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Recursos – STJ – AJAA – Administração

Analisei a prova de AJAA – Administração do STJ e encontrei duas propostas de recursos em questões que ficaram com gabarito absurdo.

Sugiro que usem os argumentos mencionados aqui como base, mas redijam o recurso com suas próprias palavras, para que não cheguem recursos idênticos para o examinador!

Vejamos:

75 Uma cultura organizacional forte aumenta a consistência do comportamento, funcionando como um complemento da formalização.

GABARITO PRELIMINAR: ERRADO.

Recurso pela inversão do gabarito para CERTO. Redija considerando os seguintes argumentos:

A cultura organizacional forte aumenta a consistência do comportamento (Robbins, 2010, p. 503).

A cultura organizacional forte é tida como mecanismo de controle distinto do formalismo burocrático (SILVA, 2003), por isso podem se complementar entre si.

Além disso, a cultura representa o controle de terceira ordem, mais profundo do que a supervisão sobre os funcionários e do que a formalização e padronização de processos (CUNHA, CUNHA e CAIXEIRINHO, 2001), o que implica que os níveis se complementam entre si.

Mais: Robbins (2010, p. 503), ao falar sobre cultura e formalização, afirma que “quanto mais forte a cultura organizacional, menos os gestores precisam se preocupar em desenvolver regras e regulamentos para orientar o comportamento dos funcionários”, ou seja, a presença da cultura complementa a ausência de formalização, já que se pode encarar “a cultura organizacional forte e a formalização como dois caminhos diferentes” (portanto, complementares) “para chegar ao mesmo fim” (ROBBINS, 2010, p. 503).

 

SILVA, 2003. Controle organizacional, cultura e liderança: evolução, transformações e perspectivas*. R AP. Rio de Janeiro 37(4):797-816, Jul./Ago. 2003. Disponível em: <file:///C:/Users/carlo/Downloads/6502-12293-1-PB.pdf>

CUNHA, Miguel P. CUNHA, João V. CAIXEIRINHO, Jesuína. Processos de controlo nas organizações: do controlo da flexibilidade à flexibilidade do controlo. Análise Psicológica.2, p.261-278, 2001.

ROBBINS, Stephen P. JUDGE, Timothy A. SOBRAL, Filipe. Comportamento Organizacional: teoria e prática no contexto brasileiro. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010.

 

78 A aplicação sinergética de conhecimento, habilidades e atitudes no trabalho gera desempenho profissional.

GABARITO PRELIMINAR: CERTO.

Recurso pela inversão do gabarito para ERRADO. Redija considerando os seguintes argumentos:

O desempenho profissional é o “efeito de sua atividade dentro do âmbito organizacional” ou um “conjunto de entregas e resultados de determinada pessoa para a empresa ou negócio” (ARAÚJO, 2009, p.149). Assim, a mobilização de competências, apesar de TENDER a gerar desempenhos, não é suficiente para tal, pois é preciso que os efeitos sejam observados, o que dependerá também da motivação dos funcionários e das condições de execução das tarefas.

De nada adianta, por exemplo, aplicar sinergicamente o conhecimento jurídico para elaboração de um parecer técnico (conhecimento), a habilidade de operar programas de computador ou escrever em folha de papel A4 (habilidade) e a atitude de desejar fazê-lo (atitude) se não houver um computador funcionando, ou mesmo uma caneta e uma folha de papel para fazê-lo. Os fatores do contexto poderiam incluir ainda o clima organizacional, a qualidade de vida no trabalho, entre outros fatores que também influenciam, mas não geram desempenho.

Fleury (2002, p. 55), uma das maiores pesquisadoras brasileiras sobre gestão por competências, aponta que competências podem ser definidas como “um saber agir responsável e reconhecido que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos, habilidades, que agregue valor econômico à organização e valor social ao indivíduo”, indo muito além da definição tradicional que aponta para competências como sendo o conjunto de fatores que gera performance (desempenho) profissional. Na verdade, a compreensão contemporânea aponta para que as competências influenciam, mas não necessariamente geram desempenho.

A própria definição apresentada por Fleury (conforme descrita acima) aponta para que o desempenho (valor econômico para à organização e valor social ao indivíduo) deve ser obtido por meio da mobilização, integração e transferência, inclusive, de RECURSOS. Ou seja, sem os recursos necessários para mobilização, de nada adianta as competências individuais, pois não haverá desempenho. Até mesmo a responsabilidade e o reconhecimento (fatores contextuais) são relevantes para o “saber agir” que constitui as competências.

