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Recurso + Gabarito Extraoficial e comentários das questões de Economia do TCDF (ACE)

EDIT em 24/2/2021: com a divulgação do gabarito preliminar, eu e Cebraspe divergimos da questão que, nesse caderno, é a número 133. Abaixo você encontrará uma proposta de recurso

A prova objetiva de Economia do TCDF acabou de ser aplicada. Uma prova difícil, como era esperado, mas também condizente com o edital e com poucas questões polêmicas. Isso, claro, antes do gabarito oficial.

Vamos direto aos meus comentários, com a observação de que sua prova pode ter numeração diferente.

Gabarito: Certo

Comentários: A função de utilidade fornecida é típica de substitutos perfeitos, e por isso a taxa marginal de substituição (TMS) pode ser obtida pela razão entre os números que multiplicam cada bem, ou seja: 5/2.

Isso significa que o consumidor sempre poderá trocar 5 maçãs por 2 bananas, mantendo constante seu nível de utilidade.

Um detalhe é que a TMS é sempre negativa, então rigorosamente seu valor é “-5/2”, mas a omissão do sinal é normal, e o Cebraspe costuma mesmo expressá-la pelo valor absoluto, ou seja, o gabarito deve ser “Certo”.

Gabarito: Certo

Comentários: Essa talvez seja a menos polêmica, sem qualquer margem para ambiguidade. A TMS é um número constante (5/2), ou seja, não depende da quantidade de cada um dos bens, e isso significa que eles são substitutos perfeitos.

Em outras palavras, são chamados de substitutos perfeitos bens cuja TMS é constante. Perceba que ela não precisa ser igual a 1. Basta ser o mesmo número ao longo de toda curva de indiferença.

Gabarito: Errado (gabarito preliminar Cespe: “Certo”)

Comentários: A empresa possui um orçamento de 4 unidades monetárias. Isso significa que ela irá maximizar a produção para o nível de custo dado, de 4 unidades monetárias. Sendo assim, este é seu custo total:

CT = 4

A função Cobb-Douglas nos diz que a empresa gastará o mesmo montante com cada um dos bens. Ou seja, podemos verificar a quantidades utilizadas de cada insumo assim, sendo “r” o custo do capital e “w” o custo dos salários:

K = 0,5 . (CT/r) = 0,5 . (4/1) = 2

L = 0,5 . (CT/w) = 0,5 . (4/2) = 1

Portanto, ao maximizar a produção para o custo de 4 unidades monetárias, a empresa utiliza 2 unidades de capital e 1 unidade de trabalho, e produz:

Y = (K.L)1/2 = (2.1)1/2 = 21/2

Com o custo total (4) e a quantidade produzida (Y), descobrimos o custo médio (CMe):

CMe = CT / Y

CMe = 4 / 21/2 = 2,828427

Note que o custo marginal exigiria que calculássemos o custo em função da quantidade produzida, mas já temos o suficiente para o gabarito.

Recurso:

Atenção: não “copie e cole” o recurso, sob pena de ele ser indeferido automaticamente pela banca. Reelabore com suas palavras, acrescente e retire trechos. Assim temos chances de a banca corrigir o gabarito.

A banca considerou verdadeira a afirmação de que os custos médio e marginal de longo prazo seriam de 4 unidades monetárias. Ora, esse é valor do custo total, e a afirmação só seria verdadeira em relação ao custo médio caso a empresa produzisse uma única unidade. Tal nível de produção seria “não ótimo”, como demonstra-se a seguir:

A função Cobb-Douglas nos diz que a empresa gastará o mesmo montante com cada um dos bens. Ou seja, podemos verificar a quantidades utilizadas de cada insumo assim, sendo “r” o custo do capital e “w” o custo dos salários:

K = 0,5 . (CT/r) = 0,5 . (4/1) = 2

L = 0,5 . (CT/w) = 0,5 . (4/2) = 1

Portanto, ao maximizar a produção para o custo de 4 unidades monetárias, a empresa utiliza 2 unidades de capital e 1 unidade de trabalho, e produz o nível ótimo de:

Y = (K.L)1/2 = (2.1)1/2 = 21/2 = 1,414213562 (aproximadamente)

Com o custo total (4) e a quantidade produzida (Y), descobrimos o custo médio (CMe):

CMe = CT / Y

CMe = 4 / 21/2 = 2,828427 (aproximadamente)

Em relação ao custo marginal de longo prazo, sabe-se que será igual ao custo marginal de curto prazo, qual seja: 2y = 2,828427 – tornando a questão errada também a esse respeito.

O custo marginal de longo prazo em qualquer nível de produção y tem de ser igual ao custo marginal de curto prazo associado ao nível ótimo de tamanho de fábrica para produzir y.

Varian, Hal. Microeconomia . Elsevier Editora Ltda.. Edição do Kindle.

Dessa forma, solicita-se respeitosamente a alteração do gabarito preliminar de “Certo” para “Errado”.

Gabarito: Errado (edit: Cebraspe colocou “certo” no gabarito preliminar)

Comentários: Se multiplicamos o custo médio pela quantidade (Y), obtemos o custo total. Nesse caso, obtemos:

CT = 2y2+1

Observe que o custo fixo, ou seja, o custo com capital que não varia conforme a quantidade produzida, é igual a 1 unidade monetária. Como esse é o preço de uma unidade de capital, a questão só estaria correta se indicasse que a firma usa uma unidade de capital. E ela não fez iso.

