“Muita gente fica esperando a melhor hora pra começar a estudar. Eu costumo dizer que a melhor hora pra começar a estudar é “ontem”.”
Confira nossa entrevista com Rafael Fernandes Tritany, aprovado em 01º lugar no concurso CAFAR para Farmácia Hospitalar:
Estratégia Concursos: Conte-nos um pouco sobre você, para que nossos leitores possam conhecê-lo. Quando se formou, idade e cidade natal?
Rafael Fernandes Tritany: Fomei-me em Farmácia pela UFRJ em 201. Fiz residência em Saúde da Família pela Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz. Atualmente sou mestrando em Saúde Coletiva pela UFRJ e servidor da Universidade Federal de Pernambuco. Tenho 27 anos. Nasci em São José dos Campos, minha família é toda do Rio, morei em muitos lugares. Cresci em Floripa. Passei um tempo no Rio. E hoje moro em Recife e não quero mais sair do nordeste.
Estratégia: O que te levou a tomar a decisão de começar a estudar para concursos? Desde início seu foco foi em concursos na sua área de formação?
Rafael: Minha mãe foi servidora do Ministério da Saúde a vida toda e, mesmo não ganhando tanto, possuía uma certa estabilidade financeira. Já meu pai, trabalhando na iniciativa privada, ganhava mais que ela, mas frequentemente trocava de empregos ou ficava desempregado. Esse exemplo criou em mim um anseio pela estabilidade laboral e financeira.
Mas, de fato, o maior impulso para começar a estudar foi acompanhar a trajetória da minha esposa, que também é concursada e concurseira.
Sim, nunca fiz concursos fora da minha área de formação. No máximo para técnico de farmácia, que é na área, mas com exigência de nível médio.
Estratégia: Você trabalhava e estudava? Se sim, como conciliava?
Rafael: Praticamente durante toda a minha trajetória trabalhei e estudei. Por algum período, inclusive, trabalhei, fiz mestrado e estudei para concursos ao mesmo tempo. A conciliação nunca foi fácil, muito pelo contrário, foi muito árdua. O que me ajudou foi que, na minha trajetória acadêmica, sempre tive bem claro que meu principal foco seria o estudo para concursos. Então, durante a residência, logo quando comecei a estudar, buscava sempre buracos no dia para sair mais tarde ou chegar mais cedo em casa e conseguir estudar. Depois, apesar de ter passado em 3 programas de mestrado renomados, escolhi aquele com menor carga-horária e maior flexibilidade. Entendendo que, se o concurso não desse certo, isso talvez me ajudasse a me posicionar no mercado, mas que, para isso, pouca diferença faria se o programa possuía nota 7 ou nota 5 na CAPES.
E é claro, a cereja do bolo: finais de semana, feriados, dias livres e minhas noites eram dedicadas ao estudo.
Se me perguntar se eu consegui estabelecer uma rotina saudável, eu diria que certamente não. Mas foi sustentável, pelo menos durante esses 3 anos e meio
Estratégia: Em quais concursos já foi aprovado? Em qual cargo e em que colocação? Pretende continuar estudando?
Rafael: Fui aprovado e convocado em algumas prefeituras para o cargo de técnico de farmácia (2º Lugar, Pref. de Campinas – 2019) e de farmacêutico (Pref. Peruíbe (SP) – 4º lugar, Pref. Campinas (SP) – 26º lugar, Pref. de Araruama (RJ) – 30º lugar) e também em universidades (UFPEL – 1º lugar e UFPE 2º lugar). E, mais recentemente, em 1º lugar do CAFAR – pra ser Oficial de Carreira da FAB.
Pra mim já deu, cansei de estudar pra concurso. Chega!
Estratégia: Como era sua vida social durante a preparação para concursos?
Rafael: Tive muito pouca vida social no período, isso é um fato. Em 2019, ano em que comecei, eu ainda saía de vez em quando com amigos e ia a reuniões de família, além de praticar atividade física rotineiramente. Com o início da pandemia de COVID-19, eu e minha esposa nos isolamos de tudo e todos. À época ela trabalhava remotamente e eu presencialmente. Mas saíamos de casa estritamente quando era necessário. Acho que voltamos a ter algum tipo de lazer e também voltamos a visitar familiares em 2021, mas muito esporadicamente. Ainda em 2022, continuamos evitando aglomerações e realizando encontros com familiares amigos apenas de máscaras, para nos proteger da pandemia que ainda não acabou.
