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Entrevista com Ana Fujita – 1a. colocada no ISS/SP 2012

Olá caros(as) amigos(as),

É com grande satisfação que entrevistamos a Ana Fujita, 1a. colocada no recente concurso do ISS/SP, realizado pela Fundação Carlos Chagas (FCC).

A Ana, que não é engenheira (rs!), nem tem formação na área das exatas ou do Direito, conseguiu um resultado bastante expressivo no concorrido concurso para o fisco paulistano. No link abaixo, colocamos o depoimento completo que ela disponibilizou na seção de aprovados do Forum Concurseiros (www.forumconcurseiros.com):

https://docs.google.com/file/d/0B-7CRp8IqOm0VU5GeURzY0paSmM/edit

Sem dúvida, vale a pena ler! Para não sermos repetitivos no que já foi colocado no texto do link acima, elaboramos algumas perguntas abordando alguns tópicos que não foram comentados no depoimento que está no link.

Agora… vamos ao que interessa: as perguntas!

Prof. Heber Carvalho: Você trabalhou um tempo na iniciativa privada e, após juntar algum dinheiro, largou o trabalho apenas para se dedicar aos estudos. Conte-nos como foi essa decisão. A quem você recomendaria tal atitude?

Ana: Na verdade, como moro longe do metrô (e meio longe de tudo), percebi que, pra mim, seria inviável trabalhar e estudar ao mesmo tempo. No início, fazia aulas presenciais, então o meu dia se resumia a: trabalhar, assistir à aula, chegar em casa acabada, comer correndo e dormir. Não demorou muito pra entender que deveria escolher entre trabalho e estudo, pois não estava conseguindo fazer nenhum dos dois direito.

Nessa época, já estava bastante desiludida com o mercado privado. É verdade que também por minha própria culpa, pois tinha uma visão romantizada do mercado de trabalho, e precisei ir para uma empresa grande (que não era uma grande empresa) pra levar umas porradas. Então, quando saiu a autorização para o concurso do Banco Central, resolvi que era hora de buscar a qualidade de vida que eu não estava encontrando na minha área. Bem, não a achei logo, pois bombei várias vezes. Ainda assim, não trabalhar, mas ter perspectivas de uma carreira boa no futuro me pareceu melhor do que trabalhar e não ter qualquer perspectiva no longo prazo. Foi por isso que resolvi abraçar de vez a vida de concurseira em tempo integral.

Acredito que esta possa ser uma opção para aqueles que estejam numa situação semelhante à minha. Mas, claro, isso só é possível quando se tem uma fonte de renda que garanta alguns bons anos de estudo. No meu caso, usei as economias de uma vida toda e, caraca, não tem nada que te motive mais a estudar do que ver o seu dinheiro diminuindo mês a mês. Por outro lado, isso também gera uma tensão danada.

Prof. Heber Carvalho: Ao longo de sua jornada, houve alguns concursos em que você bateu na trave (CVM, Susep e Alesp). Você só foi aprovada mais de 01 ano depois destas reprovações (ou “quase” aprovações). Você se sentiu pressionada neste período?

Ana: Sim! Mas acho que não teve nenhum momento da minha vida de concurseira em que eu não me sentisse, de certa forma, pressionada. heheh

Felizmente, minha família sempre me apoiou, mas isso não reduzia a pressão interna que eu sentia. Pra mim, era como se os outros afazeres da vida ficassem em suspenso, só esperando o dia em que eu fosse aprovada. Hoje, vejo que foi um erro culpar a minha não aprovação por todas as mazelas da vida. :P Mas, até recentemente, eu estava focada demais nos estudos para entender isso e reduzir a ansiedade.

Fora a pressão interna, sempre tem algumas pessoas no seu círculo que não te apoiam. Tem também aqueles que, querendo puxar papo, perguntam: “e aí? Já passou em alguma coisa?” ou, pior: “ainda não passou em nada?”. Essas situações acabam gerando ansiedade, mesmo que nem seja intenção da pessoa te cobrar. Quer dizer, ficar repetindo “não, não passei em nada” acaba com a autoestima da maioria dos concurseiros, além de nos pressionar mais ainda.

