Categorias: Concursos Públicos

A falta de programação (E ida à Teresina/PI)

De um modo ou de outro, tudo em nossa vida requer uma
programação. Tem que ter certa organização ou corre-se o risco de algo sair
errado no caminho. Ok! Pode até não sair errado, mas a chance de percalços que
poderiam ser evitados virem a acontecer é grande. Assim é também na nossa vida
de concurseiro.

O ano era 2008. O mês, de maio. Essa foi a época das provas
para o concurso de Agente Fiscal de Tributos Municipais de Teresina, no Piauí.
E eu estava lá. Porém, até eu consumar esse “lá”, muita coisa rolou.

Esse seria o meu segundo concurso fora do Estado de
Pernambuco. O primeiro tinha sido em João Pessoa/PB, mas nesse fui bem
acompanhado com meu irmão Danilo e meu amigo-irmão Fábio. Nada de atropelos,
exceto por não conhecer nada em Jonh People e demorar um pouco até achar o
local de prova. No entanto, tudo tranquilo.

Até então, um simples ônibus ou uma carona de carro me
levariam até os locais de provas em Recife, onde eu morei uma boa parte da
minha vida de concurseiro. E olhe que eu fiz um monte de concurso antes de ir
fazer esse na simpática capital do Piauí.

Em Recife, a única organização que eu tinha (ou precisava,
como queiram) era apenas a de separar o material de guerra no dia anterior:
documentos, canetas e cartão de inscrição. E uma roupa decente para a luta.

Iniciante nos concursos fora da Terra dos Altos Coqueiros,
organização foi tudo o que eu não tive ao decidir ir fazer prova em Teresina. Por
favor, não façam isso um dia!

A prova seria em um domingo, dia 18 de maio de 2008. Com a
verba curta, o jeito foi ir de ônibus. Isso mesmo. Tem ideia de quantos quilômetros
separam Recife de Teresina, caro amigo concurseiro? Quase 1.200Km. Isso mesmo.

Na sexta-feira, dia 16, sai mais cedo do trabalho lá no
Ministério Público de Pernambuco, fui em casa pegar minha malinha com duas ou três
roupas e alguns pertences e me mandei para o famoso TIP (Terminal Integrado de
Passageiros), onde minha carruagem me levaria à Teresina.

“Pelo menos a passagem
já estava comprada!
”. Estudei por pouco mais de um mês aquela salgada e
pouco amistosa legislação tributária de Teresina e nem se quer me dei conta que
poderia deixar de ir por falta de passagem. Isso mesmo! Comprei na hora.
Arrisquei. Mas deu certo. Tinha passagem para Teresina. Uma parte da missão já
estava cumprida: chegar até o campo de batalha. Não parecia tão difícil.
Ilusão.

Às 14h, o ônibus saiu debaixo de um sol escaldante que fazia
em Recife. E eu nem sabia que aquilo seria frio perto do que eu ainda iria
sentir ao entrar em pleno Sertão pernambucano, na altura de Serra Talhada,
terra natal do meu compadre Virgulino. Felizmente não passei em Picos/PI com o
sol em cima de mim, já era madrugada. Não ouvia coisas boas (nem mesmo razoáveis)
sobre o calor que lá fazia.

A estrada era longa, longa e longa. Quando eu pensava em
pista, mais pista viria à minha frente (tecnicamente, ao meu lado, já que estava
num ônibus). Apenas asfalto, caatinga e… nada. Perdi a conta de quantas vezes
cochilei e, quando voltei, vi… nada novamente. Eita viagem que não rendia!
Nem um biscoito, uma água, nada eu levei comigo. iPod? Meu celular ainda tinha
a tela alaranjada nesse tempo, menino!E triste inocência achar que chegaria no
mesmo dia para comer uma pizza em Teresina.

Ao cair da meia noite, minha carruagem parou em
Araripina/PE. Lá, comi algo que nem gosto de pensar o que era, mas a fome que
me corroia o deixou gostoso, seja lá o que for. Meia hora depois, engolindo a
comida, o ônibus partiu ao seu destino. Antes, surrupiei um pouco de prosa de
dois caboclos que conversavam: “mais
vinte quilômetros e a gente entra no Piaui
”. Pensei comigo: “já tá chegando. Dá pra aguentar mais um
pouco
”. Triste ilusão. Para quem já tinha andado mais de 800km, qualquer
palmo de terra era uma eternidade. Mas o pior ainda estava por vir naquela
noite.