Estratégia: Sua família e amigos entenderam e apoiaram sua caminhada como concurseiro? De que forma?
Rafael: Sou casado. Minha esposa também é concurseira e sempre foi minha maior inspiração. Sua garra, sua determinação, sua certeza de que iria conquistar todos os seus sonhos sempre me contagiou muito. Minha família sempre me apoiou, inclusive financeiramente quando precisei. Mas fato que a compreensão mesmo do porquê de tanta abdicação vem em cheio quando começam as aprovações de maior peso, ou resultados muito positivos.
Eu e minha esposa, por muito tempo, estudávamos juntos, ajudávamo-nos fazendo recursos, corrigindo redações. Sempre teve muita parceria envolvida. Isso quando morávamos juntos e hoje, inclusive, que moramos separados geograficamente.
Estratégia: Você estudou por quanto tempo direcionado ao último concurso? O que fez para manter a disciplina?
Rafael: Estudo para concurso desde o início de 2019, logo na metade deste ano já comecei a focar nesse concurso da aeronáutica pois o edital era relativamente enxuto e continha um núcleo duro que eu poderia aproveitar para qualquer outro concurso. O foco no sonho de ser valorizado profissionalmente e de ter um futuro mais tranquilo e com estabilidade financeira me ajudaram muito. Mas no dia a dia não é fácil. A maior cobrança que senti foi sempre a minha. Tinha dias e semanas muito difíceis, mas outras em que aprendia muita coisa nova, ia bem nas questões, etc. Os bons resultados me ajudaram muito também. Eram um feedback de que eu estava trilhando o caminho certo, mas que ajustes eram necessários.
Estratégia: Quais materiais e ferramentas você usou em sua preparação?
Rafael: Comecei com materiais gratuitos no youtube, materiais de faculdade e outros que encontrava na internet. À época eu pesquisei materiais de cursinhos online e nenhum me agradou muito. Fiquei um ano apenas com materiais gratuitos até que dei um basta e comecei a comprar alguns cursos com aulas em PDFs.
Quando passei a utilizá-los, senti uma diferença muito grande. Senti como se eu tivesse desperdiçado um ano. O conteúdo direcionado para o concurso ajudou muito. Mas a disponibilidade de bons materiais focados em concurso ainda é bem limitada na área de farmácia.
Sempre fui contrário ao uso de livros-texto para estudar para concurso. Demora muito, o conteúdo é muito extenso e, muitas vezes, o foco é mais acadêmico. No entanto, algumas vezes tive que recorrer a eles, dado que algumas bancas são muito literais e cobram minúcias presentes apenas neles. Mas sempre tentei fazer um uso desse tipo de recurso como “o último caso”, para complementar em ocasiões em que os materiais em pdfs eram fracos ou para descobrir qual a referência que a banca utilizou.
Nunca me adaptei ao modelo de vídeo-aula, nem mesmo à aula presencial. Na faculdade, muitas vezes, mata a aula presencial para estudar sozinho o conteúdo. Cheguei a assinar uma plataforma de estudos focada em vídeo-aula. Me ajudou muito, dado que boa parte do que estudei por ela não havia em pdf.
Estratégia: Como conheceu o Estratégia Concursos?
Rafael: Através da minha esposa e outros colegas concurseiros.
Estratégia: Adquiriu o curso regular da sua área ou o curso específico para seu concurso? Como foi seu contato com nossos professores?
Rafael: Adquiri o pacote com acesso à todos os concurso. Nunca interagi muito com os professores pela plataforma. Apenas com uma professora de farmácia para dar feedback do material dela.
Estratégia: Antes de conhecer o Estratégia, você chegou a usar materiais de outros cursos?
Rafael: Sim. Materiais mais incompletos ou pouca coisa em pdf.
Estratégia: Depois que você se tornou aluno do Estratégia, você sentiu diferença relevante na sua preparação?
Rafael: Até 2020, os materiais de farmácia do Estratégia eram bem limitados. Com a chega de uma profª nova, melhorou muito a sua qualidade. Passaram a ser mais robustos, trazendo uma boa quantidade de questões e também os achei bastante confiáveis.