Prof. Heber Carvalho: Em seu processo de preparação, você estudou mais de 01 ano sem prestar qualquer concurso (em 2011 – o ano da “seca”, segundo você). Durante este tempo, como você fazia para manter a disciplina nos estudos mesmo sem edital na mão?

Ana: No fim de 2010, comprei um pacote enorme de aulas voltadas para o ISS-SP, então tive muita matéria pra me manter entretida. Era tanta coisa e eu era tão iniciante na área fiscal que, durante 2011, estava mais era torcendo para que o edital demorasse pra sair! Ainda mais considerando que, tradicionalmente, a prova do ISS-SP não costuma ter matérias de pesos insignificantes, e isto nos obriga a estudar a fundo todas elas.

Então, nesse ano, o difícil não foi manter a disciplina, foi lidar com o receio de ter um edital em mãos sem ter tido tempo para me preparar. :)

Prof. Héber Carvalho: Quando o edital foi publicado, havia muitas matérias com as quais você ainda não tinha travado contato anteriormente? Como você fez para estudar os conteúdos novos? Focou mais na teoria, nos exercícios comentados da banca, em ambos? Conte-nos um pouco…

Ana: Eu não havia estudado Contabilidade Pública, Informática (pois chutei errado, achando que Informática estava saindo dos concursos da área fiscal) e há muito não via Economia.

Comprei cursos de teoria com exercícios comentados das três matérias, já que nunca consegui estudar um conteúdo novo somente por exercícios. Ah, e todas as aulas foram em PDF, para que eu pudesse acelerar o estudo conforme fosse necessário.

Foi mesmo bastante corrido, e precisei encaixar as aulas no cronograma de revisão, mas acredito que tive sorte por já ter estudado Economia antes. Se tivesse que aprendê-la do zero, depois do edital, teria que ter sacrificado as outras duas matérias.

Prof. Heber Carvalho: Em seu depoimento, você disse que os exercícios físicos foram cruciais na sua preparação. Com que regularidade você praticava exercícios? Você manteve a prática de atividades físicas mesmo após a publicação do edital?

Ana: Eu costumava treinar kung fu duas vezes por semana, mas, depois do edital, começou a ser na periodicidade “quando dava”. hehe

Nas últimas duas ou três semanas, não treinei. Não tem jeito, embora os exercícios físicos sejam fundamentais pra manter corpo e mente em funcionamento, considero a época pós-edital como estado de exceção, e quase todas as outras áreas da vida ficam congeladas.

Quer dizer, é foco total no objetivo e, depois da prova, a gente tenta reduzir os danos instalados. :)

Prof. Heber Carvalho: Por meio de seu depoimento, ficou bastante claro que você não utilizou uma regra ou um método fixo de estudos. Pelo que li, você utilizou livros e cursos em PDF, frequentou cursos presenciais e assistiu a muitas vídeo aulas. Ou seja, aproveitou quase tudo que há disponível no mercado. Que conselho você daria para aqueles candidatos que ainda são muito indecisos na hora de formular sua estratégia e/ou escolher os materiais de estudo?

Ana: Eu gostava de estudar caçando professores. Sempre procurava recomendações dos concurseiros e aprovados sobre os mestres e, a partir daí, via em qual plataforma as aulas deles estavam disponíveis.

Acho que os três métodos – presencial, vídeo-aula e PDF – têm prós e contras, então, no geral, vale mais ir atrás de um bom professor.

É verdade que, em algumas situações específicas, um tipo de curso é mais adequado que o outro. Por exemplo, nas retas finais, eu priorizo cursos escritos, pois posso ditar o meu ritmo à aula. Quando estou com o tempo mais folgado, prefiro ver vídeo-aulas, para ter algum contato humano, nem que seja unilateral. :P

Também acho ideal que o concurseiro experimente todas as plataformas, pra ver se alguma se encaixa melhor ao seu perfil. Mas, se não for possível, não creio que ele seja muito prejudicado se só puder fazer um ou dois tipos.

Prof. Heber Carvalho: Como era sua vida social durante a preparação para concursos? Você saía com amigos, família, etc? Ou adotou uma postura radical, abdicando do convívio social para passar no concurso o mais rápido possível?

Ana: Não abri mão de tudo, mas abri mão de muito.