Boas e Andrade (2009, p. 184) explicitam a importância do contexto, afirmando que “a competência não é um estado ou um conhecimento que se tenha nem é resultado do treinamento; na verdade, ser competente é mobilizar conhecimentos e experiências para atender as demandas e exigências de determinado contexto, marcadas geralmente pelas relações de trabalho, cultura da empresa, imprevistos, limitações de tempo e recursos, etc.”. Os mesmos autores apontam ainda, na página 187, que “competências individuais devem estar condizentes com as estratégias da organização”, sendo este mais um fator fundamental para o desempenho – conhecimentos, habilidades e atitudes aplicadas de maneira sinérgica, mas em total descompasso com a estratégia organizacional, não geram “desempenho profissional” positivo!

Percebe-se que todos esses fatores contextuais apontados por Boas e Andrade (2009), incluindo relações de trabalho, cultura, imprevistos, limitações de tempo e recursos, alinhamento com a estratégia, etc., influenciam no atendimento das demandas e exigências que geram o desempenho, devendo também estarem presentes em nível mínimo para que o desempenho seja alcançado, em complemento aos conhecimentos, habilidades e atitudes.

Assim, uma vez que a simples mobilização de competências influencia, mas não gera (necessariamente) desempenho, sendo necessário outros fatores para tal, o gabarito deve ser invertido para ERRADO.

 

FLEURY, Maria T. L. A gestão de competência e a estratégia organizacional. In: As pessoas na organização. São Paulo: Gente, 2002.

ARAÚJO, Luis C. G de. GARCIA, Adriana A. Gestão de Pessoas: estratégias e integração organizacional. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2009.

BOAS, Ana A. V. Andrade, Rui O. B. de. Gestão Estratégica de Pessoas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.

 

 

Abraço!

Prof. Carlos Xavier

 

 

