Artigo

Duas questões da ESAF de Contabilidade Nacional

 Olá amigos(as)!!

Aqui é Eduardo Moura falando, estarei com vocês nas disciplinas associadas à economia.

Iniciaremos nossos trabalhos por aqui resolvendo duas questões de macroeconomia da ESAF relacionadas à matéria contabilidade nacional (ou contas nacionais).

Pessoal, a matéria contabilidade nacional é extensa e possui uma grande variedade de conceitos e fórmulas que só serão assimilados com a resolução de muitos exercícios. Mas não desanimem, tenham em mente o seguinte: quando um edital especifica contabilidade nacional em seu programa, é certa a presença de questões (isso mesmo, no plural!) na prova, por isso, vale muito a pena estudar a matéria!

Vamos praticar!!

1.(ESAF – Analista de Planejamento, Orçamento e Finanças Públicas/SEFAZ SP – 2009) O objetivo da Contabilidade Nacional é fornecer uma aferição macroscópica do desempenho real de uma economia em determinado período de tempo: quanto ela produz, quanto consome, quanto investe, como o investimento é financiado, quais as remunerações dos fatores de produção. Assim, baseado nos conceitos de Contas Nacionais, não se pode dizer que:

A) a Renda Nacional é igual ao Produto Nacional Líquido, a preço de mercado.

B) o Investimento corresponde ao acréscimo de estoque físico de capital, compreendendo a formação de capital fixo mais a variação de estoques.

C) a Renda Disponível do Setor Público corresponde ao total da arrecadação fiscal, deduzidos os subsídios e as transferências ao setor privado.

D) a diferença entre a renda líquida enviada ao exterior e o saldo das importações e exportações de bens e serviços não-fatores é chamada de Poupança Externa (Sext).

E) o Produto afere o valor total da produção da economia em determinado período de tempo.

RESOLUÇÃO:

Analisemos cada alternativa em busca da incorreta:

A) a Renda Nacional é igual ao Produto Nacional Líquido, a preço de mercado.

Lembremos algumas informações importantes:
• Existe uma identidade macroeconômica fundamental que estabelece:

 

Produto = Renda = Despesa


Essa relação também se estende aos diferentes conceitos de produto, renda e despesa. Então podemos escrever:

 

PNLcf = RNLcf= DNLcf


• No que diz respeito à renda, o conceito mais utilizado é a renda nacional líquida a custo de fatores, assim, quando a questão não especificar se a renda é líquida ou bruta e se é a preço de mercado ou a custo de fatores, consideraremos líquida a custo de fatores, ou seja:

 

RN = RNLcf


Diante do exposto, podemos escrever a seguinte relação:

 

RN = RNLcf = PNLcf


Assim, a alternativa A está errada, pois afirma que: RN = PNLpm.

B) o Investimento corresponde ao acréscimo de estoque físico de capital, compreendendo a formação de capital fixo mais a variação de estoques.

O Investimento (I) em contabilidade nacional está associado à aquisição de máquinas, equipamentos, peças e edificações destinados ao processo produtivo (formação bruta de capital fixo – FBKF) e à formação de estoque (medida por meio da variação de estoque – AE). Matematicamente:

 

I = FBKF + AE


Notem que a definição de Investimento dada é perfeita, então a alternativa B está correta.

C) a Renda Disponível do Setor Público corresponde ao total da arrecadação fiscal, deduzidos os subsídios e as transferências ao setor privado.

A definição de Renda Disponível do Setor Público (RDSP) é:

 

RDSP = II + ID – Sub – Transf

Onde:
II: Impostos indiretos
ID: Impostos diretos
Sub: Subsídios concedidos
Transf: Transferência ao setor privado

Observem que na definição de RDSP dada pela alternativa os impostos diretos e indiretos foram agrupados dentro da expressão “total da arrecadação fiscal”. Como a definição dada ainda especifica a dedução dos subsídios e das transferências ao setor privado, a alternativa C está correta.

D) a diferença entre a renda líquida enviada ao exterior e o saldo das importações e exportações de bens e serviços não-fatores é chamada de Poupança Externa (Sext).

A Poupança Externa é dada pela expressão:

 

Sext = (M – X) + RLEE +/- TU ,


onde:

M: Importação de bens e serviços não fatores
X: Exportação de bens e serviços não fatores
RLEE: Receita líquida enviada ao exterior
TU: Transferências unilaterais (ou transferências correntes), com o sinal + para as transferências recebidas e – paras as transferências enviadas.

Atentem, é comum encontrarmos questões que adotam também uma expressão mais resumida para a poupança externa, não apresentando as transferências unilaterais. Isso pode ocorrer quando o termo transferências unilaterais já tiver sido considerado no cálculo da receita líquida enviada ao exterior – RLEE (essa prática é adotada por alguns autores). Assim, para fins de resolução de prova, se uma questão não especificar as transferências unilaterais na fórmula da poupança externa não significa necessariamente que esteja errada, mas sim que está adotando uma expressão mais resumida.