Minha vida social ficou confinada às noites de sábados e aos domingos. Descansar nos fins-de-semana foi um luxo que pude ter por estudar em tempo integral durante a semana, pois meus amigos que trabalhavam tinham que usar o fim-de-semana justamente pra estudar mais.

Mas praticamente não acessei redes sociais, ou algo que pudesse roubar meu tempo durante a semana. Quase não tenho posts no Facebook e tampouco fotografei todos os objetos da minha casa com Instagram, por exemplo.

Por outro lado, como o dinheiro sempre foi apertado, eu não me frustrava tanto em abdicar das atividades sociais, afinal, não teria como bancá-las.

Quando se é pobre (ou se está pobre), acabamos prestando mais atenção nas nossas necessidades básicas de sobrevivência. :P

Prof. Heber Carvalho: Na mensagem final do depoimento, você diz que o concurseiro precisa se conhecer a fundo, no sentido de fazer negociações que envolvam suas necessidades internas. Você cita até o caso em que o excesso de estudo pode prejudicar o próprio aprendizado. Achei bastante interessante esta colocação, pois a percepção de uma situação destas só é possível para aquela pessoa que tem perfeita noção de como sua mente e corpo trabalham. Às vezes, este processo de autoconhecimento pode durar bastante tempo. Você teria alguns conselhos para o público nesta parte? Como se adquire este autoconhecimento?

Ana: Caramba, professor! Que pergunta difícil!

Deixa ver. Em termos práticos, pra mim, em algumas situações ficava bem claro que o estudo não estava rendendo. Às vezes, lia uma mesma frase 3x e não a entendia! Aí tinha certeza de que não adiantava continuar estudando naquele momento só pra cumprir o cronograma.

Para checar se a matéria estava fixando na cabeça, um método de estudo que eu gostava de usar era aquele de explicar pra alguém o que se acabou de ler. Eu fazia assim, lia a matéria e, ao final de cada bloco de conteúdo, olhava pra frente e tentava explicar o que tinha aprendido pra alguma pessoa fictícia. Mas, assim, gesticulando e mexendo a boca (sem emitir som, pois a cena já era esdrúxula o suficiente) como quem dá aula para uma classe imaginária. Claro que eu recomendo somente para aqueles concurseiros que estudam sozinhos, senão alguém manda internar e aí se corre o risco de ficar em quarto compartilhado. E conseguir se concentrar num quarto cheio é realmente difícil!

Mas, no geral, acredito que esse processo de autoconhecimento seja um projeto de vida inteira. Por exemplo, lembro que, quando eu era criança e as coisas não saíam do jeito que eu esperava, eu tinha uma tendência natural de culpar o que quer que fosse, desde que não a mim mesma. Um dia, meu pai falou alguma coisa do tipo “quando algo dá errado, primeiro analise a sua conduta e veja o que você poderia ter feito de diferente. No começo, ninguém se sente confortável em assumir que um resultado negativo deu-se por nossa causa, mas depois você percebe que, se podemos corrigir nossos erros, também podemos reduzir os fracassos futuros, e isso é muito bom.”

Acho que exercitar nossa autocrítica dessa forma nos permite ter uma visão mais clara das nossas condutas, que podem estar equivocadas, e também dos nossos limites, pois, algumas vezes, não alcançamos um resultado satisfatório simplesmente porque ainda não estamos prontos pra ele. Olhando pra dentro, cada um pode encontrar com mais facilidade um modo de conversar consigo mesmo para chegar a um consenso sobre suas necessidades.

Sei que acabei descambando para um lado mais filosófico, e espero não ter fugido da pergunta, mas essa questão foi mais difícil do que qualquer uma da prova. hehehe

Prof. Heber Carvalho: Se você tivesse que apontar o principal erro em preparação (se é que houve… rs), qual seria? E qual foi o principal acerto?

Ana: Ah, eu errei bastante! Mas acredito que o mais significativo tenha sido o erro clássico de não focar numa área restrita desde o começo. Na época, eu achava que não estava fazendo isso, pois estudava para as autarquias do Sistema Financeiro Nacional (Bacen, Susep, CVM). Hoje vejo que, apesar de terem algumas matérias básicas, várias outras eram muito específicas e só serviriam para um determinado concurso. Tanto é que, depois de mais de um ano de estudos, eu não estava nem perto de cobrir o edital do ISS-SP ou de qualquer outro cargo fiscal.