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Veja os comentários
  • Oi Gabriel! Mas note: a troca do termo não muda o significado final: Arroz e feijão são substitutos no provimento de carboidratos para alimentação humana, portanto arroz e feijão são complementares no provimento de carboidratos para alimentação humana. Se faltar um, o outro compensa. Aceitar que essa troca de palavras inviabilize o óbvio significado de que cultura e formalização, justamente por se substituirem, são complementos um do outro é um absurdo da parte do examinador. Veremos (mas, infelizmente, custo a acreditar na racionalidade do examinador)...
    Carlos Xavier em 16/04/18 às 19:19
  • Quanto à primeira questão, não custa tentar. Mas olhai o que tem no livro de Ribas e Salim: "Uma cultura forte aumenta a consistência do comportamento. Nesse sentido, pode-se dizer que uma cultura forte funciona como um substituto da formalização." Ou seja, a banca trocou o substituto por complemento. :/
    Gabriel Alcântara em 12/04/18 às 12:44
  • Prezado Prof. A questão: 83 O diagnóstico estratégico possibilita a identificação dos pontos fortes e fracos, assim como das fraquezas e das oportunidades das organizações. Gabarito preliminar Certo. Caberia recurso para alterar para Errado; tendo em vista que o diagnóstico estratégico - Análise SWOT se refere aos pontos fortes e fracos (ambiente interno) e oportunidades e ameaças (ambiente externo) das organizações. O item cita pontos fracos e depois fraquezas. Não é errado? Ambos se referem a mesma coisa. Poderia auxiliar com recurso? Disponibilizar junto com bibliografia. Obrigada! Tânia.
    Tania em 12/04/18 às 09:51
  • Professor, a questão 88 cabe recurso? 88.O brainstorming é utilizado como técnica de melhoria de processos, pois facilita para os envolvidos as atividades de identificação do contexto e de diagnóstico da situação atual do negocio. Não vi a possibilidade realizar o diagnóstico da situação atual por meio do brainstorming . O brainstorming é uma dinâmica de grupo que é usada em várias empresas como uma técnica para resolver problemas específicos, para desenvolver novas ideias ou projetos, para juntar informação e para estimular o pensamento criativo.
    REGILANIA MORAIS SILVA em 12/04/18 às 09:15
  • Oi professor Carlos Xavier, bom dia! Obrigado pelas dicas dos 2 recursos. Os seus gabaritos bateram com os meus, então irei recorrer. Já sobre a questão relatada pelos colegas (SWOT) eu também marquei conforme o seu entendimento, no entanto eu havia acreditado que tinha errado. Torço que o sr. esteja certo ;) Preciso do seu entendimento com relação à questão abaixo (AJAA): Quando não forem atingidos os objetivos conforme o planejado, caberá ao gestor modificar as estratégias da empresa e a implementação destas. O Cespe deu como ERRADO. Eu marquei CERTO, mas fiquei com dúvidas quanto a parte que dizia que "caberá ao gestor que irá modificar as estratégias...". Levei em conta que este gestor fosse da alta cúpula para poder alterar as estratégias da empresa (como um todo). Forte abraço.
    Jorge Sena em 12/04/18 às 09:07
  • A questão que fala que quando não forem atingidos os objetivos conforme o planejado, o gestor pode modificar as estratégias, deu como errada. Sempre vi algubs professores falando que pode modificar. não entendo o cespe
    silvio em 12/04/18 às 08:57
  • Professor, e aquela do Brainstorming? Vi alguns professores dando como Errada, na sua opinião ela está correta? Eu também julguei errada pois não me pareceu coerente o uso da ferramenta para diagnóstico, já que a entendo como uma ferramenta para a produção de ideias.
    Allan em 12/04/18 às 08:09
  • Oi Alan! A questão não diz isso. Avalio que a questão é mal redigida, mas é certa mesmo. Os fatores apresentados estão todos incluídos. O fato de a banca não ter incluído "oportunidades" e ter repetido "fraquezas" não a torna errada, apenas mal feita. Abraço!
    Carlos Xavier em 12/04/18 às 08:01
  • Oi Gian! Avalio que a questão é mal redigida, mas é certa mesmo. Os fatores apresentados estão todos incluídos. O fato de a banca não ter incluído "oportunidades" e ter repetido "fraquezas" não a torna errada, apenas mal feita. Abraço!
    Carlos Xavier em 12/04/18 às 08:00
  • Oi Natacha! Avalio que a questão é mal redigida, mas é certa mesmo. Os fatores apresentados estão todos incluídos. O fato de a banca não ter incluído "oportunidades" e ter repetido "fraquezas" não a torna errada, apenas mal feita. Abraço!
    Carlos Xavier em 12/04/18 às 07:59
  • Uma outra questão de AJAA a 85: O diagnostico estratégico possibilita a identificação dos pontos fortes e fracos, assim como das FRAQUESAS e das oportunidades das organizações. A BANCA DEU COMO CERTA
    Gian Alencar em 12/04/18 às 07:56
  • Professor, e aquela da análise SWOT que considera que FRAQUEZA é elemento do ambiente EXTERNO? Julguei que seria ponto fraco e não ameaça. Gabarito veio como CERTO, acredito que caiba recurso. Qual sua opinião?
    Allan em 12/04/18 às 07:33
  • Boa noite, Prof. Carlos! Meu gabarito está conforme o do senhor nessas duas questões, então foi um verdadeiro alívio ler os seus comentários. Mas, alé dessas duas, acho que a seguinte questão também está com gabarito ABSURDO: "O diagnóstico estratégico possibilita a identificação dos pontos fortes e fracos, assim como das fraquezas e das oportunidades da organização." Gabarito preliminar: CERTO Minha resposta: ERRADO Justificativa: O "par" de oportunidades é ameaças, que faz parte da análise externa e não fraquezas que é sinônimo de pontos fracos e diz respeito ao ambiente interno! Qual a tua avaliação, professor? Obrigada!
    Natacha Cordeiro em 11/04/18 às 23:57
  • Boa noite, Prof. Carlos! Meu gabarito está conforme o do senhor nessas duas questões, então foi um verdadeiro alívio ler os seus comentários. Mas, alé dessas duas, acho que a seguinte questão também está com gabarito ABSURDO: "O diagnóstico estratégico possibilita a identificação dos pontos fortes e fracos, assim como das fraquezas e das oportunidades da organização." Justificativa: O "par" de oportunidades é ameaças, que faz parte da análise externa e não fraquezas que é sinônimo de pontos fracos e diz respeito ao ambiente interno! Qual a tua avaliação, professor? Obrigada!
    Natacha Cordeiro em 11/04/18 às 23:56