Estratégia: Como montou seu plano de estudos?
Rafael: Dividia meus estudos em sessões de 50 minutos a uma hora, tentando sempre alternar entre matérias bem distintas. A carga horária de estudo sempre variou muito de acordo com a minha dinâmica de vida. Nos dias livres eu estudava em torno de 4 horas, nunca muito mais que isso, por vezes menos. E nos dias me que trabalhava, no máximo duas horas, por vezes um pouco mais. Minha meta girava em torno de 20 a 25h semanais e em geral eu cumpria em 80% ela, é claro, com variações entre 70 e 110%.
Estratégia: Como fazia suas revisões?
Rafael: No início fiz muitos resumos, eles me ajudaram muito. Mas depois de um tempo percebi que a revisão por resumo não estava muito efetiva por eu já os conhecer e acabar não prestando mais tanta atenção durante a revisão.
Nos últimos dois anos passei a revisar fundamentalmente por questões, caderno de questões erradas e rápidas conferências em resumos para pescar informações pontuais.
Estratégia: Qual a importância da resolução de exercícios? Lembra quantas questões fez na sua trajetória?
Rafael: Ao meu ver, o coração do estudo para concurso é a resolução de questões. Durante a minha trajetória eu fazia muita questão. No início, como estava muito sugado pelo estudo de conteúdo, acabava fazendo menos. Mas, com o tempo, como já havia estudado todo meu edital mais de uma vez, caí dentro das questões. Fazia, refazia, e re-refazia questões. Sempre tentava buscar novas, é claro, mas quando sentia que estava ficando limitado, zerava o histórico da plataforma de questões que usava e refazia tudo. Fazia em média 300-400 questões por semana nos últimos dois anos. Em minha planilha de monitoramento de estudo, abaixo de 200 questões era “vermelho”, entre 200 e 350 era “laranja” e acima de 350, “verde”. Assim era minha meta. É claro que não dá pra se apegar a número. Quando fazia questões do tipo certo e errado esse número crescia muito. E, em algumas sessões de estudo, fazia apenas 10-15 questões, mas aprofundava na revisão do conteúdo. Por isso falar de número é injusto comigo, e com outros que possam se comparar, induz muito ao erro. Eu fazia diferentes tipos de sessão de exercício. Algumas com volume grande de questão e pouca ou nenhuma revisão, e outras mais focadas na revisão de temas aleatórios. Fazia sessões com filtro mais amplo, na seleção de questões de uma matéria, mas também sem filtro algum, para me surpreender com assuntos novos ou com os quais eu tivesse menos intimidade.
Estratégia: Quais as disciplinas você tinha mais dificuldade? Como fez para superar?
Rafael: Quando comecei, tinha muita dificuldade com português, redação e farmacologia. Basicamente, eu estudei todo conteúdo de português do meu edital 3 vezes. Na quarta vez, eu achei que seria perda de tempo, então passei a revisá-lo só por questão e apenas nos pontos que eu tinha maior dificuldade. Claro, é preciso lembrar que eu estudava para uma prova que tinha só duas grandes matérias – português e específica de farmácia.
Farmacologia era um dificuldade que eu carregava desde a graduação. À época passei de raspão nas disciplinas de farmacologia, sintia que não tinha aprendido muito e por isso era muito inseguro. Sabendo disso, foquei muito em aprofundar no conteúdo de farmáco e fazer muitas muitas muitas questões. Com o tempo, comecei a ver que algumas pegadinhas se repetiam e que, coisas que antes me amedrontavam, já não me assustavam mais, eram simples.
Redação foi o pior. Sempre escrevi bem, mas minha letra é terrível e sempre demorei muito para escrever. No início, demorava 2h a 2h30min pra fazer uma redação, mas sabia que seria impraticável repetir isso na hora da prova. Não daria certo. Então treinei muito, e treinei em regime de simulado, fazendo sempre com provas anteriores ou provas que eu mesmo montava de bancas com cobrança semelhante.
Estratégia: Como foi sua rotina de estudos na semana que antecedeu a prova e no dia pré-prova?
Rafael: Eu já estava tão esgotado e cansado que praticamente não estudei antes da prova da FAB. No dia anterior à prova eu revisei muitas coisas, sempre faço isso. Na realidade, normalmente, na semana antes da prova eu reviso meus resumos e caderno de questões que errei. Além disso, tento sempre fazer bastante questão nova. Os assuntos se repetem, né. Então minha preparação sempre foi muito focada em fazer questão.
