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Análise do Tema da Redação do TRT 2 (2018) – Cargo de Analista Administrativo

Neste artigo, falo sobre o tema da redação do TRT 2 e dou dicas sobre como enfrentar as provas discursivas da FCC

Redação do TRT 2
Redação do TRT 2 – Dicas para Enfrentar a FCC

Olá pessoal! No artigo de hoje irei comentar a redação do TRT 2, cobrada no concurso para o cargo de Analista Judiciário – Área Administrativa (AJAA) em 2018.

Escolhi essa prova porque foi considerada uma das mais chatinhas e polêmicas dentre as recentemente aplicadas pela banca FCC. Muitas pessoas tiveram dificuldade em entender do que se tratava o tema, no dia da prova, sem sequer conseguir iniciar a produção do texto ou, quando começaram, o fizeram com atraso e acabaram não finalizando da forma como gostariam.

Como é de praxe, na redação do TRT 2, a FCC optou por textos motivadores de cunho filosófico e sociológico, com o intuito de estimular a reflexão crítica em torno de assuntos pertinentes à nossa realidade social.

Apesar de estarmos cientes da complexidade dos textos de apoio que a banca geralmente utiliza, muitos sentiram que o nível de exigência na interpretação dos mesmos foi mais elevado do que de costume. Alguns candidatos enxergaram na proposta um verdadeiro obstáculo, algo que pareceu ter ido muito além de um mero exercício de redação.

 Veja, abaixo, a transcrição do enunciado da prova:

I

Em sua Genealogia da Moral, Nietszche lança a pergunta sobre a origem do bem e do mal, ou melhor, das noções de bem e mal, de certo e errado, e de sua aplicabilidade universal, pondo em causa, assim, uma ligação que, para ele, existia entre a filosofia e as religiões, e que se estendia mesmo para a organização dos Estados e dos sistemas econômicos, a crença em um bem absoluto.

II

A autonomia do sujeito tem relação estreita com o conhecimento de sua própria natureza e de suas necessidades, em um movimento que tanto mais se opõe à lógica da generalização quanto mais singulares nos percebemos.

Com base nos dois excertos acima, elabore um texto dissertativo-argumentativo. Justifique sua resposta.

À primeira vista, o trecho que fazia referência à obra do famoso filósofo Nietzsche (Texto I) poderia levar à conclusão de que a FCC havia ultrapassado todos os limites da imprevisibilidade, ao exigir o conhecimento sobre um assunto tão específico e que nem ao menos se enquadrava entre os temas de destaque da atualidade. A segunda passagem (Texto II) apresentava uma redação mais palpável, porém ainda assim ficava difícil estabelecer uma conexão com a primeira.

Como se não bastasse, esse foi mais um caso em que a FCC não trouxe o comando explícito no enunciado, o que tornava a “simples” tarefa de compreender o tema um autêntico exercício de adivinhação, certo?

Bem, não é bem assim. É verdade que a redação dos fragmentos citados se mostrou relativamente truncada e, de certa forma, abstrata. Entretanto, como em quase tudo no mundo dos concursos, é preciso ter muita calma para não superdimensionar a aparente dificuldade das coisas.

Em primeiro lugar, desconsiderando-se a presença do nome do filósofo “Nietzsche” e concentrando-se em examinar o conteúdo dos excertos, era possível extrair algumas teses e traçar uma linha de raciocínio, mesmo diante de textos motivadores trabalhosos como estes. Além disso, o conhecimento em Filosofia ou Sociologia não era requisito para a formulação de sua resposta, conforme veremos mais adiante.

Em segundo lugar, foi-se o tempo em que a FCC se preocupava em deixar claro o comando da redação, ao finalizar a exposição do enunciado com uma frase esclarecedora sobre o que estava sendo pedido, como no exemplo hipotético a seguir:

“Com base nos textos motivadores acima, discorra a respeito dos efeitos da tecnologia na educação”.

Assim, a banca tem deixado a cargo do próprio candidato o dever de identificar o comando da questão, a partir da leitura do (s) texto (s) motivador (es). Acostume-se à ideia de que serão comuns as situações em que você deverá encontrar, por conta própria, o caminho para o desenvolvimento da dissertação.

Feitas estas considerações, proponho nos debruçarmos sobre a análise dos textos que embasaram a questão e, a partir daí, apresentar algumas sugestões de abordagem.

Tema da Redação do TRT 2 – Análise dos Textos Motivadores

Se você sentiu dificuldade em entender e estabelecer uma ligação entre os textos motivadores, um artifício que pode ser usado é o de tentar reescrever cada um deles, separadamente, com suas palavras. Isso facilita a tarefa de interpretação, ao mesmo tempo em que estimula o processo de criação de ideias. Em seguida, destaque as palavras e termos fundamentais que poderiam ser empregados na argumentação, filtrando conceitos e simplificando a coletânea apresentada.

