“Cultivar a paciência é a primeira missão; canalizar a ansiedade para que se torne obstinação, a segunda. Tenha bastante cuidado com sua organização, e busque auxílio sempre que sentir necessidade – embora possa não parecer, no mundo dos concursos há muita gente solidária e qualificada que pode oferecer atalhos preciosos.”
Estratégia Concursos: Conte-nos um pouco sobre você, para que nossos leitores possam te conhecer melhor. Você é formado em que área? Qual sua idade? De onde você é?
Bruno Machado: Sou mineiro, nascido em Patos de Minas. Desde pequeno me mudei para Uberlândia, e meus pais sempre se esforçaram para que eu pudesse estudar em um bom colégio da cidade. Entrei no mundo dos concursos ao final da minha graduação em direito (UFU). Hoje tenho 29 anos.
Estratégia: O que te levou a tomar a decisão de começar a estudar para concursos?
Bruno: Depois de vivenciar a esfera privada e a pública relacionada à minha graduação, decidi caminhar para os concursos públicos. Não identifiquei em mim as características necessárias à advocacia, e comecei a buscar alternativas que aliassem meus interesses profissionais e pessoais. Encontrei na área fiscal um ambiente interessante.
Estratégia: Durante sua caminhada como concurseiro, você trabalhava e estudava (como conciliava trabalho e estudos?), ou se dedicava inteiramente aos estudos para concurso?
Bruno: Durante toda a minha vida de concurseiro estive trabalhando. Sempre guardei férias para os estudos, porque isso faz bastante diferença nos momentos de reta final. Penso que a organização é elemento fundamental, pois enquanto se dá prioridade aos estudos para concursos, o trabalho precisa continuar sendo desempenhado de forma satisfatória. E como nossa energia é finita, e o tempo é um recurso naturalmente escasso, esse equilíbrio é a única saída para a maior parte das pessoas.
Estratégia: Quantos e em quais concursos já foi aprovado? Qual o último? Em qual cargo e em que colocação?
Bruno: Meu primeiro concurso foi o de técnico bancário da Caixa em 2009, para o qual estudei algumas semanas e consegui uma aprovação ao final da lista. Em 2010, ainda durante a faculdade, aproveitando os conhecimentos da graduação e fazendo um bom estudo de véspera para o cargo de Técnico Administrativo do MPU na 27ª colocação, o suficiente para ter sido nomeado para o cargo em 2011. Depois, já ao final de 2013, decidi me dedicar à área fiscal – após ter me imaginado como diplomata, delegado federal e promotor. No início de 2014 consegui uma aprovação precoce para o cargo de Agente Tributário do MS (não me recordo a colocação, porque foi uma prova feita apenas por recomendação dos meus pais) – cargo para o qual fui nomeado em 2016, mas não assumi. Em seguida, em maio de 2014 prestei o concurso do ISS Floripa, e a cidade acabou me cativando. Depois, ainda em meados de 2014 fui aprovado para Técnico Tributário da Receita – TTRE do RS (87ª colocação), tendo apresentado carta de desistência para ceder lugar ao próximo da fila. Em seguida, consegui a 13ª colocação no cargo de Auditor-Fiscal da Receita do RS (cargo que exerço até o momento). Alguns meses depois, apenas para garantir, fiz a prova para o ISS Joinville e também consegui uma aprovação (10ª colocação) – não tendo ocorrido as nomeações para o cargo até a expiração do prazo de validade.
Estratégia: Qual foi sua sensação ao ver seu nome na lista dos aprovados/classificados?
Bruno: Embora já tivesse uma prévia em razão de um ranking de aprovados reconhecidamente fidedigno, a incerteza pairou até o resultado final. Eram 260 questões, e as anulações ainda tinham o potencial de mudar completamente as posições. Quando verifiquei que havia sido aprovado na 8ª colocação, toda aquela tensão foi embora e pude levantar os braços para os céus. Enquanto o resultado final não sai, a mente fica fervendo traçando todos os cenários imagináveis. Uma vez aprovado, o peito ferve em alegria e gratidão por todos os que acreditaram e me acompanharam.