Na verdade, se fizermos a suposição de que a empresa está otimizando a quantidade de capital (embora não possa variar essa quantidade, pois aqui é “curto prazo”), sabemos que ela deveria utilizar 2 unidades de capital, pelos cálculos da questão anterior.

Resumindo: não podemos saber a função de custo total médio de curto prazo sem sabermos a quantidade do fator fixo disponível. Parece-me que o Cebraspe esqueceu de informar, ou propositalmente tornou a questão impossível, como costuma fazer em questões desse tipo. Ou é algo que eu mesmo não estou vendo…

De toda forma, calculamos:

CT = r.K + w.L

Onde:

CT: Custo total

r: remuneração do fator capital

K: quantidade de capital

w: remuneração do fator trabalho

L: quantidade do fator trabalho

Atribuindo os valores de “w” e “r” fornecido pelo enunciado, ficamos com:

CT = 1.K + 2.L

CT = K + 2.L

Considerando, como é habitual, que “K” é o fator fixo, já que a questão trata do curto prazo, resta definir “L” em função da quantidade produzida:

L = y2/K

E, portanto, o custo total passa a ser:

CT = K + 2y2/K

Assim, conclui-se que a função de custo médio fornecida pelo enunciado só é verdadeira no caso específico de a empresa operar com uma unidade de capital, pois assim:

CT = 1 + 2y2

CMeCP = 1/y + 2y

Contudo, tal quantidade de capital de uma unidade é apenas uma entre inúmeras possíveis, e não foi prevista pelo enunciado, como a banca fez em questão muito semelhante na prova da ABIN em 2018:

Oficial de Inteligência/Área 2
A função produção de uma firma é descrita por Y = K1/2 L1/2, em que Y é produto, L é a quantidade de trabalho e K é o estoque de capital. Sabendo que, nessa firma, o salário é w = 4 e a remuneração do capital é r = 1, julgue o item seguinte.

Se K = 2, então o custo total médio de curto prazo será igual a Y² + 2.

Ademais, calcula-se que a quantidade ótima de capital de longo prazo é de duas unidades, e se adotássemos como verdadeira a razoável suposição de que a empresa estivesse otimizada para longo prazo, ainda que atuando com o fator capital fixo, teríamos:

CT = 2 + 2y2/2

CT = 2 + y2

CMeCP = 2/y + y

Gabarito: Errado

Comentários: A teoria keynesiana considera a velocidade de circulação da moeda fixa. Por isso, já considero a questão errada. Contudo, se admitíssemos a quebra dessa premissa, teríamos um deslocamento da curva LM, com efeito semelhante ao aumento da oferta monetária. Ou seja, mesmo assim, não é o deslocamento da função consumo que provoca a elevação da demanda agregada, mas sim o aumento da oferta monetária que reduz os juros, elevando os investimentos e, aí sim, elevando a demanda agregada.

Gabarito: Errado*

Comentário: coloquei errado com ressalvas.

Ao fixar a taxa de juros, o Banco Central irá responder à política fiscal expansionista com uma política monetária também expansionista, para evitar que os juros subam, e isso ampliará o efeito sobre o produto.

Por outro lado, a definir a oferta de moeda sem considerar o nível de juros, não ocorreria, necessariamente, esse reforço da política monetária. Pelo contrário, poderia até mesmo ocorrer contração da oferta de moeda para evitar a elevação nos preços, reduzindo o efeito do aumento dos gastos.

A ressalva é porque em circunstâncias muito específicas (armadilha da liquidez), as taxas de juros não tenderiam a subir. Mas como é uma exceção, não acredito que mude o gabarito.

Gabarito: Certo

Comentários: O caso aqui é que o governo está gastando demais, e precisa reduzir seus gastos. Mas se ele fizer isso, pode acabar agravando a recessão, ao retirar parte dos estímulos da economia. Para evitar que isso ocorra, a política monetária expansionista pode (atenção ao “pode”) ser utilizada, atenuando os efeitos recessivos da política fiscal contracionista.

Gabarito: Errado

Comentários: tudo certo, exceto quanto aos juros. A política fiscal contracionista tende a provocar queda na taxa de juros, devido ao deslocando para a esquerda da curva IS ao longo da LM positivamente inclinada.

Gabarito: Certo

Comentário: novamente tem a ver com os juros.

A política monetária expansionista reduz os juros, e isso estimula os investimentos.

Enquanto a política fiscal elevar os juros, desestimulando os investimentos. É o efeito deslocamento, ou “crowding-out”.

Gabarito: Errado

Comentários:

O déficit orçamentário ocorre quando o investimento público é superior à poupança pública. Mas isso não está ocorrendo. Tudo o que podemos concluir, nesse caso, é que:

Ipub + Ipriv = Spriv + Spub + Sext

Ipub + Ipriv = Spriv + Spub + Sext

0 = Spub + Sext

Ou seja, o governo pode inclusive estar obtendo poupança pública positiva e com isso financiando o resto do mundo.

Gabarito: Errado

Comentário: Esse conceito estaria correto para superávit nominal, esse sim considera todas as receitas e despesas. O primário NÃO considera gastos com pagamentos de juros.

Gabarito: Certo*

Comentários: coloquei uma pequena ressalva, porque com exceção de um breve período em 2019 (pré-pandemia), houve desaceleração no crescimento da dívida. Mas não acredito que seja o bastante para invalidar a questão.

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