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Aprenda com os meus erros e acertos na redação: tirei 920/1000 na redação do Enem sobre “Democratização do acesso ao cinema no Brasil”

Estrategianos, tudo em paz?

Professor Raphael Reis chegando na área para analisar, criticamente, minha redação realizada na edição do Enem 2019 sobre “Democratização do acesso ao cinema no Brasil”.

Essa análise contribui para os estudos de nossos alunos de concurso público, principalmente no que se refere ao conteúdo, às estratégias argumentativas. Por exemplo, se fosse na banca FCC, certamente eu tiraria nota máxima em estrutura e conteúdo.

Tirei 920 pontos. De acordo com a avaliação, as minhas notas distribuídas pelas competências foram:

1. . Domínio da escrita formal da língua portuguesa: 160 pontos

2. Compreender o tema e não fugir do que é proposto: 200 pontos

3. Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista: 180 pontos

4. Conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação: 200 pontos

5. Proposta de intervenção: 180 pontos

Na competência 1, os dois examinadores deram 160 pontos. De fato, há desvio da norma culta na produção textual, o que justifica o desconto de 40 pontos. Contudo, nas competências 3 e 5 não houve “consenso” entre os examinadores: um deu 160 e outro deu 200, por isso a média ficou com 180 em cada uma dessas competências. Particularmente, discordo dos descontos na competência 3 e na competência 5, uma vez que não houve falhas e a intervenção ficou completa. Dessa forma, a nota poderia ter sido 960 pontos.

De qualquer forma, essas são as regras do jogo rsrs De acordo com o gráfico de desempenho, a minha nota ficou em um seleto grupo – somente 3.2% dos candidatos tiraram mais do que 900 pontos.

Redação sobre “Democratização do acesso ao cinema no Brasil”:

De acordo com o sociólogo Thomas Marshall, cidadania deve ser entendida como ampliação de direitos. Nessa perspectiva, o artigo 215 da CF de 1988 estabelece os direitos culturais, que são entendidos como constituinte dos direitos humanos. [Contextualização do tema]. Contudo, o acesso ao cinema, um dos direitos culturais, não está sendo democratizado por causa de investimentos desiguais por parte do Estado e pela mercantilização das produções cinematográficas. [Tese com menção dos dois tópicos que serão desdobrados nos parágrafos argumentativos].

Primeiramente [conectivo], é válido ressaltar que o acesso ao cinema é dificultado pela ausência de investimentos do Estado na popularização da sétima arte. [ Tópico frasal I] Conforme dados do ANCINE, cerca de 60% das salas de cinema estão concentradas nas regiões Sudeste e Sul. Isso privilegia algumas classes sociais de melhor poder aquisitivo, restringindo a democratização do capital cultural. [Fundamentação a partir de dados estatísticos]

Em segunda análise [conectivo], observa-se que as produções cinematográficas passaram a seguir a lógica instrumental capitalista.[ tópico frasal II] Nesse sentido, o filósofo Adorno faz reflexões de que a indústria cultural, na qual o cinema está inserido, não busca uma reflexão crítica do espectador, porque o seu objetivo é gerar lucros e homogeneizar as subjetividades. Isso pode ser visto no alto custo dos bilhetes, bem como nas narrativas de heróis, as quais arrecadam bilhões e é a preferência de adolescentes de classe média. [Fundamentação a partir do uso de argumento de autoridade]

Portanto [Conectivo], para que os direitos culturais, especificamente a democratização do acesso ao cinema seja garantido[retomada da tese], é necessário que os governos municipais (AGENTE) realizem exibições em praças públicas (AÇÃO), espaços esses de manifestações democráticas (DETALHAMENTO), de filmes que reflitam criticamente a realidade brasileira como, por exemplo, aqueles do “Cinema Novo” (MEIO/COMO), com o objetivo de gerar debates, exercer o pensamento crítico e ampliar o capital cultural da população (FINALIDADE). Assim, a cidadania será ampliada e a democratização à sétima arte garantida.

Observação: certamente, um dos examinadores não identificou o meio/odo/como – fez uma leitura apressada, por isso é importante ficar esperto: colocar explicitamente “por meio de…”

E aí, o que acharam da redação? Espero que tenha contribuído com os seus estudos.

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Quem sou eu?

Sou o Professor Raphael Reis. Para quem ainda não me conhece, fica aqui uma breve apresentação: sou Professor do Estratégia Concursos desde 2016 e leciono os seguintes conteúdos: Redação (macroestrutura), Recursos, História, Filosofia e Sociologia. Fiz minha graduação em História (UFJF), especialização em Políticas Públicas e Gestão Social (UFJF) e mestrado em Sociologia da Educação (UFJF).

Nos últimos anos tenho me especializado na parte de macroestrutura da
redação. Ao perceber que a grande dificuldade dos candidatos é desenvolver argumentos bem fundamentados, criei o curso inédito e inovador de Ciências Humanas para Redação, que já atendeu milhares de alunos e têm contribuído decisivamente para a melhoria das notas. Sou autor dos e-book best-seller 25 conceitos para usar na redação e editor da revista de atualidades Centro do Mundo.

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  • Meu Deus! Ficou maravilhosa! Simples e direta, perfeita. Queria eu fazer uma redação assim. Eu sempre me enrolo nas palavras e acabo escrevendo demais... :( Parabéns!
    Poliana Sousa em 24/11/20 às 13:02
  • Olá, Lucas! Que bom que você gostou :)
    Raphael de Oliveira Reis em 06/04/20 às 08:37
  • Excelente redação professor, didática impecável.
    Lucas Darlles em 05/04/20 às 12:45
  • que bom, meu amigo :)
    Raphael de Oliveira Reis em 21/03/20 às 20:07
  • Redação muito boa Prof, será de grande valia para nosso aprendizado.
    Misael em 21/03/20 às 16:36
  • Valeu! TMJ
    Raphael de Oliveira Reis em 20/03/20 às 08:58
  • Muito bom, professor!
    cleiton em 19/03/20 às 13:31
  • A redação não tem como esgotar todas as possibilidade argumentativas e problemas que envolve a questão. certamente, é um excelente argumento. Abs
    Raphael de Oliveira Reis em 18/03/20 às 18:35
  • A democratização do acesso ao cinema vai além do aspecto financeiro abordado no texto apresentado. O Estado deve garantir que pessoas portadoras de deficiência também possam usufruir desta arte. As salas de cinema devem prover meios que garantam aos surdos, cegos e cadeirantes, por exemplo, uma melhor experiência quando escolhem assistir a filmes na telona.
    Cristiano em 18/03/20 às 16:48