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Questão de cunho racista e discriminatório em Concurso Público gera polêmica em Goiás

Uma questão de Conhecimentos Gerais que foi cobrada na prova de um Concurso Público no estado do Goiás gerou polêmica nesta semana e culminou em uma investigação policial que apura se houve crime de racismo. A questão trazia em suas alternativas expressões como: “Negro parado é suspeito, correndo é ladrão, voando é urubu”.

A prova foi aplicada pela Consulpam – Consultoria Público – Privada, de Fortaleza (CE), banca organizadora do certame do concurso da Prefeitura de Morrinhos. A pasta cobrou explicações à empresa responsável pelo concurso.

A Ordem dos Advogados do estado do Goiás publicou ainda uma Nota de Repúdio, cobrando a punição dos responsáveis e pede a investigação de crime de racismo. Para a OAB, ficou claro que a Consulpam cometeu claro atentado contra o direito de igualdade racial, por propor questão com teor discriminatório e por apresentar alternativas desconexas e vexatórias.

A prova foi aplicada no último dia 14, na cidade de Morrinhos, estado do Goiás. Com o texto com o título “Qual a origem do racismo?” o material afirma que teólogos europeus chegaram à conclusão de que escravizar africanos era natural.

Segundo a questão, o embasamento para isso estava em uma passagem bíblica do Livro de Gênesis, em que Canaã, filho de Noé, se embriaga e é condenado à escravidão. Com base neste texto, uma questão perguntou qual seria o provérbio racista que representava a ideia do trecho da Bíblia, conforme disposto abaixo:

A questão

QUESTÃO 10: Assinale o provérbio racista que representa a ideia oitocentista descrita no trecho: “Os teólogos da época discutiam se os índios tinham alma, com o objetivo de saber, por exemplo, se ter relações sexuais com eles era pecado. Eles também chegaram à conclusão de que escravizar africanos era natural, com base na passagem bíblica em que Canaã, filho de Noé, embriaga-se e é condenado à servidão (Gênesis, 9:25).”

a) Negro parado é suspeito, correndo é ladrão, voando é urubu.
b) Negro só tem de gente os dentes.
c) Negro quando não suja na entraga, suja na saída.
d) Negro deitado é porco, e de pé é um toco.

Nota da OAB GO

“Em termos linguísticos, tanto o texto quanto as alternativas interpretativas têm caráter antieducacional e se colocam de forma contrária ao preconizado pelo Estado Social Democrático. Se o objetivo da banca era, verdadeiramente, o de verificar a intertextualidade (ou seja, que o candidato possa ler um texto e fazer a sua releitura), o ideal era que se propusesse textos com ensinamentos democráticos e não este, de teor discriminatório.

NOTA DA CONSULPAM!

CONSIDERANDO que na elaboração da questão “10” da mencionada prova, os quesitos formulados nos itens “a’, “b”, “c”, “d” para se encontrar a assertiva correta da questão, neles se verificou constar provérbios racistas entre os quais um deles representava a ideia oitocentista descrita no texto explorado;

CONSIDERANDO que, em face de tais provérbios explorarem a temática do racismo, embora não tenha sido esse o objetivo central da questão, contudo, em virtude de tal fato tenha gerado desconforto e constrangimento perante candidatos participantes do certame;

CONSIDERANDO que o INSTITUTO CONSULPAM, organizador do certame, não compactua com nenhuma forma de preconceito e/ou discriminação direta e/ou indireta, por motivos de cor, raça, gênero, preferência sexual e religiosa;

CONSIDERANDO, que a COORDENAÇÃO GERAL DE CONCURSOS DO INSTITUTO CONSULPAM -IC-, após reunião deliberativa de seus membros nesta data, em face da grande repercussão negativa que o assunto despertou na sociedade em geral, inclusive, na mídia nacional, bem assim, com vistas a garantir o pleno exercício dos princípios constitucionais da Igualdade e da dignidade da pessoa humana, insculpidos em nossa Carta Magna de 1988,

Art. 1º – Fica ANULADA a questão de número “10” e seu conteúdo das provas de conhecimentos gerais aplicadas para os cargos de nível médio: AGENTE ADMINISTRATIVO, FISCAL DE POSTURAS E EDIFICAÇÕES, FISCAL DE TRIBUTOS, FISCAL AMBIENTAL, TÉCNICO EM ENFERMAGEM E TÉCNICO EM RADIOLOGIA.

Nota do Estratégia Concursos

O Estratégia Concursos repudia com veemência, todo e qualquer tipo de discriminação, seja ele racial, cor, de gênero, classe social, nacionalidade, origem étnica, ou qualquer outro fator. Acreditamos que uma sociedade forte também se constrói no diálogo entre as diferenças.

