Aprovado nos Concursos MPU e Ministério da Fazenda
O objetivo deste texto é trazer a todos uma entrevista realizada com o colega Daniel Magalhães, aprovado em 1º lugar no último concurso do Ministério Público da União, para o cargo de Analista – Finanças e Controle, e em 2° lugar no concurso de Analista Técnico-Administrativo do Ministério da Fazenda.
Aproveitamos para parabenizar novamente o Daniel e todos os outros aprovados, bem como agradecer pela entrevista concedida, que servirá de estímulo aos colegas que continuam na luta!
Prof. Sérgio Mendes: Daniel, conte um pouco de sua formação e trajetória.
Daniel Magalhães: Minha trajetória como “concurseiro” começou cedo, precisamente no 2° ano do Ensino Médio, quando fui aprovado, aos 16 anos, em 20° lugar para ingressar na Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), onde viria a completar o segundo grau e, após isso, iniciar o longo e árduo curso de formação de oficiais combatentes na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN). Entretanto, no meio do caminho, ainda como cadete, percebi que não possuía vocação para ser militar e não estava disposto a viver reclamando pelos próximos 30 anos da minha vida, infeliz, insatisfeito e decepcionado, como acontece com muitas pessoas acomodadas, não somente no meio militar. Precisava achar uma saída, reagir àquela situação, mudar totalmente o rumo das coisas, enfim, correr atrás da minha felicidade, pois, caso contrário, ninguém correria atrás dela para mim. Cheguei a pensar em outras alternativas, como, por exemplo, abrir uma empresa, mas acabei por enveredar novamente para o caminho dos concursos públicos, dessa vez para o mundo civil, atraído pela qualidade de vida, bons salários, estabilidade e, acima de tudo, pela liberdade e tranquilidade. O foco era – e ainda é – o cargo de Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil e, se Deus quiser, no próximo concurso estarei lá!
Prof. Sérgio Mendes: Após concluir o complexo curso da Academia Militar das Agulhas Negras – AMAN, o qual garante a estabilidade na carreira de oficial, alguns militares, como aconteceu comigo, optam por fazer concurso público e deixam o Exército no momento da nomeação no cargo civil em que for aprovado. Entretanto, você pediu exoneração quase imediatamente após a formatura sem ter nada em vista, ou seja, decidiu estudar abrindo mão do cargo. De onde veio tanta confiança? Como tomou essa decisão?
Daniel Magalhães: Foi uma decisão muito difícil, Sérgio. Muitos familiares e amigos me criticaram, dizendo que era insanidade largar um emprego estável, ganhando 5 mil por mês para me aventurar no incerto. Outros me chamaram de corajoso por tomar essa atitude. A verdade é que eu já estava estudando durante a AMAN, mesmo durante certos acampamentos, virando noites, abdicando das pouquíssimas horas livres que tínhamos para me dedicar a esse ideal. Mesmo em condições tão adversas e com pouco tempo de estudo, obtive um resultado motivador no concurso da Controladoria-Geral da União em 2012, que me fez perceber que lograr êxito seria apenas uma questão de tempo. Se você tem dedicação, disciplina, bons materiais, tempo, foco e metodologia correta, o sucesso invariavelmente virá. A partir de então, a ideia de ter o dia inteiro à minha disposição para os estudos começou a parecer sedutora, pois queria agilizar o processo, passar o mais rápido possível. O próximo passo, então, foi obter o apoio familiar e recursos financeiros para me manter estudando sem ter uma fonte de renda. O apoio familiar certamente é a parte mais importante para quem pretende pedir demissão para de dedicar aos estudos, pois você precisa ter um ambiente agradável em casa, propício aos estudos, sua família precisa entender e respeitar sua decisão. Quanto aos recursos financeiros, eu fiz um planejamento baseado na “LPH” (linha da pior hipótese), para que durassem cinco anos sem passar em nenhum concurso, e segui à risca, mantendo um gasto basicamente com uma única diversão aos sábados para refrescar a mente. Dessa forma, tomei uma decisão racional, bem pensada. Montei meu projeto e implementei. Certas pessoas me perguntam se seria interessante fazer o mesmo que eu fiz, mas procuro me abster de opinar, pois cada um tem uma conjuntura financeira e emocional diferente. A maneira como eu reagi a essa situação de largar tudo e começar do zero pode não ser a mesma que outras pessoas. Essa situação de incerteza é bastante desconfortável. Tudo deve ser muito bem pensado e planejado.
