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Português Pedro II – Prova Resolvida (Com recurso)

Olá, pessoal, boa tarde!

Aqui quem fala é o professor Felipe.

Fiz uma breve resolução da prova de português do Colégio Pedro II, aplicada ontem. Os gabaritos das questões 3 e 17 são discutíveis, há uma argumentação breve para servir de base para eventuais recursos, que cada candidato deve interpor com suas próprias palavras.

Boa sorte a todos. Espero que tenham ido muito bem!!

Questão 1

O título “abolindo a abolição” anuncia o desejo de:

c) retorno de escravidão por parte do proprietário.

Conforme mostrado ao longo do texto, o proprietário vai lentamente suprimindo os direitos dos trabalhadores e, ao fim, oferece comida e alojamento em troca de trabalho eterno. Isso fica patente na seguinte passagem:

“vamos voltar aos bons tempos […] vocês receberão para sempre comida e alojamento, a única coisa que peço é: esqueçam salário, esqueçam o resto…”

Gabarito letra C.

Questão 2

Os três parágrafos…

A estrutura em paralelismo (repetida, com a mesma forma) NÃO reforça a “aceitação de pacto vantajoso tanto para o patrão como para os trabalhadores”, justamente porque isso não ocorre no texto. Não há vantagem mútua no texto, a cada mês o trabalho que deveria ser assalariado vai voltando ao molde da escravidão.

Gabarito letra A.

Questão 3

Podem ser percebidos…

Na alternativa B, parece haver “mistura” entre a voz do narrador e do proprietário, pois esse trecho “coisa pouca, e não por muito tempo” é uma fala que poderia perfeitamente ser uma reprodução literal da fala do “proprietário”. É difícil afirmar com certeza, pois nesse parágrafo, a fala não veio separada entre aspas, como marca de reprodução literal (do personagem). Já na linha 19, temos a fala do proprietário marcada por aspas: “eu proponho”.

A banca entendeu como “mistura” exatamente esse fluxo indivisível entre as falas do personagem e do narrador, marca do discurso indireto livre. Então o gabarito é letra B.

No entanto, há clara intercalação, isto é, há mistura entre a voz do narrador e do proprietário na seguinte passagem:

Eu proponho, disse o homem, que a gente esqueça essa tal de lei…

“disse o homem” é a fala do narrador. “Eu proponho que a gente esqueça essa tal de lei” é a fala do proprietário.

Esse é o discurso direto, alternado entre falas literais e os verbos discendi do narrador. Então, a ambiguidade da questão cai na interpretação desse termo “mistura”. Se numa mesma sentença, você tem a voz de ambos, pode-se sim entender que há mistura.

Veja a própria definição de Evanildo Bechara (Moderna Gramática Portuguesa, 37ªED):

“No discurso direto reproduzimos ou supomos reproduzir fiel e textualmente as nossas
palavras (literal) e as do nosso interlocutor (o narrador), em diálogo, conforme vimos nos exemplos das orações ou períodos intercalados de citação, com a ajuda explícita ou não de verbos como disse, respondeu, perguntou, retrucou ou sinônimos (os chamados verbos dicendi).

José Dias recusou, dizendo (narrador): É justo levar a saúde à casa de sapé do pobre (personagem)

A intercalação de citação é justamente a fala literal, então temos as duas falas misturadas numa mesma sentença.

Contudo, a banca parece ter restringido “mistura” ao discurso indireto livre, em que a alternância das falas não tem limites claros. Não está errado, pois essa “mistura sem limites claros” faz parte da definição do discurso indireto livre.

Acredito que seja possível recorrer e argumentar que a letra D também mistura as falas de ambos, inclusive de forma muito mais clara.  Não é um recurso muito provável de ser deferido, mas tem base, como dito acima.  Quem quiser reescreva a argumentação acima com as próprias palavras, ok?

Questão 4

O slogan ufanista “Brasil, ame ou deixe-o”…

O texto traz uma intertextualidade em relação ao slogan, como próprio enunciado explica. Essa fala remete à ideia de opressão e restrição a direitos. Então, naturalmente NÃO evidencia crítica à preservação imprescindível dos direitos básicos e da autonomia dos seres humanos”.

Gabarito letra C.