Em algum ponto da pista entre Araripina/PE e Picos/PI, uma simpática
e silenciosa senhora, com seus mais de 60 anos, atravessou todo o ônibus, da
frente à traseira, e desapareceu dentro do toalete. Pena que ela não
desapareceu também no sentido literal da palavra. Sua volta foi terrível. Com a
mesma calma que foi, ela voltou. Passo a passo, lentamente. Mas veio
acompanhada, deixando um surpreendente rastro do “cheiro” da coisa que ela
tinha acabado de produzir no vaso sanitário. E que coisa!

Acredite: o ônibus parou no meio do nada, em pleno sertão de
Pernambuco (ou Piauí, não sei), com as portas e janelas abertas. O motivo:
dissipar um pouco daquilo que a senhora tinha produzido. Vamos embora. Isso
acontece nas melhores famílias, pensei eu em tom de conformismo. Não fomos
assaltados também, que foi a melhor parte.

Asfalto, escuridão, asfalto, escuridão, aslfato… e nada de
Teresina. Nem notícia. Em meio a um e outro cochicho dos passageiros, surgia um
“ainda tem mais 200km”, ou “falta muito para Teresina ainda”. Fui
dormir. Ou melhor, o sono me pegou. Acordei próximo a Valença do Piauí, no meio
da madrugada. 200km ainda me restavam até Meca! Pensei pelo lado bom: 1.000Km
já se foram.

O dia chegou. Uma civilização maior já começava a ser
formar. Pensei: agora estou perto de Teresina! Realmente estava. Finalmente.
Eram ainda perto de 9h da manhã, pouco menos que isso.

Pouco a pouco a cidade foi crescendo, as pessoas se
multiplicando, carros indo e vindo… cheguei a Teresina. Era questão de
minutos estacionar na rodoviária e ir para o hotel. Comer e tomar um banho
decente.

E assim foi. Em poucos minutos, por volta das 9:30h, estava
em plena rodoviária de Teresina. Dentro, o termômetro marcava 37º. Caramba! Em
plena manhã já faz esse calor todo! Quero estar dentro da geladeira ao cair do
meio-dia. Mas sobrevivi. Ali na rodoviária mesmo tomei um café da manhã. Ok,
ok. Era uma coxinha com uma coca-cola.

E para onde eu iria agora? “Ora, Aluisio! Para um hotel!”. Isso eu sei, mas qual? Não havia
reservado nada. Nem sabia onde tinha. Pior: não conhecia nada naquela cidade. Ainda
bem que, alguns anos depois, ela me trouxe duas coisas maravilhosas. Mas disso
falo depois.

Olhei para frente e para os lados. Caminhei um pouco e, do
outro lado do asfalto da avenida que passava em frente à rodoviária, cerca de três
ou quatro pega pulgas, digo, hotéis. Era o jeito. Sem organização, não tem
escolha. E fui. Em qualquer um deles eu estaria bem servido (ou mal servido,
como queiram).

No primeiro que cheguei, perguntei o preço da diária, olhei
rapidamente o “aposento” e decidi ficar. Ora, era apenas uma noite. Domingo eu
iria embora, caso houvesse passagem. Logo à tardinha.

O quarto do hotel era razoavelmente sinistro. Não tanto
quanto o banheiro, que se entrava apenas quase de perfil. Foi uma das noites
mais mal dormidas que já tive na vida. Sono “aperriado”, como diria o matuto.
Mas dormi. Mesmo já começando a sentir saudade da poltrona cheirosa do ônibus. Pensar
na minha cama me faria até chorar naquela hora.

No outro dia, o dia da prova, acordei cedo. Não era
ansiedade. Era a cama mesmo. Tomei café da manhã… calma! Na rodoviária! Não me
arrisquei a comer nada naquele hotel. Voltei e esperei dar 8h para ir ao local
de prova. Local que eu nem imaginava onde era. Já imaginou se ele fosse do
outro lado da cidade? Daria tempo chegar? Perguntei à recepcionista do hotel e
ela me falou que era numa faculdade próxima, a 10 minutos de taxi. Ok, vou
chamar um taxi então.

Taxi? Algo raro na cidade naquele dia. Com a greve dos ônibus,
Taxi era artigo de luxo. O jeito foi ir de moto-taxi, embora eu seja
radicalmente contra esse tipo de transporte. Peguei um que consegui encontrar
na rodoviária e me “danei” para a bendita faculdade. Puxei R$ 20,00 reais do
bolso e recebi R$ 5,00 de volta, tendo andado menos de 2km. Esperei a “outra”
parte do troco. Que não veio.