Não digo que quem se prepara para concurso fiscal não deva prestar os concursos destas autarquias, mas é importante ter um foco principal e prestar os outros secundariamente. Eu fiz o contrário, voltei os estudos principalmente para estes cargos e só depois para um que me possibilitasse brigar por mais vagas. Só não me dei muito mal por ter vivido o “ano da seca”! É estranho falar isso, mas o ano infernal me possibilitou corrigir o rumo dos meus estudos, o que foi uma grande sorte.

Agora, em relação ao acerto na preparação, algo que me ajudou muito foi ter conversado com vários concurseiros e ter trocado experiências muito ricas com todos eles. Nos cursos presenciais, notei que algumas pessoas encaram os colegas como concorrentes, e adotam aquela postura “não vim aqui pra fazer amigos, vim aqui pra estudar”. Pois eu acho isso um desperdício, afinal, é praticamente impossível que um concurseiro consiga obter sozinho todas as informações de que necessita pra ser aprovado.

Este mundo dos concursos é cheio de nuances e detalhes e, quanto mais fontes de informação você tiver, maior a sua bagagem para enfrentar as provas que virão. Além disso, ter amigos vivendo a mesma situação que a sua pode ser de grande utilidade numa rotina tão cansativa e tão mal-compreendida pelos “de fora”.

E, no fim, uma das minhas grandes alegrias no dia do resultado foi justamente ter recebido vários e-mails de amigos concurseiros, em letras garrafais, festejando comigo o fim de uma jornada tão árdua. Acho que tê-los por perto foi um grande acerto meu. :)

É isso!

……………….

Fim!
Espero que tenham gostado da entrevista.

Para terminar, gostaríamos de, em nome dos concurseiros e da equipe do Estratégia, parabenizar não só a Ana, mas todos os aprovados do ISS/SP 2012. Cada um de vocês mereceu o resultado, que, com certeza, foi fruto de muita abnegação e estudo. Parabéns!

Heber Carvalho
Abraços e bons estudos!

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Entrevista com Ana Fujita – 1a. colocada no ISS/SP 2012

Olá caros(as) amigos(as),

É com grande satisfação que entrevistamos a Ana Fujita, 1a. colocada no recente concurso do ISS/SP, realizado pela Fundação Carlos Chagas (FCC).

A Ana, que não é engenheira (rs!), nem tem formação na área das exatas ou do Direito, conseguiu um resultado bastante expressivo no concorrido concurso para o fisco paulistano. No link abaixo, colocamos o depoimento completo que ela disponibilizou na seção de aprovados do Forum Concurseiros (www.forumconcurseiros.com):

https://docs.google.com/file/d/0B-7CRp8IqOm0VU5GeURzY0paSmM/edit 

Sem dúvida, vale a pena ler! Para não sermos repetitivos no que já foi colocado no texto do link acima, elaboramos algumas perguntas abordando alguns tópicos que não foram comentados no depoimento que está no link.

Agora… vamos ao que interessa: as perguntas!


Prof. Heber Carvalho: Você trabalhou um tempo na iniciativa privada e, após juntar algum dinheiro, largou o trabalho apenas para se dedicar aos estudos. Conte-nos como foi essa decisão. A quem você recomendaria tal atitude?

Ana: Na verdade, como moro longe do metrô (e meio longe de tudo), percebi que, pra mim, seria inviável trabalhar e estudar ao mesmo tempo. No início, fazia aulas presenciais, então o meu dia se resumia a: trabalhar, assistir à aula, chegar em casa acabada, comer correndo e dormir. Não demorou muito pra entender que deveria escolher entre trabalho e estudo, pois não estava conseguindo fazer nenhum dos dois direito.

Nessa época, já estava bastante desiludida com o mercado privado. É verdade que também por minha própria culpa, pois tinha uma visão romantizada do mercado de trabalho, e precisei ir para uma empresa grande (que não era uma grande empresa) pra levar umas porradas. Então, quando saiu a autorização para o concurso do Banco Central, resolvi que era hora de buscar a qualidade de vida que eu não estava encontrando na minha área. Bem, não a achei logo, pois bombei várias vezes. Ainda assim, não trabalhar, mas ter perspectivas de uma carreira boa no futuro me pareceu melhor do que trabalhar e não ter qualquer perspectiva no longo prazo. Foi por isso que resolvi abraçar de vez a vida de concurseira em tempo integral.