Questão 5

Tendo em vista…

O verbo “haver”, como sinônimo de “existir”, é impessoal e não se flexiona. Na locução verbal, faz com que se verbo auxiliar também não se flexione. Então, haveria duas formas corretas:

Banheiros não devia haver ou Banheiros não deviaM existir.

Gabarito letra A.

Questão 6

Releia “Mas um dia tinha surgido uma lei… e tudo tinha mudado”…

Aqui temos a equivalência entre a forma simples do pretérito mais-que-perfeito (terminação básica –RA) e sua forma composta (tinha/havia+particípio)

Então: tinha surgido=surgira e tinha mudado=mudara.

Gabarito letra B.

Questão 7

De acordo com o contexto, o pensamento do proprietário revelado em…

A passagem, do ponto de vista do narrador, é irônica. Ele reproduz a fala do proprietário, mas sua intenção é justamente mostrar o sentido contrário: o dinheiro não é coisa tão mesquinha que devesse ser simplesmente ignorada pelos trabalhadores, nem os tempos da escravidão eram realmente “bons tempos”.

Gabarito letra D.

Questão 8

No trecho “ele não sabia como era bom o passado”, a oração em destaque funciona como:

Observe que a oração complementa o verbo “sabia”:

Ele não sabia [algo]

Ele não sabia [como era bom o passado]

Ele não sabia [isto]

Trata-se de uma oração com função de objeto direto.

Gabarito letra D.

Obs: Essa oração é subordinada substantiva objetiva direta, mas não veio introduzida por conjunção integrante porque é de um subtipo muito específico: uma oração substantiva justaposta.

Questão 9

No fragmento “ a única coisa que peço é: esqueçam salário, esqueçam o resto…

A repetição da forma verbal no imperativo “esqueçam” mostra que o proprietário faz um apelo, com finalidade de convencer os empregados, a mudar a opinião deles. Então, temos função apelativa, também chamada de conativa e caracterizada pelo intuito de convencer, mudar comportamento, influenciar.

Gabarito letra C.

Questão 10

A oração retirada do quarto parágrafo…

Nessa questão, temos a combinação de “agora” (indicando presente) e “recebiam” (indicando passado). Achei as alternativas bem nebulosas, mas vamos tentar entender a banca.

Observe que temos duas alternativas opostas:

Aproximação de um passado a outro mais distante

Contraposição de um passado a outro mais distante

Então, normalmente, uma das duas deveria ser a resposta.

O pretérito imperfeito indica que o proprietário está contando uma história no passado, anterior ao próprio momento em que ele fala (momento este também no passado, sendo narrado).

Então, ele contrapõe o momento de sua fala a um momento passado ainda mais distante (o tempo da escravidão). Se contrapõe, não pode estar “aproximando”, então deveríamos marcar a letra B.

Questão 11

De acordo com o texto II, é possível afirmar…

O texto nos revela que há vários “tipos de escravos”: mulheres vendidas a bordéis, imigrantes, adolescentes, crianças até pessoas usadas para a retirada de órgãos.

Então, não só mulheres mas também crianças são vítimas do trabalho escravo e da exploração sexual.

Gabarito letra D.

 

Questão 12

Na forma verbal sublinhada…

A terceira pessoa do plural, no presente do indicativo, do verbo “Reler” é “releem”. Os hiatos em “eem” não são mais acentuados.

Gabarito letra A.

 

Questão 13

Nas passagens a seguir, NÃO foi utilizada elipse como recurso coesivo em:

a) elipse de “pode ser um rosto”

b) elipse de “das vítimas”

c) elipse de “caso”

Na letra D, não houve coesão por elipse.

Gabarito letra D.

 

Questão 14

A passagem do texto I…

Vejam a relação entre os textos:

A única coisa que peço é: esqueçam o salário, esqueçam o resto (trabalham sem receber)

Esqueçam o mundo lá fora. O mundo de vocês agora é esta fazenda. (não conseguem voltar ao local de origem)

Gabarito letra C.

 

Questão 15

O trecho ‘estima-se que 27 milhões de pessoas estejam vivendo nessas condições”…

A banca apenas pediu a passagem da voz passiva sintética para a analítica:

estima-se [que 27 milhões de pessoas estejam vivendo nessas condições]

estima-se [isto]  >  [isto] estima-se

[isto] é estimado

é estimado [que 27 milhões de pessoas estejam vivendo nessas condições]

Gabarito letra C.

