“A falta de tempo pode ser desafiadora para quem não tem o privilégio de viver para estudar, mas é melhor duas horas de estudo eficaz do que um dia todo mal aproveitado. Às vezes, o pouco é mais”.
Confira nossa entrevista com a Francis Emmanuelle Alves Vasconcelos, aprovada em 2º lugar no concurso TJ PA (Tucuruí) para o cargo de Analista Judiciário, especialidade em Serviço Social:
Estratégia Concursos: Você é formado em que área? Qual sua idade? De onde você é?
Francis Emmanuelle Alves Vasconcelos: Sou graduada em Serviço Social pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Mestra e Doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Tenho 34 anos. Sou de Fortaleza, Ceará.
Estratégia: O que te levou a tomar a decisão de começar a estudar para concursos?
Francis Emmanuelle: Primeiro, a forte influência do meu irmão mais velho, aprovado no cargo de Analista Administrativo do Tribunal Regional Federal (TRF).
Segundo, a instabilidade financeira das empresas privadas. Hoje você pode ser muito útil em uma empresa, mas pode deixar de ser amanhã. Tenho vários exemplos familiares de pessoas que passaram 15, 20 anos trabalhando para uma empresa e, perto da aposentadoria, foram demitidos. Eu não queria passar por isso.
Terceiro, a própria necessidade financeira. Tive bolsa de mestrado, depois doutorado. Na iminência de perder a bolsa, passei a dedicar-me mais aos concursos também.
Além disso, gostaria de poder proporcionar ao meu filho, boas escolas, plano de saúde e lazer. Também queria a sensação de estabilidade que o concurso proporciona. Não é apenas uma estabilidade financeira, mas emocional. A sensação de que todo dia primeiro o salário estará na conta; de que terei direitos por meio de um estatuto, etc. Além de trabalhar com a profissão que gosto.
Estratégia: Durante sua caminhada como concurseira, você trabalhava e estudava, ou se dedicava inteiramente aos estudos para concurso?
Francis Emmanuelle: Comecei a estudar para concursos em 2006. Desde então, trabalhava. Boa parte desse tempo trabalhei como professora universitária. Então, eu ia nas faculdades, dava horas de aula e voltava. Tinha um tempo mais flexível.
Estratégia: Quantos e em quais concursos já foi aprovada? Qual o último? Em qual cargo e em que colocação?
Francis Emmanuelle: Já fiz, ao todo, 20 seleções e concursos públicos.
Concursos públicos: Curso de Formação de Oficiais do Corpo de Bombeiros/CE (CFO); INSS – Técnico (22º); IF Iguatu; UNILAB; UECE (Professora adjunta, 4º lugar na 1ª fase); Prefeitura de Caucaia/CE; INSS (Técnico e Analista em Serviço Social); Prefeitura de Viçosa/CE (43º); CAPS/Fortaleza (106º); EBSERH (59º); IFPA (52º); DPU (54º); MP/CE.
Seleções públicas: UECE (Professora substituta por 2 vezes sem êxito); SMS/Fortaleza (34º).
Desses, já fui aprovada em 3 concursos públicos: Prefeitura de Aracati/CE (11º), Prefeitura de Juazeiro do Norte/CE (3º) e, mais recentemente, no Tribunal de Justiça do Pará em 2º lugar para a 21º região judiciária de Tucuruí.
Estratégia: Qual foi sua sensação ao ver seu nome na lista dos aprovados/classificados(as)?
Francis Emmanuelle: Felicidade, esperança, gratidão…
Estratégia: Como era sua vida social durante a preparação para concursos? Você saía com amigos, família, etc? Ou adotou uma postura radical, abdicando do convívio social?
Francis Emmanuelle: Eu gostaria muito de ter uma vida totalmente voltada para os estudos, mas minha realidade sempre estava aquém disso. Eu não tinha esse privilégio.
Quando não era casada, nem tinha filhos, com muitas horas livres para estudo, não aproveitava bem o tempo. Não era produtivo. Só passei a ter melhores resultados quando meu tempo era exíguo. Nas horas em que meu filho dormia, praticamente no escuro, eu estudava. Foi só depois da maternidade, com tempo cronometrado, que passei a aproveitar melhor o tempo. Duas horas passavam a ser bem mais produtivas do que as 6 horas que eu pudesse estudar quando não tinha tantas responsabilidades.