Vamos utilizar o próprio enunciado em análise como exemplo:

Redação TRT 2 – TEXTO I: Em sua Genealogia da Moral, Nietszche lança a pergunta sobre a origem do bem e do mal, ou melhor, das noções de bem e mal, de certo e errado, e de sua aplicabilidade universal, pondo em causa, assim, uma ligação que, para ele, existia entre a filosofia e as religiões, e que se estendia mesmo para a organização dos Estados e dos sistemas econômicos, a crença em um bem absoluto. REESCREVENDO: Nietzsche questionava a crença em um bem absoluto, assim como a aplicabilidade universal da noção de bem e mal e de certo e errado, presentes na organização dos Estados e nos sistemas econômicos, além de contrapor as ideias defendidas pelas religiões e pela filosofia. PRINCIPAIS ELEMENTOS DE DESTAQUE: BEM ABSOLUTO; APLICABILIDADE UNIVERSAL; ESTADOS; RELIGIÕES. POSSÍVEL CONCLUSÃO: Estados, governos e religiões são instituições responsáveis pela imposição de valores absolutos, universais, rígidos e padronizados.

Redação TRT 2 – TEXTO II: A autonomia do sujeito tem relação estreita com o conhecimento de sua própria natureza e de suas necessidades, em um movimento que tanto mais se opõe à lógica da generalização quanto mais singulares nos percebemos. REESCREVENDO: Quanto mais o indivíduo conhece a si mesmo e mais consciente de suas singularidades se torna, mais ele se distancia da lógica da generalização. PRINCIPAIS ELEMENTOS DE DESTAQUE: AUTOCONHECIMENTO; SINGULARIDADES; DISTÂNCIA DA GENERALIZAÇÃO.POSSÍVEL CONCLUSÃO: O autoconhecimento e o reconhecimento do indivíduo como ser único e dotado de singularidades gera uma dificuldade cada vez maior em enquadrar-se em padrões e valores gerais e universais.

Com a simples justaposição das conclusões acima, temos:

  • Estados, governos e religiões são instituições responsáveis pela imposição de valores absolutos, universais, rígidos e padronizados.
  • O autoconhecimento e o reconhecimento do indivíduo como ser único e dotado de singularidades gera uma dificuldade cada vez maior em enquadrar-se em padrões e valores gerais e universais.

Perceba que, após a filtragem do excesso de informações, fica fácil relacionar os dois trechos e formular possíveis teses. Vejamos alguns exemplos:

  1. A imposição de regras e padrões absolutos e rígidos por parte de certas instituições, como o Estado e a Igreja, muitas vezes entra em rota de colisão com crenças, características e peculiaridades individuais, dando origem a movimentos que se opõem à diversidade e alimentam sentimentos de intolerância.
  2. Conceitos, normas e regras absolutas são produtos de construções históricas e culturais, as quais tendem a moldar o comportamento de indivíduos, que se tornam seres conformados e incapazes de se posicionar criticamente ou contestar certos acontecimentos em nossa sociedade. Isso acaba favorecendo a adoção de posturas fanáticas e de intolerância social.
  3. A rejeição a formas de manifestação cultural, religiosa e comportamental, diferentes dos padrões estabelecidos por um consenso social, pode evoluir para problemas como a intolerância e o preconceito. A flexibilização desses valores é fundamental para a construção de uma sociedade mais aberta e plural.  

Não era tão difícil quanto parecia no início, não é mesmo? 

O detalhamento do processo é relativamente longo, porém necessário do ponto de vista didático. A vantagem é que esse mesmo raciocínio pode ser seguido em outras situações, independente do tema proposto.

Para que fique ainda mais clara a aplicabilidade da técnica descrita, elaborei um modelo de redação que servirá para demonstrar que não se trata de um assunto tão complexo. Bastava ler atentamente, decompor os textos, separar alguns elementos-chave para a produção de teses e “pôr a mão na massa”. rs.

Confira:  

Exemplo de Redação do TRT 2 -Prova de Analista Judiciário Área Administrativa

Nossa sociedade tem passado por inúmeras transformações geradas pelo intenso intercâmbio cultural e econômico dentro do contexto da globalização. Temas como tolerância e diversidade têm assumido um papel central nesse cenário, em que ganham relevância, também, os novos contornos conferidos ao complexo conceito de moral, bem como seu consequente transbordamento em relação aos limites do estudo da filosofia e da sociologia. No entanto, temos presenciado uma tendência crescente à homogeneização comportamental, imposta por um sistema de valores que tem feito sucumbir elementos culturais locais e individuais.