Acredito que esta possa ser uma opção para aqueles que estejam numa situação semelhante à minha. Mas, claro, isso só é possível quando se tem uma fonte de renda que garanta alguns bons anos de estudo. No meu caso, usei as economias de uma vida toda e, caraca, não tem nada que te motive mais a estudar do que ver o seu dinheiro diminuindo mês a mês. Por outro lado, isso também gera uma tensão danada.

Prof. Heber Carvalho: Ao longo de sua jornada, houve alguns concursos em que você bateu na trave (CVM, Susep e Alesp). Você só foi aprovada mais de 01 ano depois destas reprovações (ou “quase” aprovações). Você se sentiu pressionada neste período?

Ana: Sim! Mas acho que não teve nenhum momento da minha vida de concurseira em que eu não me sentisse, de certa forma, pressionada. heheh

Felizmente, minha família sempre me apoiou, mas isso não reduzia a pressão interna que eu sentia. Pra mim, era como se os outros afazeres da vida ficassem em suspenso, só esperando o dia em que eu fosse aprovada. Hoje, vejo que foi um erro culpar a minha não aprovação por todas as mazelas da vida. :P Mas, até recentemente, eu estava focada demais nos estudos para entender isso e reduzir a ansiedade.

Fora a pressão interna, sempre tem algumas pessoas no seu círculo que não te apoiam. Tem também aqueles que, querendo puxar papo, perguntam: “e aí? Já passou em alguma coisa?” ou, pior: “ainda não passou em nada?”. Essas situações acabam gerando ansiedade, mesmo que nem seja intenção da pessoa te cobrar. Quer dizer, ficar repetindo “não, não passei em nada” acaba com a autoestima da maioria dos concurseiros, além de nos pressionar mais ainda.

Prof. Heber Carvalho: Em seu processo de preparação, você estudou mais de 01 ano sem prestar qualquer concurso (em 2011 – o ano da “seca”, segundo você). Durante este tempo, como você fazia para manter a disciplina nos estudos mesmo sem edital na mão?

Ana: No fim de 2010, comprei um pacote enorme de aulas voltadas para o ISS-SP, então tive muita matéria pra me manter entretida. Era tanta coisa e eu era tão iniciante na área fiscal que, durante 2011, estava mais era torcendo para que o edital demorasse pra sair! Ainda mais considerando que, tradicionalmente, a prova do ISS-SP não costuma ter matérias de pesos insignificantes, e isto nos obriga a estudar a fundo todas elas.

Então, nesse ano, o difícil não foi manter a disciplina, foi lidar com o receio de ter um edital em mãos sem ter tido tempo para me preparar. :)

Prof. Héber Carvalho: Quando o edital foi publicado, havia muitas matérias com as quais você ainda não tinha travado contato anteriormente? Como você fez para estudar os conteúdos novos? Focou mais na teoria, nos exercícios comentados da banca, em ambos? Conte-nos um pouco…

Ana: Eu não havia estudado Contabilidade Pública, Informática (pois chutei errado, achando que Informática estava saindo dos concursos da área fiscal) e há muito não via Economia.

Comprei cursos de teoria com exercícios comentados das três matérias, já que nunca consegui estudar um conteúdo novo somente por exercícios. Ah, e todas as aulas foram em PDF, para que eu pudesse acelerar o estudo conforme fosse necessário.

Foi mesmo bastante corrido, e precisei encaixar as aulas no cronograma de revisão, mas acredito que tive sorte por já ter estudado Economia antes. Se tivesse que aprendê-la do zero, depois do edital, teria que ter sacrificado as outras duas matérias.

Prof. Heber Carvalho: Em seu depoimento, você disse que os exercícios físicos foram cruciais na sua preparação. Com que regularidade você praticava exercícios? Você manteve a prática de atividades físicas mesmo após a publicação do edital?