Prof. Sérgio Mendes: O edital previa inicialmente apenas 3 vagas para a ampla concorrência e o cargo de Analista de Finanças e Controle é um dos mais cobiçados do MPU. De onde veio a confiança de que uma das vagas seria sua? E, ainda, de onde veio a motivação para se preparar?
Daniel Magalhães: Meu foco é o cargo de AFRFB, sempre busquei não desviar meus esforços, pois é uma prova que exige muito. Entretanto, em agosto desse ano, eu já havia fechado o edital e estava somente revisando, mas estava meio sem rumo e desmotivado, pois recebi a notícia que a prova da Receita Federal ainda demoraria muito para ser lançada, talvez no fim de 2014 ou no começo de 2015. Nessa época, foi lançado o edital para o MPU e uma das áreas, a de Finanças e Controle, atraiu-me por possuir um conteúdo programático muito parecido com as matérias da área fiscal, como, por exemplo, Contabilidade Geral e Avançada, Direito Tributário e Legislação Tributária Federal. Pela primeira vez, achei que valia a pena sair temporariamente do meu foco exclusivo de AFRFB e me dedicar temporariamente, por 2 meses aproximadamente, a um outro concurso. Eram poucas vagas previstas, mas o que me deu confiança no fato de que uma delas seria minha foi a sólida preparação que estava levando para enfrentar o concurso da Receita Federal. Como percebi que tinha condições de passar, decidi agarrar com unhas e dentes esse objetivo e não medir esforços para alcançá-lo, pois seria necessária uma preparação de excelência nesse período, principalmente por causa do pequeno número de vagas. E a motivação veio da boa remuneração do cargo e da visualização da possibilidade de atuar na Procuradoria-Geral da República, um lugar lindo e excelente de trabalho, à beira do Lago Paranoá, que sempre que eu passava na L4 Sul ficava imaginando como seria entrar diariamente de terno e gravata naquele prédio para exercer minhas atividades e no fim do dia, quem sabe, fazer um remo vendo o pôr-do-sol. Gosto de imaginar as coisas assim, isso me mantém motivado. Costumava dizer, durante minha preparação, que estava com saudades do meu futuro, mas agora vamos começar a matá-la rs.
Prof. Sérgio Mendes: Como foi o seu ritmo de estudos após a publicação do edital do concurso para o MPU?
Daniel Magalhães: Segui uma rotina intensa de estudos após a publicação do edital. Estudava 11 horas e 20 minutos líquidas por dia, contadas no cronômetro, com horários programados para cada atividade do meu dia, de forma que não deixasse de lado também o descanso, que é essencial para memorização. Dormia 30 minutos depois do almoço – senão o estudo à tarde não rendia –, 8 horas por noite e não estudava aos sábados – lembrando que isso só era possível por não estar trabalhando. No meio da preparação, recebi a notícia que havia passado em 2° lugar na primeira fase da prova de Analista do Ministério da Fazenda sem ter estudado para esse concurso, então resolvi me preparar para a prova discursiva. Assim, tive que aumentar a carga horária para 12h diárias e reduzir o descanso para dar conta de estudar concomitantemente para o MPU e para o MF. No final deu tudo certo, fui aprovado nas duas.
Prof. Sérgio Mendes: Você praticava alguma atividade física?
Daniel Magalhães: Sim, atividade física é essencial. Religiosamente, parava os estudos às 17h e ia à academia, malhar, correr, andar de bicicleta etc. Às 19h voltava a estudar. Logo reservava 2 horas por dia para atividades físicas. Não conseguia ficar sem pelo menos dar uma corrida, pois o estudo rende muito mais. A atividade aeróbica oxigena seu cérebro, sua memorização melhora e você se sente muito mais disposto.
Prof. Sérgio Mendes: Quais foram os principais erros e dificuldades durante sua preparação?