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Veja os comentários
  • As questoes de portugues dessa banca não fazem nenhum sentido. A despeito do racismo, não vejo as gabarito adequado para essa questão
    Renata em 22/01/18 às 17:53
  • Uma questão em prova de concurso público com este teor é algo que, de tão surreal, chega a parecer premeditadamente plantada com objetivos nada nobres. Não é caso de pura anulação e retratação pública, mas de investigação criminal.
    Vander em 20/01/18 às 14:24
  • Anulação da questão é muito pouco. O Instituto Consulpam deve ser punido judicialmente com muito rigor. Eventos como este incentivam os que pensam desta maneira a cometer injúrias raciais. Além de retardar a propagação da democracia.
    Jean Jardim em 20/01/18 às 09:13
  • E ainda tem gente comentando aqui, como se o teor extremamente racista da questão fosse nada? Só faltou usar o famoso "cadê a liberdade de expressão" e " é mimimi" pra fechar com chave de ouro. Lamentavelmente a sociedade brasileira está regredindo a níveis não civilizatórios, tá faltando principalmente tolerância e empatia. Já dizia minha avó: " Seu direito termina onde começa o do outro". Liberdade de expressão não pode ser utilizada pra ofender e ser preconceituoso com ninguém, a banca foi sim, no mínimo, extremamente infeliz e merecia uma punição exemplar. E quem acha que a questão foi só uma bobagem, que certas palavras não poderão mais ser utilizadas, com certeza, deve ser algum privilegiado que nunca teve o desprazer de passar por uma situação vexatória por causa de sexualidade, cor da pele e etc. Aprendam a se colocar no lugar dos outros...
    Deise Santos em 20/01/18 às 05:56
  • Estarrecida com uma questão como essa em uma banca que acreditava séria, lamentável. O racismo é tão natural em nossa sociedade que as pessoas não se esforçam para ter o mínimo de empatia com o outro, não buscam compreender que a história da formação povo brasileiro e como a época vergonhosa da escravidão reflete até hoje em nossa sociedade, as oportunidades sempre foram negadas à população negra que ficou relegada aos becos e favelas sem acesso a uma educação de qualidade consequentemente a bons empregos. Me espanta como se negam a conhecer em que está embasada a política de cotas e outras ações afirmativas, desafio a estes a chegarem em órgãos públicos e observarem quantos funcionários negros estão ocupando cargos ali. É triste que futuros servidores públicos tenham um mentalidade tão senso comum de que um cotista está pegando a sua vaga, pelo contrário a vaga é dele por que é justo que seja assim, tratar desigualmente os desiguais na medida de suas desigualdades. Boa noite a todos.
    Adriana em 19/01/18 às 19:50
  • De fato essa questão é racista e tem que ser anulada. É um absurdo sem pé nem cabeça e sem nenhum caráter educacional e avaliativo. Que os responsáveis sejam punidos
    Adeilson em 19/01/18 às 15:38
  • Olá Almir, provavelmente esqueceram de colocar um "não " antes de "estimular". Estamos tentando entrar em contato com o órgão para avisá-los. Obrigada , bons estudos !
    Fernanda Brito em 19/01/18 às 14:03
  • Na nota OAB diz: "Salientamos que o racismo é crime e deve ser exemplarmente punido, principalmente para estimular a construção de uma sociedade intolerante e preconceituosa. " Este excerto do texto está correto????? ..... "estimular a construção de uma sociedade intolerante e preconceituosa".....
    Almir em 19/01/18 às 12:40
  • Não apenas pedir desculpas, deve ser punida exemplarmente pois teve também cunho discriminatória na questão religiosa, ao afirmar que, a bíblia diz, quando a mesma não diz, errou duplamente, já que não entendem de concurso, provou que não entendem nada de interpretação de texto e conhecimento bíblico nenhum. Processo sim é duro
    Alenio Silva Cunha em 19/01/18 às 11:59
  • No futuro, não muito distante de nossa época, ao tratarem de assuntos polêmicos como racismo, homossexualidade, peitinhos, etc... deverão ser abordados igual ao vilão Valdermort, do Harry Potter... aquele que não pode ser nomeado....
    GCS em 19/01/18 às 10:49
  • O mais hipócrita do conjunto da obra é que, na mesma mão, o certame pode ter oferecido cotas para negros. Não concordo com cotas para negros (sei que o tema é polêmico, é só minha opinião), mas é criminoso o ato de quem foi responsável por escolher o texto e formular as questões.
    Rafael em 19/01/18 às 10:29
  • Essa banca foi muito infeliz com essa questão. Acho que tem que ser punida sim.
    Gisely Santos em 19/01/18 às 10:19
  • Nem os concursos escapam dessas esquizofrenias. A própria questão diz “...provérbio RACISTA...”, no mais OAB sendo OAB.
    Jairo em 19/01/18 às 10:16
  • Maldito texto e questões racistas.
    Flávio em 19/01/18 às 10:02