Estratégia: Como era sua vida social durante a preparação para concursos? Você saía com amigos, família, etc? Ou adotou uma postura radical, abdicando do convívio social?
Bruno: Nos curtos estudos de pré-edital sempre busquei garantir um dia para encontrar amigos, namorada, família. Coisa bem simples, sem muitas delongas. Depois, com os editais em mãos, a obstinação toma conta, e a vida social se limitava a estudar enquanto as irmãs e namorada me traziam alguns drinks e colocavam uma música para descontrair o ambiente. Posso considerar que sempre fui radical.
Estratégia: Você é casado? Tem filhos? Namora? Mora com seus pais? Sua família entendeu e apoiou sua caminhada como concurseiro? Se sim, de que forma?
Bruno: Não sou casado e não tenho filhos. Moro sozinho, mas sempre tive a presença das irmãs e da namorada. A minha família sempre me apoiou sem titubear; a namorada demandou algumas conversas para que pudesse entender a magnitude da missão que havia assumido – e desde então, também acreditou no que eu havia traçado. É natural que algumas pessoas tenham duvidado das possibilidades, mas sempre dei ouvidos e fui próximo àqueles que acreditavam e me davam suporte. Procurei garantir a todo momento um ambiente positivo e enérgico para me inspirar. Também não posso deixar de fazer menção aos meus amigos colegas de trabalho, que sempre estiveram com a lanterna me auxiliando a enxergar o caminho.
Estratégia: Você acha que vale a pena fazer outros concursos, com foco diferente daquele concurso que é realmente seu objetivo maior? (Se esse ainda não é o concurso dos seus sonhos, se possível, citar qual é se pretende continuar se preparando para alcançar esse objetivo)
Bruno: A resposta para essa pergunta depende muito da realidade da pessoa. Durante quase todo o tempo dos meus estudos estive desempenhando uma função pública. Entretanto, julgo que o foco é decisivo nos momentos atuais, em que a concorrência é muito especializada e está cada vez mais difícil ter uma versatilidade para conciliar focos distintos.
Estratégia: Você estudou por quanto tempo direcionado ao concurso em que foi aprovado?
Bruno: Só consegui me direcionar durante o pós-edital mesmo. Antes, já havia começado a revisar algumas matérias relevantes (Direito Tributário e Contabilidade), e também havia tentado engrenar aproveitando o edital do ICMS GO, já que a FCC seria a banca do ICMS SC. Só que nessa mesma época fiz uma viagem com amigos para o exterior, na torcida de que a prova só saísse em 2019 – quando iria colocar a vida em ordem para poder me dedicar os estudos. Quando surgiu o edital com vagas para o cargo na área de Gestão Tributária – cheio de matérias relacionadas ao direito, algumas sequer exigidas nos certames de fisco -, me convenci de que essa seria uma oportunidade que não poderia deixar passar.
Estratégia: Chegou a estudar sem ter edital na praça? Durante esse tempo, como você fazia para manter a disciplina nos estudos?
Bruno: Antes do edital para o ICMS SC fiz apenas algumas investidas tímidas, interrompidas a cada despacho de arquivamento no processo que solicitava a realização do certame. Até por isso decidi fazer uma viagem de três semanas, sem encostar nos papéis, acreditando que o certame levaria tempo para ocorrer e que conseguiria reestruturar minha vida para os estudos novamente. Quanto à disciplina especificamente, se tomei a decisão de que faria a prova, e conhecedor da absoluta escassez de tempo que me restava para os estudos, não houve momento em que pensei em recuar. A certeza da decisão é proporcional à intensidade da disciplina.
Estratégia: Como conheceu o Estratégia Concursos?
