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Aos que vão entrar na RFB, deixo um pouco da minha história no órgão

Falar da Receita Federal do Brasil (RFB) com imparcialidade, há um bom
tempo, é algo quase impossível para mim, um dos muitos apaixonados pelo órgão e
que declaram amor pela instituição. Essa paixão começou ainda como concurseiro.
Assim que entrei nela, em 2009, pude sentir na pele o prazer de trabalhar nesse
que é um dos mais cobiçados órgãos entre os concurseiros do Brasil afora.


Falem mal, xinguem, digam que falta isso ou aquilo, que não pode ser
assim ou assado. O amor é cego. Pelo menos no meu caso. Talvez por nunca ter
encontrado tudo isso que falam nos lugares em que tive o prazer de trabalhar.
Foram poucos, confesso. Exatamente dois: Jaguarão/RS, a Cidade heróica que
guardarei no coração até o túmulo, e Feira de Santana/BA, a Cidade Princesa,
onde trabalho atualmente.


Nesses dois lugares, fiz muitos amigos e aprendi coisas que levarei para
o resto da minha vida. Trabalhar na RFB é algo maravilhoso, sem explicação. E
que me perdoem as opiniões contrárias. Amo meu cargo, meu trabalho e a
instituição pela qual acordo todo dia feliz por ir trabalhar nela. Na RFB me
sinto útil ao meu país e aos brasileiros que me remuneram. E nela dou o meu
melhor.


Assim que passei no concurso para Auditor Fiscal da Receita Federal do
Brasil (AFRFB), em 2009, a primeira pergunta que surge, inevitavelmente, é: “E
agora, onde eu vou morar?”. Certamente essa foi a pergunta que pelo menos 95%
dos 450 aprovados também fizeram (e que os 900 devem estar fazendo agora). Se
você já passou por isso um dia, saberá bem o que estou falando. Se não, vai
saber que não é tão ruim assim como dizem (ou será pior).


Vou começar falando primeiramente onde eu estava antes de ir me
esconder, ops, digo, morar, no interior do Rio Grande do Sul. Aos que não
conhecem minha origem, sou pernambucano “da gema”. Logo após, conto sobre minha
nova vida. E bem melhor do que aquela que eu esperava encontrar ao ir morar ao
lado do Uruguai, literal e geograficamente falando.


No final de 2008 fui aprovado no concurso para Analista de Comércio
Exterior, cargo integrante do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior, o famoso e querido MDIC. Em fevereiro de 2009, mudei-me, com
a cara e a coragem do bom e velho retirante nordestino, para Brasília, a
capital de todos os brasileiros.


Seria a primeira vez que eu, em sã consciência (morei em Manaus por um
ano e alguns meses, quando não tinha nem um ano de vida), sairia do meu querido
Estado de Pernambuco e iria morar tão longe. Hoje eu vejo que estava ao lado de
casa, por mais que 2.200 Km e duas horinhas de vôo me separassem dela.


Pois bem. Eu ganhava maravilhosamente bem, trabalhava em um lugar
maravilhoso, com pessoas maravilhosas, numa cidade muito bem localizada e bem
servida de prazeres e facilidades para uma vida maravilhosa. Só faltava o
sonho. E este era o de ser AFRFB.


Passadas as provas objetivas com suas centenas de questões, oito provas
discursivas, um curso de formação para lá de desgastante realizado pela temida
ESAF e 79 mil candidatos ao chão, faltariam apenas as lotações nas cidades de
vagas oferecidas para aqueles que já estavam exaustos e apreensivos por tal
informação.


É. As cidades e os felizardos (?) em ocupá-las foram divulgadas pouco
antes do fim do anúncio do resultado final do curso de formação. Saber para
onde se iria realmente era tão importante quanto a própria divulgação das
cidades onde seriam disponibilizadas as vagas.