 

Questão 16

O verso “Na verdade a mão escrava” introduz uma relação de oposição com a estrofe anterior, em que se diz que “o negro suja”, quando, na verdade, ele limpa.

Gabarito letra B.

 

Questão 17

Gilberto Gil estrutura…

As antíteses (branco x negro; limpar x sujar; pureza x sujeira) evidenciam criticamente as diferenças sociais, marcadas pela pureza do negro em oposição à sujeira do branco. O autor mostra isso em vários versos: “Negra é a mão da pureza”, “Negra é a mão da imaculada nobreza”. O argumento é que o branco é sujo e o negro escravo historicamente limpa a sujeira do branco”.

Pessoal, nessa questão, entendo que a letra C também é bastante razoável, pois, de fato temos a diferença entre a sujeira e limpeza do negro, sendo a sujeira o estigma do dito popular “o negro vai sujar na saída” e a antítese a limpeza do negro que sempre trabalhou na limpeza (serviço doméstico…). Por outro lado, temos a limpeza do branco (a limpeza que ele diz ter) e verdadeira sujeira do branco, que é aquela que o negro limpa, segundo a ótica de Gilberto Gil. Então, de uma forma mais sutil, essa alternativa também poderia ser considerada correta. Talvez a banca não tenha percebido essa sutileza, ou realmente tenha tentado fazer uma questão mais difícil.

No entanto, a banca considerou como gabarito a letra A.

“expressar criticamente a injustiça social marcada pelas diferenças entre o branco e o negro e pela exploração do trabalho escravo”.

Entendo que a alternativa acima traz o objetivo geral do “poema como um todo”, não especificamente das antíteses, como foi perguntado.

Como adiantei no gabarito preliminar, acho que o examinador não separou bem o que pretendia perguntar, se queria falar do poema inteiro com sua finalidade geral de crítica social ou se queria explorar especificamente o sentido das antíteses utilizadas. Se fôssemos considerar os sentidos do texto como um todo, as 4 alternativas seriam totalmente pertinentes.

Por isso, entendo que cabe recurso, pois as alternativas permitem essas duas leituras.

Questão 18

Observando-se os três primeiros…

Os três primeiros versos reproduzem um lugar-comum: “o branco inventou que o negro quando não suja na entrada vai sujar na saída”.

No último verso, temos “eta branco sujão”, ou seja, no fim das contas, o branco é que é sujo, o que contraria o clichê apresentado inicialmente. Ora, se contraria, não podemos dizer que “ratifica” (confirma).

Gabarito letra B.

 

Questão 19

No fragmento “Na verdade a mão escrava/passava a vida limpando”…

O verbo “passava” está no pretérito imperfeito do indicativo, tempo usado para indicar ações contínuas, rotineiras, repetidas no passado.

Então, podemos dizer que indica ação não concluída que se repetia frequentemente no passado. O pretérito que indica ação concluída é o “pretérito perfeito”.

Gabarito letra C.

Questão 20

No trecho…”o que o branco sujava”… o vocábulo “o” pertence à classe dos…

Antes do pronome relativo ‘que’, o vocábulo “o” equivale a “aquilo”: “aquilo que o branco sujava”. Portanto, temos um pronome demonstrativo.

Gabarito letra A.

 

 

 

 

 

Coordenação

Ver comentários

  • Professor, o senhor tem certeza da resposta da questão 7? Eu marquei personificação, pois ele atribui a característica de mesquinho ao dinheiro! Mesquinho não seria uma característica humana?

    • Olá, Bruno...
      Na verdade, o "mesquinho" está ligado a coisa: "coisa tão mesquinha". Então, não foi uma personificação direta. OK?
      Além disso, o discurso é obviamente irônico em relação à fala do proprietário, pois o dinheiro e os direitos são muito importantes para os trabalhadores, não poderíamos ler de forma literal aquele comentário...
      Abraço!

  • Complicaram tanto que acho que até se enrolaram demais em algumas questões. Muito difícil, prova para professor mesmo.

  • Nossa Felipe! Como você explicou fácil é de forma resumida cada questão. Me ajudou muito a entender os meus erros.Parabéns aos excelentes professores do Estratégia.

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