Aprovado no Concurso da Câmara dos Deputados
ENTREVISTA: Victor Dalton – Aprovado para Analista Legislativo da Câmara dos Deputados
Entrevista Victor Dalton aprovado no Concurso Câmara dos Deputados
O objetivo deste texto é trazer a todos uma entrevista realizada com o Prof. Victor Dalton, aprovado no último concurso da Câmara dos Deputados, para o cargo de Analista Legislativo – Técnica Legislativa.
Aproveitamos para parabenizar novamente o Victor e todos os outros aprovados (grande parte alunos do Estratégia), bem como agradecer pela entrevista concedida, que servirá de estímulo aos colegas que continuam na luta!
Prof. Sérgio Mendes: Victor, conte um pouco de sua formação e trajetória.
Victor Dalton: Bem, tenho 29 anos, natural de Salvador, mas criado em Porto Seguro, no interior da Bahia. Sou Bacharel em Ciências Militares, pela Academia Militar das Agulhas Negras, e também formado em Engenharia da Computação, pelo Instituto Militar de Engenharia.
Minha entrada no mundo dos concursos aconteceu da maneira mais estranha possível. Nunca havia pensado em fazer concursos para sair do Exército ou ser servidor público. Graduei-me Engenheiro da Computação em novembro de 2009. No mês seguinte, durante minhas férias, recebi de um colega de curso o edital do Bacen. Achei a remuneração atrativa, mas a gama de matérias a estudar era ENORME! Somente a parte de Tecnologia da Informação – TI continha TUDO que eu havia estudado na faculdade, e muito mais! E olha qual foi o meu pensamento: ninguém no mercado de trabalho está preparado para uma prova desse porte. Então eu vou fazer! Loucura total.
Combinamos eu e meu colega de estudarmos juntos a partir do dia 6 de janeiro de 2010, e a prova era dia 31 de janeiro! Fizemos um cronograma, estudamos de domingo a domingo, das 7 às 22 horas TODOS os dias, tranquilamente passando das 12 horas líquidas de estudo diário. Morei no apartamento dele esses 26 dias, dormindo em um colchão na sala. Paramos apenas no dia 30, para “esvaziar” a mente. Hoje, estamos os dois aqui no Banco.
Porém, antes de ser chamado pelo Banco, fiz prova também para o cargo de Analista de Planejamento e Orçamento – Tecnologia da Informação, do MPOG, em fevereiro do mesmo ano. Aproveitando o conhecimento alucinante de TI que tinha na cabeça, estudei a parte de AFO e Economia com você e com o Heber Carvalho (pelo menos pra parte discursiva), e felizmente também consegui ser aprovado também nesta difícil prova. Trabalhei um ano na Secretaria de Orçamento Federal, antes de vir para o Departamento de Informática do BCB. Ah, e também sou colaborador aqui do site do Estratégia, com cursos de Tecnologia da Informação.
Prof. Sérgio Mendes: O cargo de Analista Legislativo da Câmara é um dos mais cobiçados do país. De onde veio a confiança de que uma das vagas seria sua? E, ainda, de onde veio a motivação para se preparar, já que você já pertence a uma das carreiras mais valorizadas financeiramente do Poder Executivo Federal?
Victor Dalton: Olha Sérgio, a carreira de Analista Legislativo ainda consegue oferecer algumas vantagens sobre a carreira de Analista do Banco Central. Mas o que realmente me motivou a estudar foi a possibilidade de trabalhar no mesmo local que a minha esposa, que atualmente é Secretária Parlamentar. Almoçar juntos, talvez ter apenas um carro, essas vantagens de um casal trabalhar no mesmo lugar. Li o edital, vi um número razoável de vagas e falei: “Dá.” Na pior das hipóteses, meu conhecimento adquirido sobre a Câmara serviria para conversar mais com minha esposa sobre o trabalho dela, rsrsrsrs.
Prof. Sérgio Mendes: Não faltou motivação então! Como foi o seu ritmo de estudos após a publicação do edital do concurso para a Câmara?
Victor Dalton: Eu fui pego de surpresa pelo edital. Fiquei sabendo do concurso quase no término do prazo para inscrição. Então resolvi tirar um mês de férias.