Estratégia: Você é casada? Tem filhos? Namora? Mora com seus pais? Sua família entendeu e apoiou sua caminhada como concurseira? Se sim, de que forma?
Francis Emmanuelle: Sou divorciada. Tenho um filho de 3 anos autista. Moro com minha mãe e meu filho.
Minha família sempre me apoiou nesse percurso. Meu irmão, pela própria experiência de ascensão financeira e social. Ele era servidor público (agente administrativo) na prefeitura de Fortaleza e ganhava um salário mínimo. Tem mais de 30 concursos públicos nas costas. Mesmo estando no TRF, ainda estuda para outros concursos. Então, ele era um exemplo de superação, no qual eu me espelhava. Ele e minha mãe deram apoio emocional e financeiro para estudar. Ele chegou a pagar cursinhos para mim. Minha mãe ficava com meu filho para eu poder estudar. O pai do meu filho também.
Estratégia: Você acha que vale a pena fazer outros concursos, com foco diferente daquele concurso que é realmente seu objetivo maior?
Francis Emmanuelle: Sim. Às vezes, a profissão que você escolhe não te dá o retorno financeiro que você precisa ou esperou. Ser graduado ou pós-graduado não te dá a certeza de que você terá um emprego ou será concursado. Por muito tempo, foquei muito em concursos para minha cidade. Não abria os olhos para concursos na região interiorana do meu estado, quiçá para outro estado. Hoje tenho a mente mais aberta para concursos em outras áreas e, inclusive, de ensino médio.
O concurso dos meus sonhos seria a área sociojurídica aqui em Fortaleza (Tribunal de Justiça, Ministério Público ou Defensoria Pública). Quem entra no mundo dos concursos, dificilmente para em um. Torna-se como um hábito estudar para concurso. Você quer sempre mais.
Estratégia: Você estudou por quanto tempo direcionado ao concurso em que foi aprovada?
Francis Emmanuelle: Eu acredito que a cada concurso eu fui agregando valor para o próximo. A cada prova eu saía mais fortalecida, mais estudada, mais tarimbada. Já vinha estudando desde 2019 para as carreiras sociojurídicas, daí quando saiu o edital para o TJ, foquei na parte de conhecimentos básicos e fui revisando o que já sabia de conhecimentos específicos.
Estratégia: Chegou a estudar sem ter edital na praça? Durante esse tempo, como você fazia para manter a disciplina nos estudos?
Francis Emmanuelle: Sim. Passei a focar em áreas, como as jurídicas, senão iria me perder.
Estratégia: Como conheceu o Estratégia Concursos?
Francis Emmanuelle: Em conversa com outros concurseiros, quando ainda estava iniciando a trajetória nos concursos. Lembro que a pessoa me questionou: mas você estuda para concurso e não conhece o Estratégia?! Fiquei intrigada. Isso em 2014. Depois fui apresentada a vocês pelo meu irmão, concurseiro nato na área de tribunais. Desde então, sempre utilizo materiais do Estratégia para estudos pessoais.
Estratégia: Que materiais você usou em sua preparação para o concurso? Aulas presenciais, telepresenciais, livros, cursos em PDF, videoaulas? O que funcionou melhor para você?
Francis Emmanuelle: Antes de ter filho eu preferia os cursos presenciais. Entretanto, com o nascimento do meu filho e também quando percebi as facilidades dos cursos online, passei a optar por estes. Assim eu poderia assistir videoaulas nas minhas horas livres, tinha mais liberdade de escolha para fazer meu próprio tempo de estudo. Livros eu usava apenas quando necessário. Usei muito cursos em PDF, videoaulas. O que funcionou melhor foram cursos online, através de videoaulas e materiais em PDF, porque eu adaptava o curso à minha rotina.
Estratégia: Uma das principais dificuldades de todo concursando é a quantidade de assuntos que deve ser memorizada. Como você fez para estudar todo o conteúdo do concurso?
Francis Emmanuelle: Como eu já vinha agregando mais conteúdo em cada concurso, eu já saía de uma reprovação mais preparada para o próximo edital. Então, à medida que o tempo passava, como eu já tinha estudado muita coisa e esquematizado, eu ia estudar o que ainda não conhecia.