Um dos fatores que podem ser apontados como responsáveis por essa padronização de hábitos e costumes, e que se estende ao modo de ser e de agir dos indivíduos, é a própria interferência do Estado, da religião e de tradições historicamente consolidadas, as quais atuam na contramão da flexibilização de crenças e convicções de determinados grupos. Sentindo-se ameaçados pela inevitável expansão de consciência proporcionada pelas novas facilidades de interação e comunicação atuais, governos e outras instituições têm dado ênfase à imposição de regras de cunho moral voltadas ao sufocamento de formas de expressão individual, em nome de uma suposta garantia à harmonização e pacificação sociais.

Aliado a isso, a própria indústria cultural e midiática, ainda que de forma velada ou indireta, contribui para que o indivíduo sinta reduzida sua percepção acerca de suas peculiaridades e singularidades. Gradativamente, traços marcantes de sua personalidade vão cedendo e dando lugar a uma postura acrítica, resignada e adaptada a modelos previamente estabelecidos e controlados por referências dominantes no campo cultural e econômico. Assim, não são objeto de manipulação somente opiniões, gostos e hábitos, mas também noções sobre o que se considera certo e errado e normas de conduta básicas, o que leva, em última análise, à adoção de posturas claramente inflexíveis, sectárias e preconceituosas.

Por fim, é indubitável que a aniquilação da individualidade como resultado de generalizações e da rigidez de valores morais possui reflexos não só na vida do sujeito, como também no âmbito da coletividade. Assim, é preciso investir em uma maior conscientização em torno da interferência de paradigmas sociais na esfera individual, seja por meio de campanhas educativas, seja pela mudança voluntária de atitude por parte das pessoas, cultivando o respeito e receptividade cada vez maiores às diferenças de qualquer natureza, inclusive políticas, culturais, étnicas e religiosas.

Redação do TRT 2 – Como Elaborar uma Boa Redação em Provas da FCC?

Você deve ter reparado, no modelo apresentado, que não foi preciso expor nenhuma informação sobre um campo de estudo específico. Claro que dados são bem-vindos, desde que o candidato consiga se lembrar, no momento do exame, de algo que seja de seu prévio conhecimento. Porém, o que a FCC cobrou, de fato, foi a capacidade de interpretação e, principalmente, de construção de um raciocínio concreto e coerente a partir de uma ideia relativamente abstrata, trazendo a reflexão para o domínio da realidade.

Outro aspecto importante desse tipo de avaliação é que não se exige do candidato a utilização de uma linguagem sofisticada, rebuscada. O que se pretende – e na verdade esse é o grande desafio da proposta – é o sequenciamento de ideias que irão compor um todo coeso e harmônico. Guiar o leitor e fazê-lo acompanhar a exposição do seu pensamento pressupõe uma boa dose de organização dos elementos utilizados na argumentação, mas abarrotar o texto de termos refinados e difíceis só vai torná-lo confuso e cansativo.

Para isso, obviamente, é necessário muito treino. E não me refiro somente à prática da escrita, mas também à da leitura. A familiaridade com os assuntos, termos e, principalmente, com a estruturação da redação, é fundamental para que o processo se torne automático e você adquira agilidade no dia da prova.

Habitue-se a prestar atenção, durante a leitura, à forma como são estruturados artigos e publicações em jornais e revistas, pois estes formatos seguem exatamente a lógica argumentativa que você deve buscar como referência.

Sugiro que mantenha a rotina de fazer redações e revisá-las sempre que possível, ou solicitar a correção a outra pessoa. Esse esforço investigativo de procurar erros e aperfeiçoar o trabalho é muito útil na sua preparação.

Espero que tenham sido úteis as dicas e o modelo apresentados aqui. Lembrem-se de que a insistência é a melhor arma contra qualquer dificuldade ou obstáculo.

Desejo muito sucesso em seus estudos!

Até breve :)

Cláudia Miranda (Coach do Estratégia Concursos)

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Veja os comentários
  • Oi João, tudo bem? A dissertação se caracteriza pelo afastamento do autor, que não se identifica diretamente com o leitor. Por essa razão, não empregamos a primeira pessoa nesse tipo de redação, e sim a terceira pessoa, tanto do singular, quanto do plural. Pode-se até utilizar a primeira pessoa do plural, desde que não haja envolvimento direto do autor com a ação, no sentido de generalização. Exemplos: "Nós, brasileiros, não devemos nos acostumar à triste realidade de nosso país" (correto, indica generalização); "Eu meus irmãos jamais iremos nos acostumar à triste realidade de nosso país" (errado, jamais mencione a pessoa do autor ou dê opinião direta sobre qualquer assunto, em primeira pessoa). Espero ter esclarecido! Bons estudos.
    Claudia Miranda Gonçalves em 28/07/19 às 20:21
  • É recomendável utilizar a primeira pessoa para conjugar os verbos em uma dissertação da FCC? Rumo à aprovação!
    JOÃO em 26/07/19 às 00:55