Como o conteúdo do edital era bem inferior ao do Banco Central, resolvi diminuir a carga de estudos. Acordava religiosamente às 6 e 50 e encerrava o estudo às 19 horas, mesmo porque precisava da noite pra produzir material aqui para o Estratégia. Acabou sendo bom para todo mundo, pois consegui adiantar o cronograma para os meus alunos e usava a elaboração dos cursos para “relaxar” do estudo dos Regimentos da Câmara, Ciência Política, e outros. Acho que eu tenho o cérebro muito ativo, e TI, além de trabalho, é um verdadeiro hobby
para mim.
Prof. Sérgio Mendes: Você praticava alguma atividade física?
Victor Dalton: Quando se adota um “cronograma extremo”, não há tempo para esse luxo. Apenas nas duas últimas semanas, quando eu estava quase surtando, voltei a jogar meu futebol das quartas à noite.
Prof. Sérgio Mendes: Quais foram os principais erros e dificuldades durante sua preparação?
Victor Dalton: Olha Sérgio, vou me permitir falar um pouco mais nesse tópico, pois as pessoas que talvez se incentivem por esse meu método de estudo, certamente não convencional, precisam estar conscientes do risco e do custo desse método.
Para estudar um edital inteiro em 30 dias, matérias precisam ser sacrificadas. No meu caso, estudava matérias básicas, como Direito Constitucional, Administrativo, Inglês, Espanhol e Português apenas por exercícios da banca. Era necessário aprender CESPE e revisar esse conteúdo simultaneamente. E, para escolher os exercícios, não o fazia de forma aleatória. Procurava saber quais provas foram consideradas difíceis nessas matérias. Para exemplificar, estudei Português por provas de diplomata, professor de letras, provas da EBC (jornalismo). Colocava o sarrafo lá em cima, como diríamos no Exército.
Já para as matérias novas e específicas, a dedicação era em alto nível. Como exemplo, consegui ler o Regimento Interno da Câmara por três vezes, rascunhando, filosofando, imaginando questões. Dormia e sonhava com o Regimento, e não sabia falar de outra coisa, a não ser dele.
Com isso, paga-se um preço. Em todos esses certames que fiz, obtive resultados excepcionais na parte específica da prova, porém, na parte geral, meu desempenho é apenas mediano, dentro do universo dos aprovados. Além disso, não se aguenta estudar em ritmo tão intenso por mais de um mês. Após a prova, a mente e o corpo sentem, bastante. Não conseguiria me imaginar estudando assim para fazer quatro, cinco concursos em um ano.
Ah, importante destacar que não é produtivo estudar um único assunto por um dia inteiro. Durante um dia, eram cerca de 10 horas líquidas de estudos, passando por quatro matérias. Algumas com três horas diárias, outras com duas horas diárias. Quando se estuda um único assunto em um só dia, para revê-lo somente depois de três ou quatro dias, a produtividade cai depois de meia jornada, e a sensação no dia seguinte é de que “esqueceu tudo”. Revezando matérias a cada duas ou três horas faz com que você esteja o tempo todo voltando à matéria, a produtividade aumenta e o conteúdo fica mais “vivo” na mente.
Prof. Sérgio Mendes: Que materiais você usou para sua preparação?
Victor Dalton: Para a parte geral da prova eu já tenho uma boa base, então me vali apenas de exercícios.
Para a parte específica, usei o RICD para o Regimento Interno, o RCCN para o Regimento Comum e a CF para estudar Constituição Federal. Para Ciência Política, felizmente, possuo um excelente material do Curso de Formação de APO, o qual complementei com os cursos do Estratégia. Ah, também usei o e-book do Davi Sales, aqui do nosso site, para praticar exercícios de RICD.
Prof. Sérgio Mendes: Lembro que quando você foi aprovado para a segunda fase do concurso de APO/TI foi uma surpresa, tanto que me mandou e-mail pedindo ajuda em AFO/Planejamento Governamental, porque o resultado saiu faltando apenas 10 dias para a prova. E foi o suficiente para você ser aprovado, ainda que, na época, não tivesse pleno domínio de toda a matéria. Qual a técnica ou segredo de se sair bem em uma prova discursiva?