Eu passei a organizar meu estudo assim:
Primeiro, lia o edital e anotava todas as informações importantes, como datas, vagas, etc.
Segundo, dividia meu turno em três períodos (manhã, tarde e noite). Para cada parcela desse tempo, eu usava para um conteúdo específico. Afixava na parede do quarto essa tabela que eu denominada de CRONOGRAMA. Também verticalizava o edital e ia ticando “OK” em cada conteúdo estudado.
Passei a obter mais êxito quando passei a estudar os conhecimentos gerais. Eu me detinha nos conhecimentos específicos. Porém, passei a perceber que a maioria das pessoas que prestava concurso, fechava a parte específica. Então, percebi que não bastava saber apenas o que era específico e que tinha peso 2. Vi que não podia negligenciar a parte básica. Ou seja, eu precisava entender da engrenagem inteira para fazê-la andar.
Depois passei a perceber que, além de entender a engrenagem inteira, eu precisava saber como a banca funcionava. Já fui em muitas provas estilo Cespe sabendo muito do conteúdo, tendo “fechado edital”, mas achando que eu poderia chutar questões. Saía frustrada. Depois passei a sempre estudar e reservar uma parte desse tempo para resolver questões. Era necessário saber como a banca pensava, os assuntos mais cobrados.
Todo material estudado também, eu fazia esquemas. Tenho 5 cadernos só com esquemas-resumo. Duas semanas antes da prova fico só memorizando esquemas feitos no percurso e resolvendo questão. Não estudo mais nada novo nesse período.
Eu estudava cerca de 3 a 4 horas por dia, mas às vezes nem isso.
Estratégia: Você tinha mais dificuldade em alguma(s) disciplina(s)? Quais? Como você fez para superar estas dificuldades?
Francis Emmanuelle: Sempre tive dificuldade em RLM. Bem, ainda é uma dificuldade. Felizmente as carreiras dos tribunais não tem exigido esse conteúdo.
No início, tinha muita dificuldade em estudar leis. Iniciante, eu ia ler a lei inteira e muitas vezes me detinha em partes que nem eram muito recorrentes em prova. Com os cursos preparatórios e resolvendo questões, eu pude entender o que era mais recorrente na lei e focar nisso. Quanto à parte teórica, eu ia ler vários livros, sem foco. Vendo os autores mais cobrados nas provas é que eu pude estudar mais focado.
Estratégia: A reta final é sempre um período estressante. Como foi sua rotina de estudos na semana que antecedeu a prova? E véspera de prova: foi dia de descanso ou dia de estudo?
Francis Emmanuelle: Durante a semana da prova foquei apenas em esquemas de estudo e resolução de questões.
Na véspera da prova li meus resumos durante a tarde no hotel, mas à noite fui descansar: ver filme, deitar. Procurei nem sair do hotel e comer por lá mesmo. Sabe-se lá os imprevistos que poderiam acontecer!
Na noite anterior à prova ou na hora antes da prova, eu procuro não esquentar a cabeça com isso. Penso que é preciso uma mente relaxada para fazer a prova. O concurso que mais estudei, bati o edital, fiquei mais esperançosa, ansiosa, foi a minha maior decepção.
Percebi que o emocional é parte importante da prova. Até mesmo naquela meia hora que você está sentada lá, aguardando o início da prova, é importante manter a calma. Vão aparecer sempre as figuras carimbadas na sala: aqueles que vão dar um jeito de conversar com os concorrentes ao lado para dizer que estudam 12 horas líquidas por dia fechados em uma biblioteca; aqueles que vão falar que fulano ou cicrano tem tantos títulos que ocuparão todas as vagas. Eu me sentia logo desmotivada.
Ainda no que tange à parte emocional, eu também me sentia cobrada/pressionada, porque por 7 anos fui professora de faculdade e minhas alunas me viam na prova e já anunciavam para todos na sala e diziam que não tinham chance (às vezes eu nem tinha estudado!). Meus títulos de mestrado e doutorado nem contaram no concurso do TJ! Às vezes, até os títulos me rebaixavam. Já tive concursos nos quais fiz uma ótima prova, mas por não ter experiência na área ou residência em saúde, eu era rebaixada.