Bruno: Em 2010, ao me aventurar nos estudos para o MPU, descobri que as pessoas usavam PDFs para estudar para concursos. O Estratégia era um dos cursos que dominavam o mercado naquela época, e já estava se consolidando com bons materiais.
Estratégia: Que materiais você usou em sua preparação para o concurso? Aulas presenciais, telepresenciais, livros, cursos em PDF, videoaulas? Quais foram as principais vantagens e desvantagens de cada um?
Bruno: Utilizei livros e videoaulas em casos pontuais, geralmente para fortalecer o conhecimento em alguns tópicos com os quais ainda não tinha muita segurança. Os cursos em PDF preencheram boa parte da minha lista de materiais, juntamente com o site de questões tecconcursos e meus resumos e leis bizuradas, tanto as que já estavam prontas desde 2014 como as que fui fazendo após o edital, por conta própria ou com o auxílio de amigos.
Estratégia: Uma das principais dificuldades de todo o concursando é a quantidade de assuntos que deve ser memorizada. Como você fez para estudar todo o conteúdo do concurso? Falando de modo mais específico: você estudava várias matérias ao mesmo tempo? Quantas? Costumava fazer resumos? Focava mais em exercícios, ou Estratégia: na leitura e releitura da teoria? Como montou seu plano de estudos? Quantas horas por dia costumava estudar?
Bruno: Penso que os meus resumos e leis bizuradas foram responsáveis por garantir a objetividade necessária. Os cursos (em PDF ou videoaula) me auxiliaram bastante em casos específicos, já que alguns conteúdos novos foram exigidos, e noutros eu ainda não tinha resumos sistematizados – ou quando meus resumos já não refletiam a cobrança da banca.
Estratégia: Você tinha mais dificuldades em alguma(s) disciplina(s)? Quais? Como você fez para superar estas dificuldades?
Bruno: De início, tive que fazer uma forte ambientação em Contabilidade, pois a FCC tem uma receita de bolo que deve ser dominada – além disso, já não via a matéria desde minha aprovação em 2014, por mais que gostasse muito do conteúdo. Fora isso, minhas dificuldades eram: estatística, economia e direito processual civil. As duas primeiras por não ter estudado, e a última porque já não via nada a respeito desde a faculdade – até porque, só havia estudado o antigo CPC. Decidi estudar tópicos específicos de economia, não encostar em estatística, e esquematizar todo o código de processo civil.
Estratégia: A reta final é sempre um período estressante. Como foi sua rotina de estudos na semana que antecedeu a prova? E véspera de prova: foi dia de descanso ou dia de estudo?
Bruno: Minha última semana foi bem intensa, com 6 horas de sono diariamente, cravando 11-12 horas líquidas de estudo com rigorosidade – sem deixar de lado os demais compromissos. Esse equilíbrio foi difícil de alcançar, porque pessoas dependiam de mim, e eu também dependia de mim mesmo. Por isso, o auxílio de amigos, família e namorada foram essenciais.
Na sexta-feira, estudei até uma da manhã, acordando sábado às sete da manhã para revisar um pouco mais (P1 – tarde). Estudei até antes de entrar na sala de prova. Depois, estudei das 9 da noite à 1 da manhã; no dia seguinte, revisei enquanto aguardava o uber e até antes de entrar em sala novamente (P2 – manhã). Durante o almoço, já havia deixado um sanduíche na mochila para que pudesse comer e enfiar a cara nos estudos até o momento de entrar em sala para fazer a última prova (P3 – tarde). Dediquei-me apenas a informações de ótima relação de custo-benefício, e garantir pelo menos 10% da minha pontuação total nessas revisões feitas logo antes de entrar em sala.
Estratégia: Se você tivesse que apontar ERROS em sua preparação (se é que houve), quais seriam? Diga-nos também quais foram os maiores ACERTOS?
