz diferença no final.
Estratégia: Se você tivesse que apontar ERROS em sua preparação (se é que houve), quais seriam? Diga-nos também quais foram os maiores ACERTOS?
João Guilherme: Talvez eu tenha buscado muito a oportunidade em concursos cujas matérias não seriam usadas em outros concursos, como foi no caso do Detran-SP. Aí, você começa a perder o foco na sua área e principalmente no concurso que você almeja mais. Então foi um erro que poderia ter evitado, o famoso concurseiro que pula de galho em galho.
Por algum tempo negligenciei as discursivas também, algo que pretendo não fazer nunca mais, pois pesou em certames como o de Campinas, em que estava em oitavo lugar na prova objetiva e a discursiva me fez perder várias posições, ficando por volta dos 80.
Meu maior acerto foi me manter informado sobre as possibilidades e conhecer cada vez mais a infinidade de carreiras que existem no setor público. Muitas vezes idealizamos uma coisa e a realidade pode ser diferente. Isso é muito comum e até saudável para que possamos viver na realidade do país e tornar nossas escolhas cada vez mais conscientes.
Pense sempre no que você quer ser de verdade, mais do que no dinheiro, na estabilidade, no status. Pense em um emprego que não vai fazer o seu domingo ser um dia triste ou a sexta, um dia a ser perseguido. Como você quer chegar na segunda-feira e se olhar no espelho profissionalmente? Como um fiscal? Como juiz? Como analista legislativo? Como técnico de um tribunal? Como policial? Bombeiro?
Não interessa, acredite nas suas intuições!
Estratégia: O que foi mais difícil nessa caminhada rumo à aprovação? Chegou a pensar, por algum momento, em desistir? Se sim, como fez para seguir em frente?
João Guilherme: Esse pensamento deve ser recorrente entre os concurseiros, agora ainda mais com o advento da Reforma Administrativa. Mas, no fundo, eu sempre fui um otimista na ação, mesmo que pudesse estar pessimista, no fim a esperança reaparecia, seja com a ajuda dos pais, alguns dias de descanso ou mesmo retomando os estudos na marra, mesmo com raiva.
A atividade física teve papel fundamental nisso, porque traz resiliência mental também e dá tranquilidade nos momentos de pressão. Pensem com carinho sobre manter-se saudável, a pandemia também pode nos ensinar isso. Afinal a vida está acima da sua vida profissional. Não deixe que isso consuma suas energias a ponto de prejudicá-lo(a).
Estratégia: Qual foi sua principal motivação?
João Guilherme: A principal motivação foi ter um trabalho que tenha propósito para mim e que me faça ser parte de algo em que acredito. No caso, é o papel do Estado na vida das pessoas, principalmente das carentes.
Estratégia: Por fim, o que você aconselharia a alguém que está iniciando seus estudos para concurso. Deixe-nos sua mensagem para todos aqueles que um dia almejam chegar onde você chegou!
João Guilherme: Não vai ser fácil, pode ser que demore, mas se você quer mesmo, você não vai conseguir tirar isso da sua cabeça com artimanhas ou ilusões ou por que estão te pressionando para ter um emprego. Se você realmente gosta daquele cargo, quer ser aquilo ou mesmo se não tem um cargo específico em vista e quer entrar para fazer parte, dedique-se.
Não sou o melhor exemplo de preparação, nem de abstenção da vida social e para mim deu certo uma parte do plano. Por que para você não daria?
No mínimo, você vai aprender muito e sair com mais conhecimento até de si mesmo no processo. Arrisque, seja de verdade. Se preciso for, chore, mas tente de verdade!
Construa um significado!