“Quanto é a corrida,
meu caro?”,
perguntei eu ao “choffeur”. “Cum essa greve, a corrida tá R$ 15,00, parceiro. Dia normal é R$ 4,00. Mas
sabe, né
?”. E uma risada de ironia consumiu meu humor por um bom tempo. Onde
está o PROCON nessas horas… Vamos fazer prova. É para isso que estamos aqui. Com
meu primeiro salário eu recupero esses R$ 11,00 de prejuízo.

No local de prova, tudo correu tranquilo, inclusive a prova.
Estava boa. Dentro daquilo que eu estudei e esperava. Não passei, mas foi uma
boa experiência, já que esse foi, oficialmente, meu primeiro concurso da área
fiscal. Ainda fiz mais de 60% da prova, salvo melhor juízo.

Ao final da prova, restava voltar para o hotel, comprar
passagem e ir embora à tarde para Recife. Já imaginou quanta gente deve ter
comprado passagem naquele dia para voltar para casa? Não deu outra. Ao chegar
na rodoviária, só restava passagem de volta de 22h. Os outros ônibus estavam
lotados. E o guichê mandou eu pensar apenas uma vez, ou seria tarde demais.
Obedeci. Comprei para as 22h.

Antes disso, vi chover em Teresina e o calor, depois da
chuva, triplicar. Isso, por volta das 17h da tarde. Que terra quente. E era
chuva com força. Chuva do pingo grosso, daqueles que doem nas costelas.

Às 22h, meu ônibus saiu da rodoviária. Lotado. A longa e
cansativa viagem de volta estava à minha frente. Apesar de tudo, voltei são e
salvo. No mais, só um quase acidente na estrada com o ônibus que voltei. Nada de
mais. Sobrevivi. Após longas 16hs, estava de volta à Veneza Brasileira. Tudo
que eu queria era reencontrar minha cama e dormir por um bom tempo. Nunca
pensei que teria tanta saudade dela um dia. Foi-se mais uma batalha na vida de
um concurseiro aposentado.

Essa “pequena” prosa foi para mostrar um pouco do que é a
organização na nossa vida de concurseiro. Que vai muito além de uma prateleira
arrumada ou um caderno com etiquetas separando as matérias. É estudar com
profissionalismo. O mundo dos concursos já não é mais para amadores, mas para
pessoas com objetivo e foco, determinadas com a vitória. Ou a caminhada terá
muitos “hotéis” iguais ao que eu fiquei.

Trace seu caminho, sua meta. Estabeleça objetivos e,
principalmente, muita disciplina. Ao menos nos concursos, ditos, tops, é assim. Salvo raras exceções,
claro. Eu sempre estive fora das exceções, confesso.

Quanto à Teresina, finalizando, quatro anos depois, outros
motivos me fariam voltar muitas e muitas vezes à terra do Cabeça de Cuia. Nada
de CTN, de CF/88, de aulas, nada disso. Outros motivos não, o motivo: Michelle.
Jamais imaginei que Teresina guardava a mulher por quem eu ia me apaixonar e amar de
verdade.

Até a próxima, amigas e amigos concurseiros!

E não esqueçam que estou torcendo pelo sucesso de todos nas
empreitadas “concurseirísticas” da vida!

Abraço! Tudo de bom e bons estudos!

Aluisio Neto

Posts recentes

Concurso SEMED Maricá: veja os recursos possíveis!

Após a aplicação das provas do concurso SEMED Maricá (Secretaria de Educação do Município de Maricá)…

4 horas atrás

Concurso Barueri Saúde: saíram os gabaritos preliminares

Estão disponíveis os gabaritos preliminares das provas do concurso Barueri Saúde, prefeitura localizada no estado…

6 horas atrás

Concurso Guarda de Arcoverde: confira o gabarito

Está disponível o gabarito preliminar das provas do concurso Guarda de Arcoverde, município localizado no…

6 horas atrás

Concurso Guarda de Parnamirim: gabarito divulgado

Está disponível o gabarito das provas do concurso Guarda de Parnamirim, município do Rio Grande…

6 horas atrás

Dia da Defensoria Pública – 19 de maio: da assistência judiciária à assistência jurídica internacional

Conheça um pouco a história da defensoria pública, como surgiu, suas vertentes e o porquê…

10 horas atrás

Gabarito Extraoficial DEPEN PR: confira a correção!

Neste domingo, 19 de maio, foram aplicadas as provas do concurso DEPEN PR (Secretaria de…

11 horas atrás