E meu destino foi ir para Jaguarão, no interior do Rio Grande do Sul. A
simpática cidade heroica da região da campanha gaúcha era o destino que eu
tomaria, e que me faria deixar Brasília para trás, para sempre. Infelizmente
paixão não se escolhe. E a RFB era por demais sedutora e atraente. Morri de
paixão e estava a prestes a fazer uma loucura por ela. Da qual não me
arrependi. Pelo contrário. Costumo dizer que foi o melhor e mais certeiro tiro
no escuro que já dei na vida.


Jaguarão fica a 400 km de Porto Alegre e a cerca de 2.500 km de
Brasília. Não perca as contas: somando 2.200 km para Brasília-Recife e 2.500 km
para Brasília-Jaguarão, teremos 4.700Km de distância!!!!. Ok, ok. Vamos andar
pela hipotenusa desse triângulo: ainda assim tenho que percorrer cerca de 4.000
Km para chegar em casa, lá em Recife. J Mas de Jaguarão falarei
depois.


Aproximando-se o dia da publicação da portaria de nomeação e da própria
nomeação, peguei meu carro, joguei tudo que ele poderia levar de útil e partir
para os rincões do Brasil, onde a BR 116 acaba, onde o Brasil deixa de ser
Brasil, perto de nada e longe de tudo. Mas fui, abraçando a aventura e a nova
vida que me esperava ansiosa, assim com eu estava.


Realizei meu sonho de entrar na Receita Federal do Brasil. E agora não
seria ora de desistir de aproveitá-lo, pondo fim a quase quatro anos de
estudos, preparação, abstinência e tudo mais que uma vida de concurseiro
profissional traz. Como sempre digo, passar na RFB é quase um sacerdócio.


Porém, desistir era coisa que jamais me passou pela cabeça. 2.500 Km de
estrada e mais cinco Estados esperavam minha passagem, ate desembocar no Rio
Grande do Sul. Ao cruzar a fronteira SC-RS, ainda me faltaria um longo percurso
até Jaguarão. Ainda bem. A paisagem que pude conhecer foi maravilhosa.


Tudo o que conhecia de Jaguarão, antes de lá chegar, eram apenas fotos
de internet, notícias esparsas e conversas de Curso de Formação com os
pouquíssimos que pouco conheciam ela. Nada, porém, colocou-me medo ou
apreensão. Pelo contrário. Meu espírito de aventura e desejo por conhecer
coisas novas me deixavam ansioso quanto à chegada à Cidade Heróica.


Ante de chegar em Jaguarão, parei, pela última vez, em Pelotas, onde
tomaria posse no cargo que tanto sonhei em ter. Nada de mais aconteceu. Uma
simples formalidade administrativa, sem nada que o destacasse.


Nada que destacasse? Somente para as demais pessoas no mundo. Aquele foi
um dos dias mais felizes e importantes da minha vida. Meus olhos brilhavam e o
orgulho pessoal (branco, claro) brotava nos meus poros. Sai da Delegacia de
Pelotas com o maior sorriso da cidade (quiçá do mundo), rumo à Jaguarão. Nunca
imaginei que uma simples folha de ofício, a que continha minha posse, causaria
em mim tanta felicidade.


Pelotas fica a 140 Km da cidade onde eu passaria um bom tempo da minha
vida. Cidade que aprendi a gostar e respeitar. Cidade que me acolheu e que me
proporcionou uma vida maravilhosa. Um dia irei embora, claro. Sinto saudades da
Terra dos Altos coqueiros e das pessoas que falam oxente e mainha.


Entretanto, ao deixar a cidade, deixarei meu coração e a saudade de
Jaguarão, dos amigos que fiz, das suas peculiaridades,
dos freeshops uruguaios, do próprio Uruguai e da deliciosa carne do
La Fogata e do Batuva. Ainda tinha, pertinho de mim, Montévideo e Punta Del
Leste. Com mais uma balsa, “pousaria” em Buenos Aires.