Daniel Magalhães: Meu principal erro, quando iniciei os estudos para concursos, foi estudar com materiais ruins e estudar sem foco, o que me fez perder bastante tempo. Minha principal dificuldade, especificamente para a prova do MPU, foi descobrir o que o CESPE queria com certos tópicos do edital. Como não há bibliografia indicada, o candidato e os professores ficam perdidos em certos assuntos, como, por exemplo, na parte de “Gestão de Riscos” e Legislação Tributária Federal. Nesta matéria, havia inclusive questões cobrando Instruções Normativas da RFB bastante específicas, sendo que há alguns milhares delas e fica impossível de se preparar se o edital não citar qual legislação irá cobrar. Acredito que essa situação irá melhorar com a aprovação da lei dos concursos em breve. Outra dificuldade foi me adaptar ao padrão de prova do CESPE, pois, como estava me preparando para a ESAF, não estava acostumado com tantas pegadinhas e nuances na interpretação das questões que o CESPE gosta de fazer. Tive que resolver milhares de questões até pegar o jeito da banca.
Prof. Sérgio Mendes: Que materiais você usou para sua preparação?
Daniel Magalhães: Nas matérias básicas, eu já possuía bagagem acumulada dos estudos para Receita Federal, mas cito como excelentes materiais os seguintes: Direito Constitucional Descomplicado (Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino), pdf de Direito Administrativo para AFRFB do Estratégia (Cyonil), Contabilidade Geral 3D (Sérgio Adriano). Nas matérias específicas, utilizei basicamente as apostilas em pdf do Estratégia. Destaco suas aulas de AFO e LRF, material imprescindível para uma preparação séria. A vantagem dessas apostilas, além da excelência das aulas do Estratégia, é não precisar perder o precioso tempo que existe entre o lançamento do edital e a data da prova com a procura de materiais, pois, tendo tudo “mastigado” à mão, você só precisa estudar. A tarefa de selecionar e compilar os melhores materiais dos melhores autores, item a item do edital, fica a cargo dos professores, que são especialistas no assunto. A utilização dessa metodologia, principalmente para provas do CESPE, que gosta de cobrar assuntos pulverizados e soltos no edital, sem dúvidas, é um diferencial competitivo.
Prof. Sérgio Mendes: Como era a sua vida social durante a preparação para o concurso? Vocês saía com amigos, família, etc? Ou adotou uma postura radical, abdicando do convívio social para passar no concurso o mais rápido possível?
Daniel Magalhães: Não adotei uma postura tão radical durante minha preparação, pois acredito que concurso público é como uma maratona, e não como uma corrida de 100 metros: não adianta começar fortíssimo e não sobrar energia terminar a prova. Apesar da necessidade de redução das horas de lazer, elas ainda devem existir no planejamento. Dessa forma, semanalmente, reservava sexta à noite e sábado para recarregar as baterias. Nessas horas livres, tentava me desligar ao máximo do mundo dos concursos, nem sequer tocava nos livros, para ter energia e paciência para mais uma árdua semana. Estabeleci metas diárias e semanais em horas líquidas de estudo (algo em torno de 11h20min diárias e 64h semanais). Isso, é claro, só foi possível porque eu não estava trabalhando. Sei da dificuldade que é conciliar trabalho, estudo e lazer, mas não aconselho abolir totalmente o lazer do planejamento. Nem que seja assistir um filme no final de semana, faça-o. Dê reforços positivos a si mesmo a cada etapa vencida, a cada semana superada.
Prof. Sérgio Mendes: Todos os concurseiros passam por muitas dificuldades na caminhada até a aprovação. Que palavras você gostaria de transmitir a quem continua sonhando com a conquista de um cargo público?
Daniel Magalhães: Há um vocábulo, cuja definição apresento a seguir, que resume bem o processo de busca da aprovação em um concurso público: tenacidade. Tenacidade significa apego obstinado a uma ideia, a um projeto. É fazer tudo, nada menos que absolutamente tudo que estiver ao seu alcance para atingir aquilo que deseja. É eliminar toda e qualquer chance de seus planos não darem certo. É acordar diariamente motivado e dormir com a satisfação de mais um dia com dever cumprido. Certamente que o caminho até sua aprovação não será fácil, mas não ache que seus problemas são maiores que de outras pessoas, não crie desculpas, não minta pra si mesmo. Não conheço sua história, seu contexto social, sua realidade, sua condição financeira, nem a educação básica que você teve, mas sei de uma coisa: você tem a capacidade de mudar sua realidade, de criar sua felicidade. Então o faça, de uma vez por todas. Acredite em si mesmo, confie no seu potencial! As raízes do estudo podem ser amargas, mas o fruto, meu amigo, é bem doce. Então continue firme, que estou esperando você do lado de cá.
Espero que tenham gostado da entrevista.
Forte abraço!
Sérgio Mendes