Ana: Eu costumava treinar kung fu duas vezes por semana, mas, depois do edital, começou a ser na periodicidade “quando dava”. hehe

Nas últimas duas ou três semanas, não treinei. Não tem jeito, embora os exercícios físicos sejam fundamentais pra manter corpo e mente em funcionamento, considero a época pós-edital como estado de exceção, e quase todas as outras áreas da vida ficam congeladas.

Quer dizer, é foco total no objetivo e, depois da prova, a gente tenta reduzir os danos instalados. :)

Prof. Heber Carvalho: Por meio de seu depoimento, ficou bastante claro que você não utilizou uma regra ou um método fixo de estudos. Pelo que li, você utilizou livros e cursos em PDF, frequentou cursos presenciais e assistiu a muitas vídeo aulas. Ou seja, aproveitou quase tudo que há disponível no mercado. Que conselho você daria para aqueles candidatos que ainda são muito indecisos na hora de formular sua estratégia e/ou escolher os materiais de estudo?

Ana: Eu gostava de estudar caçando professores. Sempre procurava recomendações dos concurseiros e aprovados sobre os mestres e, a partir daí, via em qual plataforma as aulas deles estavam disponíveis.

Acho que os três métodos – presencial, vídeo-aula e PDF – têm prós e contras, então, no geral, vale mais ir atrás de um bom professor.

É verdade que, em algumas situações específicas, um tipo de curso é mais adequado que o outro. Por exemplo, nas retas finais, eu priorizo cursos escritos, pois posso ditar o meu ritmo à aula. Quando estou com o tempo mais folgado, prefiro ver vídeo-aulas, para ter algum contato humano, nem que seja unilateral. :P

Também acho ideal que o concurseiro experimente todas as plataformas, pra ver se alguma se encaixa melhor ao seu perfil. Mas, se não for possível, não creio que ele seja muito prejudicado se só puder fazer um ou dois tipos.

Prof. Heber Carvalho: Como era sua vida social durante a preparação para concursos? Você saía com amigos, família, etc? Ou adotou uma postura radical, abdicando do convívio social para passar no concurso o mais rápido possível?

Ana: Não abri mão de tudo, mas abri mão de muito.

Minha vida social ficou confinada às noites de sábados e aos domingos. Descansar nos fins-de-semana foi um luxo que pude ter por estudar em tempo integral durante a semana, pois meus amigos que trabalhavam tinham que usar o fim-de-semana justamente pra estudar mais.

Mas praticamente não acessei redes sociais, ou algo que pudesse roubar meu tempo durante a semana. Quase não tenho posts no Facebook e tampouco fotografei todos os objetos da minha casa com Instagram, por exemplo.

Por outro lado, como o dinheiro sempre foi apertado, eu não me frustrava tanto em abdicar das atividades sociais, afinal, não teria como bancá-las.

Quando se é pobre (ou se está pobre), acabamos prestando mais atenção nas nossas necessidades básicas de sobrevivência. :P

Prof. Heber Carvalho: Na mensagem final do depoimento, você diz que o concurseiro precisa se conhecer a fundo, no sentido de fazer negociações que envolvam suas necessidades internas. Você cita até o caso em que o excesso de estudo pode prejudicar o próprio aprendizado. Achei bastante interessante esta colocação, pois a percepção de uma situação destas só é possível para aquela pessoa que tem perfeita noção de como sua mente e corpo trabalham. Às vezes, este processo de autoconhecimento pode durar bastante tempo. Você teria alguns conselhos para o público nesta parte? Como se adquire este autoconhecimento?

Ana: Caramba, professor! Que pergunta difícil!

Deixa ver. Em termos práticos, pra mim, em algumas situações ficava bem claro que o estudo não estava rendendo. Às vezes, lia uma mesma frase 3x e não a entendia! Aí tinha certeza de que não adiantava continuar estudando naquele momento só pra cumprir o cronograma.

Para checar se a matéria estava fixando na cabeça, um método de estudo que eu gostava de usar era aquele de explicar pra alguém o que se acabou de ler. Eu fazia assim, lia a matéria e, ao final de cada bloco de conteúdo, olhava pra frente e tentava explicar o que tinha aprendido pra alguma pessoa fictícia. Mas, assim, gesticulando e mexendo a boca (sem emitir som, pois a cena já era esdrúxula o suficiente) como quem dá aula para uma classe imaginária. Claro que eu recomendo somente para aqueles concurseiros que estudam sozinhos, senão alguém manda internar e aí se corre o risco de ficar em quarto compartilhado. E conseguir se concentrar num quarto cheio é realmente difícil!