Os próximos 140 Km seriam os melhores de toda a viagem. Percorri sem nem
sentir. A felicidade era indescritível. E ainda esqueci de contar que era dia
02 de julho de 2010, o dia em que nossa seleção brasileira foi eliminada da
Copa do Mundo pela Holanda, de virada, dolorosamente. E o Uruguai passou à fase
seguinte.


O Brasil estava quase de luto. O Uruguai, a partir de agora minha
“cidade” vizinha, morria em alegria e carreatas que penetraram o Brasil
adentro, via Ponte Internacional Mauá. Bandeiras celestes eram vistas por toda
parte, assim como as famosas vuvuzelas e cornetas. O barulho era lindo de
“ver”.


Naquele dia, chegando a Jaguarão, quase 19h da noite, eu simpatizei com
a alegria dos uruguaios. Por causas outras, claro. Nesse dia, começaria uma
nova parte da minha vida, o que chamo de “d.R” (Depois da Receita).


Não posso negar que os primeiros dias e semanas em Jaguarão foram, de
certa forma, complicados. Estava eu, pernambucano da gema, no fim do Brasil,
morando sozinho e sem ninguém, com uma imensa responsabilidade em trabalhar em
um órgão e em um cargo tão importante para o Brasil e para os brasileiros. Mas
eu tinha que ir. O primeiro dia de trabalho chegou. E gostei do que vi e senti.
O primeiro dia de trabalho na RFB foi inesquecível. Único.


Trabalhei por um ano e quatro meses na Inspetoria da RFB em Jaguarão/RS,
no Porto Seco, fazendo de tudo um pouco, desde os trânsitos aduaneiros (as
primeiras “tarefinhas” dos Auditores debutantes) até os mais complicados
despachos de importação, a parte boa da história. J Parte boa? Sim. É
nessa hora, despachando, carimbando e, multando, digo, educando os
contribuintes, que a “otoridade” é exercida. E você vê o quando foi bom ter se
matado de estudar Ricardo Alexandre, Heber Carvalho, Ed Luiz e tantos outros
magos que escrevem a história dos concursos fiscais no nosso país.


A rotina de trabalho não pode ser assim definida. Rotina era tudo o que
não existia na Aduana. Todo dia existia uma coisa nova a se saber, a se
descobrir, e isso deixava o trabalho cada vez mais instigante e fascinante. Uma
nova mercadoria, um novo regime, uma nova norma, uma nova multa. Ops, só para
educar, claro. Conferir e despachar mercadorias entrando e saindo do país,
conhecer novas pessoas, novas culturas, caminhoneiros com mil histórias a
contar, pessoas a perguntar, lacrar caminhões, representar alguém ao Ministério
Público, autorizar transbordo e saída de caminhões, entre outras atividades,
eram a “rotina” na Aduana. É um mundo dentro de outro. Acho que agora você
entende um pouco desse meu amor pela RFB, não é? J


Essa é só a parte boa. Também tem a parte, digamos, trabalhosa, ou mais
insalubre. Conferir lacres de caminhão em pátio aberto, com vento, numa BR, em
humildes 5º C na fronteira sul do nosso país, admito, é uma prova de amor e
tanto. O frio, até para o mais pampeiro dos gaúchos, era de congelar a mão, os
sentidos e a alma. E pensar que uma bela praia pernambucana cairia bem naquele
momento… Acorda, menino! Aqui é a Aduana. Se não aguentar, pede para sair,
01.


Tem ainda o risco de mexer no bolso dos outros e ganhar “amigos”, dar
perdimentos nas “coisas” dos outros e ganhar mais “amigos”, o próprio risco que
a profissão, isoladamente considerada, oferece, entre outras. Sem contar ainda
a parte emocional, a sensação de estar prejudicando alguém com as decisões que
você tem que tomar enquanto autoridade. Coração mole e RFB não combinam mesmo.


Mas, “cá pra nós”, eu sabia, ou devia saber, de tudo isso ao começar a
estudar. Se for deliciar uma pimenta, procure saber antes que ela arde. E
delicie. Continuemos.


