“Chegou um momento em que eu estava esgotada emocionalmente e intelectualmente, a ponto de chorar em cima do material. Simplesmente não conseguia mais estudar. Então, fiquei muito frustrada e triste por não conseguir seguir na reta final, chorei dias e dias, pensei em desistir, mas fui fazer a prova mesmo assim, sem expectativa alguma (…) Acabei passando e levando comigo a lição da resiliência, ou seja, quando tudo estiver dando errado, persista. “
Confira nossa entrevista com Raquel Castro, aprovada no concurso do TRT 15, para o cargo de Oficial de Justiça, polo Bauru.
Estratégia Concursos: Conte-nos um pouco sobre você, para que nossos leitores possam te conhecer melhor. Você é formada em que área? Qual sua idade? De onde você é?
Raquel Castro: Sou formada em Direito pela UFRJ desde 2013, tenho 29 anos e sou de Niterói, cidade metropolitana do Rio de Janeiro.
Estratégia: O que te levou a tomar a decisão de começar a estudar para concursos?
Raquel: Durante a faculdade minha família e eu passamos por problemas financeiros que me levaram a optar por esse caminho de concursos públicos. Naquela época, um tio meu, que admiro muito, tinha passado para a CGU e eu me inspirei nele para tentar melhorar a minha vida.
Estratégia: Durante sua caminhada como concurseira, como conciliava trabalho e estudos? Ou se dedicava inteiramente aos estudos para concurso?
Raquel: Quando passei no meu primeiro concurso, meu único compromisso era a faculdade. Já quando comecei a estudar para oficial de justiça, em meados de 2015, eu já estava trabalhando. Porém, em julho de 2017 tirei uma licença para interesses particulares (sem vencimentos) para apenas estudar. Embora “só estudar” tenha sido uma opção para mim, eu sei que não é para muitas pessoas. Por isso, acho muito importante que o leitor concurseiro entenda que conciliar trabalho com os estudos ou viver apenas para estudar não são os fatores determinantes da aprovação, mas sim a disciplina. Na minha trajetória, pude ver pessoas que dispunham de um dia inteiro para estudar que não conseguiam valorizar essa oportunidade, enquanto outras, que tinham apenas 3 ou 4 horas diárias de estudos, passavam nos mais difíceis certames. Portanto, tudo depende da disciplina mesmo.
Estratégia: Quantos e em quais concursos já foi aprovada? Qual o último? Em qual cargo e em que colocação?
Raquel: Já fui aprovada em 3 concursos: assistente em administração da UFRJ (8º lugar), técnico administrativo do Colégio Pedro II (19º lugar) e oficial de justiça do TRT 15, região de Bauru (13º lugar).
Estratégia: Qual foi a sensação ao ver seu nome na lista dos aprovados?
Raquel: Ter visto meu nome no diário oficial foi muito emocionante, pois foi uma realização pessoal: apesar de tudo, cumpri a promessa feita a mim mesma de que eu passaria.
Estratégia: Como era sua vida social durante a preparação para concursos? Você saía com amigos, família, etc? Ou adotou uma postura radical, abdicando do convívio social?
Raquel: Fui bastante radical e não tinha vida social, mas não recomendo essa loucura para todas as fases pelas quais os concurseiros passam. Só acho válida a dedicação total e exclusiva quando houver edital publicado. Digo isso porque acabei aprendendo que, por mais que a gente planeje a nossa vida, nós não temos o controle de tudo. O mundo não vai parar de girar para nos esperar realizar nossos sonhos e problemas podem e vão cair do céu. Acredito que devemos levar o estudo com seriedade sim, mas com equilíbrio podemos evitar nos frustrar com as intempéries.
Estratégia: Você é casada? Tem filhos? Namora? Mora com seus pais? Sua família entendeu e apoiou sua caminhada como concurseira? Se sim, de que forma?
Raquel: Namoro há 4 anos e ele é dos concursos também, acredito que concurseiros se entendem melhor. Eu sempre tive muito apoio e compreensão do meu namorado para tudo. Inclusive, nos momentos mais difíceis que precisei enfrentar, ele me ajudou a não desistir e acreditou em mim, muito mais do que eu mesma. Além disso, moro com meus pais, que também me apoiaram muito. Por exemplo, até infartar, meu pai me levava e me buscava todos os dias na sala de estudos. Minha mãe que às vezes me pedia um pouco mais de atenção, mas todos compreendiam o meu esforço no geral e eu tenho muita gratidão pela minha família.
Estratégia: Você acha que vale a pena fazer outros concursos, com foco diferente daquele concurso que é realmente seu objetivo maior? Se esse ainda não é o concurso dos seus sonhos, citar qual é, se pretende continuar se preparando para alcançar esse objetivo.