Bruno: Como a estrutura da prova era muito diferente, sem mínimos por matéria e com um peso muito grande em disciplinas específicas, em determinado momento me vi estudando alguns assuntos que estavam tomando muito tempo e não agregariam tanto corpo em minha pontuação. A tarefa de me policiar quanto a isso foi uma constante.
Considerando o restrito tempo de preparo, considero que tive muitos acertos. Podemos listar vários: ter selecionado ótimos materiais para me auxiliar na reta final; ter buscado auxílio de uma equipe de consultores e supervisores, que sempre me passou os bizus de cada disciplina; ter usado os meus resumos e leis bizuradas lá de 2014 para otimizar o estudo; ter me valido da colaboração de amigos e familiares – fatores decisivos no meu sucesso; ter focado no gerenciamento dos meus erros e dificuldades, usando-os como propulsores do aprendizado e, sobretudo, da memorização; e claro, por ter tido sorte de ignorar assuntos que me tomariam muito tempo e pouco agregariam em minha pontuação.
Estratégia: Qual foi sua principal motivação?
Bruno: Quando fui fazer a prova para o ISS Floripa em 2014, com aproximadamente cinco meses de estudo, me encantei pela cidade. Não contava com uma aprovação dentro das vagas, mas me permiti sonhar com um futuro concurso para o ICMS SC naquele ano ou no seguinte; acabei passando para o ICMS RS em agosto daquele ano, e o ICMS SC sequer tinha dado sinais. Parei de estudar.
Um amigo do peito me disse a seguinte frase uma vez: nós somos mineiros, e temos uma relação especial com o mar. E não é que já em 2018, com grandes amigos morando em Florianópolis e com a namorada se mudando para Itajaí, me via viajando para Santa Catarina quase duas vezes ao mês. Percebia que minha vontade de estar lá era bem maior que a vontade de estar no Rio Grande do Sul, e fiz um trato comigo mesmo que iria tentar o concurso quando saísse.
No mesmo ano, acabei fazendo uma viagem sensacional com meus amigos de auditoria, todos da turma de aprovados em 2014. De 27-julho a 19-agosto vivi momentos sensacionais com essa turma, extremamente engrandecedores, com várias trocas preciosas de ideias. Ali adquiri muita potência de vida, uma dose cavalar de energia e coragem – o contato com pessoas grandes nos faz crescer. Gravamos um vídeo bem legal na viagem, e procurei assisti-lo nos momentos de cansaço e desânimo. Foi uma âncora certeira para um estado de espírito positivo.
Com o edital em mãos, certifiquei-me de que nenhum de meus alunos estava se dedicando ao mesmo cargo que eu – caso houvesse, teria recomendado uma transferência. Tudo pareceu bem acertado para que eu conseguisse uma aprovação, e que acabou chegando em boa hora.
Estratégia: Por fim, o que você aconselharia a alguém que está iniciando seus estudos para concurso. Deixe-nos sua mensagem para todos aqueles que um dia almejam chegar aonde você chegou!
Bruno: Cultivar a paciência é a primeira missão; canalizar a ansiedade para que se torne obstinação, a segunda. Tenha bastante cuidado com sua organização, e busque auxílio sempre que sentir necessidade – embora possa não parecer, no mundo dos concursos há muita gente solidária e qualificada que pode oferecer atalhos preciosos.
Seja fiel à sua decisão, e faça com que sua disciplina seja mera consequência dela. Cuide bem das suas ideias, aliando-se aos aspectos positivos que surgirem ao decorrer da preparação, sempre buscando enxergar o lado bom dos infortúnios que irão acontecer. Exercite sempre a visualização de sua aprovação, buscando não se desiludir quando descobrir que não foi dessa vez. Muito possivelmente a sua felicidade estará justamente no lugar em que passará, então confie no poder da aleatoriedade do universo. Para trás, nem para pegar impulso! Os dias são longos, mas os anos são curtos! Olhos de falcão no horizonte!