Apesar do frio, das noites sozinhos no fim do nosso imenso mapa, da
saudade de casa, das praias e de Pernambuco, da imensa peregrinação que era
chegar em Recife, do quase isolamento da cidade, tudo estava perfeito.
Sentia-me em casa a cada novo dia de trabalho. Realizado. Aos poucos, e em
pouco tempo, vi que tudo aquilo era maravilhoso, exótico, diferente, e passei a
ter Jaguarão/RS como minha cidade, vivendo-a, contemplando-a; e o Rio Grande do
Sul como meu segundo Estado. Confesso: sinto imensa vontade de um dia voltar a
Jaguarão. Sim. Voltar a morar na fronteira. O pesadelo de muitos concurseiros
recém-aprovados. Mas isso é futuro.


Aos que ainda vão entrar, sempre procuro fazer entender que o melhor de
ir morar em um lugar distante é a famosa retórica de ir com o coração aberto.
Ir com vontade de conhecer o que ainda nem sabe que existe. Se dar ao prazer de
descobrir tudo que existe de bom no lugar a ponto de, quando um dia for embora,
sentir saudade e pena por ter que deixar tudo para trás. E isso para qualquer
lugar, do Chuí/RS a Pacaraima/RR.


Pois bem. Um ano e quatro meses depois, vivendo a Cidade Heróica,
acostumado com tudo e com todos, veio o concurso de remoção. Neste, consegui
uma vaga em Feira de Santana, na Bahia. Chegava a hora de partir o coração e
deixar Jaguarão/RS. E subir o mapa, rumo à Cidade Princesa, no interior do
Estado da Bahia.


Em agosto de 2011, peguei meu carro, joguei tudo que conseguia e cabia
dentro dele, coloquei minha queria irmã no banco ao lado e me mandei mapa
acima. Dez dias depois, 4.100 Km rodados, cruzamos o anel de contorno de Feira
de Santana e chegamos no meu novo lar: a Delegacia da Receita Federal, onde
mais uma nova e maravilhosa etapa da minha vida começava.


Mais uma vez, assim como em Jaguarão, encontrei tudo aquilo que um
novato no órgão precisava: atenção, receptividade, companheirismo e vontade de
todos em compartilhar experiências. Acho que isso é uma regra na RFB. Pelo
menos onde passei, nunca vi algo diferente disso. Que assim continue. J


Em Feira de Santana, tudo mudou. Deixei a Aduana para trabalhar com os
tributos internos, outra grande área dentro da RFB. Tudo teria que ser
aprendido novamente quase que do zero. E o desafio, na RFB, é fascinante. Um
mundo estava à minha frente. E eu queria ser amigo dele. DI, LI, regimes
aduaneiros, trânsitos, importação e exportação. Tudo isso foi substituído, em
15 dias, por DCTF, IPRJ, DACON, SIMPLES Nacional, fiscalizações, revisões de
ofício, contribuições previdenciárias, DCG, IOF, entre outros muitos assuntos.


Só uma coisa não mudava: a “rotina”. Fiquei lotado no equipe de revisão
de ofício de processos relativos às pessoas jurídicas e às contribuições
previdenciárias. A cada novo processo a ser solucionado, um novo estudo, uma
nova descoberta, quatro novas dúvidas, cinco novas respostas e a
exponencialização do conhecimento. E eu que pensei que não iria gostar disso…
A RFB é um poço infinito de novas e boas descobertas. Só precisa amá-la. E é
nisso que atualmente me ocupo. Vivendo meu órgão, uma dia após o outro.


Espero que não tenha cansado você, leitor. Quis apenas falar “um pouco”
desse órgão, minha segunda casa. Poderia escrever uma dissertação, falar os
muitos “causus” que já presenciei e vivi dentro da instituição. Mas prefiro que
você, em breve, descubra sozinho o que eu estou falando. Que faça a sua
história na instituição e na sua vida.


Um grande abraço! E sejam muito bem vindos à RFB!

Aluisio Neto

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