Raquel: Meu sonho é ser juíza federal. A ideia de fazer concursos degraus é péssima e, se fosse possível voltar no tempo, eu não teria escolhido fazer isso. Digo isso porque o estudo e as provas para carreiras jurídicas são absolutamente diferentes de estudos e provas para atividades meio, mas demandam a mesma dedicação e disciplina. A gente acha que o concurso que paga menos é mais fácil de passar e quando vê está estudando há 2 ou 3 anos para ele, mas depois passa e precisa começar do zero um outro projeto e passar mais 3 ou 4 anos estudando. Logo, o ideal é se sacrificar uma vez só e depois se aposentar dos concursos.
Estratégia: Você estudou por quanto tempo direcionado ao concurso que foi aprovada?
Raquel: Para oficial de justiça, estudei dois anos.
Estratégia: Chegou a estudar sem ter edital na praça? Durante esse tempo, como você fazia para manter a disciplina nos estudos?
Raquel: Sim, pois a disciplina deve existir com e sem edital. Não dá para deixar para começar a estudar quando um edital é publicado, inclusive se o leitor pensa assim já está fazendo errado. Hoje em dia, concursos são duelos de titãs, pois as pessoas estão praticamente gabaritando as provas inteiras. Então, não podemos nos enganar e acreditar que nos 2 meses entre o edital e a prova será possível nos prepararmos para entrar na briga, se não tivermos bagagem prévia de conhecimento e experiência, porque não vamos. Sinto muito.
Estratégia: Que materiais você usou em sua preparação para o concurso? Aulas presenciais, telepresenciais, livros, cursos em PDF, videoaulas? Quais foram as principais vantagens e desvantagens de cada um?
Raquel: Comecei a estudar lendo livros das matérias trabalhistas e foi um erro. Perdi muito tempo com isso e depois a Reforma Trabalhista mudou tudo. Então, recomendo os cursos em PDF fortemente. Primeiro porque os cursos em PDF têm todo o conteúdo do edital objetivamente explanado, com exercícios e resumos. Depois, porque ler o material exige mais concentração do que só assistir aula. Quando eu já estava mais afiada na matéria, percebi que a discursiva era o que realmente estava me impedindo de passar e fiz todos os cursos do mercado voltados para isso, alguns de rodadas e correções individuais e outros com vídeos, achei válido investir nisso também.
Estratégia: Como conheceu o Estratégia Concursos?
Raquel: Conheci o Estratégia Concursos através de amigos concurseiros que o recomendavam bastante. Acabei adquirindo um pacote basicão de TRT, vi que valeu a pena e me mantive com o Estratégia até o final. Investi em módulos de exercícios, aulões, matérias isoladas… Enfim, realmente o material e os professores me guiaram e me ajudaram a alcançar a aprovação.
Estratégia: Uma das principais dificuldades de todo o concursando é a quantidade de assuntos que deve ser memorizada. Como você fez para estudar todo o conteúdo do concurso? Falando de modo mais específico: você estudava várias matérias ao mesmo tempo? Quantas? Costumava fazer resumos? Focava mais em exercícios, ou na leitura e releitura da teoria? Como montou seu plano de estudos? Quantas horas por dia costumava estudar?
Raquel: Eu acredito que existem fases diferentes com determinadas missões pelas quais devemos passar, como uma espécie de vídeo game. Ou seja, cada momento do concurseiro vai exigir um estudo diferente dele. Então, no geral, a primeira fase é a do aprendizado, em que há a completa ignorância dos assuntos. O que costumo falar para as pessoas que estão começando é: comece do começo. Não sugiro a concurseiros nesta fase estudar mais de uma matéria por dia ou por vez. Entendo ser melhor fazer uma espécie de imersão em cada uma das matérias, por isso o meu plano de estudos aqui era ler uma apostila por dia, até acabarem. Dessa forma, eu tinha certeza de que quando acabasse, eu teria visto toda a matéria do edital. Fiz resumos de algumas matérias também. Estudava por volta de 5 horas por dia nessa fase.
Depois, a próxima fase é a da absorção. Aqui, o concurseiro deve ler apenas o material base (resumos) ou reler as apostilas que julgar mais importantes, bem como ler as leis secas e fazer muitos exercícios. Aqui o concurseiro pode estudar mais de uma matéria por semana, mas ainda não recomendo mais de uma matéria por dia. A partir daqui eu já estava licenciada para apenas estudar e já fazia 11 horas por dia, mas isso é extremamente relativo e não significa que alguém que estude menos horas não passará nunca. Por fim, fase do combate, quando sai o edital. Nessa fase, o concurseiro deve dar um sprint, ou seja, fazer o seu máximo, com muita velocidade. Para isso, deverá ler apenas os resumos, a lei seca e fazer muitos exercícios. Agora sim é a hora de estudar mais de uma matéria por dia e deixar a vida social de lado.