Estratégia: No seu concurso, além da prova objetiva, teve a discursiva. Como foi sua preparação para esta importante parte do certame? O que você aconselha?
Rafael: Tinha redação. Como disse anteriormente, eu fazia muitos simulados. Eu ouvia de colegas “ah, mas onde você encontra esses simulados”, ué, eu mesmo os montava do jeito que dava. Pegava temas de provas anteirores pra fazer redação. Inclusive de várias bancas, como da CESPE e FGV. Aconselho a treinar muito a redação, mesmo que não tenha ninguém para corrigir. Se puder pagar alguém, ou se tiver alguém para corrigir, melhor ainda. No início paguei uma plataforma e me decepcionei. Eu pedia para minha esposa corrigir, pois ela sempre foi muito boa em português, e sua correção era sempre mais criteriosa que as dessa plataforma. Então passei a fazer as redações e pedir para ela corrigir. Depois de um tempo, passei a só fazer e eu mesmo revisar. Claro que quando a gente mesmo faz, não dá pra avaliar de maneira imparcial, mas dá pra tentar pescar erros gramaticais, principais dificuldades, etc. E o mais importante é fazer, colocar em prática, fazer no tempo certo, se esforçar pra concatenar as ideias em tempo hábil, se preocupando com a qualidade da letra e do conteúdo.
Estratégia: Quais foram seus principais ERROS e ACERTOS nesta trajetória?
Rafael: É muito difícil responder esse tipo de pergunta sem ser anacrônico. É fácil me penalizar pelos erros que tive no início, mas não tenho dúvida de que alguns deles foram essenciais para que eu aprendesse a estudar mais e melhor. Meu maior acerto foi nunca ter desistido, com certeza. Outro foi focar muito em questão e em estudar focado no meu edital. Basta dizer que esse ano passei pois gabaritei português (30/30) e tirei 9,8 de 10 na redação. Isso não teria sido possível se eu não tivesse, em 2019, dado tanta importância ao português. Meus maiores erros foram: excessiva auto-cobrança, ansiedade, abdicação demais (inclusive de coisas que não eram necessárias), demorar a começar a estudar de maneira mais “profissional”, com planejamento, metas, monitoramento, avaliação etc.
Estratégia: Chegou a pensar, por algum momento, em desistir? Se sim, qual foi sua principal motivação para seguir?
Rafael: Desistir não. Mas eu ia parar um pouco agora em 2022 para terminar o mestrado e ano que vem pretendia mudar um pouco de área de concurso. Eu já era servidor e o mestrado aumentaria o salário, então fazia sentido a escolha. Já tinha me decidido que após a prova da aeronáutica (em junho desse ano) não iria mais estudar até 2023. O que não esperava era ficar em 1º lugar.
Estratégia: Por fim, o que você aconselharia a alguém que está iniciando seus estudos para concurso? Deixe sua mensagem para todos aqueles que um dia almejam chegar aonde você chegou!
Rafael: Não desista do seu sonho. Mas não fique apenas sonhando. Sonhos só se concretizam quando corremos atrás deles. Muita gente fica esperando a melhor hora pra começar a estudar. Eu costumo dizer que a melhor hora pra começar a estudar é “ontem”. Se você não começou ontem, comece hoje, não tem problema, vai dar tudo certo. Mas não deixe pra amanhã. Seja organizado, mas tente não surtar pois esse caminho é duro, doloroso, cansativo e você não sabe quando ele vai acabar até que acabe. Então, cuide de você mesmo, tente fazer atividade física com regularidade, curtir um pouco, com moderação, é claro. Tenha sua “válvula de escape” para relaxar, mas saiba dosar inclusive os momentos de descanso, para mais e para menos. Planeje-se. Não fique sonhando com um cargo por anos sem saber quais disciplinas tem que estudar. Sonhe, mas tenha os pés no chão para enxergar a sua realidade.
Por fim, é árduo o caminho. Muitos passarão na sua frente e muitos mais ficarão para trás. Não é justo se comparar ninguém além de si mesmo. Mas no final… no final vale a pena olhar para trás e ver o que você conquistou.