Escrevendo a expressão resumida da Poupança Externa (SE):

 

Sext = (M – X) + RLEE


Observem que, realizando um simples jogo de sinais, também podemos escrever a expressão para poupança externa da seguinte maneira:

 

Sext = RLEE – (X – M)


Observem que a expressão acima pode ser considerada como “a diferença entre a renda líquida enviada ao exterior e o saldo das importações e exportações de bens e serviços não-fatores” afirmada na alternativa. Por isso, a alternativa D está correta.

E) o Produto afere o valor total da produção da economia em determinado período de tempo.

Vamos à definição de produto:

Valor monetário associado ao total da produção de bens e serviços finais durante determinado período de tempo, tipicamente um ano.

Notem que a alternativa fala em valor total da produção, não especificando se a produção é de bens e serviços finais. Assim, poderíamos pensar que a alternativa está tratando da produção total de bens e serviços finais e intermediários.

A importância em se considerar apenas os bens e serviços finais no cômputo no produto está no fato de não incorrermos em dupla contagem. Expliquemos.

Os bens finais são aqueles adquiridos pelos seus usuários finais, não sendo utilizados como insumo no processo de fabricação de outros bens. Já os bens intermediários são normalmente utilizados como insumo no processo produtivo de outras mercadorias.

Percebam, o cálculo do valor total da produção (produto), considerando apenas os bens finais, já inclui o valor dos bens intermediários utilizados na fabricação dessas mercadorias finais.

Assim, se considerarmos no cálculo do produto os valores dos bens finais e intermediários, estaremos contando duas vezes o valor dos bens intermediários.

Observem que a alternativa não fala em nenhum momento que está considerando os bens e serviços finais e intermediários, mas a falta do termo “bens e serviços finais” pode gerar dúvida. Assim, tendo em vista que a alternativa A nos dá uma informação seguramente incorreta, consideraremos a alternativa E correta (com ressalvas).

2. (ESAF – EPPG/MPOG – 2009) Considere os seguintes dados extraídos de um Sistema de Contas Nacionais extraídas das contas de produção de renda:

Produção: 2.500;
Impostos sobre produtos: 150;
Produto Interno Bruto: 1.300;
Impostos sobre a produção e de importação: 240;
Subsídios à produção: zero;
Excedente operacional bruto, inclusive rendimento de autônomos: 625.

Com base nessas informações, é correto afirmar que o consumo intermediário e a remuneração dos empregados são, respectivamente:

A) 1.350 e 440

B) 1.350 e 435

C) 1.200 e 410

D) 1.200 e 440

E) 1.300 e 500

RESOLUÇÃO:

A questão pede o consumo intermediário e a remuneração dos empregados, vamos à resolução!

Segundo a definição do IBGE, o consumo intermediário representa o valor dos bens e serviços mercantis consumidos ao longo do período no processo corrente de produção.

Podemos calcular o PIBpm, sob a ótica do produto, a partir do valor bruto da produção – VBP (considera tanto a produção de bens e serviços finais quanto intermediários) menos o consumo intermediário (significa que estamos excluindo do valor bruto da produção os bens e serviços intermediários, evitando a dupla contagem no calculo do PIB), mais impostos indiretos – II (ou impostos sobre o produto) e menos subsídios – Sub. Matematicamente:

 

PIBpm = VBP – Consumo Intermediário + II – Sub (Equação 1)

Pelo enunciado da questão temos que:

PIB = PIBpm = 1.300
(Lembrem, o conceito mais usado é o PIBpm, então quando a questão não especificar se o PIB é a preço de mercado ou custo de fatores consideraremos sempre PIBpm).
VBP= Produção = 2.500
II = 150
Sub=0

Substituindo os valores na equação 1 encontraremos:

 

Consumo Intermediário = 1.350


Calcularemos agora a remuneração dos empregados.

Segundo a definição do IBGE, a remuneração dos empregados compreende todas as despesas efetuadas pelos empregadores aos seus empregados em contrapartida do trabalho realizado no período.

Podemos calcular o PIBpm, sob a ótica da renda, a partir da remuneração dos empregados – RE, mais o excedente operacional bruto – EOB (trata-se da remuneração do fator de produção capital), mais rendimento misto bruto – RMB (ou rendimento de autônomos), mais o total dos impostos sobre a produção e sobre a importação – IPImp, menos os subsídios – Sub. Matematicamente:

 

PIBpm = RE + EOB + RMB + IPImp – Sub (Equação 2)

Pelo enunciado da questão temos que:

PIBPM= 1.300
RE= ?
EOB + RMB= 625
IPImp = 240
Sub = 0

Substituindo os valores na equação 2 encontraremos:

 

RE = 435


Pelos valores encontrados a resposta é a alternativa B.

Amigos, por hoje é só. Fica a dica, existem três maneiras de aprender bem contabilidade nacional: a primeira é fazendo questões, a segunda é fazendo mais questões e a terceira é fazendo mais questões ainda.

Abraço.

"Não sabendo que era impossível, foi lá e fez."
Jean Cocteau – pensador francês

Prof. Eduardo Moura
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