Estratégia: Você tinha mais dificuldade em alguma disciplina? Como você fez para superar?
Raquel: Minha maior dificuldade era a parte discursiva da prova, geralmente estudos de casos. Para superar essa dificuldade, fiz muitos cursos voltados para questões discursivas e simulados, bem como reservava horários na minha grade só para isso.
Estratégia: A reta final é sempre um período estressante. Como foi sua rotina de estudos na semana que antecedeu a prova? E véspera de prova: foi dia de descanso ou dia de estudo?
Raquel: Geralmente, eu estudo na véspera da prova em aulão presencial ou pela internet. Quando a prova é no período da tarde, eu estudo até no dia da prova de manhã. Porém, no caso do TRT-15, eu descansei na véspera porque eu achava que não iria passar.
Estratégia: No seu concurso, tivemos, além das provas objetivas, as provas discursivas. Como foi seu estudo para esta importante parte do certame? O que você aconselha?
Raquel: As discursivas nas provas de oficial de justiça, analista e técnico de tribunais são a grande peneira dos concursos. Isso acontece porque o estudo para essas provas é muito pragmático, com muita leitura de lei seca, e chega uma hora em que todo mundo gabarita quase tudo. Então, para essa fase, eu recomendo muito treino, fazer simulados e cursos com correções individuais.
Estratégia: Se você tivesse que apontar ERROS em sua preparação (se é que houve), quais seriam? Diga-nos também quais foram os maiores ACERTOS?
Raquel: Meus maiores erros foram ler livros de Direito do Trabalho e Processo do Trabalho, pois perdi uns 6 meses nisso, e não ter treinado para as discursivas desde o começo.
Por outro lado, meus maiores acertos foram usar as apostilas do Estratégia e participar dos seus aulões de véspera, quando os professores conseguiam prever várias questões.
Estratégia: O que foi mais difícil nessa caminhada rumo à aprovação? Chegou a pensar, por algum momento, em desistir? Se sim, como fez para seguir em frente?
Raquel: No final de 2017, eu tinha me prometido estudar como nunca estudei antes na vida e que eu conseguiria ser aprovada para oficial de justiça em 2018, uma vez que havia previsão de uma penca de TRTs para o próximo ano. Então, praticamente passei a morar numa sala de estudos, aonde eu chegava 07:30 da manhã e só saía às 20:00, todos os dias, inclusive finais de semana, feriados, aniversários, copa do mundo… Além de estudar 11 horas por dia, eu ainda fui a todos os aulões de véspera das provas que foram surgindo, bem como fiz todos os cursos de discursiva do mercado e tinha como meta fazer 100 questões por dia. Eu estava numa fase muito obcecada, confesso.
Contudo, depois de 8 meses nessa maratona e faltando um mês para a prova que eu mais queria, o TRT-15, meu pai infartou e precisou realizar duas cirurgias. Como essa prova já havia sido suspensa por causa da greve dos caminhoneiros, eu já estava muito estressada por isso, mas somando o infarto do meu pai, que quase o levou a óbito, eu me desesperei e me desestabilizei. Até persisti por mais uma ou duas semanas na sala de estudos. Contudo, chegou um momento em que eu estava esgotada emocionalmente e intelectualmente, a ponto de chorar em cima do material. Simplesmente não conseguia mais estudar. Então, fiquei muito frustrada e triste por não conseguir seguir na reta final, chorei dias e dias, pensei em desistir, mas fui fazer a prova mesmo assim, sem expectativa alguma, principalmente porque meu namorado insistiu. Fiz a prova, afinal já estava tudo pago, e achei que foi uma das mais difíceis que precisei encarar para esse cargo. Acabei passando e levando comigo a lição da resiliência, ou seja, quando tudo estiver dando errado, persista.
Estratégia: Qual foi sua principal motivação?
Raquel: Minha principal motivação foi a expectativa de uma vida nova, melhor e com mais possibilidades.
Estratégia: Por fim, o que você aconselharia a alguém que está iniciando seus estudos para concurso. Deixe-nos sua mensagem para todos aqueles que um dia almejam chegar aonde você chegou!
Raquel: Se você está iniciando agora, entenda que não será rápido e não será fácil, mas valerá a pena cada segundo dedicado e cada “não posso ir porque tenho que estudar” que você disser. Não importa quantas horas você tenha para estudar, não importa os problemas que você tenha que enfrentar, com disciplina você vai conseguir! Não se compare com ninguém além de você mesmo. Boa sorte!
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