Victor Dalton: Nossa, você lembra disso! Rapaz, foram dias de adrenalina. Na época que eu tinha feito a prova, eu nem sabia que existiam fóruns e sites especializados em concurso (pra você ter uma ideia do quanto eu era alienado). Então, ciente do meu resultado provisório, eu não tinha certeza se seria chamado pra discursiva, pois tinha ido muito bem em TI e mediano na parte de AFO/Planejamento Governamental e Economia, cujos livros que adquiri pra estudar não eram bem direcionados. E as discursivas seriam apenas sobre esses temas. Um dia antes do resultado, fiquei sabendo sobre você e o Heber, e os materiais de vocês. Fiquei “revoltado” quando li o conteúdo dele! Pensei comigo mesmo: “Tem gente estudando por esses PDFs? Mas tem tanta coisa que caiu na prova aqui! Assim é covardia!” Com a convocação pra discursiva, mandei e-mails desesperados pra vocês dois, e comprei os cursos. Dez dias de corpo e alma entregues às apostilas. Sem isso, eu jamais conseguiria entrar no MPOG, e a gratidão que eu tenho a vocês é eterna. Acho que foi ali que nasceu meu interesse legítimo no universo dos concursos, que me transformaria em professor.
Mas vamos ao que interessa. Como ir bem em uma discursiva? Hoje eu vejo da seguinte forma:
Em primeiro lugar, e o ideal, é dominar o assunto a ser cobrado. Sei que é meio óbvio, mas isso vai além de alcançar uma maior nota na discursiva. Quando você lê o tema da redação durante a prova e diz “tá tranquilo”, a sua prova objetiva também vai melhorar. Você fica muito mais calmo para reler a prova, conferir as alternativas que marcou. Além, claro, de tremer bem menos para preencher a redação, rs. Lembro-me da discursiva do Bacen, a primeira que fiz, junto com a objetiva da parte geral. Não sabia responder a uma questão da discursiva, e comecei a tremer. Não sabia se ficava na questão pensando, ou se voltava pra prova objetiva pra tentar responder as que eu deixei em branco. Você não faz nem uma coisa nem outra direito. Aquilo me custou a vaga entre os titulares do concurso.
Em segundo lugar, um bom domínio da língua portuguesa. Faz toda a diferença você escrever trinta, quarenta ou sessenta linhas e sofrer zero ou uma penalização do que sofrer dez ou quinze. Não precisa escrever como jornalista ou diplomata, mas não dá pra ficar deixando 10 ou 20% da sua nota para trás por causa de morfossintaxe ou pontuação. E tem gente que deixa.
Em terceiro, também é importante conhecer a Banca que avalia a sua discursiva. O CESPE é bastante objetivo, a ESAF exige mais da estrutura dissertativa, esses pormenores. Outro aspecto que não se pode deixar penalizar.
Por último, e menos ao alcance de nossas mãos, está o fator sorte. Ele existe. A segunda redação da minha prova da Câmara versava sobre Finanças Públicas, mais precisamente sobre emendamentos à Lei Orçamentária Anual. Poxa, trabalhei na Secretaria de Orçamento Federal! Além disso, tive um excelente professor de AFO, quando precisei. Sabe quando parece que tinha que ser?
Prof. Sérgio Mendes: Obrigado pela parte que me toca. Rsrs. Como era a sua vida social durante a preparação para o concurso? Vocês saía com amigos, família, etc? Ou adotou uma postura radical, abdicando do convívio social para passar no concurso o mais rápido possível?
Victor Dalton: Vou exemplificar o que foi minha vida social nesse mês de estudos. Eu e minha esposa colocamos a cama de casal na sala e a mesa de jantar no quarto, para que eu pudesse estudar com ar condicionado, umidificador, boa iluminação e conforto. Você acha que dava pra receber visitas em casa? Rs. Lembro-me de termos saído pra jantar com um casal de amigos uma vez durante esse período. Sacrificamos a vida social, eu e ela.
Prof. Sérgio Mendes: Todos os concurseiros passam por muitas dificuldades na caminhada até a aprovação. Que palavras você gostaria de transmitir a quem continua sonhando com a conquista de um cargo público?
Victor Dalton: Eu acho que valer a pena todos sabem que vale, e é por isso que a concorrência é tão grande nos dias atuais. Mas a diferença entra aprovar e estar sempre na “meiuca” passa muito pelo seu nível de entrega. Conheço pessoas que estão sempre estudando, mas dificilmente aparecerão em uma relação de aprovados, porque não se entregam de verdade aos estudos. Não importa se você estuda 2 ou 10 horas por dia. A pessoa que verdadeiramente estuda pra concursos chega a ser uma má companhia social, porque ela não fala de outra coisa a não ser dos estudos, da rotina puxada, das matérias que estão lendo…
E são essas as pessoas que estão próximas da aprovação.
E, acreditem, depois de aprovados, haverá tempo de sobra para compensar alguns momentos perdidos. Vale a pena.
Obrigado Victor!
Espero que tenham gostado da entrevista.
Forte
abraço!
Sérgio Mendes