Mas, no geral, acredito que esse processo de autoconhecimento seja um projeto de vida inteira. Por exemplo, lembro que, quando eu era criança e as coisas não saíam do jeito que eu esperava, eu tinha uma tendência natural de culpar o que quer que fosse, desde que não a mim mesma. Um dia, meu pai falou alguma coisa do tipo “quando algo dá errado, primeiro analise a sua conduta e veja o que você poderia ter feito de diferente. No começo, ninguém se sente confortável em assumir que um resultado negativo deu-se por nossa causa, mas depois você percebe que, se podemos corrigir nossos erros, também podemos reduzir os fracassos futuros, e isso é muito bom.”

Acho que exercitar nossa autocrítica dessa forma nos permite ter uma visão mais clara das nossas condutas, que podem estar equivocadas, e também dos nossos limites, pois, algumas vezes, não alcançamos um resultado satisfatório simplesmente porque ainda não estamos prontos pra ele. Olhando pra dentro, cada um pode encontrar com mais facilidade um modo de conversar consigo mesmo para chegar a um consenso sobre suas necessidades.

Sei que acabei descambando para um lado mais filosófico, e espero não ter fugido da pergunta, mas essa questão foi mais difícil do que qualquer uma da prova. hehehe

Prof. Heber Carvalho: Se você tivesse que apontar o principal erro em preparação (se é que houve… rs), qual seria? E qual foi o principal acerto?

Ana: Ah, eu errei bastante! Mas acredito que o mais significativo tenha sido o erro clássico de não focar numa área restrita desde o começo. Na época, eu achava que não estava fazendo isso, pois estudava para as autarquias do Sistema Financeiro Nacional (Bacen, Susep, CVM). Hoje vejo que, apesar de terem algumas matérias básicas, várias outras eram muito específicas e só serviriam para um determinado concurso. Tanto é que, depois de mais de um ano de estudos, eu não estava nem perto de cobrir o edital do ISS-SP ou de qualquer outro cargo fiscal.

Não digo que quem se prepara para concurso fiscal não deva prestar os concursos destas autarquias, mas é importante ter um foco principal e prestar os outros secundariamente. Eu fiz o contrário, voltei os estudos principalmente para estes cargos e só depois para um que me possibilitasse brigar por mais vagas. Só não me dei muito mal por ter vivido o “ano da seca”! É estranho falar isso, mas o ano infernal me possibilitou corrigir o rumo dos meus estudos, o que foi uma grande sorte.

Agora, em relação ao acerto na preparação, algo que me ajudou muito foi ter conversado com vários concurseiros e ter trocado experiências muito ricas com todos eles. Nos cursos presenciais, notei que algumas pessoas encaram os colegas como concorrentes, e adotam aquela postura “não vim aqui pra fazer amigos, vim aqui pra estudar”. Pois eu acho isso um desperdício, afinal, é praticamente impossível que um concurseiro consiga obter sozinho todas as informações de que necessita pra ser aprovado.

Este mundo dos concursos é cheio de nuances e detalhes e, quanto mais fontes de informação você tiver, maior a sua bagagem para enfrentar as provas que virão. Além disso, ter amigos vivendo a mesma situação que a sua pode ser de grande utilidade numa rotina tão cansativa e tão mal-compreendida pelos “de fora”.

E, no fim, uma das minhas grandes alegrias no dia do resultado foi justamente ter recebido vários e-mails de amigos concurseiros, em letras garrafais, festejando comigo o fim de uma jornada tão árdua. Acho que tê-los por perto foi um grande acerto meu. :)

É isso!

……………….

Fim!
Espero que tenham gostado da entrevista.


Para terminar, gostaríamos de, em nome dos concurseiros e da equipe do Estratégia, parabenizar não só a Ana, mas todos os aprovados do ISS/SP 2012. Cada um de vocês mereceu o resultado, que, com certeza, foi fruto de muita abnegação e estudo. Parabéns!

Heber Carvalho
Abraços e bons estudos!

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