Lecionar em faculdade não me ajudou muito na minha trajetória como concurseira, porque concurso é outro mundo. Não é o espaço da problematização, da filosofia, da discussão dos casos particulares que aparecem nas salas de atendimento de uma assistente social que destoam da lei seca. A prova é objetiva: é marcar questão, é esquematizar a teoria.
Estratégia: No seu concurso, tivemos, além das provas objetivas, as provas discursivas. Como foi seu estudo para esta importante parte do certame? O que você aconselha?
Francis Emmanuelle: Treinei redação. Peguei as últimas provas discursivas do Cespe na minha área e vi o que era mais recorrente. Imprimi a folha de redação que eles utilizam. Escrevi redações cronometrando o tempo que eu levava para ter noção.
Na prova, comecei pela redação. Defini que usaria 1 hora e meia para construir minha redação. Depois, partiria para os conhecimentos básicos e, por fim, o que tinha mais domínio: específicos.
Na redação defini que escreveria 4 parágrafos, todos em torno de 4 a 5 linhas (para ficar esteticamente organizado e bonito). No primeiro, a apresentação do tema com 2 argumentos. Nos dois seguintes, o desenvolvimento dos argumentos (procurando trazer dados estatísticos e o aparato legal). No último, uma sugestão para a temática abordada.
Estratégia: Se você tivesse que apontar ERROS em sua preparação (se é que houve), quais seriam? Diga-nos também quais foram os maiores ACERTOS?
Francis Emmanuelle: ERROS:
Achar que passaria sem estudar, porque alguém me disse que conhecia alguém que conhecia outro alguém que passou sem estudar. Confiar apenas em sorte;
Deter-me apenas nos CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS, porque, geralmente, tem peso 2. Todos os candidatos que realmente se preparam para concurso irão pensar da mesma forma;
Não resolver questões. Então, eu chegava na prova acreditando que, por dominar muito o conteúdo, eu iria obter resultados satisfatórios. Ledo engano;
Querer ler muita teoria tal como aprendi na faculdade. Nós problematizamos muito a realidade social na graduação. A forma como aprendemos na faculdade não é tão válida para concursos. Isso porque nestes você tem que ter OBJETIVIDADE. Na prova a lei funciona e as opções são ABCDE ou certa e errada. Não há espaço para problematização, filosofias, questionamentos ou comparar com a realidade social.
ACERTOS:
Organização do tempo: criar uma tabela com cronograma de estudos; verticalizar edital;
Esquemas de estudo para memorização e revisão;
Cursinhos preparatórios para ter meu estudo mais focado;
Resolução de questões.
Estratégia: O que foi mais difícil nessa caminhada rumo à aprovação? Chegou a pensar, por algum momento, em desistir? Se sim, como fez para seguir em frente?
Francis Emmanuelle: O mais difícil na caminhada rumo à aprovação foi conciliar o estudo com a maternidade e o trabalho. Embora isso me esgotasse, também era meu motor.
Nos últimos três anos, que antecederam minha aprovação, eu tinha tudo para ser um fracasso nos concursos: nascimento de filho, separação e divórcio, depressão, diagnóstico de autismo do meu filho, retorno à casa da mãe, desemprego, ter que pedir exoneração de um concurso para dedicar-me ao meu filho.
Também foi difícil lidar com o desânimo que aparece em cada reprovação. Cheguei a pensar em desistir sim. O meu combustível foi poder dar uma vida melhor para o meu filho.
Estratégia: Qual foi sua principal motivação?
Francis Emmanuelle: Meu filho.
Estratégia: Por fim, o que você aconselharia a alguém que está iniciando seus estudos para concurso. Deixe-nos sua mensagem para todos aqueles que um dia almejam chegar aonde você chegou!
Francis Emmanuelle: Não desanimar na primeira reprovação. Todo bom concurseiro e concursado não passou na primeira prova. Aliás, todo bom concurseiro carrega muitas reprovações nas costas.
A falta de tempo pode ser desafiadora para quem não tem o privilégio de viver para estudar, mas é melhor duas horas de estudo eficaz do que um dia todo mal aproveitado. Às vezes, o pouco é mais.