Aprovado no Concurso Receita Federal
“Estudar para concurso aos 40 anos? “Não vai dar certo”. “Já passou da idade”. “Isso é para quem é recém- formado”. ”Quem vai alimentar seus filhos durante a preparação?”.
Comentários que passaram a servir de combustível. Vamos mostrar quem está certo nisso tudo.”
Parte dos sobreviventes da “geração Sarriá” aprendeu a saborear suas conquistas de forma silenciosa.
Não tem como. A cada jogo decisivo em uma Copa do Mundo, a capa do Jornal da Tarde (a icônica “Barcelona, 5 de julho de 1982”) aparece em nossas memórias como se fosse um selfie sombrio. José Carlos Vilella nos representa e até o fim da sua vida, talvez nunca tenha a total dimensão desse fato. Naquele dia, aprendemos da forma mais dura possível o valor do silêncio. Para o resto da semana, a professora da escola não acreditava como os alunos podiam estar tão comportados durante as aulas. As poucas palavras que trocávamos durante o recreio eram: “Qual foi o lugar que você escolheu para chorar escondido?”
Está claro que estes sobreviventes aprenderam a ter paciência. E não é necessário ser um daqueles especialistas que costumam gabaritar as questões de RL da ESAF para calcular rapidamente que todos nós que tínhamos 11 anos em 1982, assim como José Carlos Vilella, haviam nascido em 1971.
Pois é. Por apenas 01 ano não podíamos dizer que tínhamos nascido campeões do mundo. 21 de junho de 1970 não fazia parte da nossa história de vida… Nascemos tarde demais… E permanecemos numa longa fila de espera. 23 longos anos…
Durante o “dia da libertação”, ou melhor, 17 de julho de 1994, fiz questão de repetir um ritual, desta vez, de forma diferente. Ao término da disputa de pênaltis, fui ao mesmo local em que havia chorado escondido 12 anos antes e permaneci em silêncio. Foi uma comemoração sem ruídos. Da mesma forma em que a ferida se transforma em cicatriz. Sem alarde. O sabor da comemoração silenciosa era muito especial. Havia finalmente entendido o significado da derrota de 1982: faltou estratégia. Jogando pelo empate e se lançando como loucos no ataque… Não havia necessidade.
O tempo é testemunha do destino. E passa silencioso. Casamento, filhos, um vice-campeonato, o penta, o fracasso de 2006. Mudança de país, volta ao Brasil. Carreira na iniciativa privada havia prosseguido. Mas, com um sabor amargo. Inúmeras noites sem dormir, incontáveis dias sem hora de voltar para casa, humilhações em sequência. Os filhos cresciam devagar e com saúde, graças a Deus! Mas, não havia tempo para curti-los nem dedicar-se mais à esposa…
Chega 2010. A copa da África. O corpo do soldado veterano dá o primeiro sinal de alerta. Licença médica por stress. 20 dias em casa. Vários exames solicitados pelo médico. Por outro lado, pela primeira vez em 28 anos, poderia assistir à Copa do Mundo. E refletir sobre a vida. Valia a pena tudo isso? Sacrificar o corpo e o espírito dessa maneira? Algo não estava certo. Ao sair do consultório médico, parado em frente a uma banca de jornais, reparo num jornal especializado em concursos públicos. Por que não? Depois de muitos anos, teria tempo de ler um jornal…? Receita Federal…O sonho de muitos…!
Alguns livros comprados. Estudos de madrugada. Devagar e sempre. Mudança de emprego e de cidade. Chega 2011. O ano em que completaria 40 anos. Mês de aniversário. Chamado à sala do diretor, recebo o “presente especial”. Palavras francas: “Veja bem, o senhor é muito correto, muito honesto. Mas nosso estilo de gestão não coincidem. E, desta forma, não necessitamos mais dos seus serviços”.
Desempregado no mês de aniversário de 40 anos. Currículos enviados. Entrevistas que não aparecem. E a constatação. Agora, sou velho para a iniciativa privada. Depois de sugarem por 20 anos, cospem o bagaço. De repente, a ficha caiu na minha cabeça.
Mas, havia outro lado a considerar. Os sobreviventes da geração Sarriá puderam conviver durante a infância e adolescência com outro personagem que lhes mostrou o valor da persistência. Rocky Balboa deixou claro que a vitória era construída na maior parte por suor, sangue e sofrimento.
E no seu “último round”, filme de 2006 em que era ridicularizado por ser velho, deixou claro ao seu filho a importância de tudo isso em cena épica:
“It ain´t about how hard you hit. It´s about how hard you can GET HIT and keep moving forward. How much you can take and keep moving forward. That´s how winning is done! “
Estudar para concurso aos 40 anos? “Não vai dar certo”. “Já passou da idade”. “Isso é para quem é recém-formado”. ”Quem vai alimentar seus filhos durante a preparação?”.
Comentários que passaram a servir de combustível. Vamos mostrar quem está certo nisso tudo.
O tempo agora era aliado. Finalmente, aprendera a traçar uma estratégia. O dia que gastava no escritório passou a ser dedicado aos estudos. 14 horas de preparação. Em paralelo, com a busca de um novo emprego. Várias entrevistas infrutíferas. Busca de referências e indicações de emprego. Portas que se fechavam. Descobrir quem são realmente os verdadeiros amigos…
Final de 2011. Concurso do Tribunal de Contas. Primeira tentativa séria. E a primeira vitória !! Havia nocauteado o desemprego. Por um lado, um grande alívio! Por outro, o salário era bem menor do que tinha na iniciativa privada. Restrição de gastos. Para voltarmos à situação inicial, apenas a Receita Federal.
Chega 2012 e o concurso aguardado por muitos. A vitória recém-conquistada entorpece um pouco o espírito lutador; parece fácil vencer novamente sem uma estratégia definida. E desta vez, Contabilidade da ESAF e Legislação Tributária fazem o papel de Paolo Rossi, 30 anos depois. E vem a derrota inesperada.
A experiência ensina muito. Novamente, faltou estratégia…
No processo de recuperação do baque, digito no Google a palavra estratégia…E a primeira sugestão do buscador foi “Estratégia Concursos”. Entro no site e navego pela área de cursos PDF. Baixo uma aula demonstrativa de contabilidade e…Bingo ! Era o que faltava. Simples, clara, direta, sem termos confusos nem “enrolações”.
Muitos e muitos e muitos exercícios, estratégia definida. Publicado o Edital, cursos PDF de Contabilidade Geral e Avançada e Legislação Tributária do Estratégia eram a prioridade. Lidos, estudados e esquadrinhados.
No dia da prova, estava com o sangue nos olhos. Nunca uma prova de Contabilidade me pareceu tão palatável. A de legislação tributária “deu para encarar” sem sofrer muito.
Conferi o gabarito em silêncio. Da mesma maneira, que a lista de aprovados. Desta vez, não faltou estratégia…
A comemoração é silenciosa. A falta de ruído também causa satisfação…!
Luiz Eduardo de Miranda Matias
42 anos, sobrevivente da Geração Sarriá, futuro Auditor Fiscal da Receita Federal
Assessoria de Comunicação